sábado, 29 de maio de 2021

O Óbvio

   Hoje verei o “óbvio”. Como sempre começarei pelo dicionário: “fácil de descobrir, de ver, de entender; que salta à vista; manifesto, claro, patente; evidente”.

   O Brasileiro atualmente tem uma dificuldade muito grande de enxergar o óbvio. Demora dias, semanas, meses, anos para perceber uma coisa que deveria perceber na hora. Parece-me que o Brasileiro perdeu o raciocínio e não consegue mais sequer ver as coisas evidentes e isso leva à insegurança pessoal, fraqueza de caráter.

   Como bem disse Santo Tomás de Aquino “o bem vem da razão”; e a razão aqui é no sentido de raciocínio, concatenação lógica de pensamentos. Quantas vezes na sua vida você fez merda e depois disse: “é que eu não estava pensando direito”. Talvez não estivesse vendo o óbvio e não estava vendo o óbvio porque não estava prestando atenção na situação ou nas palavras das outras pessoas.

   O Brasileiro está sempre tentando adivinhar o sentido oculto das palavras dos outros; e responde ao outro em cima dessa adivinhação. E o outro faz o mesmo processo. O resultado é uma conversa de doido onde os dois não estão falando da mesma coisa. Um está falando de banana e o outro de laranja, mas por serem frutas os dois acreditam que estão falando da mesma coisa. Conversa de doido.

   Ferem os princípios da lógica: identidade, não contradição e terceiro excluído. Na cabeça de cada um pensam que banana é laranja, que laranja é banana, mas na realidade sabem que banana é diferente de laranja e isso resulta em dissonância cognitiva, confusão mental... resulta nessa pasta mental que fica entre a realidade física e a percepção da realidade. Sabem que banana é diferente de laranja, mas quando um fala em banana o outro responde laranja e ainda insiste dizendo: “mas é fruta do mesmo jeito”.

   Já exemplifiquei em outro texto com a liberação da maconha; onde sempre tem um, ou vários, que responde(m) de imediato: “mas o álcool e o cigarro são drogas e também são liberados”. Banana, laranja = frutas. Maconha, álcool, cigarro = drogas... então é tudo a mesma coisa. Não percebem o óbvio e por não perceberem o óbvio a conversa se torna ilógica de imediato.

   Um diálogo inicia quando uma pessoa fala alguma coisa para outra. Esta é a realidade. Neste momento, o interlocutor tem praticamente duas opções: dizer que não está afim de conversar sobre o assunto ou responder de forma lógica sem sair do assunto e do objeto do assunto. Tudo no mundo, grosso modo, tem um assunto e um objeto do assunto. Assunto: Frutas; objeto do assunto: Banana. O objeto do assunto é o que se chama de tema também. Em um diálogo os interlocutores vão tema a tema, objeto de assunto a objeto de assunto, e devem deixar bem claro quando passam de um tema para outro dentro do mesmo assunto. Caso não houver esta clareza corre-se o risco de relativizar a conversa, o diálogo, o debate, etc.

   - Estou falando de maconha e você me responde com álcool e cigarro? Fugiu do objeto do assunto, fugiu do tema, relativizou. Você está confundindo classificação com relação. Você já não percebe mais o óbvio, você está burro!

   Classificação e relação. É importante entendermos estes dois conceitos. Lembrando que conceito é uma imagem mental abstrata. Podemos significar e/ou definir conceitos através de palavras. Classificação (signo) é a distribuição por classes (significado) e tem vários sentidos que não fogem do significado genérico. Porém, classificação também é uma convenção feita pelo ser humano, uma taxonomia que, neste sentido, é um sinônimo de classificação. Relação é ato de relatar, relato, informação, descrição. Porém, relação aqui emprego no sentido de vinculação, conexão, relação entre as coisas.

   Toda classificação é, neste sentido, uma convenção, porém, esta convenção surge, muitas vezes, ao natural através da relação entre as coisas e entre os nomes das coisas. Toda relação, neste sentido, é natural. Vamos tomar como exemplo a categoria de relação de Aristóteles: dobro, metade. Percebam que há uma relação que surge naturalmente. Alguma coisa é o dobro ou a metade de outra. Estão relacionadas naturalmente, por exemplo: o número dois é o dobro de quê?

   Ora, não posso responder: “é o dobro de nada ou é o dobro dele mesmo! ” Sabemos que dois é o dobro de um, está convencionado. Então um e dois estão relacionados nessa categoria e isto surge naturalmente. Mas um e dois são coisas diferentes entre si.

   Toda relação é natural, você observa na realidade; passou disso chama-se relativização porque você está inventando relações que não existem na realidade. Kant, Hegel e outros que o digam, foram campeões da relativização, da subjetividade.

   Temos comparação também. Você compara duas coisas fazendo relações entre elas; ou relaciona duas coisas fazendo comparações entre elas; tanto faz. E dessa comparação e/ou relação surgem as diferenças e as semelhanças entre as coisas. Esta é a realidade.

   Banana e laranja. São frutas, mas cada uma tem sua cor, seu gosto, seu formato, seu cheiro, seu tamanho, as substâncias que compõem cada uma, etc; são coisas diferente entre si. Cada uma tem a sua identidade (princípio da lógica). Eu posso relacionar gosto a gosto, tamanho a tamanho, etc; mas não posso relacionar e/ou comparar coisa a coisa, banana diretamente com laranja. O fato de serem frutas é somente uma classificação, uma taxonomia convencionada pelo ser humano. O ser humano poderia ter classificado como minérios e hoje você estaria chamando banana e laranja de minérios em vez de frutas. Eu posso relacionar o efeito da maconha com o efeito do álcool posto que estou comparando seus efeitos, mas se eu comparar e/ou relacionar as coisas, maconha e álcool diretamente, estarei sendo ilógico.

   Caso eu falar em Liberdade você não responderá: “Mas a Esperança também é um conceito subjetivo e também é um sentimento”. Então porque ao falar de liberação da maconha você responde: “Mas o álcool e o cigarro são drogas e também são liberados”!

   Eu posso relacionar e/ou comparar os acidentes, os predicados, as características, os atributos, etc; essa coisa toda de Aristóteles. Aliás, esse cara, Aristóteles, quando o assunto é analítico-lógico ele vive se enfiando na conversa dos outros.

   Quando se compara e/ou se relaciona duas coisas percebe-se as diferenças e semelhanças. A comparação geralmente é quantitativa e/ou qualitativa. A relação geralmente, como já foi dito, é entre os acidentes, os atributos, as características, etc. Grosso modo, na comparação vemos a diferença e na relação vemos a semelhança.

   Tudo isto que foi falado anteriormente é o óbvio e influencia no raciocínio, na inteligência. Lembrando que tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos e raciocínios materializados fisicamente. A palavra falada se materializa nas ondas sonoras que se transmitem pelo ar; a palavra escrita na tinta no papel, na tela do computador, etc. Por isso você não pode estropiar as palavras. Tudo o que você fala e escreve são seus pensamentos e raciocínios materializados, você está demonstrando para as outras pessoas se você é burro ou não através do seu modo de se expressar. E não há como esconder isso. O Brasileiro é que não percebe mais pelas palavras do outro que esse outro é burro. E que esse outro pode ser você, leitor.

   Conversas ilógicas sempre terminam em brigas de egos, picuinhas, superficialidades, conversa de doido. Muitas vezes explica-se alguma coisa, desenha-se e explica-se o desenho da explicação e o interlocutor responde: “Mas isso é óbvio, eu já sabia disso”; ou responde “Isso é óbvio, está achando que sou burro?”

   Mas não percebe que somente viu que era óbvio porque o outro explicou. Não percebeu que, por conta, não conseguiu ver que era óbvio. Desse tipo de burrice vem a ingratidão. Esse é o tipo de burrice que leva à canalhice que leva ao autoritarismo. No meio dessa burrice, canalhice e autoritarismo temos a ilogicidade do pensamento e do raciocínio que se exprime em palavras. Os ministros do STF que o digam, são todos assim.

   Decai a inteligência decai a moral e vice-versa, uma vem de arrasto da outra, não importa qual decai primeiro. O óbvio está ligado ao bom senso, um resulta do outro. Parte-se do óbvio, do evidente, para um pensamento e um raciocínio mais complexo, mas se não consegue mais perceber o óbvio não conseguirá ter um raciocínio mais complexo. E o óbvio, basicamente, consegue-se observando a realidade; o bom senso vem da observação da realidade, da observação das situações e suas circunstâncias.

   Quando você não presta atenção na situação ou nas palavras das outras pessoas você não consegue entender nada. Ninguém lê pensamentos, somente o que nós temos são as palavras: faladas ou escritas. A partir dessa falta de atenção vem o desequilíbrio entre razão e emoção, vem a falta de raciocínio, vem a reação pela emoção que as palavras e as coisas causam.

   Razão no sentido de raciocínio e Emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica do ser humano. O ser humano é um ser Racional E um ser Emocional. Não tem como separar a razão da emoção dentro de uma pessoa, mas tem como causar um desequilíbrio. Perdendo o raciocínio as pessoas passam a reagir pela emoção que as palavras e as coisas causam nelas, vira tudo xingamento ilógico. Passam a não querer saber mais de nada, não querem mais aprender coisa alguma de útil. Transformam-se em interesseiros que querem somente fama e dinheiro.

   Confundem inteligência com astúcia maligna. Astúcia maligna é a caricatura satânica da inteligência. A inteligência é ligada ao bem, o belo e a verdade. No Brasil a pessoa que tem fama e/ou dinheiro todos julgam que é inteligente e esquecem como essa pessoa chegou lá, aliás, nem se perguntam isso. Tendo fama o/a vivente torna-se automaticamente um “formador de opinião” e a massa de seguidores vai de atrás bovinamente sem raciocinar e repetindo como um papagaio o que essa criatura fala. O termo “gado” vem de gado bovino, gado equino, gado suíno, etc. No caso, o tal formador de opinião é o sinuelo. Sinuelo é aquele gado que vai na frente e quando o vaqueiro muda a direção do sinuelo a maioria vai atrás. E decai a inteligência decai a moral e vice-versa; não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Nada contra fama e dinheiro, mas quando decai a inteligência decai a moral e vice-versa, a partir daí a pessoa quer subir na vida mentindo, pisando em cima dos outros, logrando os outros, prometendo e não cumprindo. Astúcia maligna é o jeitinho brasileiro, levar vantagem em tudo, é essa baixeza moral toda no Brasil.

   Quando se perde o raciocínio (razão), reage-se automaticamente pela emoção e acaba virando um estado permanente de reação pela emoção. Talvez venha daí o fato de o Brasileiro ser bastante ansioso, inseguro, carente, depressivo. A falta de raciocínio resulta naquilo que se chama de traumas psicológicos. Um estado emocional permanente. Repetindo o que disse Santo Tomás de Aquino “o bem vem da razão”. A emoção é controlada, equilibrada pela razão (raciocínio). Não tem como controlar, equilibrar a razão pela emoção. Deixe a raiva ou o medo tomar conta de você para ver se depois você consegue se controlar raciocinando. Aliás, muitas vezes a raiva e o medo vem sem pedir licença, mesmo sem você deixar, invadem seu ser porque você já perdeu o equilíbrio entre razão e emoção. Esse medo constante chamado de insegurança leva a reações individuais diversas, mas esta insegurança (medo constante) embota o raciocínio. Por exemplo, você chega em casa de noite e as luzes estão apagadas. Ao entrar na porta dá aquela sensação de medo do escuro, do desconhecido. Ao ligar a luz essa sensação passa automaticamente. A luz é o raciocínio. O problema acontece quando não se raciocina mais, daí o medo já não passa automaticamente mesmo a pessoa tendo as informações corretas. Ela negará tudo o que não estiver de acordo com o medo dela. Somente terá validade o que estiver de acordo com o medo dela. A emoção passa a ditar o raciocínio, a pessoa raciocina somente de acordo com o medo que ela está sentindo. E esse medo pode se refletir numa outra pessoa, numa situação, num objeto, etc. Ela reage pela emoção que as palavras e as coisas causam nela.

   Estranhamente, isso começa quando o óbvio, o evidente e a realidade são deixados de lado. Parece-me que o Brasileiro sempre tem ou quer uma explicação mirabolante e sobrenatural para tudo. Ao invés de diminuir, aumenta a subjetividade das palavras. É essa afetação, essa empolação nas palavras, essa entonação afetada na voz, essa reação excessiva pela emoção que as palavras e as coisas causam. O Brasileiro comete erros pela sua própria incompetência, mas a culpa e a responsabilidade sempre são dos outros. O Brasileiro assume a culpa e a responsabilidade somente quando é para se vitimizar. Parece-me que sequer tentam raciocinar porque tem aversão ao conhecimento, não querem mais se informar, estudar, aprender. Decai a inteligência decai a moral e vice-versa; uma vem de arrasto da outra.

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