Começo com o significado de Inteligência do dicionário: “faculdade de conhecer, compreender e aprender”. Lembrando que o significado de um signo é somente significar um signo através de outros signos, grosso modo, dizer o que uma palavra significa através de outras palavras. Até este momento estamos somente no campo das palavras, o significado nos dá uma boa idéia do que a coisa é, mas o significado não é tudo. Para entendermos o referente do nome da coisa Inteligência devemos pensar, imaginar e raciocinar. Posso agora falar sobre “as partes que compõem o todo” ou “os particulares e os gerais” que, apesar de não serem a mesma coisa, representam, neste momento, o mesmo entendimento.
Analisando a coisa que leva este nome Inteligência podemos identificar algumas partes que a compõe:
percepção, raciocínio, conhecimento, memória e mais algumas partes que dependem
de uma análise mais profunda. No processo intelectivo, às vezes saímos do “todo”
e vamos identificando as “partes”, às vezes vamos identificando as “partes”
para chegar no “todo” e, no meio disso, identificamos entre as partes uma
escala de prioridades, ou seja, uma parte é mais significativa do que outra. Porém,
todas as partes são importantes, caso tirarmos uma delas o todo pode se
desmontar. Claro que isto não é uma regra rígida, é somente um esquema mental,
uma base para se iniciar o raciocínio de um pensamento um pouco mais complexo. Em
pensamentos mais simples não se faz necessário todo esse esquema mental.
Às vezes saímos do geral e vamos aos particulares, às vezes saímos de um particular para se chegar ao entendimento do geral e voltamos a outro particular e assim vamos indo até chegarmos a um entendimento mais próximo do geral (ou do todo, neste caso). É como um raciocínio em espiral - ou uma cadeia de espirais - onde partimos dos conceitos básicos e vamos avançando no raciocínio e voltamos a algum conceito básico e assim vamos indo até se chegar mais próximo do que a coisa é.
No seu significado mais simples, a educação intelectual é o esclarecimento da faculdade de pensar. Essa faculdade é chamada de inteligência. Aqui faço um adendo: um bebê na barriga da mãe começa, geralmente, a ter ondas cerebrais a partir da 8ª semana de gravidez, então o bebê já está pensando. Como o bebê pensa, não se sabe, mas tendo ondas cerebrais então já está pensando. Já nascemos sabendo pensar. A frase: “precisamos aprender a pensar” não é correta. O correto é “precisamos aprender a raciocinar”, pois o raciocínio é a concatenação lógica de pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro; e expressamos nossos pensamentos e raciocínios muito mais através da palavra falada e da palavra escrita do que de outros modos de expressão. A importância da linguagem.
Essa faculdade chamada inteligência,
geralmente, também é considerada como a potência espiritual e cognitiva da
alma. Sendo espiritual, é intrinsecamente independente da matéria nas suas
operações. Isso não é negar a sua independência extrínseca da matéria, como que
uma condição para a inteligência fazer surgir o ato do conhecimento. Pela sua
função cognitiva está implícita a operação mental pela qual se toma consciência
dos objetos do pensamento, ou seja, a percepção. Pela operação dessa faculdade,
adquire-se o saber, a verdade e a certeza.
A palavra inteligência
tem origem em dois termos latinos: “intus”,
que significa dentro e “legere”, que significa ler. O termo refere-se à faculdade ou
poder que o ser humano tem de penetrar o sentido íntimo das coisas. Coisa, significa tudo o que existe ou
possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea. Tudo no mundo, neste
sentido, são coisas e tem um nome. Em
um dos sentidos filosóficos, coisa é
tudo aquilo que há ou existe. Tudo que existe refere-se às coisas corpóreas e
tudo que há engloba coisas corpóreas e incorpóreas. Coisas corpóreas são as que
existem fisicamente no mundo. Coisas incorpóreas são tudo que não existe
fisicamente no mundo. Exemplo, um lápis existe fisicamente e há; liberdade não
existe fisicamente, mas há. Lápis e liberdade são nomes de coisas. Um lápis -
ou outro objeto físico - ele há e existe. Ele existe fisicamente e há enquanto conceito.
Liberdade - ou outro objeto incorpóreo - não existe fisicamente, mas sabemos
que existe essa tal liberdade na realidade. E para comunicarmos tudo isso nos
expressamos em palavras. Tendo isso por base podemos perceber que a esmagadora
maioria das palavras existentes em qualquer língua são, neste sentido,
conceitos subjetivos, somente hão, mas não existem fisicamente como objeto
físico. Aí está a subjetividade intrínseca da linguagem. Exatamente por isso
precisamos falar e escrever de forma clara.
Lembrando que “conceito objetivo”, para o nosso entendimento
aqui, refere-se a objetos físicos, o objeto físico se auto-define, extraímos as
informações dele. Objetivo vem de objeto físico. E “conceito subjetivo” vem de
sujeito, tem muito do sujeito ao significar e/ou definir o objeto incorpóreo
(não-físico). A palavra “objeto” não significa somente objeto físico, pode ser
também “objeto de estudo”. Por exemplo: “Vamos estudar o que é esta coisa, o
que é este objeto chamado Liberdade”. Óbvio é, também, que podemos dar em
palavras uma definição objetiva de um conceito subjetivo, mas aí estamos
falando de “definição em palavras” e não de conceito: imagem mental abstrata.
A inteligência pode
ser especificamente definida como a faculdade espiritual, de caráter supra-orgânico,
pela qual as coisas são conhecidas e entendidas de maneira imaterial. Por “faculdade”
entende-se o poder particular ou capacidade para a atividade. “Faculdade
espiritual” implica que a inteligência não é uma faculdade do corpo (uma vez
que não há um órgão corporal específico que seja o instrumento estrito de sua
operação), porém uma faculdade ou poder da alma. Por isso a inteligência é uma “potencialidade”
ou “capacidade” daquele princípio espiritual de vida, duradouro, substancial,
indivisível, chamado a alma.
O ato característico da inteligência é chamado intelecção. Intelecção
significa as funções mentais de formar idéias, juízos e os processos de
raciocínio. É de notar-se que, no juízo e raciocínio, a idéia ou o conceito é o elemento
fundamental. Não entrarei aqui na “Essência do Fundamento” ou no “Princípio de
Razão Suficiente”, pois tomaria muito tempo.
O trecho a seguir, entre aspas triplas, foi tirado do livro “Filosofia
da Educação” de John D. Redden e Francis A. Ryan, Editora agir, 2ª edição,
1961. Porém, boa parte deste texto veio dos conceitos apresentados no capítulo “A
Educação da Inteligência” do mesmo livro.
“’A intelecção abrange o conceber, o julgar, o raciocinar. O
cérebro é considerado a sede dos sentidos externos e o órgão dos sentidos
internos: memória, imaginação, sentido comum (central ou sintético) e instinto.
Assim, pode-se dizer que a sensação se concentra no cérebro. A inteligência
despoja a representação sensorial, geralmente chamada de aparência, dos seus
característicos materiais e individualizadores, espiritualizando-a, abstraindo
a essência e assim formando as idéias. Depois de a inteligência conseguir as
percepções, os conceitos, as idéias, passa a realizar suas funções de juízo e
raciocínio.
A inteligência possui a capacidade de conhecer e compreender
as entidades não materiais, tais como Deus, alma, virtude, beleza, valores,
verdade, patriotismo. Pode também aprender as qualidades abstratas das
entidades não materiais, de maneira não material, como, por exemplo: dureza,
suavidade, tamanho, os atributos de bom ou mau dos objetos. A inteligência tem,
pois, a capacidade de fazer abstrações; em outras palavras, de formar as idéias
universais. Assim agindo, a inteligência não está intrinsecamente dependente de
qualquer órgão corpóreo específico. Entretanto, como o ser humano não é apenas
alma, nem apenas corpo, mas corpo e alma em união substancial, o ser humano
está extrinsecamente dependente e o conhecimento do ser humano tem sua origem
nos órgãos sensoriais. O velho ditado - Nihil
est in intellectu quod prius non fuerit in sensu (Nada está na mente que
antes não tenha passado pelos sentidos) exprime a origem sensorial do
conhecimento e a dependência extrínseca da inteligência, em certo grau, do
corpo para a origem das idéias ou “matéria-prima”. Tal dependência não é
produzida pelo corpo nem dele é intrinsecamente
dependente.
O primeiro ato da inteligência é chamado simples percepção
ou conhecer. Consiste na formação de conceitos ou idéias. Em outras palavras, a
inteligência percebe a realidade e torna as idéias conforme a essa realidade.
Já que a função da inteligência é atingir a verdade, o conhecimento, pode-se
dizer que a inteligência admite essa realidade representativamente, de
conformidade com sua função e sua natureza própria. Forma em si uma verdadeira
representação ou semelhança da realidade que existe fora de si mesma. A
observação da realidade.
Antes de entrarem na inteligência as representações de um
objeto material, a sua aparência ou a sua representação cognitiva deve ser
modificada pela inteligência, pois esta é substância espiritual. Segue-se,
pois, que a inteligência tem duplo poder: um ativo e outro passivo, chamados,
respectivamente, a inteligência ativa ou intellectus
agens e inteligência passiva. Essas expressões não implicam duas
inteligências distintas, mas capacidades diferentes de uma mesma inteligência.
1 - A inteligência ativa extrai da aparência a essência; em
outras palavras, inicia o trabalho de tornar inteligíveis ou compreensíveis os
objetos que os sentidos lhe apresentam na sua aparência.
2 - A inteligência passiva apreende, possui, compreende,
interpreta e modifica aquele conhecimento que a “inteligência ativa” apresenta. O termo “passiva” não implica que a
inteligência seja em si mesma passiva e inerte. Ao contrário, o termo
subentende uma resposta ativa por parte da inteligência àquilo que é chamado o “conhecimento supra-sensível” que lhe é
apresentado. Em outras palavras, a inteligência ativa, agindo de acordo com sua
natureza, extrai a essência do conhecimento (aparência, percepção, imagem), que
lhe é apresentado, e a inteligência passiva forma um conceito ou idéia. É,
pois, a inteligência passiva que formalmente
compreende.
Em resumo, pois, o termo “inteligência ativa” significa a capacidade da inteligência em
abstrair a essência da aparência; o termo “inteligência
passiva” significa que a inteligência é capaz de ser atendida.
Quando se fala de inteligência ativa e de inteligência
passiva, não se deve supor, ainda que momentaneamente, que seja necessário
inferir uma distinção realmente entre as duas; ou que signifique que haja duas
divisões ou partes da inteligência. Já que a inteligência é a potencialidade ou
faculdade do princípio de vida no ser humano, estável, substancial, individual,
isto é, a alma humana, não pode dividir-se, porque sua potencialidade deve ser
da mesma natureza da própria alma, que é entidade espiritual e da qual a
inteligência é uma manifestação. É de
observar-se, pois, que a inteligência age como um todo completo ao formar
idéias ou conceitos e que age de acordo com sua natureza e função particulares
ao produzir esses conceitos.
A formação da idéia é conhecida como a simples percepção. É
uma operação primária e função da inteligência. A segunda operação da
inteligência é o ato pelo qual a mente percebe a identidade ou diversidade dos
objetos de duas simples percepções; isto é chamado o juízo, ou a formação de um juízo. A terceira e última operação é o raciocínio.
A inteligência funciona, pois, de maneira tríplice: 1) na
formação e apreensão do conceito; 2) na elaboração do juízo; 3) no processo de
raciocínio’”.
Exemplificando. Imaginemos dez pessoas em linha, uma ao lado
da outra, olhando para uma mesma árvore sob o mesmo ponto de vista. O processo
de formação e apreensão do conceito dessa árvore será o mesmo para essas dez
pessoas, grosso modo, o conceito estará na mente de cada uma das dez pessoas. A
elaboração do juízo desta árvore poderá ser um pouco diferente para cada uma
dessas dez pessoas. O processo de raciocínio poderá ou não ser diferente em
cada uma dessas dez pessoas.
Caso der uma folha de papel e uma caneta para cada uma
dessas dez pessoas e pedirmos para elas descreverem e definirem o objeto que
estão vendo (a árvore), ou podemos pedir para elas expressarem verbalmente o
que estão vendo, tanto faz; ao final do exercício teremos dez textos (escritos)
ou discursos (falados) que não serão exatamente iguais e nem totalmente diferentes
entre si. Uma pessoa poderá descrever a árvore, por exemplo, como tendo folhas
verdes; outra poderá descrever como tendo folhas verdes escuras. Essas
diferenças vêm, basicamente, do processo de raciocínio de cada uma, da
percepção de cada uma, da linguagem de cada uma, etc.
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