A Missa lotada começou calma e tranquila. Passados uns dez
minutos de liturgia, Deo gratias, um
bebê de um ano no colo de sua mãe sentiu-se desconfortável e começou a reclamar.
Reclamação esta feita do jeito típico dos bebês: primeiro com resmungos
esporádicos - unhé com unhés
espaçados -, depois a coisa foi, aos poucos, ficando menos espaçada e começou a
incomodar os participantes.
Um lá - não importa quem -, um lá atrás emitiu um pch curto e ríspido de cenho franzido e
olhar lancinante e pensou: “- Eu vou matar essa mãe e esse bebê. ” (Não exatamente
nesta sequência de mortes). Outra pensou: “- Por que ela não fica em casa com
esse filho? ”, e sentiu-se superior por ter deixado seus filhos em casa. Um,
interessado nos dotes físicos da mãe, começou a lançar olhares lascivos para ela.
Outro, meio bêbado nem ligou, queria somente um lugar para descansar em paz e curtir
sua tontura preguiçosa. Outra, vendo a beleza física do bebê e da mãe desejou
no seu coração que pagassem arduamente pelos seus pecados. Um pensou em
retirar-se aproveitando a deixa do bebê, pois tinha negócios financeiros a
resolver. O último, também querendo usar o bebê como desculpa, pensou em ir
embora, pois o horário estava próximo de uma das suas sete refeições ao dia.
O Padre, a princípio, não se sentiu incomodado. Limitou-se a
virar a cabeça e lançar olhares na direção da mãe enquanto tentava concentrar-se
no Latim que estava sendo desperdiçado. Apesar desta pequena quebra da liturgia
- virar a cabeça para trás -, continuou. Quando chegou, mais ou menos aos 18
minutos de missa, em um Dominus vobiscum,
o bebê desatou: “- Unhééé, unhééé, unhééé, unhééé, unhééé ... ”
O Padre, sentindo um calafrio, virou-se. A mãe já estava
levantando-se para ir embora. O Padre, em silêncio, ante os olhares atônitos
dos sacristões e dos coroinhas, caminhou até a mãe com o bebê. A mãe, vendo o
Padre chegar perto, sentou-se. O Padre sentou ao lado e colocou as duas mãos na
cabeça do bebê e proferiu algumas palavras em Latim. O bebê começou a sorrir e
a balbuciar algumas palavras incompreensíveis de bebê. O Padre disse: “- Aí
está você, esse é você! ”
O Padre levantou-se e, voltando ao seu lugar no altar, parou
no meio do caminho e ficou alguns segundos parado orando e pedindo perdão a Cristo
por ter interrompido a liturgia. Sentindo o perdão de Cristo, voltou ao altar e
continuou a missa. Todos os pensamentos ruins na Igreja sumiram. Depois da
missa o Padre confessou-se novamente com outro Padre e foi perdoado.
Durante o sermão na missa o Padre falou das tentações feitas
pelos espíritos malignos, que os inocentes são os mais tentados e por isso
mesmo devem ser os mais protegidos. Que o objetivo de Satanás é ensinar às
pessoas a recuperar o controle consciente de seus corpos espirituais e quando
as pessoas conseguem, passam a perceber o mundo espiritual do mesmo modo que o
físico. Assim, tem pensamentos ruins achando que são seus próprios pensamentos.
Nessa hora é que a oração se faz necessária para desfazer a confusão nos
pensamentos.
A missa continuou até seu final: Ite, missa est.
Nenhum comentário:
Postar um comentário