Um sorriso triste. A vida não tem muito sentido. Talvez tenha um pouco, mas não muito. A música de amor e felicidade que toca no rádio é uma agressão aos meus ouvidos. As letras e as palavras felizes são ofensas. A melodia até que é bonita, mas serve somente para confundir os sentimentos. Entre alegria e tristeza a vida oscila como um pêndulo e a corda no pescoço vai apertando. Basta um salto neste abismo sem muito sentido e tudo se acaba.
Mas e se a morte não for o fim? E se o sofrimento continua no infinito?
As palavras se perdem no ar, mas são mais eternas do que a vida. Tive idéias, mas não deixarei nenhuma que preste. O legado de uma vida sem muito sentido permanece somente na lembrança dos entes queridos. E ainda assim é uma permanência transitória que se perde no tempo. Quando o esquecimento torna-se presente não lembramos mais do passado e ficamos sem futuro.
Removo a corda imaginária do pescoço, pois estava me sufocando. Respiro aliviado... mas até quando?
Até quando esta vida sem muito sentido?
Eu penso, mas não sei se existo. Vamos acumulando flores no jardim da vida, mas as flores murcham e morrem. Não faz sentido cuidar do jardim, é trabalho perdido.
Estou cansado, mas nem posso dizer que não tenho mais forças, pois forças sempre têm. E esse é o problema. Não tivesse eu mais forças, meus problemas terminariam. A desculpa perfeita para esta penumbra mental e sombria é dizer que não se tem mais forças para viver.
Mas se não se tem mais forças para viver, como se terá forças para morrer?
Esse é um dilema que corrói a alma já corroída.
Viver entre alegria superficial e tristeza profunda é uma balança de sentimentos na qual as medidas não tem peso. As alegrias sequer são um bálsamo que alivia a tristeza, pelo contrário, as alegrias evidenciam a tristeza. Se pelo menos a alegria superficial sumisse restaria somente a tristeza profunda e daí as coisas ficariam mais claras, mais objetivas e esta vida então teria sentido. O sentido desta vida é a morte, e isto não tem muito sentido. Viver para morrer?
Plantei várias árvores, mas nenhuma vingou. Escrevi livros, mas não publiquei-os. Tive filhos, mas perderam-se no mundo.
A tragédia da vida é que ela é uma comédia. É uma piada de bom gosto, mas sem graça nenhuma. Ou melhor: é uma piada de bom gosto, mas somente os outros acham graça.
Os momentos de alegria vêm... e passam. E mesmo quando a alegria está presente a tristeza também está. E quando a alegria está ausente, a tristeza - companheira fiel desta vida - nunca abandona.
Sentir-se feliz por estar triste. É difícil de entender tal colocação, mas quando resta somente a tristeza ela é companheira na solidão. Não me agarro na tristeza. Queria que ela fosse embora, mas a tristeza é quase um órgão físico. É como um órgão interno, vital, que se arrancarmos a tristeza, morremos. Por isso diz-se "tristeza profunda", ela faz parte do corpo e da alma. Já não é somente um sentimento, é também uma presença física. Esta é a grande comédia: não sabemos onde estamos tristes, simplesmente estamos tristes.
E essa tristeza profunda causa indiferença e nos faz indiferentes aos momentos de alegria. Quando estou alegre sei que esta alegria passará; e até desejo que passe logo para que eu possa voltar a saber que estou triste. A alegria misturada à tristeza nunca é boa.
Gostaria que a tristeza passasse, mas como ela nunca passa então só me resta esperar a alegria passar, pois esta, esta sim sempre passa. Mas depois volta. Por que a alegria não permanece?
Talvez ela não goste de mim. Talvez eu seja muito triste para ser alegre. Entre ser e estar eu sou triste, mas às vezes estou alegre.
Os olhos tristes falsificam o sorriso. O sorriso não alegra os olhos e isso faz o conjunto do rosto ficar estranho, grotesco: a boca sorrindo com os olhos tristes. Não são sorrisos forçados, são espontâneos, mas são sorrisos tristes. Um mero separar de lábios para agradar na comédia da vida. Movimentos involuntários, reflexos condicionados dos músculos do rosto que se desfazem da mesma maneira que apareceram mostrando que a vida não tem muito sentido. E assim termino como comecei: com o mesmo sorriso triste.
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