domingo, 23 de maio de 2021

Os Princípios da Lógica Formal

   Hoje verei os três princípios básicos da Lógica Formal e/ou da Filosofia e, para tanto, partirei das definições e conceitos de Mário Ferreira dos Santos no tratado Lógica e Dialética. Antes, porém, posso começar dizendo que Princípio, para o nosso entendimento (meu e do leitor), é aquilo que está no início, antes não precisa ter nada, nem mesmo uma explicação em palavras e é auto-evidente. Para melhor esclarecimento uso essa redundância: verdades auto-evidentes. É redundância porque toda verdade é auto-evidente.

   Princípio, também é a causa primeira, a raiz, porém, “causa primeira” aqui não se refere especificamente à Lei da Causalidade. Uso “causa primeira” como o que serve de base a alguma coisa. São os significados e vários sentidos dos signos, no caso, das palavras.

   Então, Princípio, para o nosso entendimento aqui, é o que está no início e antes não precisa ter nem mesmo uma explicação em palavras; pode ter uma explicação em palavras, mas não é necessário. Logo darei exemplos e referentes, mas primeiro veremos (eu e o leitor), os Princípios.

“Há, na Filosofia, uma disciplina, ciência do "ser enquanto ser", que é a Ontologia. Nesse sentido tradicional, a Ontologia é a ciência que trata do ser enquanto ser, ou seja, do ser que constitui tudo quanto existe, do ser que determina todos os seres. Há outras maneiras de concebê-las que não convém, por ora, tratar. Nessa disciplina, estudam-se os "princípios ontológicos", que valem para todos os objetos, aos quais todos os outros se submetem e, portanto, também os lógicos. São eles os seguintes:

1) Todo objeto é idêntico a si mesmo — Esta é a enunciação do chamado princípio ontológico de identidade.

Este princípio fundamental da Ontologia clássica o é também para a Lógica Formal. Por ora, cabe-nos apenas apresentá-lo como um verdadeiro fundamento axiomático da Ontologia e também, consequentemente, da Lógica Formal. Assim, pode ser enunciado exemplificativamente: este livro é este livro; esta mesa é esta mesa.

Para a Ontologia tradicional e para a Lógica Formal, este livro, formalmente, só pode ser ele mesmo; é idêntico a si mesmo. Deste princípio fundamental decorrem outras consequências, que são dadas, em geral, como princípios ontológicos e, portanto, também lógicos:

2) Nenhum objeto pode ser ao mesmo tempo ele e não ele.

Princípio ontológico de não-contradição. Enuncia-se dizendo que A não pode ser ao mesmo tempo e sob o mesmo aspecto Não-A.

3) Todo objeto tem que ser A ou não A.

Isto é: Este objeto é livro ou não é livro.

Princípio ontológico de terceiro excluído, pois exclui um intermediário entre ser e não-ser.”

 

      Os Princípios da Lógica Formal (e/ou da Filosofia) são uma das poucas coisas as quais não há mais dúvidas em torno disso. Autores muito mais sabidos do que nós há milênios tentaram derrubar os Princípios e não conseguiram. O que temos de fazer é aceitar, pois, de certa forma, os Princípios fazem parte do raciocínio humano. Poderia dizer que eles são o raciocínio humano, porém, estaria sendo ilógico, estaria incorrendo na quebra desses mesmos Princípios.

   Então temos três Princípios básicos: Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído. Estes princípios ontológicos tornam-se, na Lógica, Princípios Lógicos. Veremos agora a auto-evidência dos Princípios. Exemplo: Este lápis é este lápis. Isto é auto-evidente, poderia dizer que é auto-evidente em si, mas, de novo, é redundância. O lápis, ou qualquer outra coisa física, corpórea, ele é o que ele é, esta é a identidade dele. Caso eu perguntar: Por que um lápis é um lápis?

   É uma pergunta que não tem resposta. Ele é o que ele é. Simples assim, é auto-evidente. O leitor pode discorrer sobre o processo de fabricação do lápis, o processo de nominação do lápis, etc, mas não estará respondendo porque ele é o que ele é.

   No caso do princípio da Não Contradição: "Nenhum objeto pode ser ao mesmo tempo ele e não ele", temos que o não ele é tudo o que não é ele. Eu sou o não ele do lápis, o céu é o não ele do lápis, o lápis é o não ele de outro lápis, uma árvore é o não ele do lápis, o lápis é o não ele da árvore e assim por diante.

   Em relação às coisas incorpóreas, não físicas, como, por exemplo, Liberdade, os Princípios valem da mesma maneira. Por que a Liberdade é o que ela é? Liberdade não é Esperança, não é Igualdade, não é o Lápis, não é o Céu, etc. Não pode ser o que ela não é (Princípio da Não Contradição). Portanto, a partir daí um intermediário entre ser e não-ser está excluído (Princípio do Terceiro Excluído), uma terceira opção está excluída automaticamente. O não-ele é tudo o que não é ele, óbvio. O não ele do Lápis sou eu, é você leitor, é o livro, é o céu, etc.

   Aqui abro um parêntese. Com relação à coisa; do dicionário: “tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea.” Num sentido filosófico coisa é tudo o que há e tudo o que existe. Tudo o que existe são os objetos corpóreos, objetos físicos. Tudo o que engloba objetos corpóreos e incorpóreos. Exemplo: Lápis há e existe. Lápis existe fisicamente e há enquanto conceito e enquanto significado em palavras. Liberdade somente há enquanto conceito e enquanto significado em palavras, pois não existe nenhum objeto físico com esse nome Liberdade. Não temos como saber o tamanho da Liberdade (altura, largura e profundidade), qual a cor dela, qual a forma física dela, etc.

   Então temos coisas corpóreas e coisas incorpóreas e cada qual com o seu nome; os nomes das coisas. Simples assim. Partamos dessa base.

   Ainda dentro do parêntese; temos signo, significado (e vários sentidos) e referente. Lápis é um signo e tem um significado em palavras (e esta palavra adota vários sentidos dentro de uma frase) e tem um referente (referente este que pode mudar de acordo com o sentido da palavra numa frase). Liberdade é um signo e tem um significado em palavras e tem um referente. Assim o é com todas as coisas e todas as coisas tem um nome.

   Antes de fechar o parêntese posso afirmar que, nesse sentido, temos conceitos objetivos e conceitos subjetivos. Conceito objetivo vem do objeto corpóreo, físico, o objeto físico se auto define, você extrai as informações do objeto físico através dos seus órgãos sensoriais, através do seus cinco sentidos básicos. Conceito subjetivo, neste sentido, vem de “sujeito”, tem muito do sujeito ao significar e/ou definir o objeto incorpóreo, não físico, pois não temos como extrair fisicamente as informações de um objeto incorpóreo.

   Linguisticamente falando, a esmagadora maioria dos signos, palavras, verbetes, etc, da Língua Portuguesa - e eu acredito que de qualquer língua - são, neste sentido, conceitos subjetivos. Por exemplo, verbos. Um verbo representa uma ação. O verbo correr é um signo. Significado: movimentar-se com velocidade. Referente: você está correndo na rua; e você sabe que não existe um objeto físico com esse nome correr. Fecha parêntese.

   Darei um exemplo simples, ingênuo até, da auto-evidência dos Princípios. Imaginemos o “seu João”. O seu João tem 50 anos de idade, viveu e vive na colônia, na roça, seu João não tem estudo, não sabe ler nem escrever, não sabe sequer assinar o próprio nome, é o que se chama de analfabeto completo. Vou até o lugar onde seu João vive e digo: “Seu João, vim aqui lhe explicar os Princípios da Lógica Formal.” Talvez neste momento seu João não entenderá do que estou falando, mas daí pego uma pedrinha do chão, levanto-a na mão e digo: “Esta pedra é esta pedra, este é o Princípio de Identidade”. Provavelmente seu João, após alguns segundos pensando confundido pela obviedade da afirmação, responderá: “Mas isso é claro, essa pedra vai ser o quê... uma árvore?”

   Com esta simples resposta “seu João” elucidou os três Princípios. Ele disse que a pedra é o que ela é, ele disse que a pedra não pode ser o que ela não é, e disse que um intermediário está excluído, a pedra não pode ser a árvore. Até uma criança sabe disso. Aliás, o enunciado em si é óbvio. “Esta pedra é esta pedra”. Confunde-se pela simplicidade. Aí está a auto-evidência dos Princípios. Não precisamos nem explicar. Até uma criança percebe isso.

   Talvez o leitor esteja pensando agora: “Mas o autor está explicando a auto-evidência dos Princípios, então precisa explicar.” Porém, não estou explicando, somente estou lembrando ao leitor, pois todos nascemos sabendo disso. Vem da observação da realidade. E a frase "antes não precisa ter nem mesmo uma explicação em palavras" não significa que não possa ter uma explicação em palavras, aliás, tanto pode como tem, mas não se faz necessária... ou não deveria ser necessário explicar.

   Estes três Princípios Básicos devem ser levados em conta sempre em conjunto, pois um decorre do outro. Estes três Princípios são umas das poucas coisas em Filosofia, vamos por assim dizer, que não há mais discussões em torno disso. O leitor pode fazer de seu objetivo de vida destruir esses Princípios. Seja feliz, mas não conseguirá. Caras muito mais sabidos do que nós, há séculos, já tentaram destruí-los e não conseguiram; pelo contrário, somente confirmaram a auto-evidência. A auto-evidência pode ser também, neste sentido, o tal do a priori do ilógico Kant: "o tempo, o espaço e a causalidade residem a priori em nossa consciência e podem ser encontrados e conhecidos partindo-se do sujeito, sem o conhecimento do objeto". Antes do sujeito Kant, a priori do objeto Kant não existia nada (nem consciência) e a posteriori do objeto Kant o verbo se fez burrice.

   Mas vamos a exemplos, referentes. Aliás, estabeleço aqui uma diferença simples entre “exemplo” e “referente”. Exemplo: “tudo que pode ou deve ser imitado; modelo”. Referente, neste sentido: “relativo a, que diz respeito a”. Não confunda aqui com “referente, o que a coisa é” de signo, significado e referente. São apenas sentidos diferentes do signo “referente”. Sempre lembrando que a Linguagem não é somente palavras.

   No sentido que estou falando, todo referente é um exemplo, mas nem todo exemplo é um referente. Eu posso usar um referente, alguma coisa que aconteceu ou está acontecendo, como exemplo; ou posso formular um exemplo saído da minha cabeça.

   O problema do exemplo é esse: quando o exemplo é mal formulado ele confundirá em relação ao que se disse anteriormente, ao que se está tentando explicar. Usando um referente, uma coisa, ação, palavras que alguém disse, um fato que aconteceu na realidade, etc, evita-se um pouco que o exemplo confunda.

   Mas vamos a um referente. Autores que escrevem: “Educação é um ato político”. Percebe-se claramente que tal autor está ferindo os Princípios da Lógica Formal. Ele está dizendo que Educação é o não-ele, ato político. Caso tal autor escrevesse: “Educação engloba a política ou os atos políticos”, aí teria mais clareza e não estaria ferindo os Princípios, não estaria sendo ilógico.

   E certos autores ainda usam o imperativo categórico de Kant no seu estilo de escrita: "Não é demais repetir aqui essa afirmação, ainda recusada por muita gente, apesar de sua obviedade, a educação é um ato político".

   Este é o imperativo categórico de Kant: eu afirmo uma coisa completamente ilógica e não preciso dar explicações, não preciso justificar; simplesmente digo "é isso". Porém, tem coisas na vida que não são auto-evidentes, precisamos explicar, provar e não simplesmente dizer que é óbvio porque é óbvio. A auto-evidência de certas coisas está nestas coisas mesmas e na percepção de cada ser humano ao observar. O ser humano nasce dotado de senso das proporções ou, grosso modo, discernimento, e quando se destrói esse senso das proporções no raciocínio, as pessoas perdem a Razão.

   Quando se usa a forma “é” (indicativo do presente do verbo ser) geralmente o que vem depois considera-se um significado e/ou uma definição. Caso eu escrever: Lápis é Liberdade; estou dizendo que o ele é o não-ele, estou sendo ilógico, estou confundindo a mente dos leitores. Lembrando que os Princípios servem tanto para coisas corpóreas como para coisas incorpóreas. Escrever que "educação é um ato político" é a mesma coisa que escrever "céu é uma poça d'água".

   Eu posso discorrer mais referentes desse naipe tirados de autores famosos, inúmeros, infindáveis até, mas não se faz necessário, somente cito: "lutas de classes", "desvelamento do ser" e por aí vai. Deixo ao leitor que, a partir de agora, pode se utilizar dos Princípios para interpretar textos de forma mais correta e, por que não, para ter um melhor entendimento da vida.

Nenhum comentário:

Postar um comentário