quinta-feira, 30 de maio de 2019

Olavo de Carvalho


     O Olavo de Carvalho chamado, pejorativamente, por uns, de Guru, e por outros, exaltativamente, de Mestre, iniciou um movimento no Brasil que, de certa forma, mudou as estruturas do pensamento brasileiro. Esta “certa forma” refere-se à mentalidade, ao modo de pensar do brasileiro. Ainda que este movimento esteja no seu início, posso dizer que ele possui uma atemporalidade (está fora do domínio do tempo); porém, esta atemporalidade pode perder-se no tempo. Esta última afirmação pode parecer contraditória, mas este “perder-se no tempo”, penso eu, refere-se ao fato de que o movimento iniciado pelo Olavo está fundamentado na pessoa do Olavo, na sua personalidade, no seu eu.
     Quando o Olavo deixar este plano existencial (morte), talvez o seu movimento (por falta de um termo melhor), pode deixar de existir, morrerá com ele. Ainda que perdurem as suas idéias e o seu pensamento - e com certeza perdurarão -, ainda assim, por falta de um sucessor ou sucessores, tal movimento, enquanto corrente filosófica, pode perder a sua força e dissipar-se no tempo.
     Após a sua morte, talvez surgirão vários “sucessores” do Olavo, “sucessores” estes no sentido de eles mesmos se arvorarem esta condição. Isto poderá causar uma quebra do movimento entre várias e diversas correntes que, porventura, não corresponderão.
     Talvez esta seja a hora de o Olavo escolher um ou mais discípulos (discípulo no sentido de seguidor disposto a dar prosseguimento ao trabalho de seu mestre) e, após um tempo de treinamento, proclamar de público, nominar seus discípulos como seus prováveis sucessores que continuarão seu trabalho. Isso evitará que surjam falsos discípulos, ou discípulos que, por terem frequentado as aulas do seu mestre e terem sido elogiados por ele de forma pública, arvorem-se esta qualidade de sucessores mesmo não tendo as qualidades pessoais do seu mestre.
     Talvez, se o Olavo já escolhesse um ou mais alunos e os treinasse pessoalmente para serem seus discípulos e prováveis sucessores, seria de bom tom no momento temporal e, futuramente, anunciar de público seus sucessores. Eu não saberia agora especificar quanto tempo seria esse “futuramente”, pois isto não depende de mim, mas depende, obviamente, do próprio Olavo.
     Acredito que o Olavo tenha meios e técnicas de o fazer, de dar um acompanhamento mais próximo como mentor e pupilo, mestre e discípulo, procurando passar para eles o âmago do seu pensamento. Lembrei agora do filme “Tropa de Elite”, na cena onde o Capitão Nascimento, ao treinar uma nova equipe, diz, mais ou menos com estas palavras: “Tenho que deixar meu sucessor, mas o cara tem que ser eu”. Não obstante essa relação parecer trivial, brega até, vejo uma verdade filosófica naquelas palavras.
     Em se tratando de sucessor (ou sucessores) de idéias, de filosofia e de movimento, é necessário que o pupilo acompanhe seu mestre estando perto dele fisicamente, convivendo com ele, absorvendo seus pensamentos até “tornar-se ele”. “Tornar-se ele” está entre aspas porque, mesmo o objetivo final sendo esse, tal objetivo jamais será alcançado tendo em vista a individualidade de cada um, isso é óbvio. Uma pessoa jamais poderá transformar-se em outra pessoa no sentido específico de um discípulo transformar-se no seu mestre. O discípulo, agora mestre, pode superar seu mestre ou ficar aquém dele. Mas, com relação às idéias, ao pensamento, esse objetivo pode realizar-se.
     As qualidades pessoais de uma pessoa podem ser perfeitamente passadas para outra pessoa, mas isso se dá através da convivência diária do mesmo modo que um pai passa seus valores para seu filho. No caso de mestre e pupilo é necessária uma convivência íntima, não no sentido grego - se é que me entendem -, mas no sentido de pai para filho. Convivência esta na qual se estabelece uma relação de confiança onde o mestre, em determinado momento, dará uma inspiração profunda e prolongada seguida de uma expiração audível - um suspiro de satisfação - que o fará saber que sua missão está cumprida, que seu pupilo está pronto para se tornar o mestre.
     E estes apóstolos, agora mestres, escolherão, entre seus alunos, aqueles que serão seus discípulos e adotarão a mesma relação com esses discípulos criando uma corrente inquebrável que se espalhará como uma progressão geométrica multiplicando as idéias e o pensamento ao longo do tempo.

2 comentários:

  1. Você é um dos discípulos, mas falar ..... para que as pessoas prestem atenção no que você tem de sério a dizer não é necessário, mesmo assim gosto de você.

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