sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Os Donos do Poder

    Os “donos do poder” que pensam ter o controle do processo: Presidentes, Reis, Rainhas, Xeiques, integrantes de grupos como Bilderberg, CFR, ONU, movimentos comunistas, movimentos conservadores, Igreja Católica, fundações como Ford, Open Society, Rockefeller e etc; que promovem somente maus valores no mundo com o único intuito de ganhar dinheiro e poder, o que mais vocês esperam ganhar com isso a longo prazo?    
   A falta da boa educação gera somente pessoas burras e violentas. E vocês esperam controlar essas pessoas com drogas e leis?    
   Quando a revolução do proletariado acontecer - sim, essa mesma - as vítimas serão vocês e não adiantará se esconder atrás de seguranças armados ou de exércitos. A elite mundial seguindo nesse rumo acabará como a elite da Revolução Francesa. Alguns promotores da Revolução Francesa também acreditavam que estavam seguros ... e tiveram seus pescoços decepados. Outros conseguiram se safar, mas a Revolução Francesa foi somente um balão de ensaio. Nesse jogo de cartas marcadas vocês estão criando uma população de coringas.    
   Esse processo está se repetindo atualmente cada vez com mais frequência no mundo. Antes eram fatos isolados, agora são focos em conjunto. 
   Esse processo vem se acentuando através de guerras civis, levantes de trabalhadores, protestos, derrubadas de governos, enfim, revolução. Está se tornando costumeiro devido à diferença mundial entre ricos e pobres. Poucas pessoas e famílias detêm a maior parte da riqueza do mundo.    
   Não é preciso ser um gênio para entender o que acontece quando se junta pobreza, burrice e violência. É simples: toda pessoa burra é potencialmente violenta, e basta um motivo para a violência aflorar. E vocês, há décadas, estão dando este motivo: pobreza. Além disso, financiam todos os movimentos que promovem a “luta de classes” - pobres contra ricos é, na verdade, a suprema luta de “classes”.    
   Não é difícil imaginar quem sairá perdendo. Os pobres, burros e violentos são a maioria e, neste caso, a minoria organizada (vocês) NÃO vence a maioria desorganizada - esta massa é muito grande -, até porque o dinheiro que vocês liberam para certos “coletivos”, vocês mesmos estão promovendo a organização dessa maioria. No momento são grupos isolados, cada qual defendendo a sua “causa”, mas para esses grupos se unirem através das suas lideranças não é difícil. Lideranças estas para as quais vocês liberam dinheiro a granel.    
   Vocês estão loucos ou estão numa bolha que não percebem o que está acontecendo? Eles estão usando seu próprio dinheiro contra vocês mesmos para matá-los futuramente. Seus seguranças e exércitos são do povo e os familiares, amigos e conhecidos também são do povo. Não é difícil imaginar de que lado eles ficarão.    
   A única maneira de reverter esse processo é tomarem consciência do que está acontecendo e fazerem alguma coisa. Voltem a promover bons valores; deixem a ganância, a usura e a mentira de lado. Combatam quem promove maus valores, combatam quem dá dinheiro para certos movimentos revolucionários para que eles parem de dar. São vocês quem tem meios de ação. 
   Para a esmagadora maioria da população mundial atualmente resta somente a pobreza, a burrice e a violência; e estas resultarão em revolução total contra vocês mesmos daqui a poucas décadas.    
   A decisão está nas suas mãos.

Este texto tenho que refazer, no momento propício.

terça-feira, 19 de novembro de 2019

Sangue Bom

Para quem é sangue bom
Tudo tem o seu tempo determinado,
Há tempo para tudo debaixo do céu.
Da nossa vida, no meio dessa jornada,
Saímos às ruas e fizemos um escarcéu.

O nosso tempo recomeçou.
Voltamos no tempo da verdade.
Há tempo de lutar.
Há tempo de morrer.
Há tempo de semear.
Há tempo de ceifar.

Mas então sangue bom,
É tempo de escolher
Com quem você está.
As maldades que se fazem debaixo do sol;
Se a gente não agir agora,
As lágrimas dos que foram machucados
Cairão sem demora.

E aí já era... tá ligado sangue bom?
Não é tempo de chorar;
Somos uma multidão.
Não é tempo de fugir;
Não é tempo de reclamar;
É tempo de coragem;
É tempo de agir.

Eles que provocaram,
Agora aguentem o tranco.
A nossa era começou;
Sabemos que este é o nosso tempo.
E agora não tem mais volta.
O fôlego da vida sopra em nós.
Deus fará renovar-se o que passou.

Façamos a nossa parte sangue bom.
Não é tempo de voltar atrás.
É tempo de agir agora.
Sempre em frente.
Dê um passo para frente
E nunca dê dois passos para trás.
Deixe que eles façam isso
E nós ocupamos o espaço.
Vamos agir com prudência.
Lutar pelo nosso País.
Não dá para ficar parado.
Temos que agir.

sábado, 9 de novembro de 2019

Os Donos do Poder


   Os “donos do poder” que pensam ter o controle do processo: Presidentes, Reis, Rainhas, Xeiques, integrantes de grupos como Bilderberg, CFR, ONU, movimentos comunistas, movimentos conservadores, Igreja Católica, fundações como Ford, Open Society, Rockefeller e etc; que promovem somente maus valores no mundo com o único intuito de ganhar dinheiro e poder, o que mais vocês esperam ganhar com isso a longo prazo?
   A falta da boa educação gera somente pessoas burras e violentas. E vocês esperam controlar essas pessoas com drogas e leis?
   Quando a revolução do proletariado acontecer - sim, essa mesma - as vítimas serão vocês e não adiantará se esconder atrás de seguranças armados ou de exércitos. A elite mundial seguindo nesse rumo acabará como a elite da Revolução Francesa. Alguns promotores da Revolução Francesa também acreditavam que estavam seguros ... e tiveram seus pescoços decepados. Outros conseguiram se safar, mas a Revolução Francesa foi somente um balão de ensaio. Nesse jogo de cartas marcadas vocês estão criando uma população de coringas.
   Esse processo está se repetindo atualmente cada vez com mais frequência no mundo. Antes eram fatos isolados, agora são focos em conjunto. Esse processo vem se acentuando através de guerras civis, levantes de trabalhadores, protestos, derrubadas de governos, enfim, revolução. Está se tornando costumeiro devido à diferença mundial entre ricos e pobres. Poucas pessoas e famílias detêm a maior parte da riqueza do mundo.
   Não é preciso ser um gênio para entender o que acontece quando se junta pobreza, burrice e violência. É simples: toda pessoa burra é potencialmente violenta, e basta um motivo para a violência aflorar. E vocês, há décadas, estão dando este motivo: pobreza. Além disso, financiam todos os movimentos que promovem a “luta de classes” - pobres contra ricos é, na verdade, a suprema luta de “classes”.
   Não é difícil imaginar quem sairá perdendo. Os pobres, burros e violentos são a maioria e, neste caso, a minoria organizada (vocês) NÃO vence a maioria desorganizada - esta massa é muito grande -, até porque o dinheiro que vocês liberam para certos “coletivos”, vocês mesmos estão promovendo a organização dessa maioria. No momento são grupos isolados, cada qual defendendo a sua “causa”, mas para esses grupos se unirem através das suas lideranças não é difícil. Lideranças estas para as quais vocês liberam dinheiro a granel.
   Vocês estão loucos ou estão numa bolha que não percebem o que está acontecendo? Eles estão usando seu próprio dinheiro contra vocês mesmos para matá-los futuramente. Seus seguranças e exércitos são do povo e os familiares, amigos e conhecidos também são do povo. Não é difícil imaginar de que lado eles ficarão.
   A única maneira de reverter esse processo é tomarem consciência do que está acontecendo e fazerem alguma coisa. Voltem a promover bons valores; deixem a ganância, a usura e a mentira de lado. Combatam quem promove maus valores, combatam quem dá dinheiro para certos movimentos revolucionários para que eles parem de dar. São vocês quem tem meios de ação. Para a esmagadora maioria da população mundial atualmente resta somente a pobreza, a burrice e a violência; e estas resultarão em revolução total contra vocês mesmos daqui a poucas décadas.
   A decisão está nas suas mãos.

Este texto tenho que refazer no momento propício, ele não está correto.

segunda-feira, 21 de outubro de 2019

A Missa


   A Missa lotada começou calma e tranquila. Passados uns dez minutos de liturgia, Deo gratias, um bebê de um ano no colo de sua mãe sentiu-se desconfortável e começou a reclamar. Reclamação esta feita do jeito típico dos bebês: primeiro com resmungos esporádicos - unhé com unhés espaçados -, depois a coisa foi, aos poucos, ficando menos espaçada e começou a incomodar os participantes.
   Um lá - não importa quem -, um lá atrás emitiu um pch curto e ríspido de cenho franzido e olhar lancinante e pensou: “- Eu vou matar essa mãe e esse bebê. ” (Não exatamente nesta sequência de mortes). Outra pensou: “- Por que ela não fica em casa com esse filho? ”, e sentiu-se superior por ter deixado seus filhos em casa. Um, interessado nos dotes físicos da mãe, começou a lançar olhares lascivos para ela. Outro, meio bêbado nem ligou, queria somente um lugar para descansar em paz e curtir sua tontura preguiçosa. Outra, vendo a beleza física do bebê e da mãe desejou no seu coração que pagassem arduamente pelos seus pecados. Um pensou em retirar-se aproveitando a deixa do bebê, pois tinha negócios financeiros a resolver. O último, também querendo usar o bebê como desculpa, pensou em ir embora, pois o horário estava próximo de uma das suas sete refeições ao dia.
   O Padre, a princípio, não se sentiu incomodado. Limitou-se a virar a cabeça e lançar olhares na direção da mãe enquanto tentava concentrar-se no Latim que estava sendo desperdiçado. Apesar desta pequena quebra da liturgia - virar a cabeça para trás -, continuou. Quando chegou, mais ou menos aos 18 minutos de missa, em um Dominus vobiscum, o bebê desatou: “- Unhééé, unhééé, unhééé, unhééé, unhééé ... ”
   O Padre, sentindo um calafrio, virou-se. A mãe já estava levantando-se para ir embora. O Padre, em silêncio, ante os olhares atônitos dos sacristões e dos coroinhas, caminhou até a mãe com o bebê. A mãe, vendo o Padre chegar perto, sentou-se. O Padre sentou ao lado e colocou as duas mãos na cabeça do bebê e proferiu algumas palavras em Latim. O bebê começou a sorrir e a balbuciar algumas palavras incompreensíveis de bebê. O Padre disse: “- Aí está você, esse é você! ”
   O Padre levantou-se e, voltando ao seu lugar no altar, parou no meio do caminho e ficou alguns segundos parado orando e pedindo perdão a Cristo por ter interrompido a liturgia. Sentindo o perdão de Cristo, voltou ao altar e continuou a missa. Todos os pensamentos ruins na Igreja sumiram. Depois da missa o Padre confessou-se novamente com outro Padre e foi perdoado.
   Durante o sermão na missa o Padre falou das tentações feitas pelos espíritos malignos, que os inocentes são os mais tentados e por isso mesmo devem ser os mais protegidos. Que o objetivo de Satanás é ensinar às pessoas a recuperar o controle consciente de seus corpos espirituais e quando as pessoas conseguem, passam a perceber o mundo espiritual do mesmo modo que o físico. Assim, tem pensamentos ruins achando que são seus próprios pensamentos. Nessa hora é que a oração se faz necessária para desfazer a confusão nos pensamentos.
   A missa continuou até seu final: Ite, missa est.

terça-feira, 15 de outubro de 2019

Prisão em Segunda Instância e a Constituição

   Todo este imbróglio em torno da prisão em segunda instância tem sua origem no artigo 5º, inciso LVII, da Estrovenga da República Federativa do Brasil, que profetiza com voz tonitruante e glamorosa precedida de três batidas pomposas no chão com o bastão da iniciação na ordem e no progresso: “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”.
   Esta porcaria de inciso LVII foi mal construído pelo mestre dos magos das cerimônias e, além disso, jamais deveria ter sido sequer colocado (quanto mais aprovado) na Constituição por ferir dois dos quatro preceitos básicos do Direito em relação à norma: clareza, concisão, precisão e realidade, como veremos adiante; e também por não ser matéria que se enfie em uma constituição de um país. Aliás, analisando-se os institutos jurídicos das últimas 5 ou 6 décadas no Brasil (ou mais) veremos que, além da quantidade de leis vigentes no Brasil ser absurda - em torno de 190 mil leis vigentes, quando o ideal seria um número em torno de 500 a, no máximo, mil leis -, elas não são, em sua esmagadora maioria, claras nem concisas nem precisas e nem reais.
   Os artigos, incisos, letras, etc, das leis devem ser claros, concisos e precisos no tocante à sua escrita formal, a saber:
   Claro: compreensível, sem dúvida, inequívoco;
   Conciso: sucinto, expressar um conteúdo sem excesso de palavras;
   Preciso: exato, ir direto ao ponto.
   Porém, além dos preceitos acima, o legislador deve levar em conta, também, a realidade da aplicação prática da lei.
   Tomando-se como exemplo o inciso LVII posso depreender ele é conciso, mas não é principalmente claro e, secundariamente, preciso.
   A sua concisão está na expressão do conteúdo sem excesso de palavras.
   Peca na sua clareza porque não deixa claro, obviamente, se é possível ou não a prisão em segunda, ou qualquer instância que for, no ordenamento jurídico brasileiro.
   E tem uma certa precisão porque trata da presunção de inocência, mas não define com clareza a partir de quando termina a inocência e deve se dar a prisão ao culpado; a popular “brecha” na lei, deixa no ar a interpretação. Daí os "notáveis saberes jurídicos" são quem decidem de acordo com as suas cabeças ocas.
   Caso o inciso sem juízo tivesse a seguinte escrita: “Ninguém poderá ser PRESO até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória” teríamos um inciso claro, conciso e preciso, mas que não seria real, não seria aplicável na realidade física. Aí está a realidade da lei, a aplicabilidade prática da lei.
   Tendo o inciso LVII a escrita acima ninguém mais seria preso aqui no Brasil por qualquer crime que cometesse devido à demora nos processos judiciais, demora esta que não me cabe no momento analisar. Mas posso aventar a possibilidade de que, em sendo as leis claras, concisas e precisas, essa demora se reduziria automaticamente, pois leis claras, concisas e precisas deixam pouca ou nenhuma margem às interpretações e permitem recursos às instâncias recursais somente quando houver necessidade de recurso por um erro no processo, falta de indícios e/ou provas, etc.
   Um exemplo de escrita do inciso LVII: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, mas o tribunal deverá determinar a execução das penas privativas de liberdade, restritivas de direitos ou pecuniárias, sem prejuízo do conhecimento de recursos que vierem a ser interpostos”. Ou, em uma linguagem mais popular: “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória, mas deverá ser recolhido à prisão na decisão em segunda instância”. Lembro aqui para ficarem atentos na diferença entre “poderá” e “deverá”.
   Mas, repito, a presunção de inocência não é matéria que se enfie na Constituição. É matéria do Código de Processo Penal ou outra lei pertinente.
   O que vemos no ordenamento jurídico brasileiro é o excesso de recursos baseado nas famosas “brechas” na lei. Essas famosas “brechas” na lei nada mais são do que as margens de interpretação excessivas simplesmente porque a lei, no seu texto escrito, ou não é clara ou não é concisa ou não é precisa, como vimos no exemplo da Constituição Brasileira ... esta estrovenga sem noção feita e promulgada por um bando de asnos. Bando este que vem copulando entre si e dando cria e aperfeiçoando geneticamente a burrice e a canalhice dos seus rebentos. O bastão da burrice vem sendo passado de geração em geração. Os políticos mais velhos, velhacos e sedentos por leite fresco, copulam bem gostoso a mentalidade dos mais novos mantendo a tradição progressista ... se é que é possível esta expressão: tradição progressista!?
   O excesso de margem à interpretação nas leis, leva ao autoritarismo de um ser humano sobre os outros, substitui a paz pela desordem e substitui a duração das instituições pela sua derrocada. É exatamente para evitar o caos, a corrupção e a desordem é que as leis devem ser claras, concisas e precisas e devem ter aplicabilidade prática na realidade física.
   Os legisladores, ao formular uma lei, devem, obrigatoriamente, seguir estes preceitos de clareza, concisão, precisão e realidade.
   A votação no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a prisão em segunda instância já ocorreu 4 vezes nos últimos anos e terá uma quinta vez, onde, novamente, o STF decidirá arbitrariamente ao fedor do momento a prisão ou não em segunda instância. E o STF perde tempo e dinheiro público discutindo questões que já deveriam estar expressas na lei. E o STF, o esplendoroso guardião da Constituição, dorme um sono profundo em berço esplêndido e sonha com um sistema juristocrático enquanto seu espírito maculado paira como uma toga negra sobre seu próprio corpo na esperança de que ninguém o desconecte dos aparelhos ideológicos que o mantém vivo.
   Vemos que por erro provocado pela incompetência crônica do legislativo ao formular e aprovar estupidamente um inciso da Constituição promove toda esta balbúrdia no que concerne a uma pequena parcela do ordenamento jurídico. Estenda-se isto à maioria do ordenamento jurídico e temos o que temos no Brasil.
   Ao analisar-se a Constituição - e outras leis - veremos que sua esmagadora maioria é mal formulada, mal escrita e não tem aplicabilidade prática. Os “legisladores” brasileiros, as Vossas Excelências, com seu desarranjo legislativo escrevem as leis com palavras bonitas, mas vazias de conteúdo e ao lerem (se é que sabem ler) as próprias leis que escrevem, tem múltiplos orgasmos mentais: “- Olha que coisa mais linda esta lei, fomos nós que fizemos, é um avanço, não sabemos excremento nenhum de leis e nem como funciona o processo legislativo, mas somos fodões”.
   A Constituição tem 250 artigos e 80 emendas constitucionais, sendo seis delas de revisão. Destes, 101 artigos a ser “regulamentados em lei complementar” e alguns, passados 31 anos, ainda não foram regulamentados. É por essas coisas que o Brasil é a terra dos absurdos.
   Ora, a Carta Magna é a lei maior e não pode ser regulamentada por uma lei menor. É o poste mijando no cachorro, é o Brasil. É uma aberração jurídica. As leis complementares, ordinárias, delegadas e etc é que devem guiar-se pela Constituição e não o contrário. Isso é que é uma inversão de valores bem caprichada na qual a população brasileira é introduzida legalmente como o passivo da história. Para quem não entendeu, é o avanço linguístico da famosa expressão popular que doravante se escreve de forma clara, concisa, precisa e real: o povo só toma na bunda, mas agora é Legal.
   Os Poderes Legislativo, Executivo e Judiciário vêm alterando a Constituição e o Estado Brasileiro fazem 31 anos ... sem Assembléia Constituinte. Não é à toa que temos essa confusão maligna dos diabos. Não é à toa que após 1988 começou uma chuva de ações de inconstitucionalidade e a expressão “ação de inconstitucionalidade” tornou-se corriqueira no Brasil ... até na ZBM sabem disso. ZBM é a zona do baixo meretrício, também conhecida por seu apelido carinhoso: zona.
   Donde conclui-se que no Brasil temos um excesso excessivamente excessivo de simulacros de Leis, ou seja, não temos Leis: é uma terra sem Lei onde impera a mentira, a politicagem, a ladroagem, a corrupção, a putaria, crimes variados, maus valores, etc.
   Quem pode mais, chora menos; mas de qualquer maneira, todos choram. Até quando?

quinta-feira, 10 de outubro de 2019

Tristeza Profunda

   Um sorriso triste. A vida não tem muito sentido. Talvez tenha um pouco, mas não muito. A música de amor e felicidade que toca no rádio é uma agressão aos meus ouvidos. As letras e as palavras felizes são ofensas. A melodia até que é bonita, mas serve somente para confundir os sentimentos. Entre alegria e tristeza a vida oscila como um pêndulo e a corda no pescoço vai apertando. Basta um salto neste abismo sem muito sentido e tudo se acaba.
   Mas e se a morte não for o fim? E se o sofrimento continua no infinito?
   As palavras se perdem no ar, mas são mais eternas do que a vida. Tive idéias, mas não deixarei nenhuma que preste. O legado de uma vida sem muito sentido permanece somente na lembrança dos entes queridos. E ainda assim é uma permanência transitória que se perde no tempo. Quando o esquecimento torna-se presente não lembramos mais do passado e ficamos sem futuro.
   Removo a corda imaginária do pescoço, pois estava me sufocando. Respiro aliviado... mas até quando?
   Até quando esta vida sem muito sentido?
   Eu penso, mas não sei se existo. Vamos acumulando flores no jardim da vida, mas as flores murcham e morrem. Não faz sentido cuidar do jardim, é trabalho perdido.
   Estou cansado, mas nem posso dizer que não tenho mais forças, pois forças sempre têm. E esse é o problema. Não tivesse eu mais forças, meus problemas terminariam. A desculpa perfeita para esta penumbra mental e sombria é dizer que não se tem mais forças para viver.
   Mas se não se tem mais forças para viver, como se terá forças para morrer?
   Esse é um dilema que corrói a alma já corroída.
   Viver entre alegria superficial e tristeza profunda é uma balança de sentimentos na qual as medidas não tem peso. As alegrias sequer são um bálsamo que alivia a tristeza, pelo contrário, as alegrias evidenciam a tristeza. Se pelo menos a alegria superficial sumisse restaria somente a tristeza profunda e daí as coisas ficariam mais claras, mais objetivas e esta vida então teria sentido. O sentido desta vida é a morte, e isto não tem muito sentido. Viver para morrer?
   Plantei várias árvores, mas nenhuma vingou. Escrevi livros, mas não publiquei-os. Tive filhos, mas perderam-se no mundo.
   A tragédia da vida é que ela é uma comédia. É uma piada de bom gosto, mas sem graça nenhuma. Ou melhor: é uma piada de bom gosto, mas somente os outros acham graça.
   Os momentos de alegria vêm... e passam. E mesmo quando a alegria está presente a tristeza também está. E quando a alegria está ausente, a tristeza - companheira fiel desta vida - nunca abandona.
   Sentir-se feliz por estar triste. É difícil de entender tal colocação, mas quando resta somente a tristeza ela é companheira na solidão. Não me agarro na tristeza. Queria que ela fosse embora, mas a tristeza é quase um órgão físico. É como um órgão interno, vital, que se arrancarmos a tristeza, morremos. Por isso diz-se "tristeza profunda", ela faz parte do corpo e da alma. Já não é somente um sentimento, é também uma presença física. Esta é a grande comédia: não sabemos onde estamos tristes, simplesmente estamos tristes.
   E essa tristeza profunda causa indiferença e nos faz indiferentes aos momentos de alegria. Quando estou alegre sei que esta alegria passará; e até desejo que passe logo para que eu possa voltar a saber que estou triste. A alegria misturada à tristeza nunca é boa.
   Gostaria que a tristeza passasse, mas como ela nunca passa então só me resta esperar a alegria passar, pois esta, esta sim sempre passa. Mas depois volta. Por que a alegria não permanece?
Talvez ela não goste de mim. Talvez eu seja muito triste para ser alegre. Entre ser e estar eu sou triste, mas às vezes estou alegre.
   Os olhos tristes falsificam o sorriso. O sorriso não alegra os olhos e isso faz o conjunto do rosto ficar estranho, grotesco: a boca sorrindo com os olhos tristes. Não são sorrisos forçados, são espontâneos, mas são sorrisos tristes. Um mero separar de lábios para agradar na comédia da vida. Movimentos involuntários, reflexos condicionados dos músculos do rosto que se desfazem da mesma maneira que apareceram mostrando que a vida não tem muito sentido. E assim termino como comecei: com o mesmo sorriso triste.

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Projeto Em Frente Brasil


   Recentemente saiu a notícia do projeto Em Frente Brasil que visa combater a criminalidade violenta. Tal projeto foi lançado em cerimônia oficiosa e pomposa pelo governo federal, tal como era feito no governo Lula. Projetos de nomes bonitos lançados em cerimônias bonitas e muito puxa-saquismo entre os integrantes, egos exacerbados.
   A Força Nacional será colocada inicialmente em cinco municípios do País. Força Nacional esta, idealizada e criada em 2004 pelo então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos no governo Lula. Márcio Thomaz Bastos, depois que deixou o ministério, trabalhou como advogado. Entre os casos famosos em que trabalhou, foi o advogado de defesa de empreiteiras na Operação Castelo de Areia e na Operação Lava Jato. Em 1992, juntamente com o jurista Evandro Lins e Silva, participou da redação da petição que resultou no impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor e depois foi agraciado com o cargo de Ministro da Justiça no governo Lula.
   Os cidadãos brasileiros já ouviram falar da Força Nacional aqui e ali, mas agora, o governo Bolsonaro, através do Ministro Sérgio Moro, coloca a Força Nacional na linha de frente. Não obstante a intenção deste projeto Em Frente Brasil ser nobre, não é uma mudança estrutural. Os municípios não precisam de uma Força Nacional atuando por alguns meses tal qual se coloca o Exército nos morros. Os municípios e os estados precisam de mais policiais, mais equipamentos, melhores condições. Os estados e os municípios precisam de maior autonomia legal e de arrecadação, pois estão todos endividados com o governo federal.
   A mim este projeto parece uma medida paliativa que, com o tempo, se tornará inócua. A pompa durante o lançamento do projeto foi uma bela jogada de marketing, talvez para dar à população o senso comum de que o governo está fazendo algo profundo contra a criminalidade.
Até agora não vi nada neste governo Bolsonaro que me chamasse a atenção. Foram mudanças superficiais, nenhuma mudança estrutural, como a descentralização do poder do governo federal para os estados e municípios.
   Revogar decretos e leis do governo anterior não significa muita coisa, são medidas passageiras, pois o próximo governo, se for da oposição, revogará os decretos do Bolsonaro. Temos esse ciclo no Brasil há décadas, mas mudanças estruturais: nenhuma.
   É uma pena, pois eu tinha muitas esperanças no governo Bolsonaro, mas, repito, até agora não vi nada que me chamasse a atenção.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A Rebelião das Massas


   A massa tende à violência. Nunca entendi muito bem o significado dessa expressão. Aliás, nunca entendi muito bem o significado de “massa” no tocante à seres humanos. “Massa” seria uma multidão enfurecida? Nesse sentido tivemos manifestações de “massas’ que foram pacíficas e isso contraria uma multidão enfurecida.
   Talvez “massa” seja no sentido de manipulação, de que as “massas” são manipuláveis como uma massa de pão onde o padeiro bate nela até dar-lhe a forma desejada.
   Talvez "massa" seja a multidão frequentadora de estádios de esportes, como o futebol.
   Mas qual é a quantificação de “massa”? Quantas pessoas são necessárias para compor uma “massa” de pessoas?
   “Massa” então não seriam 999 pessoas, pois bastaria acrescentar mais uma pessoa tendo mil para compor uma “massa”? Qual o limite de pessoas que compõem uma “massa”?
   Sabemos que o conceito de multidão é quantitativo e visual e que “massa”, para Ortega y Gasset, “é o homem médio. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão – numa determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o mostrengo social, é o homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo genérico”.
   “Vocês que fazem parte dessa massa”, como diz a música; então não estou me incluindo nesta “massa” sendo que nem sei qual é esta “massa”. Sendo um dos conceitos de sociedade “a interação psíquica entre os indivíduos”, então faço parte dessa e de várias “massas”.
   Mas entendemos que a palavra “massa” não tem um significado exclusivamente político, pois “A vida pública não é só política, mas, ao mesmo tempo e ainda antes, intelectual, moral, econômica, religiosa; compreende todos os usos coletivos e inclui o modo de vestir e o modo de gozar”.
   Ainda que “massa”, a rigor, pode se definir como um fato psicológico, sem a necessidade que os indivíduos se aglomerem, como podemos saber se uma pessoa é massa ou não?
   Segundo Ortega y Gasset, “Massa é todo aquele que não se valoriza a si mesmo – no bem ou no mal – por razões especiais, mas que se sente “como todo o mundo”, e, entretanto, não se angustia, sente-se à vontade ao sentir-se idêntico aos demais”. Mas ao mesmo tempo ele diz que esse homem se sentirá medíocre e vulgar, mas não se sentirá “massa”.
   Talvez aí esteja o significado de “massa” como fato psicológico. Porém, o homem médio que se sente medíocre e vulgar, mas que não se sente “massa” é um homem individual e isto afasta a definição de “massa” como fato psicológico. E se este homem estiver no meio de uma multidão em uma manifestação e não estiver se sentindo “massa”, ainda assim é um fato psicológico individual.
   Talvez “massa” seja no sentido de boiada que segue o sinuelo. O sinuelo é aquele ou aqueles bois mansos que vão na frente da boiada para dar-lhes a direção que o condutor da boiada determinar. Então, nesse sentido, a “massa” de pessoas segue a opinião dos “formadores de opinião”, dos sinuelos que, por sua vez, seguem a opinião do condutor.
   Neste ponto do estudo, para ter uma “rebelião das massas” se faz necessário que o condutor da “massa” assim o queira. Então não é uma “rebelião das massas”, é uma rebelião do condutor das “massas”. E esta “massa” tenderá à violência se o condutor quiser, a não ser que as coisas escapem do seu controle.
   Não vou me estender nesta parte, pois um estudo mais completo desse “escapem do seu controle” demanda tempo e não é o objetivo deste texto.
   Então, o que é “massa”?
   No meu entender é um conceito extremamente vago e idiota. É mais um dos tantos conceitos implantados para manipular... a “massa”.
   E se a “massa” for composta de pessoas esclarecidas, deixa de ser “massa”? Neste caso vamos chamar de quê?
   Se a população de uma sociedade tiver boa educação e um bom nível de esclarecimento ainda assim se chamará de “massa”?
   São várias questões ainda não respondidas pela massa cinzenta.

terça-feira, 30 de julho de 2019

A Mais Valia de Marx

   Entendendo a mais-valia de Marx. Não entrarei profundamente na mais valia absoluta e na mais valia relativa, mas deixo aqui as conceituações de Marx, que não servem para muita coisa:
Chamo de mais valia absoluta a produzida pelo prolongamento do dia de trabalho, e de mais valia relativa a decorrente da contração do tempo de trabalho necessário e da correspondente alteração na relação quantitativa entre ambas as partes componentes da jornada de trabalho (O Capital, Livro 1, Vol. I, p. 363).
   Vamos tomar como exemplo o atacado e o varejo.  Quando compramos no varejo (de uma até duas ou três, ou mais mercadorias, até um certo número estipulado pelo fabricante e/ou pelo comerciante) a mercadoria tem um determinado valor. Quando compramos pelo atacado, a mercadoria, unitariamente, sai por um valor menor. No caso, segundo Marx, este valor é o valor de troca, posto que o valor de uso é intrínseco à mercadoria, o valor de uso já nasce com a mercadoria. Grosso modo, o valor de uso é a própria mercadoria, é o produto, é o valor que cada um dá à mercadoria não importando seu valor de troca, ou seja, não importando por quanto (em dinheiro ou capital) a pessoa vende ou compra a mercadoria. Algumas vezes o valor de uso é o valor de troca, outras vezes não.
   Ao comprar uma caixa de, por exemplo, água sanitária, o valor unitário (valor de troca, o preço) de cada recipiente é um determinado valor, mesmo eu não concordando com o preço e achando aquele valor (valor de uso para mim) muito caro. Utilizo o exemplo de água sanitária porque é bastante apropriado quando se estuda Karl Marx.
   Ao comprar um recipiente apenas, o valor é maior. Quando estamos dentro de um supermercado que vende por atacado temos uma caixa de água sanitária cujas unidades recipientes tem um determinado valor. Caso eu comprar a caixa toda, obviamente pagarei esse determinado valor. Porém, se eu abrir a caixa e retirar somente um recipiente, o valor deste recipiente aumenta automaticamente.
   Posso dizer, neste ponto, que aí está a mais valia de Marx (o valor excedente), pois, para o fabricante, o valor de produção da água sanitária é o mesmo. Seu custo e seu lucro já estão embutidos neste valor de produção. O preço que pagamos a mais quando levamos um único recipiente em relação a levarmos a caixa toda é, neste sentido, a mais valia de Marx, pois não há nada que justifique financeiramente este aumento no preço.
   Mas podemos dizer que o que justifica este aumento de preço é a quantidade da mercadoria (relação quantitativa entre mais valia e lucro, segundo Marx). Quanto mais compramos, menor preço pagamos. Assim é em praticamente tudo. Compramos uma dúzia de ovos, o preço é um; compramos uma bandeja de ovos, o preço é menor. Compramos um único livro de O Capital, o preço é um; compramos todos os volumes de uma vez só, o preço é menor.
   Obviamente temos, neste processo, os intermediários. Aí a trama se complica. Cada mercadoria tem um ou mais intermediários até chegar no consumidor final, por exemplo, o comerciante dono de mercado que compra no atacado e vende para o consumidor final, é um intermediário. Cada intermediário leva a sua parte aumentando o valor final. Até aí tudo bem. Este é o processo normal desde a produção até a venda final.
   Vemos, então, que temos uma estratificação no processo de troca de mercadorias onde cada camada tem o seu lucro (ou mais valia). Analisando-se assim, isoladamente, podemos chegar à conclusão segura de que a solução seria eliminar os intermediários. Porém, analisando-se a sociedade como um todo, tal solução é inviável pois acabaria em concentração de poder, totalitarismo, fim da humanidade como a conhecemos.
   Poderíamos aventar a possibilidade de que a mais valia seria também o que se chama de especulação, ou seja, aumentar o valor tendo por base uma situação futura e, obviamente, incerta. Por exemplo, a especulação do próprio dinheiro, a usura da qual Sócrates falava, emprestar dinheiro a juros. Teríamos aí, de certa maneira, a mais valia (o valor excedente).
   Vemos, então, que a mais valia não é simplesmente um valor excedente que resulta exclusiva e obrigatoriamente do lucro, posto que o lucro é uma parte financeira do processo de produção e venda. E digo, agora, processo de produção e venda, pois a venda faz parte do processo de produção, pois não teria sentido produzir uma mercadoria sem vendê-la sendo que estamos falando daquilo que Marx chamava de Capitalismo.
   Então, analisando-se neste sentido, a mais valia de Marx existe, porém, ela resulta da falta de moral e da falta de honestidade em cada camada do processo de produção, ou seja, resulta da falta de moral e da falta de honestidade de cada indivíduo envolvido no processo.
   Mais valia, taxa de mais valia, lucro e taxa de lucro são coisas distintas para Marx. Porém, Marx se perde na explicação dessas distinções. Basicamente, lucro, para Marx, é coisa exclusiva do empresário, do capitalista malvado. Ele fez um estudo em O Capital considerando tal estudo de forma geral, mas esqueceu-se de que os negócios feitos por um consumidor no mercado da esquina numa rua de um bairro de uma cidade são diferentes dos negócios entre países e que, no meio disso, tem inúmeros níveis e tipos de negócios que se diferenciam por si só.
   Atirar-se esta expressão - mais valia - de forma vaga e imprecisa na sociedade e ligando-a única e exclusivamente ao lucro, temos que, quando se fala a palavra “lucro” as pessoas automaticamente raciocinam como se lucro fosse uma coisa errada, malvada, mas todo mundo quer ter lucro. Não fosse assim, todos trabalharíamos de graça e todos morreríamos de fome; ou, então, eliminamos o dinheiro e adotamos o processo de escambo total (troca direta de mercadorias total), coisa impossível e até um tanto ingênua atualmente.
   Lucro, neste sentido no qual estou falando, posso dizer que lucro é também o salário do trabalhador. Não fosse assim, então o trabalhador deve transformar-se num capitalista para que possa ter lucro, mas daí voltaremos a toda a discussão de Marx que envolve capital, processo de produção, mais valia, lucro, taxa de lucro, valor de uso, mercadoria, valor de troca, etc, entrando, de novo, num processo sem fim.
   Donde conclui-se: caso você não quer ser um capitalista malvado, então não tenha lucro e mantenha-se a vida inteira na classe dos trabalhadores e seja explorado a vida inteira pelo capitalista malvado, pois no momento em que você tiver lucro, você deixa de ser um trabalhador e passa a ser um capitalista malvado.
   Então, a questão resume-se na resposta da seguinte pergunta: o que é lucro?
   Lucro seria o valor excedente cobrado na mercadoria? Neste caso, então lucro é a mais valia de Marx.
   Neste momento se faz necessário discernir o que é mercadoria para Marx. Basicamente, mercadoria para Marx é tudo, incluindo bens e serviços, e até o próprio ser humano. A força de trabalho também é uma mercadoria no sentido marxiano... ou marxista.
   Então, sendo lucro o valor excedente que um trabalhador cobra de seu patrão, logicamente, este trabalhador está usufruindo da mais valia. E sabemos que mais valia é pecado mortal para Marx. E isto transforma automaticamente o trabalhador num capitalista ganancioso. Um chefe de alguma agremiação de trabalhadores, por exemplo, um sindicato, quando está negociando com os patrões, de certa forma ele está negociando a mais valia (ou lucro) para os trabalhadores, pois a força de trabalho, para Marx, faz parte do processo de produção. Neste momento, “nosso capitalista recobra sua fisionomia costumeira com um sorriso jovial”.
   Obviamente podemos dizer que a mais valia vale somente para o capitalista, não vale para o trabalhador, pois este não tem lucro, tem somente o seu salário e o salário não é lucro. E assim desmanchamos o sorriso jovial do nosso capitalista. Então, a mais valia não está ligada ao lucro, são coisas distintas. E separamos trabalhador de capitalista, pois o capitalista, para Marx, é um não-trabalhador. E, desta forma, separamos em classes financeiras a humanidade que existe em cada ser humano.
   E voltamos à pergunta anterior: o que diabos é lucro?
   Talvez algum leitor saiba me responder essa pergunta, ou, algum leitor com moral e honestidade verá que a resposta dessa pergunta é que lucro é uma coisa individual, pessoal, intrínseca a cada negócio e que depende da satisfação pessoal de cada um dos envolvidos naquele negócio. Mesmo lucro sendo qualquer vantagem, benefício (material, intelectual ou moral) que se pode tirar de alguma coisa, ainda assim, o lucro em si não é malvado. Malvadas são as pessoas que escrevem 2.582 páginas em uma obra que, além de não conseguir responder nada, causam uma confusão imensa na sociedade.

domingo, 28 de julho de 2019

Eu

Temos o "eu ontológico", o "eu cognoscente",
O "eu verdadeiro", o "eu falso",
O "eu em si", o "eu inconsciente",
O "eu como ser", o "eu como ato",

O "eu consciente", o "eu sujeito",
O "eu que nega", o "eu matéria",
O "eu que afirma", o "eu objeto",
O "eu que tanto-faz-como-fez (esse inventei agora").

O "eu penso, logo existo", o "eu existo, logo penso",
O "eu independe" do "eu que depende" (sem evitar o jogo de palavras).
E temos também o "não-eu" que é o "eu" que não sou eu
Que lembra de não esquecer do mundo.
Talvez esqueci de algum"eu".
É que são tantos "eus" que eu mesmo já nem sei quem sou.
Autor: Eu.

sábado, 27 de julho de 2019

Pensamento, Linguagem e Comportamento

   Para nosso estudo, coisa é tudo que há (corpóreo ou incorpóreo) tanto fisicamente quanto em pensamento; objeto é aquilo que se está estudando; sujeito é aquele que estuda o objeto. Uma coisa pode ser um objeto material ou imaterial estudado pelo sujeito. Por exemplo, um ser humano estudando outro ser humano (Paulo estudando Pedro), Paulo é o sujeito do estudo e Pedro é o objeto do estudo, porém, os dois são coisas. O que é esta coisa que estou estudando? O que é esta coisa que está me estudando?
   O conceito de coisa, neste caso, é bastante amplo, por isso faz-se necessário deixar bem claro de qual coisa (em que sentido estamos falando) em cada situação.
   Óbvio é que existe também o significado gramatical da palavra coisa que, basicamente, vem ao encontro do sentido acima. Porém, por uma questão de clarificação, uma coisa enquanto objeto de estudo não significa que estamos coisificando pejorativamente um ser humano no exemplo acima. Fosse assim, então a psicologia, a psiquiatria, a antropologia, etc, coisificam o ser humano, o que é absurdo. Por isso torna-se estritamente necessário evitar a repetição desmesurada da palavra coisa e, quando a usarmos, que fique bem claro seu significado. E este pensar, ou modo de pensar, aplica-se a outras coisas enquanto objetos de estudo.

Pensamento
   Há uma diferença entre o pensar e o pensamento. O pensamento refere-se ao conteúdo, ao objeto no qual pensamos. O pensar é o ato em si. Quando pensamos, pensamos em determinada coisa, em determinado objeto - objeto aqui não é somente um objeto físico -, repetindo em outras palavras: objeto deve ser entendido como a coisa em si e esta coisa pode ser tanto um objeto material quanto um objeto imaterial, por exemplo, respectivamente, cadeira e liberdade. São duas coisas que podem vir a ser objetos de estudo.
   Um objeto de estudo, grosso modo, é a coisa discutida, conversada, estudada, falada, etc. Quando estamos no churrasco de fim de semana discutindo o resultado do campeonato de futebol ou conversando sobre a novela, de certo modo, estes são os nossos objetos de estudo: o resultado do campeonato e a novela.
   O pensamento depende da coisa na qual pensamos, por exemplo, uma árvore (pensamos em uma árvore). O pensar é o ato de pensar em uma árvore, mas podemos pensar em uma cadeira, em uma pedra, em um cavalo, em um ser humano, etc. Podemos pensar duas ou três vezes na mesma árvore, podemos pensar três vezes em três cavalos diferentes, etc. O pensar, em si, enquanto coisa estudada, independe do objeto no qual pensamos, o pensar pensa um pensamento. Não nos deteremos aqui, neste estudo, no pensar.
   Para entendermos melhor o pensamento vamos tentar definir conceito objetivo e conceito subjetivo. Mas antes, precisamos saber o que é conceito.
   Para o nosso entendimento, conceito é aquilo que nos vem à mente (imagens e/ou palavras) quando pensamos em alguma coisa, num objeto material ou imaterial, e serve para organizarmos nosso pensamento. Por exemplo, dez pessoas olhando para a mesma árvore, a imagem mental dessa árvore será a mesma, basicamente, na mente dessas dez pessoas posto que estão olhando para a mesma árvore (independentemente que cada pessoa esteja vendo essa árvore de posições diferentes entre si, por exemplo, as dez pessoas dispostas ao redor da árvore; ou as dez pessoas vendo a árvore de uma mesma posição).
   O pensamento é na árvore que estamos vendo, mas o conceito é sobre a árvore em si ou sobre aquela árvore especificamente.
   Vemos então que, nesse sentido e para o nosso entendimento, o conceito torna-se uma coisa individual e com uma forte base na realidade física, pois estamos percebendo uma coisa física (a árvore). Este é, basicamente, o conceito objetivo. É aquele conceito que fazemos de coisas físicas, coisas que existem fisicamente na realidade, coisas que podemos tocar, cheirar, ver, ouvir e/ou degustar. Não entrarei aqui nas distinções entre realidade, realidade física e realidade metafísica. Limitar-me-ei a dizer especificamente realidade física quando estiver referindo-me às coisas físicas, que existem materialmente.
   O conceito subjetivo refere-se às coisas que não existem na realidade física. Por exemplo: liberdade, igualdade, fraternidade, sistemas políticos, sistemas econômicos, etc. Coisas que não podemos tocar, cheirar, ver, ouvir e/ou degustar, coisas que não podemos perceber diretamente através dos cinco sentidos.
   Obviamente, não estou falando de “conceitos objetivos” e “conceitos subjetivos” no sentido da tradução gramatical do conceito em palavras (faladas ou escritas). Um conceito subjetivo (por exemplo, liberdade) pode ser definido objetivamente em palavras (faladas ou escritas). Mesmo que esta definição do conceito liberdade não seja exata, ainda assim, o conceito traduzido em palavras, gramaticalmente será objetivo.
   Um adendo: o ser humano comunica-se, basicamente, por palavras faladas ou escritas. É óbvio que o ser humano também se comunica de outras formas (exemplo, por imagens, aqui no sentido de figuras, fotos, filmes, etc). Porém, a forma mais usual de o ser humano comunicar-se é através das palavras. Fosse eu tentar comunicar este texto somente através de mímica ou somente através de imagens vemos que se torna uma tarefa praticamente impossível.
   Logo entrarei na diferença entre conceito, descrição e definição.
   Poderia discorrer sobre a diferença entre conceito e imagem, porém, não é objeto deste estudo, pois daí entraremos em algo mais avançado e o nosso intuito é nos atermos ao básico. Mas posso dizer que no pensamento uma imagem pode representar um conceito. Grosseiramente dizendo, às vezes pensamos por imagens e às vezes por palavras. Imagem no sentido de figura mental completa, bem definida. Algumas pessoas pensam mais por imagens e outras pensam mais por palavras. As dez pessoas vendo uma árvore farão uma imagem mental dessa árvore e depois traduzirão essa imagem em palavras (faladas ou escritas). Esta tradução em palavras veremos adiante em descrição e definição.
   Então, conceito é aquela imagem mental abstrata que nos vem à mente quando pensamos, mas conceito também é o pensamento que temos diretamente em palavras. Esta é a duplicidade do conceito. É a isto que dou o nome de conceito para este nosso estudo. Faço isto para evitar confusões como: qual é o conceito de conceito? Esta pergunta está errada, a pergunta correta é: qual é a definição de conceito? Perguntar qual é o conceito de conceito é a mesma coisa que perguntar qual é a liberdade de liberdade, não faz sentido, pois são coisas subjetivas e não queremos entrar num processo de ilusão mental onde terminaremos enlouquecendo.
   Sabendo a diferença básica entre conceitos objetivos e conceitos subjetivos evita-se esse tipo de confusão. Até porque, a definição de conceito já foi dita anteriormente: é aquilo que nos vem à mente (imagens e/ou palavras) quando pensamos em alguma coisa, num objeto material ou imaterial, e serve para organizarmos nosso pensamento.
   Quando o pensamento tem como objeto uma coisa física, uma coisa que existe na realidade física, o seu conceito será objetivo. Quando o pensamento tem como objeto uma coisa que não existe na realidade física o seu conceito será subjetivo.
   Lembrando que, basicamente, objetivo refere-se ao objeto e subjetivo refere-se ao sujeito. Há uma forte relação entre sujeito e objeto no sentido em que um não existe sem o outro. Para existir um objeto de pensamento é necessário existir um sujeito pensante. É a duplicidade sujeito-objeto.
   Deter-me-ei aqui no pensamento em sentido restrito que é aquele no qual o pensamento é considerado como produto da nossa mente. O pensamento em sentido extenso é aquele, basicamente, no qual o pensamento não é produto da nossa mente, ou seja, o pensamento está em toda a realidade (física e metafísica) e nós simplesmente captamos, apreendemos o pensamento.
   Pensamento em sentido restrito e pensamento em sentido extenso podemos encontrar de modo mais aprofundado na obra Lógica e Dialética de Mario Ferreira dos Santos.
   Descrição é o ato de descrever o conceito em palavras (faladas ou escritas). Quando externamos em palavras o conceito estamos fazendo uma descrição ou uma definição do conceito.
   Para descrevermos o objeto do nosso pensamento faz-se necessário tomarmos por base algumas categorias, como As Categorias de Aristóteles. Por exemplo, quando eu pergunto o que é isto? - sendo que eu tenho na mão um lápis -, provavelmente as pessoas responderão: é um lápis. Mas eu posso responder: não perguntei o nome desta coisa, perguntei o que é isto, o que é este objeto que tem o nome de lápis? Não obstante eu me referir à essência do lápis, não é disto que tratarei neste estudo. Estou falando de como posso chegar perto da essência do lápis, o que é este lápis.
   Para a pergunta o que é isto ser respondida temos que organizar nosso pensamento. Para respondermos o que é este objeto que leva o nome de lápis obviamente teremos que primeiro descrever o objeto e aí entram como parâmetros As Categorias de Aristóteles: - É um objeto de uns 20 centímetros de comprimento (quantidade), na cor verde (qualidade), estou segurando verticalmente agora na minha mão (verticalmente, agora, na minha mão, respectivamente, categorias de estado, tempo e lugar) e assim por diante. É óbvio que as categorias são parâmetros que darão o início da descrição. Na descrição temos de fornecer mais informações: é um objeto com um bastão redondo de grafite envolto por uma camada de madeira e assim por diante. Isto é a descrição.
   A definição é a descrição mais a finalidade do objeto; este objeto serve para quê? Então, na definição daremos a descrição e a finalidade do objeto. Isto é a definição.
   Seguindo no exemplo, a definição é toda a descrição do lápis com a sua finalidade, terminaríamos dizendo após a descrição, algo como: este objeto (ou, em sentido mais genérico, esta coisa) serve para escrevermos no papel.
   Aprofundando um pouco o pensamento acima, posso dizer que podemos escrever um livro, uma enciclopédia, partindo da descrição do objeto lápis no sentido de que teríamos que descrever e definir o que é verde, o que é madeira, o que é grafite e assim por diante.
   Imaginemos este exercício na realidade física. Uma pessoa descrevendo o lápis em palavras numa folha de papel e depois entregando esta folha com a descrição para outra pessoa ler. Esta outra pessoa terá que dizer qual é o objeto que foi descrito. Veremos que, se o objeto não for bem descrito, a outra pessoa dirá: olha, acho que é um lápis. Caso a descrição for bem feita, a outra pessoa saberá com um certo grau de certeza que é um lápis.
   Contudo, se dermos a definição do objeto, a outra pessoa saberá com toda a certeza que é um lápis. Imaginemos agora a descrição de um objeto mais complexo, como um carro, sem dizer que estamos descrevendo um carro. Sem colocarmos a finalidade torna-se um pouco mais difícil para a outra pessoa saber com certeza qual objeto é. Mas com a finalidade, que caracteriza a definição, ficará melhor para a outra pessoa perceber qual objeto é. É óbvio que existem coisas que são fáceis de descrever e outras não.
   Em questão de organização do pensamento, quando colocamos a finalidade no início da definição (finalidade+descrição) torna-se muito mais fácil percebermos qual objeto é. Quando colocamos a finalidade no fim da definição, provavelmente teremos certeza de qual objeto é quando chegarmos ao fim da definição (descrição+finalidade).
   Neste ponto do estudo, torna-se óbvio que conceitos subjetivos (por exemplo, igualdade) nem sempre tem uma finalidade específica ou têm várias finalidades e isto pode confundir. Então fica um pouco mais trabalhoso definir conceitos subjetivos, pois estes referem-se às coisas que não existem fisicamente, mas sabemos que existem porque tem um nome e podemos ver seus efeitos e suas consequências na realidade física (por exemplo, liberdade).
   Caso fôssemos fazer o exercício da descrição e da definição, no papel, do conceito liberdade, que é um conceito subjetivo, teremos algumas dificuldades em expressar-nos. Além destas dificuldades individuais, vemos que, definições de conceitos subjetivos, para terem alguma validade, devem ser confrontadas com outras definições de outras pessoas. Definições de conceitos objetivos também são confrontadas com outras definições de outras pessoas, porém, nas definições de conceitos objetivos temos o objeto físico para dirimir as dúvidas e sabermos o que é real ou não.
   Por óbvio torna-se também que estas dificuldades estão relacionadas com o vocabulário de cada pessoa que definirá este ou aquele conceito. Por exemplo, as definições de árvore das dez pessoas não serão exatamente iguais e nem totalmente diferentes ainda que estejam vendo a mesma árvore. Óbvio também é que a percepção de cada pessoa influencia no processo, mas como falei, nosso intuito é nos mantermos no básico, na organização do pensamento.
   Então, basicamente, o conceito está na nossa mente; a descrição e a definição é quando externamos o conceito em forma de palavras. Assim organizamos melhor nosso pensamento.
   Para dirimir a dúvida entre conceito e pensamento digo que o ser humano pensa num objeto, numa coisa, (pensar num objeto é o pensamento), o conceito, dizendo de outro modo, é a definição ainda não externada em palavras. Aí suprimimos também a dúvida entre conceito e definição.
   Então, colocando a coisa numa escala hierárquica do geral para o particular, temos o pensar, o pensamento, o conceito e a definição. A descrição não entra nesta escala, pois a descrição está inserida na definição. Algumas vezes podemos partir do geral para chegarmos no particular, outras vezes podemos partir do particular para chegarmos no geral.
   De uma forma mais prática, em relação ao perguntarmos o que é isto, o que é esta coisa da qual se está falando, eu posso pegar, ver, ouvir, cheirar e/ou degustar? Caso estivermos falando, por exemplo, de cadeira, então é um conceito objetivo, existe fisicamente. Caso estivermos falando de liberdade, então é um conceito subjetivo, não existe fisicamente. A partir daí o processo de raciocínio é diferente em cada caso.
   É necessário perguntar o que é isto, o que é esta coisa, o que significa esta palavra a qual estamos estudando, falando, escrevendo, etc, pois assim começa-se a organizar de forma lógica o pensamento. Obviamente nem sempre precisamos fazer um estudo rebuscado buscando a resposta dessa pergunta, mas temos de, no mínimo, saber do que estamos falando, no mínimo, saber o significado das palavras. E não fique esperando alguém vir contar para você, procure saber, tenha iniciativa, procure no dicionário, pergunte para quem saiba, são tantas opções de informação existentes no mundo! Não fique preso na cadeira, vá em busca da liberdade através da informação.

Linguagem
   Com relação à linguagem, mantendo-se no básico, posso estabelecer como língua a língua portuguesa, a língua alemã, a língua inglesa, etc. Linguagem, para este estudo, refere-se ao modo como nos expressamos em palavras e isto engloba a língua. A linguagem refere-se também, além da língua, à entonação da voz e expressão corporal (gestos e mudanças na face).
   Não entrarei aqui em estudos de linguística, pois é matéria extensa. Meu objetivo é clarificar a relação entre pensamento, linguagem e comportamento. Esta relação é una (de um) e indivisível, é uma trindade. Sabemos que, basicamente, temos o pensamento, a linguagem e o comportamento. Essas três coisas são indivisíveis no sentido de uma afetar a outra. Quando se muda uma, mudam-se as outras duas. A mais fácil de mudar é a linguagem. O pensamento e o comportamento também podem ser mudados diretamente, porém, são mais difíceis de serem mudados.
   A linguagem, sendo o modo como nos expressamos, tendo como base uma determinada língua, é a materialização do pensamento, é o pensamento tornado real, e influencia no pensamento e no comportamento. Dos três (pensamento, linguagem e comportamento), a mais fácil de mudar é a linguagem. Mudar diretamente o pensamento torna-se deveras difícil, pois teremos de agir diretamente na mente. Ações diretas na mente requer isolamento do indivíduo, sozinho ou em grupos reduzidos; requer repetições constantes das mesmas definições e conceitos; requer mudanças das definições e, por conseguinte, dos conceitos; além de outras coisas. É um conjunto de coisas que dependem do objetivo a ser alcançado com a mudança do pensamento.
   Contudo, vemos que “repetições constantes” e “mudanças de definições e conceitos” agem primeiro na linguagem e depois mudam o pensamento. A linguagem é mais fácil de ser mudada para se conseguir mudança de pensamento e/ou comportamento.

Comportamento
   O comportamento refere-se ao modo como agimos na vida, à maneira como procedemos em relação aos outros e à maneira como cada um procede em relação a si mesmo. Um indivíduo estando sozinho pode comportar-se de determinada maneira; estando em um grupo pode comportar-se de outra maneira; estando em outro grupo pode comportar-se de aqueloutra maneira. De certo modo isso é natural em relação ao comportamento em si, como objeto de estudo. Mudamos nossa maneira de agir (nosso comportamento) de acordo com a situação.
   Dando um exemplo: "Conheci ontem uma pessoa de origem humilde, seu nome é João. Conversamos longamente sobre a vida. João falou-me dos seus problemas, de como está angustiado e não consegue resolver tais problemas. Que seus chefes estão pressionando João devido a um serviço mal resolvido no trabalho e isso acarreta problemas em casa".
   À primeira vista, talvez o leitor pense que João é pobre, mas João não é pobre. Ele tem posses. A mudança da palavra “pobre” para a expressão “de origem humilde” causa essa confusão. Humildade é uma virtude, pobreza é uma condição financeira. Ao mudar a linguagem, mudei o conceito em relação à realidade física. Caracterizei que “origem humilde” é uma coisa exclusiva de quem é pobre e, por conseguinte, quem é rico não pode ser humilde. Dei a exclusividade da humildade para a pobreza. Caracterizei também que “de origem humilde” é aquela pessoa coitada com um chapéu ou boné nas mãos dizendo “sim senhor” e “não senhor” para todos. Isso não é humildade, é subserviência, praticamente o contrário de humildade. Humildade é saber reconhecer suas virtudes e seus defeitos e isso independe da condição financeira da pessoa. Uma pessoa nascida rica pode ser de origem humilde, basta ter sido criada com humildade. Humildade em si tem nada a ver com condição financeira.
   Sem entrar nas definições de “rico” e “pobre” - pois há linhas tênues entre tais definições - acredito que o exemplo serviu ao seu propósito. Mudando a linguagem, mudamos o pensamento e o comportamento.
   Não entrarei aqui nas distinções e limites de bom comportamento e mau comportamento, isso também é matéria um tanto extensa.
   O comportamento também pode ser mudado diretamente através de ações práticas. Quando se induz ou se força uma pessoa a adotar um comportamento contrário ou que não corresponda muito à sua índole, a tendência é esta pessoa mudar de comportamento, principalmente se for um adolescente ou um jovem. Adultos também estão sujeitos a esta mudança, porém, a lentidão ou ligeireza da mudança de comportamento, neste caso, se dá de acordo com o grau de instrução, de conhecimento, de sabedoria e de maturidade emocional de cada um. Exemplo, induzir uma pessoa ou várias pessoas de um grupo a adotar um determinado comportamento mediante o pagamento de uma recompensa, seja ela qual for. Esta ou estas pessoas poderão, de início, não aceitar o novo comportamento, mas o farão. Caso o exercício se repita muitas vezes, a tendência é que as pessoas, com o tempo, mudarão de comportamento ou mesclarão o novo comportamento com o comportamento antigo.
   Sobre o comportamento, neste ponto do estudo, não há como se estender.

Final
   As relações entre pensamento, linguagem e comportamento tem o seu fundamento no fato de que nos expressamos, basicamente, através da linguagem falada e da linguagem escrita. Mudando-se a linguagem (aumentando ou diminuindo o vocabulário, ou substituindo-se umas palavras por outras) muda-se o pensamento e, por conseguinte, muda-se o comportamento. Isto é fato.
   Com efeito, a linguagem, tanto falada quanto escrita, é a materialização do pensamento. E o pensamento determina majoritariamente o comportamento. E assim vamos seguindo neste ciclo de mudança desde o nascimento até a morte. Vamos mudando o pensamento, a linguagem e o comportamento. A linguagem, o pensamento e o comportamento. O comportamento, o pensamento e a linguagem.
   Em se tratando de coisas físicas (sensíveis aos cinco sentidos, coisas objetivas) torna-se difícil mudar o nome do que já está nominado. Porém, em se tratando de coisas subjetivas (coisas não físicas) é mais fácil mudar o nome ou a definição da coisa.
   Vemos que, com conceitos subjetivos o processo de nominação e definição da coisa é, basicamente, convenção humana. Por exemplo, liberdade. Não podemos pegar a liberdade, cheirá-la, ouvi-la, degustá-la ou vê-la. Mas podemos encarcerar alguém tirando a sua liberdade física, porém, esse alguém poderá conservar a sua liberdade de espírito.
   Sabemos que atrelado ao nome da coisa (exemplo, lápis), está a definição da coisa (o que é isto chamado lápis). E para chegarmos à definição de uma coisa precisamos analisar a matéria e a forma desta coisa. Porém, a maioria das coisas do mundo conhecemos através da intuição, através dos sentidos. Ao aprendermos, quando crianças, que uma cadeira se chama cadeira, geralmente dizem-nos, “senta ali na cadeira”, sem que seja preciso descrever ou definir: - “Senta ali naquele objeto de madeira com quatro pernas, um assento e um encosto. Isso se chama cadeira”. Aprendemos por intuição que aquela coisa é uma cadeira. E este processo de aprendizado intuitivo faz-nos relacionar automaticamente o nome à coisa e depois não nos preocupamos mais em relacionar o nome à coisa.
   O nome e a definição das coisas físicas representam a coisa em si. Mesmo que coisas físicas tenham o seu nome convencionado (por exemplo, lápis), ainda assim, pelo processo de aprendizado intuitivo a relação cria-se naturalmente e o nome e a definição passam a representar a coisa em si. Assim, torna-se difícil mudar o nome e/ou o conceito e/ou a definição de uma coisa física.
   Ao mudar-se o nome de uma coisa já estabelecida com o seu nome, por exemplo, trocar o nome mesa pelo nome ar para o objeto mesa (chamar uma mesa de ar) nos causará estranheza... talvez o leitor esteja pensando agora numa mesa feita de ar. E, se não pensou, agora está pensando numa mesa de ar pelo simples fato de eu ter repetido a sentença.
   A mudança de nomes somente será possível quando todos que falam a mesma língua aceitarem esta mudança! Mas daí, em decorrência, chamaremos o ar de quê? De mesa? Ou iniciaremos um ciclo interminável de mudança dos nomes das coisas?
   As coisas subjetivas (exemplo, liberdade) têm, basicamente, o seu nome e a sua definição convencionados e, quando mudados, além de causar confusão mental imensa, mudam o pensamento e o comportamento. Mudar o nome e manter a definição de conceitos subjetivos causa confusão mental imensa. Mudar a definição, mesmo que minimamente, e manter o nome também causa confusão mental imensa.
   Outro exemplo: se eu aprendo desde o nascimento que aquela figura masculina em casa chama-se pai e em determinado momento muda-se o nome da figura masculina para mãe, ainda assim a realidade física continuará a mesma, porém, caso eu for uma criança ou um adolescente entrarei invariavelmente em confusão mental.
   Caso eu for ensinado desde o nascimento que aquela figura masculina se chama mãe, no meu conceito a imagem da figura masculina terá o nome de mãe, será mãe. Mas outras pessoas terão o nome pai para a figura masculina. Isso causa confusão na sociedade.
   Ou muda-se o pensar, o pensamento, o conceito e a definição de toda a humanidade de uma vez só ou deixa-se de querer revolucionar as coisas. Porém, caso você seja louco o suficiente para acreditar que pode mudar o pensar, o pensamento, o conceito e a definição de toda a humanidade de uma vez só, então você deve ser internado num hospício. E se você, sabendo que não pode fazer essa mudança de uma vez só, querer mudar aos poucos, ainda assim terá de ser internado, pois esse tipo de mudança forçada, aos poucos, causa somente confusão na sociedade.
   Quando se muda o nome da coisa, obviamente leva-se um tempo até mudar a definição e, por conseguinte, leva-se um tempo até mudar o conceito que esta coisa tinha na mente de cada um. Durante este tempo de mudança, o indivíduo (ou o grupo), ficará com um pensamento duplo na mente, entrará num processo de ilusão mental, de confusão mental. Isso acontece ao tentar mudar somente UM nome, UMA definição ou UM conceito. Imaginem vários nomes, vários conceitos e várias definições sendo mudados ao mesmo tempo em uma sociedade. É a loucura generalizada.
   Aí vemos o problema ao querer revolucionar o pensamento, a linguagem e o comportamento. Essas mudanças devem ser naturais, devem evolucionar e não revolucionar.
   A base das coisas é a realidade física, o mundo físico sensível aos sentidos. Para se chegar à metafísica primeiro reconheça a existência do mundo físico e tente entendê-lo, isso é óbvio. A filosofia parte da realidade física. Depois vai-se avançando, através da imaginação, através da própria filosofia, até chegar na metafísica, além da física, onde a filosofia continua, mas mantém os pés no chão.

terça-feira, 16 de julho de 2019

Em Defesa do Socialismo

   O livro Em Defesa do Socialismo, de Fernando Haddad, além de não lembrar o Manifesto Comunista, mais parece um ataque ao socialismo do que uma defesa.
   De início, Haddad não compreende qual o socialismo que ele se propõe a defender. Mas até aí tudo bem. É próprio nesse estilo de escrita não deixar bem claro o que se pretende. Como bem disse o Lula: “Não sabemos o tipo de socialismo que queremos”. Talvez Haddad, no seu livro, publicado em 1998, estivesse falando do socialismo científico de Marx e Engels. Talvez estivesse falando do socialismo utópico. Talvez estivesse falando de um novo socialismo que vai acontecer no futuro... e o futuro nunca chega. Vá saber.
   Minha intenção não é esculhambar o livro de Fernando Haddad nem enaltecê-lo, mas realizar uma análise com uma consideração especial e com a necessária sisudez.
   1 - Na introdução, Haddad começa dizendo que o mundo administrado perdeu controle. O Welfare State se desorganizou. E depois coloca questões sobre a perspectiva do mundo, sobre o processo em marcha e sobre o neoliberalismo (a nova ordem) que trouxe uma apaixonada compulsão a anunciar a morte do socialismo e do pensamento crítico.
   E complementa no início do parágrafo final:
Num momento de refluxo do movimento socialista, Marx foi lembrado por um camarada de que, em uma de suas obras, Hegel observa que imediatamente antes que surja algo de qualitativamente novo, o antigo estado recupera a sua essência originária, na sua totalidade simples, ultrapassando todas as diferenças que abandonara enquanto era viável (p.12).

   Refluxo é o que causa quando se lê uma frase dessas que sintetiza o pensamento revolucionário. Antes que surja algo de qualitativamente novo, o antigo estado (um ente subjetivo) que, provavelmente, é vidente, antecipa o futuro e, num passe de mágica, volta ao passado para recuperar a sua essência originária, mesmo sem ter perdido essa essência. Mas essa fica na conta de Hegel.
   No capítulo I - O Legado de Marx, Haddad diz que o principal defeito do movimento socialista até aqui (1998) foi não perceber o quão elásticas são as relações de produção capitalistas, o quão adaptável é o sistema capitalista. Lembrando que não sabemos de qual socialismo Haddad está falando, apesar de que ele usou a expressão “movimento socialista”, que é uma coisa distinta do “socialismo” em si.
   2 - Nesse mesmo capítulo, na página 19, Haddad diz: O conceito de classe social em sentido pleno é corretamente definido, dentro do discurso materialista, pelas relações de distribuição que são expressão imediata das relações de produção.
   Marx, no Manifesto, divide a sociedade em duas grandes classes diametralmente opostas: burgueses e proletários. E depois, Marx redefiniu-se referindo-se a três grandes classes: trabalhadores assalariados, capitalistas e proprietários fundiários. Posso dizer que todas essas são divisões essencialmente financeiras.
   Ora, a estratificação de uma sociedade em classes sociais, como o próprio nome diz, classes SOCIAIS, envolve outros fatores além do financeiro e isso torna praticamente impossível estratificar uma sociedade complexa em classes sociais, pois tal estratificação é muito dinâmica. O termo “social” é concernente a uma sociedade e envolve a cultura, o financeiro, etc. Eu mesmo posso fazer parte de distintas classes: posso ser de classe média financeira e, ao mesmo tempo, posso ser dono de uma microempresa e fazer parte de uma ONG abortista. Em qual sentido sou burguês e em qual sentido sou proletário? E posto que a estratificação em classes sociais é, obviamente, dentro de uma sociedade: em relação a quem sou burguês e em relação a quem sou proletário? Eu mesmo que defino a que classe eu pertenço? Ou deixo para os outros definirem a que classe eu pertenço?
   Porém, como Haddad bem disse, essa divisão de Marx em duas classes (burgueses e proletários), aparentemente não se verificou, pois a realidade é mais complexa e pode muito bem apenas ser mais confusa, se lhe falta o método adequado, o que confirma o que eu disse no parágrafo anterior.
   Mas podemos perguntar: quem estabelece o método adequado, Marx, Haddad ou eu mesmo enquanto participante de uma classe?
   3 - Depois, nas páginas 19, 20 e 21, Haddad estabelece limites de uma dada classe, superior e inferior, e estabelece o critério materialista e conclui:
Resumidamente, portanto, a teoria marxista de classe colocava sob a rubrica de proletariado a massa de trabalhadores que vendia sua força de trabalho diretamente ao capital - industrial, comercial ou financeiro - e o exército industrial de reserva; e colocava sob a rubrica de burguesia os capitalistas, a alta gerência e os proprietários fundiários.

   Portanto, o marxismo se faz e se re-faz da mesma maneira que um indivíduo troca de roupa de baixo. E, no momento que eu digo que a massa de trabalhadores vende sua força de trabalho ao capital, estou dizendo expressamente que é necessário existir trabalhadores e capital, porque um, logicamente, não existe sem o outro. E se um não existe sem o outro, porque cargas d’água um combate o outro?
   4 - Na página 20, chama a atenção o seguinte: Correlativamente, o desempregado cuja força de trabalho não é mais útil ao capital, ou seja, cujas habilidades tornaram-se uma mercadoria sem valor, esse pobre diabo, por não ter o que vender, nem a si mesmo, não pertence ao proletariado.
   A expressão “mercadoria sem valor”, com o meu grifo acima, requer uma análise mais detalhada porque, nas páginas seguintes, Haddad discorre usando os termos mercadoria e valor.
   E nesta análise temos que responder as perguntas: O que é mercadoria para Marx? De qual valor se está falando?
   Para dirimir essa questão, reproduzindo Paulo Freire, fui à Marx:
A mercadoria é, antes de mais nada, um objeto externo, uma coisa que, por suas propriedades, satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza, a origem delas, provenham do estômago ou da fantasia. Não importa a maneira como a coisa satisfaz a necessidade humana, se diretamente, como meio de subsistência, objeto de consumo, ou indiretamente, como meio de produção (O Capital, Livro 1, Vol. 1, pp. 41-42).

   Ou muito me engano, para Marx, qualquer coisa pode ser uma mercadoria. Então um desempregado, esse pobre diabo, não pode tornar-se uma mercadoria sem valor, pois ele pode vender suas habilidades de, por exemplo, criminoso ao capital. Sendo eu um “capitalista”, posso fazer uso do lúmpen-proletariado e comprar sua força de trabalho para satisfazer uma necessidade minha. Haddad deturpou Marx?
   E agora parto do pressuposto de que o valor da mercadoria referido por Haddad é a duplicidade, por serem ao mesmo tempo objetos úteis e veículos de valor... aquela forma natural e a de valor (O Capital, pp. 54-55). E, As mercadorias, recordemos, só encarnam valor na medida em que são expressões de uma mesma substância social, o trabalho humano (O Capital, p.55).
   E o que é o trabalho humano (ou força de trabalho ou capacidade de trabalho) para Marx?
   “Por força de trabalho ou capacidade de trabalho compreendemos o conjunto das faculdades físicas e mentais, existentes no corpo e na personalidade viva de um ser humano, as quais ele põe em ação toda a vez que produz valores-de-uso de qualquer espécie (O Capital, p. 187).
   Ainda: Assim, a força de trabalho só pode aparecer como mercadoria no mercado, enquanto for e por ser oferecida ou vendida como mercadoria pelo seu próprio possuidor, pela pessoa da qual ela é a força de trabalho (O Capital, p. 187).
   Valor-de-uso para Marx:
As mercadorias vêm ao mundo sob a forma de valores-de-uso, de objetos materiais, como ferro, linho, trigo, etc. É a sua forma natural, prosaica. Todavia, só são mercadorias por sua duplicidade, por serem ao mesmo tempo objetos úteis e veículos de valor. Por isso, patenteiam-se como mercadorias, assumem a feição de mercadoria, apenas na medida em que possuam dupla forma, aquela forma natural e a de valor (O Capital, p. 54).

   Portanto, a força de trabalho é uma mercadoria e, por isso mesmo, tem valor.
   Acredito estar plenamente justificado que, para Marx, o lúmpen-proletariado tem sua força de trabalho e pode ser uma mercadoria - ainda que ele desprezasse o lúmpen-proletariado como classe. Adiante veremos, no item 8, que o próprio Haddad, inadvertidamente, contradiz-se e confirma essa justificativa.
   5 - Depois, na página 23, Haddad discorre sobre a emergência de uma nova classe social: a classe dos cientistas. Porém, não consegue definir - segundo seus próprios limites inferior e superior de acordo com o critério materialista -, a quem esta classe pertence, ao capital ou ao trabalhador.
Sem dúvida, o resultado da atividade de pesquisa e desenvolvimento se incorpora às mercadorias. Mas ela não é uma atividade produtiva, no sentido exato da palavra. Ela não produz mercadorias, embora funcione como promotora do aperfeiçoamento do processo de produção de mercadorias (pp. 24-25).

   Como vimos na compreensão de mercadoria de Marx, Haddad está equivocado de novo. A atividade de pesquisa e desenvolvimento é uma atividade produtiva e produz mercadorias, pois, para Marx, a mercadoria é, basicamente, uma coisa que satisfaz necessidades humanas, seja qual for a natureza. E a atividade de pesquisa e desenvolvimento se enquadra na compreensão de Marx, pois há força e tempo de trabalho envolvidos no processo. Não sei qual tradição Marxista Haddad está seguindo.
   6 - Ainda na página 25, Haddad ressalta: A rigor, o tipo ideal de agente inovador é o pós-graduado que se submeteu a uma orientação pessoal de alguém que detém uma parcela de conhecimento não totalmente socializado (saber de fronteira), seja por conta do nível de profundidade, seja por conta do grau de especialização.
   Se não me engano, Haddad terminou seu Doutorado em 1996, sendo, portanto, pós-graduado quando escreveu o livro Em Defesa do Socialismo. Será ele o tipo ideal de agente inovador?
   7 - Na página 28 encontramos: Ao esquema de Marx, que descreve as etapas de desenvolvimento da indústria capitalista, deve-se, portanto, acrescentar um estágio adicional. Estaria Haddad deturpando Marx novamente ou somente acrescentando um estágio adicional? Não vou deter-me nessa parte para não tornar meu texto muito extenso, basta ler o livro de Haddad.
  8 - Na página 31, Haddad discorre sobre a emergência, em nível mundial, de um lúmpen-proletariado de tipo novo, camada que não é mais ‘o produto passivo da putrefação das camadas mais baixas da velha sociedade’, como Marx definiu, mas o resultado direto da nova forma de organização capitalista que devem ser encarados como uma verdadeira classe social porque o seu rendimento extraeconômico oriundo da criminalidade, da mendicância, da pequena extorsão, da chantagem familiar, de favores do Estado, etc, é também uma consequência imediata das relações de produção. O que confirma, de novo, agora nas palavras do próprio Haddad, o que eu disse anteriormente sobre o lúmpen-proletariado e seu valor.
   Ainda que, Haddad, na página 20, ao discorrer sobre o desempregado tornar-se uma mercadoria sem valor estivesse se referindo à época de Marx, ainda assim, como vimos, Haddad conceituou o pobre diabo como uma mercadoria sem valor (coisa que, para Marx, é impossível uma mercadoria sem valor).
   E Haddad mesmo classifica o lúmpen como classe, obviamente, segundo seu próprio conceito de classe da página 19. O lúmpen, agora como classe verdadeira, faz parte das relações de produção, portanto, é uma mercadoria. Agora, se o ser humano é uma mercadoria ou não, basta ler a compreensão de Marx.
   9 - Na página 34:
Não obstante, o resultado prático-moral da ‘liberdade’ de que goza o lúmpen e da liberdade de que goza o burguês é o mesmo: um descompromisso, tanto quanto possível, com as regras jurídicas e morais que garantem a coesão social, particularmente as regras democráticas (p. 34).

   Haddad equipara o lúmpen ao burguês dizendo que os dois tem um descompromisso com as regras jurídicas e morais que garantem a coesão social. As regras jurídicas são as mesmas para as duas classes (ou deveriam ser), mas o lúmpen tem um certo tipo de regra moral e o burguês tem outro, são classes diferentes, segundo a teoria de classes proposta por Haddad.
   10 - Na página 35, Haddad diz que arte e técnica não se confundem. Ora, toda arte pressupõe uma técnica. Pintar um quadro requer técnica, mesmo que seja um quadro daquilo que chamam de arte contemporânea conceitual. Até para colocar um monte de fezes no canto de uma sala e chamar isso de arte, requer uma certa técnica na hora de dispor o monte. Para colocar um mictório masculino de ponta-cabeça e chamar de arte, também requer técnica. Um grupo de pessoas correndo em círculos, uma com o dedo enfiado no ânus da outra, também requer uma certa técnica. Aliás, técnica é o substantivo feminino de técnico, que vem do Grego tekhnikós, que é relativo à arte, à ciência ou ao saber, ao conhecimento ou à prática de uma profissão. Portanto, arte e técnica confundem-se já na sua essência, porém, o  ser humano as separa e convenciona suas definições para melhor entendimento. Entendimento este, impossível para certas pessoas.
   11 - Na página 36, final deste capítulo, chama a atenção o seguinte: Caso contrário, nunca será possível isolar a classe dominante num pólo e as demais classes no outro, condição necessária da superação da ordem capitalista (o grifo é meu). Ele está falando da teoria de classes proposta, da divisão em forças produtivas, forças destrutivas e forças criativas.
   Ora, isolando a classe dominante num polo e as demais em outro polo somente irá fortalecer a classe dominante, pois esta possui os meios de ação, os meios de produção... praticamente todos os meios possíveis em relação às demais classes. E isso era assim em 1998 e está pior agora em 2019. Além disso, isolamento, nesse sentido de classes, não combina muito bem com igualdade.
   Esse isolamento, se conseguido, irá provocar um massacre físico entre as classes, ainda mais considerando agora o lúmpen-proletariado como classe verdadeira. Quando, e se, a tão esperada revolução acontecer será pior do que a revolução Francesa; cabeças, braços e pernas irão se despedaçar e rolar.
   12 - Na página 40:
Uma melhor distribuição [de riquezas], resultante da luta entre classes, orienta a produção no sentido de uma maior satisfação das necessidades. Mas isso não resolve o problema de que, sob o capitalismo, dada a gestão privada do processo de inovação tecnológica, a correspondência entre a percepção e a possível fruição não acontece, e a própria luta de classes é alimentada pelo desejo insatisfeito de todos (p. 40).

   Resumindo: enquanto não separar em dois polos (classe dominante e demais classes) a luta de classes continuará, porém, separando em dois polos, a luta de classes também continuará. O socialismo brigando com o capitalismo, pelo que se entende, é um processo infinito que, possivelmente, terminará em carnificina ou na escravização coletiva de fato.
   13 - Na página 41, Haddad discorre sobre a opinião de Marx em relação à organização e distribuição de todo aparato produtivo pelos produtores imediatos organizados em comunas hierarquizadas em forma de pirâmide.
   Ora, hierarquizar em forma de pirâmide é estabelecer classes dominantes em cima de classes dominadas - e quem ficará no topo da pirâmide?
   Não vejo no que o socialismo de Haddad muda em relação ao capitalismo que ele tanto combate. Talvez o que mudará serão as pessoas da classe dominante, mas o sistema, assim proposto, continuará exatamente o mesmo.
   Espero que Haddad, quando chegar a ser classe dominante, por uma questão de coerência, continue propondo o isolamento das duas classes em lados opostos.
   14 - Nas páginas 42 e 43 Haddad fala da lógica do capital e corrobora o que eu disse acima. Ele diz que é necessário sair da lógica do capital, mas sem abrir mão da funcionalidade do aparato político e econômico e da liberdade formal dos indivíduos. Aparato político e econômico é o sistema. Ele não quer abrir mão do sistema, mas o que vem a ser essa liberdade formal é um mistério esotérico.
   E ele continua:
A subversão da lógica do capital passa pelo mercado assim como a subversão da lógica da democracia burguesa passa pela representação política, numa articulação que não simplesmente faz de um o limite do outro por meio de contrapesos e compensações, mas numa articulação por meio da qual eles se interpenetram, subvertendo-se (p.43).

   Pelo que se entende, o socialismo subverte o capitalismo e vice-versa, numa relação de amor, ódio, sexo, drogas e rock and roll, onde o capitalismo entra com amor e rock e o socialismo entra com o resto. Meio complicado isso.
   E depois ele elenca as tarefas: no plano econômico, trata-se de reorientar a produção e a distribuição da renda [redistribuição de riquezas] no âmbito do mercado; no plano político, trata-se de democratizar a definição da pauta política e a informação a ela pertinente no âmbito da representação [democracia representativa] (p. 43).
   Depois Haddad fala que, ao invés de tomar o mercado como um provedor de sinais que indica ao capitalista o que os indivíduos desejam, deve-se colocar no lugar representantes através dos quais os cidadãos devem encontrar uma forma de sinalizar os bens que desejam. De novo, quer trocar umas pessoas da classe dominante por outras, mas a classe dominante continua lá.
   Para tanto, Haddad propõe uma transição do atual capitalismo de sociedade (em 1998) por ações para uma espécie de capitalismo cooperativo que envolve estímulo à cooperativação dos não-proprietários, democratização dos fundos de pensão, públicos ou não, imposto progressivo sobre a propriedade e centralização progressiva nas mãos do Estado democrático do processo de intermediação financeira por meio do controle de crédito.
   O crédito se mostra um mecanismo eficiente de socialização sem que seja necessário expropriar quem quer que seja. Talvez venha daí o fato de a economia do Brasil ser uma economia de crédito concentrada nas mãos dos grandes bancos. Começo a entender o “socialismo” proposto.
   Depois ele fala que, revolucionariamente, o Movimento dos Trabalhadores sem Terra (MST) quer crédito, apoio técnico e autonomia para organizar suas cooperativas.
   15 - Na página 52, Haddad fala da socialização dos meios de comunicação a partir da criação de cooperativas de jornalistas e artistas e fala da reformulação do ensino básico e da universalização do ensino superior dizendo que essas duas medidas elevariam o patamar cultural da sociedade brasileira. Agora, em 2019, ainda estamos esperando essa elevação sublime.
   16 - Na página 53: Uma reviravolta política exigiria, portanto, uma forma de discurso que deslocasse os sujeitos de suas posições habituais mesmo que no interior de um universo linguístico mais estreito, permitindo-lhes trazer à consciência esses seus impulsos.
   Ele está falando da redução do vocabulário como forma de discurso. Haddad queria elevar o patamar cultural reduzindo o vocabulário. Não vejo como isso é possível.
   17 - Nas páginas 54 e 55, Haddad começa a falar da psicanálise, que a recepção da psicanálise pelos socialistas foi bastante conturbada. Mas que a psicanálise viria a suprir, no seio do marxismo, o degrau faltante entre base econômica e superestrutura ideológica. E que procurou-se extrair da psicanálise sua força crítico-utópica enfatizando-se aqueles elementos que efetivamente projetavam-se para lá do sistema presente, na direção de uma civilização erótica (sem incesto). Que na segunda geração dessa tradição (marxista), a psicanálise é entendida “idealisticamente” como mero reaprendizado gramatical. E que não teria sido explorado suficientemente o potencial emancipador da forma discursiva da psicanálise em política como contraponto do marketing.
   18 - Na página 56, Haddad discorre como o Partido dos Trabalhadores (PT), nos anos 80, conseguiu, em parte, a proeza acima.
Ninguém sabe ao certo como teria sido um governo nacional petista em caso de vitória eleitoral, mas o PT, mais pela forma do que pelo conteúdo do seu discurso, obteve apoio crescente no seio das três classes não-proprietárias que iam, através dele, encontrando compatibilidades de perspectivas (p. 56).

   Agora, em 2019, sabemos como seria e como foi um governo nacional petista.
   E Haddad, termina este capítulo da seguinte maneira: Nesse caso, no lugar dos atuais Estados nacionais concorrentes, ter-se-ia, finalmente, o advento de uma verdadeira comunidade internacional. E esse advento dar-se-ia com a redução do Estado a um mero ofertante de bens públicos, materiais e culturais, desprovido de todo conteúdo político, caso em que não seria mais um corpo destacado que paira sobre a sociedade, mas como algo que se confundiria com ela. E, provavelmente, o partido acima do Estado e da sociedade, segundo o esquema da pirâmide.
   19 - Nas últimas sete páginas de seu livro, Haddad fala do Welfare State nacional e mundial, do socialdemocrata que é um sujeito de boa alma, do neonazismo e do fascismo.

Conclusão
   O livro é escrito em linguagem ambígua: um discurso exotérico que abarca um discurso esotérico. No meu modo de pensar, o livro cumpriu seu papel, pois várias coisas descritas nele foram implementadas no Brasil pelo PT.
   Procurei trazer, no meu texto, alguns pontos que pudessem ser contrapostos de maneira objetiva.
   O que Haddad tentou trazer de novo, em 1998, foi uma teoria de classes dividindo em duas grandes classes: proprietários (burgueses?) e não-proprietários (proletários?). Os proprietários dividem-se em: proprietários e funcionários do capital; e entre os não-proprietários Haddad acrescenta o lúmpen-proletariado formando três classes não-proprietárias.
   Mas como o próprio Haddad disse acertadamente: o capitalismo é um sistema adaptável. E eu acrescento: o tal do socialismo se adapta ao tal do capitalismo e vice-versa numa simbiose promíscua sem fim. Irão os dois se fundir ou se destruir?
   Mas enfim, tudo não passa de uma briga entre pessoas por dinheiro e poder.
   De qualquer maneira, ninguém tem como saber o que virá depois.