terça-feira, 2 de julho de 2019

Razão e Emoção

 
   Razão é, para o nosso entendimento, o intelecto, a capacidade de raciocínio - o raciocínio é a aplicação da Razão -, o senso das proporções, a capacidade de inteligência, etc. É também a capacidade de autoconhecimento que nos faz saber quando estamos sentidos e que nos permite não deixar que as emoções tomem conta. E, quando as emoções começarem a tomar conta, a Razão nos traz de volta à normalidade.
   Emoção é, para o nosso entendimento, as emoções em si, os sentimentos, as vontades, os desejos, sensações, intenções, etc; a parte psicológica do ser humano, a psiquê.
   O ser humano é formado, neste sentido, por Razão e Emoção.
   Posso definir, para o nosso entendimento, que sentimento é o ato ou efeito de sentir, aquilo que sentimos interiormente.
   Emoções são agitações dos sentimentos posto que todo sentimento é calmo.
   Faço essa distinção entre as palavras Emoção, emoção e emoções. Emoção com "E" maiúsculo, para o nosso entendimento, é o complementar da Razão e vice-versa, como veremos adiante. A Emoção engloba as emoções e os sentimentos. As "emoções" são simplesmente o plural de "emoção".
   Por exemplo, raiva é uma emoção e ódio é um sentimento. Este vem de forma calma, aquela vem de forma explosiva. A raiva vem e passa. O ódio, quando se instala no ser humano, permanece por muito tempo. A alegria é um sentimento, a euforia é uma emoção.
   Nem todo sentimento corresponde uma emoção e vice-versa, por exemplo, a raiva não é a emoção do sentimento ódio, pois a raiva necessariamente não leva ao ódio; e a alegria não é o sentimento da emoção euforia, pois a alegria não leva necessariamente à euforia. Ainda que estejam relacionados enquanto emoções e sentimentos, são coisas distintas.
   Faço esta classificação básica dos sentimentos e das emoções como método de autoconhecimento. Muitas vezes confundimos os sentimentos com as emoções e vice-versa.
   Quando estamos com raiva não significa que odiamos o objeto da nossa raiva posto que a raiva dá e passa. E quando odiamos outra pessoa, muitas vezes não ficamos com raiva dela; ou não externamos essa raiva e sequer deixamos a raiva transparecer para os outros. Este é o ódio no seu começo.
   É importante saber identificar o que estamos sentindo. Muitas vezes falamos que odiamos uma pessoa sendo que somente estamos com raiva dela. O ódio é um dos piores sentimentos, pois vem de forma calma, instala-se paulatinamente, e depois não sabemos como retirar o ódio de nós mesmos.
   Existem sentimentos bons e sentimentos ruins. As emoções são, basicamente, ruins, posto que são agitações dos sentimentos.
   Quando choramos de forma calma - sem ser um choro convulsivo, descontrolado - posso dizer que é um sentimento. Chorar copiosamente é uma emoção, por isso o correto é dizer que fulano está emocionado. É fato que existe uma linha tênue entre os sentimentos e as emoções e, às vezes, torna-se difícil saber quando estamos sentidos ou emocionados. “Sentidos” referem-se aos sentimentos e “emocionados” referem-se às emoções.
   Basicamente, as emoções são agitações dos sentimentos. Geralmente quando estamos emocionados não nos apercebemos disto, pois já ultrapassamos a linha tênue. Perdemos a Razão.
   A Razão serve para controlar os sentimentos, serve para não deixar que os sentimentos se transformem em emoções. E, ao mesmo tempo, a Razão serve para que não nos tornemos sem sentimentos. Não falo aqui somente daquela razão no sentido de estar certo ou errado, esta faz parte da Razão.
   É óbvio também que, às vezes, não conseguimos nos controlar. Porém, quando o descontrole emocional toma conta do ser humano dizemos que ciclano perdeu a Razão. E quando o descontrole sentimental toma conta de forma permanente do ser humano entramos em um processo de perda da Razão no qual passamos a reagir somente aos sentimentos e emoções que as palavras e as coisas nos causam. Não raciocinamos mais com o significado das palavras e das coisas. Simplesmente reagimos pelas emoções que, com o tempo, acarretam em reação pelo instinto. E o instinto, neste caso, é irracional. O instinto somente é válido quando é aquele impulso natural que nos faz agir com uma finalidade específica e que não está de todo independente da Razão.
   A Razão é baseada na analítica que leva à lógica e nos dá a capacidade de raciocínio necessária. A Razão baseada na analítica que leva à lógica, que nos dá a capacidade de raciocínio necessária, nos traz aquela virtude que chamamos de Prudência, Temperança, Moderação.
   A Virtude é o equilíbrio entre a Razão e a Emoção, equilíbrio este, dado pela Razão. Para chegarmos nesse equilíbrio primeiro temos de saber o que estamos sentindo. Temos de saber identificar nossos sentimentos e emoções. Temos de saber quando estamos sentidos ou emocionados. A partir daí saberemos como não ultrapassar a linha.
   A virtuosidade não é algo inalcançável. A Virtude não é algo que somente os santos possuem. A Virtude está ao alcance de todos. A "filosofia" moderna colocou a Virtude como algo inatingível. E a mitologia moderna, aquilo que chamam de "religião atualmente, corrobora a Virtude como algo místico, algo ao alcance dos “deuses” somente.
   A Razão é também um processo mental a ser praticado através do controle das vontades e dos desejos. Por exemplo, caso eu extravase minhas emoções de maneira consciente, ainda assim estarei consciente. É óbvio que, nesse processo, poderei perder o controle, poderei perder a Razão momentaneamente. Porém, não será uma perda permanente. Este exemplo aplica-se somente a pessoas adultas, maduras.
   Crianças, adolescentes e jovens quando submetidos a situações que os levam à perda da Razão (afloramento das emoções) não tem consciência do fato. O estresse causado por tais situações prejudicá-lo-ão de forma permanente.
   A lógica da qual eu falo é aquela lógica baseada na análise de um fato. Fazemos uma análise de um fato ou situação (analítica), de uma verdade, sendo que podemos chegar a uma conclusão e esta conclusão pode ter lógica ou não; caso a conclusão tenha lógica em si podemos encerrar o processo de análise ou continuar para nos aprofundarmos no assunto, estudar para entender mais. Caso a conclusão, após a análise, não tenha lógica em si se faz necessário continuar o processo de análise. A lógica é o que vem depois da analítica e sem analítica não há lógica.
   Todo argumento é lógico e toda opinião é baseada em um fato, senão não é opinião. Porém, posso construir um argumento lógico baseado num fato (verdade) ou em uma mentira. A mentira, para ser uma mentira, precisa ter lógica. Por exemplo, caso eu afirmar que esta coisa é vermelha (sendo que esta coisa é verde) todo mundo identificará a mentira, mas se eu argumentar que o espectro visível de cores depende da frequência e do comprimento de onda e depende também da espécie que vê a cor e varia muito de uma espécie animal para outra, posso aventar que a coisa é, na realidade, vermelha e que você não está enxergando o espectro real da cor.
   Outro exemplo: caso eu falar que sou negro, mesmo sendo branco, todo mundo identificará a mentira. Porém, caso se eu falar que tenho um avô por parte de mãe que era negro e uma avó por parte de pai que era negra e que fui criado dentro da cultura afro-brasileira (seja lá o que for isso) e mesmo sabendo que tenho a pele branca, posso dizer que sou negro. Isso dará lógica à mentira.
   Com os sentimentos e as emoções o processo é o mesmo. Quando mentimos para nós mesmos em relação aos nossos sentimentos e emoções estamos nos enganando. Entramos em um processo de perda da Razão no qual passamos a reagir somente às emoções que as palavras e as coisas nos causam. Não raciocinamos mais com o significado das palavras e das coisas. Simplesmente reagimos pelo instinto. E o instinto é irracional.
   Por exemplo, quando somos xingados e perguntamos a quem nos xingou o que significa esta palavra e este alguém não sabe o significado da palavra e responde que não precisa saber o significado, que basta saber que é um xingamento, eu pergunto: - Como você sabe que é um xingamento se não sabe o significado da palavra?
   Para saber que é um xingamento você precisa saber que a palavra tem um significado ruim, mas se você não sabe sequer o que significa a palavra, como sabe que é um xingamento e não um elogio?
   Aí está a lógica da verdade. Perdemos a Razão quando não sabemos o significado e o referente das coisas e das palavras. E o que se segue depois é que passamos a reagir somente à Emoção que as coisas e as palavras nos causam. A concepção zoológica da humanidade advém desse processo.
   Óbvio também é, que a lógica depende do conhecimento. Porém, para se ter Razão baseada na analítica que leva à lógica da verdade não se faz necessário ter conhecimento de todas as coisas. Basta saber reconhecer e identificar o que são sentimentos e o que são emoções em você mesmo. A partir daí você saberá reconhecer e identificar o que são sentimentos e o que são emoções nos outros.
   Por exemplo, quando você sabe distinguir entre raiva e ódio em você mesmo, saberá distinguir nos outros, pois todos somos seres humanos e temos os mesmos sentimentos e as mesmas emoções porque o ser humano é um ser racional e um ser emocional. Não há como separar um do outro.

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