O livro Em Defesa do Socialismo, de Fernando Haddad, além de
não lembrar o Manifesto Comunista, mais parece um ataque ao socialismo do que
uma defesa.
De início, Haddad não compreende qual o socialismo que ele
se propõe a defender. Mas até aí tudo bem. É próprio nesse estilo de escrita
não deixar bem claro o que se pretende. Como bem disse o Lula: “Não sabemos o
tipo de socialismo que queremos”. Talvez Haddad, no seu livro, publicado em
1998, estivesse falando do socialismo científico de Marx e Engels. Talvez
estivesse falando do socialismo utópico. Talvez estivesse falando de um novo
socialismo que vai acontecer no futuro... e o futuro nunca chega. Vá saber.
Minha intenção não é esculhambar o livro de Fernando Haddad nem enaltecê-lo, mas realizar uma análise com uma consideração especial e com a necessária sisudez.
Minha intenção não é esculhambar o livro de Fernando Haddad nem enaltecê-lo, mas realizar uma análise com uma consideração especial e com a necessária sisudez.
1 - Na introdução, Haddad começa dizendo que o mundo
administrado perdeu controle. “O Welfare State se desorganizou”. E depois coloca questões sobre a
perspectiva do mundo, sobre o processo em marcha e sobre o neoliberalismo (a
nova ordem) que trouxe uma apaixonada compulsão a anunciar a morte do
socialismo e do pensamento crítico.
E complementa no início do parágrafo final:
Num momento de refluxo do movimento
socialista, Marx foi lembrado por um camarada de que, em uma de suas obras,
Hegel observa que imediatamente antes que surja algo de qualitativamente novo,
o antigo estado recupera a sua essência originária, na sua totalidade simples,
ultrapassando todas as diferenças que abandonara enquanto era viável (p.12).
Refluxo
é o que causa quando se lê uma frase dessas que sintetiza o pensamento
revolucionário. Antes que surja algo de qualitativamente novo, o antigo estado
(um ente subjetivo) que, provavelmente, é vidente, antecipa o futuro e, num
passe de mágica, volta ao passado para recuperar a sua essência originária,
mesmo sem ter perdido essa essência. Mas essa fica na conta de Hegel.
No
capítulo I - O Legado de Marx, Haddad diz que o principal defeito do movimento
socialista até aqui (1998) foi não perceber o quão elásticas são as relações de
produção capitalistas, o quão adaptável é o sistema capitalista. Lembrando que
não sabemos de qual socialismo Haddad está falando, apesar de que ele usou a
expressão “movimento socialista”, que é uma coisa distinta do “socialismo” em
si.
2 -
Nesse mesmo capítulo, na página 19, Haddad diz: “O conceito de classe social em sentido pleno é corretamente
definido, dentro do discurso materialista, pelas relações de distribuição que
são expressão imediata das relações de produção”.
Marx,
no Manifesto, divide a sociedade em duas grandes classes diametralmente opostas:
burgueses e proletários. E depois, Marx redefiniu-se referindo-se a três
grandes classes: trabalhadores assalariados, capitalistas e proprietários
fundiários. Posso dizer que todas essas são divisões essencialmente financeiras.
Ora,
a estratificação de uma sociedade em classes sociais, como o próprio nome diz,
classes SOCIAIS, envolve outros fatores além do financeiro e isso torna
praticamente impossível estratificar uma sociedade complexa em classes sociais,
pois tal estratificação é muito dinâmica. O termo “social” é concernente a uma
sociedade e envolve a cultura, o financeiro, etc. Eu mesmo posso fazer parte de
distintas classes: posso ser de classe média financeira e, ao mesmo tempo,
posso ser dono de uma microempresa e fazer parte de uma ONG abortista. Em qual
sentido sou burguês e em qual sentido sou proletário? E posto que a
estratificação em classes sociais é, obviamente, dentro de uma sociedade: em
relação a quem sou burguês e em relação a quem sou proletário? Eu mesmo que
defino a que classe eu pertenço? Ou deixo para os outros definirem a que classe
eu pertenço?
Porém,
como Haddad bem disse, essa divisão de Marx em duas classes (burgueses e
proletários), aparentemente não se verificou, pois “a realidade é mais complexa e pode muito bem apenas ser mais
confusa, se lhe falta o método adequado”,
o que confirma o que eu disse no parágrafo anterior.
Mas
podemos perguntar: quem estabelece o método adequado, Marx, Haddad ou eu mesmo
enquanto participante de uma classe?
3 -
Depois, nas páginas 19, 20 e 21, Haddad estabelece limites de uma dada classe,
superior e inferior, e estabelece o critério materialista e conclui:
Resumidamente, portanto, a teoria
marxista de classe colocava sob a rubrica de proletariado a massa de
trabalhadores que vendia sua força de trabalho diretamente ao capital -
industrial, comercial ou financeiro - e o exército industrial de reserva; e
colocava sob a rubrica de burguesia os capitalistas, a alta gerência e os
proprietários fundiários.
Portanto,
o marxismo se faz e se re-faz da mesma maneira que um indivíduo troca de roupa
de baixo. E, no momento que eu digo que “a
massa de trabalhadores vende sua força de trabalho ao capital”, estou dizendo expressamente que é necessário
existir trabalhadores e capital,
porque um, logicamente, não existe sem o outro. E se um não existe sem o outro,
porque cargas d’água um combate o outro?
4 -
Na página 20, chama a atenção o seguinte: “Correlativamente,
o desempregado cuja força de trabalho não é mais útil ao capital, ou seja,
cujas habilidades tornaram-se uma mercadoria
sem valor, esse pobre diabo, por não ter o que vender, nem a si mesmo, não
pertence ao proletariado”.
A
expressão “mercadoria sem valor”, com o meu grifo acima, requer uma análise
mais detalhada porque, nas páginas seguintes, Haddad discorre usando os termos
mercadoria e valor.
E
nesta análise temos que responder as perguntas: O que é mercadoria para Marx? De
qual valor se está falando?
Para
dirimir essa questão, reproduzindo Paulo Freire, fui à Marx:
A mercadoria é, antes de mais nada,
um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades
humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da
fantasia. Não importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se
diretamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou indiretamente,
como meio de produção (O Capital, Livro 1, Vol. 1, pp. 41-42).
Ou
muito me engano, para Marx, qualquer coisa pode ser uma mercadoria. Então um
desempregado, esse pobre diabo, não pode tornar-se uma mercadoria sem valor,
pois ele pode vender suas habilidades de, por exemplo, criminoso ao capital.
Sendo eu um “capitalista”, posso fazer uso do lúmpen-proletariado e comprar sua
força de trabalho para satisfazer uma necessidade minha. Haddad deturpou Marx?
E
agora parto do pressuposto de que o valor da mercadoria referido por Haddad é a
“duplicidade, por serem ao mesmo
tempo objetos úteis e veículos de valor... aquela forma natural e a de valor” (O Capital, pp. 54-55). E, “As mercadorias, recordemos, só
encarnam valor na medida em que são expressões de uma mesma substância social,
o trabalho humano” (O Capital, p.55).
E o
que é o trabalho humano (ou força de trabalho ou capacidade de trabalho) para
Marx?
“Por força de trabalho ou
capacidade de trabalho compreendemos o conjunto das faculdades físicas e
mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais
ele põe em ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie” (O Capital, p. 187).
Ainda:
“Assim, a força de trabalho só pode
aparecer como mercadoria no mercado, enquanto for e por ser oferecida ou
vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a
força de trabalho” (O Capital, p.
187).
Valor-de-uso
para Marx:
As mercadorias vêm ao mundo sob a
forma de valores-de-uso, de objetos materiais, como ferro, linho, trigo, etc. É
a sua forma natural, prosaica. Todavia, só são mercadorias por sua duplicidade,
por serem ao mesmo tempo objetos úteis e veículos de valor. Por isso,
patenteiam-se como mercadorias, assumem a feição de mercadoria, apenas na
medida em que possuam dupla forma, aquela forma natural e a de valor (O Capital, p. 54).
Portanto,
a força de trabalho é uma mercadoria e, por isso mesmo, tem valor.
Acredito
estar plenamente justificado que, para Marx, o lúmpen-proletariado tem sua
força de trabalho e pode ser uma mercadoria - ainda que ele desprezasse o
lúmpen-proletariado como classe. Adiante veremos, no item 8, que o próprio
Haddad, inadvertidamente, contradiz-se e confirma essa justificativa.
5 -
Depois, na página 23, Haddad discorre sobre a emergência de uma nova classe
social: a classe dos cientistas. Porém, não consegue definir - segundo seus
próprios limites inferior e superior de acordo com o critério materialista -, a
quem esta classe pertence, ao capital ou ao trabalhador.
Sem dúvida, o resultado da atividade
de pesquisa e desenvolvimento se incorpora às mercadorias. Mas ela não é uma
atividade produtiva, no sentido exato da palavra. Ela não produz mercadorias, embora funcione como promotora do
aperfeiçoamento do processo de produção de mercadorias (pp. 24-25).
Como
vimos na compreensão de mercadoria de Marx, Haddad está equivocado de novo. A
atividade de pesquisa e desenvolvimento é uma atividade produtiva e produz
mercadorias, pois, para Marx, a mercadoria é, basicamente, uma coisa que
satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza. E a atividade de
pesquisa e desenvolvimento se enquadra na compreensão de Marx, pois há força e
tempo de trabalho envolvidos no processo. Não sei qual tradição Marxista Haddad
está seguindo.
6 -
Ainda na página 25, Haddad ressalta: “A
rigor, o tipo ideal de agente
inovador é o pós-graduado que se submeteu a uma orientação pessoal de alguém
que detém uma parcela de conhecimento não totalmente socializado (saber de
fronteira), seja por conta do nível de profundidade, seja por conta do grau de
especialização”.
Se
não me engano, Haddad terminou seu Doutorado em 1996, sendo, portanto,
pós-graduado quando escreveu o livro Em
Defesa do Socialismo. Será ele o tipo
ideal de agente inovador?
7 -
Na página 28 encontramos: “Ao
esquema de Marx, que descreve as etapas de desenvolvimento da indústria
capitalista, deve-se, portanto, acrescentar um estágio adicional”. Estaria Haddad deturpando Marx
novamente ou somente acrescentando um estágio adicional? Não vou deter-me nessa
parte para não tornar meu texto muito extenso, basta ler o livro de Haddad.
8 - Na página 31, Haddad discorre sobre “a emergência, em nível mundial, de um lúmpen-proletariado de tipo novo, camada que não é mais ‘o produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade’, como Marx definiu, mas o resultado direto da nova forma de organização capitalista” que devem ser encarados como uma verdadeira classe social porque o seu rendimento extraeconômico oriundo da criminalidade, da mendicância, da pequena extorsão, da chantagem familiar, de favores do Estado, etc, é também uma consequência imediata das relações de produção. O que confirma, de novo, agora nas palavras do próprio Haddad, o que eu disse anteriormente sobre o lúmpen-proletariado e seu valor.
8 - Na página 31, Haddad discorre sobre “a emergência, em nível mundial, de um lúmpen-proletariado de tipo novo, camada que não é mais ‘o produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade’, como Marx definiu, mas o resultado direto da nova forma de organização capitalista” que devem ser encarados como uma verdadeira classe social porque o seu rendimento extraeconômico oriundo da criminalidade, da mendicância, da pequena extorsão, da chantagem familiar, de favores do Estado, etc, é também uma consequência imediata das relações de produção. O que confirma, de novo, agora nas palavras do próprio Haddad, o que eu disse anteriormente sobre o lúmpen-proletariado e seu valor.
Ainda
que, Haddad, na página 20, ao discorrer sobre o desempregado tornar-se uma
mercadoria sem valor estivesse se referindo à época de Marx, ainda assim, como
vimos, Haddad conceituou o pobre diabo como uma mercadoria sem valor (coisa
que, para Marx, é impossível uma
mercadoria sem valor).
E
Haddad mesmo classifica o lúmpen como classe, obviamente, segundo seu próprio
conceito de classe da página 19. O lúmpen, agora como classe verdadeira, faz
parte das relações de produção, portanto, é uma mercadoria. Agora, se o ser
humano é uma mercadoria ou não, basta ler a compreensão de Marx.
9 -
Na página 34:
Não obstante, o resultado
prático-moral da ‘liberdade’ de que goza o lúmpen e da liberdade de que goza o
burguês é o mesmo: um descompromisso, tanto quanto possível, com as regras
jurídicas e morais que garantem a coesão social, particularmente as regras
democráticas (p. 34).
Haddad
equipara o lúmpen ao burguês dizendo que os dois tem um descompromisso com as
regras jurídicas e morais que garantem a coesão social. As regras jurídicas são
as mesmas para as duas classes (ou deveriam ser), mas o lúmpen tem um certo
tipo de regra moral e o burguês tem outro, são classes diferentes, segundo a
teoria de classes proposta por Haddad.
10
- Na página 35, Haddad diz que arte e técnica não se confundem. Ora, toda arte
pressupõe uma técnica. Pintar um quadro requer técnica, mesmo que seja um
quadro daquilo que chamam de arte contemporânea conceitual. Até para colocar um monte de fezes no canto de uma sala e chamar isso de arte, requer uma certa técnica
na hora de dispor o monte. Para colocar um mictório masculino de
ponta-cabeça e chamar de arte, também requer técnica. Um grupo de pessoas correndo em círculos, uma com o dedo enfiado no ânus da outra, também requer uma certa técnica. Aliás, técnica é o
substantivo feminino de técnico, que vem do Grego tekhnikós, que é relativo à arte, à ciência ou ao saber, ao
conhecimento ou à prática de uma profissão. Portanto, arte e técnica
confundem-se já na sua essência, porém, o ser humano as separa e convenciona suas definições para melhor entendimento. Entendimento este, impossível para certas pessoas.
11
- Na página 36, final deste capítulo, chama a atenção o seguinte: “Caso contrário, nunca será possível isolar
a classe dominante num pólo e as demais classes no outro, condição necessária da superação da ordem capitalista (o grifo é meu) ”. Ele está falando da teoria de
classes proposta, da divisão em forças produtivas, forças destrutivas e forças
criativas.
Ora,
isolando a classe dominante num polo e as demais em outro polo somente irá
fortalecer a classe dominante, pois esta possui os meios de ação, os meios de
produção... praticamente todos os meios possíveis em relação às demais classes.
E isso era assim em 1998 e está pior agora em 2019. Além disso, isolamento,
nesse sentido de classes, não combina muito bem com igualdade.
Esse
isolamento, se conseguido, irá provocar um massacre físico entre as classes,
ainda mais considerando agora o lúmpen-proletariado como classe verdadeira.
Quando, e se, a tão esperada revolução acontecer será pior do que a revolução
Francesa; cabeças, braços e pernas irão se despedaçar e rolar.
12
- Na página 40:
Uma melhor distribuição [de riquezas],
resultante da luta entre classes, orienta a produção no sentido de uma maior
satisfação das necessidades. Mas isso não resolve o problema de que, sob o
capitalismo, dada a gestão privada do processo de inovação tecnológica, a
correspondência entre a percepção e a possível fruição não acontece, e a
própria luta de classes é alimentada pelo desejo insatisfeito de todos (p. 40).
Resumindo:
enquanto não separar em dois polos (classe dominante e demais classes) a luta
de classes continuará, porém, separando em dois polos, a luta de classes também
continuará. O socialismo brigando com o capitalismo, pelo que se entende, é um
processo infinito que, possivelmente, terminará em carnificina ou na
escravização coletiva de fato.
13
- Na página 41, Haddad discorre sobre a opinião de Marx em relação à
organização e distribuição de todo aparato produtivo pelos produtores imediatos
organizados em comunas hierarquizadas em forma de pirâmide.
Ora,
hierarquizar em forma de pirâmide é
estabelecer classes dominantes em cima de classes dominadas - e quem ficará no
topo da pirâmide?
Não
vejo no que o socialismo de Haddad muda em relação ao capitalismo que ele tanto
combate. Talvez o que mudará serão as pessoas da classe dominante, mas o
sistema, assim proposto, continuará exatamente o mesmo.
Espero
que Haddad, quando chegar a ser classe dominante, por uma questão de coerência,
continue propondo o isolamento das duas classes em lados opostos.
14
- Nas páginas 42 e 43 Haddad fala da lógica do capital e corrobora o que eu
disse acima. Ele diz que é necessário sair da lógica do capital, mas sem abrir
mão da funcionalidade do aparato político e econômico e da liberdade formal dos
indivíduos. Aparato político e econômico
é o sistema. Ele não quer abrir mão do sistema, mas o que vem a ser essa liberdade formal é um mistério esotérico.
E ele continua:
A subversão da lógica do capital
passa pelo mercado assim como a subversão da lógica da democracia burguesa
passa pela representação política, numa articulação que não simplesmente faz de
um o limite do outro por meio de contrapesos e compensações, mas numa
articulação por meio da qual eles se interpenetram, subvertendo-se (p.43).
Pelo
que se entende, o socialismo subverte o capitalismo e vice-versa, numa relação de amor, ódio, sexo, drogas e rock and roll, onde o capitalismo entra com amor e rock e o socialismo entra com o resto. Meio
complicado isso.
E
depois ele elenca as tarefas: “no
plano econômico, trata-se de reorientar a produção e a distribuição da renda
[redistribuição de riquezas] no âmbito do mercado; no plano político, trata-se
de democratizar a definição da pauta política e a informação a ela pertinente
no âmbito da representação [democracia representativa]” (p. 43).
Depois
Haddad fala que, ao invés de tomar o mercado como um provedor de sinais que
indica ao capitalista o que os indivíduos desejam, deve-se colocar no lugar
representantes através dos quais os cidadãos devem encontrar uma forma de
sinalizar os bens que desejam. De novo, quer trocar umas pessoas da classe
dominante por outras, mas a classe dominante continua lá.
Para
tanto, Haddad propõe uma transição do atual capitalismo de sociedade (em 1998)
por ações para uma espécie de capitalismo cooperativo que envolve estímulo à
cooperativação dos não-proprietários, democratização dos fundos de pensão,
públicos ou não, imposto progressivo sobre a propriedade e centralização
progressiva nas mãos do Estado democrático do processo de intermediação
financeira por meio do controle de crédito.
O
crédito se mostra um mecanismo eficiente de socialização sem que seja
necessário expropriar quem quer que seja. Talvez venha daí o fato de a economia
do Brasil ser uma economia de crédito concentrada nas mãos dos grandes bancos.
Começo a entender o “socialismo” proposto.
Depois
ele fala que, revolucionariamente, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra
(MST) quer crédito, apoio técnico e autonomia para organizar suas cooperativas.
15
- Na página 52, Haddad fala da socialização dos meios de comunicação a partir
da criação de cooperativas de jornalistas e artistas e fala da reformulação do
ensino básico e da universalização do ensino superior dizendo que essas duas
medidas elevariam o patamar cultural da sociedade brasileira. Agora, em 2019, ainda
estamos esperando essa elevação sublime.
16
- Na página 53: “Uma reviravolta política
exigiria, portanto, uma forma de discurso que deslocasse os sujeitos de suas
posições habituais mesmo que no interior de um universo linguístico mais
estreito, permitindo-lhes trazer à consciência esses seus impulsos”.
Ele
está falando da redução do vocabulário como forma de discurso. Haddad queria
elevar o patamar cultural reduzindo o vocabulário. Não vejo como isso é
possível.
17
- Nas páginas 54 e 55, Haddad começa a falar da psicanálise, que a recepção da
psicanálise pelos socialistas foi bastante conturbada. Mas que a psicanálise
viria a suprir, no seio do marxismo, o degrau faltante entre base econômica e
superestrutura ideológica. E que procurou-se extrair da psicanálise sua força
crítico-utópica enfatizando-se aqueles elementos que efetivamente projetavam-se
para lá do sistema presente, na direção de uma civilização erótica (sem
incesto). Que na segunda geração dessa tradição (marxista), a psicanálise é
entendida “idealisticamente” como mero reaprendizado gramatical. E que não
teria sido explorado suficientemente o potencial emancipador da forma
discursiva da psicanálise em política como contraponto do marketing.
18
- Na página 56, Haddad discorre como o Partido dos Trabalhadores (PT), nos anos
80, conseguiu, em parte, a proeza acima.
Ninguém sabe ao certo como teria sido
um governo nacional petista em caso de vitória eleitoral, mas o PT, mais pela
forma do que pelo conteúdo do seu discurso, obteve apoio crescente no seio das
três classes não-proprietárias que iam, através dele, encontrando compatibilidades
de perspectivas (p. 56).
Agora,
em 2019, sabemos como seria e como foi um governo nacional petista.
E
Haddad, termina este capítulo da seguinte maneira: “Nesse caso, no lugar dos atuais Estados nacionais concorrentes,
ter-se-ia, finalmente, o advento de uma verdadeira comunidade internacional”. E esse advento dar-se-ia com a
redução do Estado a um mero ofertante de bens públicos, materiais e culturais,
desprovido de todo conteúdo político, caso em que não seria mais um corpo
destacado que paira sobre a sociedade, mas como algo que se confundiria com
ela. E, provavelmente, o partido acima do Estado e da sociedade, segundo o
esquema da pirâmide.
19
- Nas últimas sete páginas de seu livro, Haddad fala do Welfare State nacional e mundial, do socialdemocrata que é um
sujeito de boa alma, do neonazismo e do fascismo.
Conclusão
O
livro é escrito em linguagem ambígua: um discurso exotérico que abarca um
discurso esotérico. No meu modo de pensar, o livro cumpriu seu papel, pois
várias coisas descritas nele foram implementadas no Brasil pelo PT.
Procurei
trazer, no meu texto, alguns pontos que pudessem ser contrapostos de
maneira objetiva.
O
que Haddad tentou trazer de novo, em 1998, foi uma teoria de classes dividindo
em duas grandes classes: proprietários (burgueses?) e não-proprietários
(proletários?). Os proprietários dividem-se em: proprietários e funcionários do
capital; e entre os não-proprietários Haddad acrescenta o lúmpen-proletariado
formando três classes não-proprietárias.
Mas
como o próprio Haddad disse acertadamente: o capitalismo é um sistema adaptável.
E eu acrescento: o tal do socialismo se adapta ao tal do capitalismo e
vice-versa numa simbiose promíscua sem fim. Irão os dois se fundir ou se
destruir?
Mas enfim, tudo não passa de uma briga entre pessoas por dinheiro e poder.
Mas enfim, tudo não passa de uma briga entre pessoas por dinheiro e poder.
De qualquer maneira, ninguém tem como saber o que virá depois.
Nenhum comentário:
Postar um comentário