O Olavo de Carvalho chamado, pejorativamente, por uns, de Guru,
e por outros, exaltativamente, de Mestre, iniciou um movimento no Brasil que,
de certa forma, mudou as estruturas do pensamento brasileiro. Esta “certa forma”
refere-se à mentalidade, ao modo de pensar do brasileiro. Ainda que este
movimento esteja no seu início, posso dizer que ele possui uma atemporalidade
(está fora do domínio do tempo); porém, esta atemporalidade pode perder-se no
tempo. Esta última afirmação pode parecer contraditória, mas este “perder-se no
tempo”, penso eu, refere-se ao fato de que o movimento iniciado pelo Olavo está
fundamentado na pessoa do Olavo, na sua personalidade, no seu eu.
Quando o Olavo deixar este plano existencial (morte), talvez
o seu movimento (por falta de um termo melhor), pode deixar de existir, morrerá
com ele. Ainda que perdurem as suas idéias e o seu pensamento - e com certeza
perdurarão -, ainda assim, por falta de um sucessor ou sucessores, tal movimento,
enquanto corrente filosófica, pode perder a sua força e dissipar-se no tempo.
Após a sua morte, talvez surgirão vários “sucessores” do
Olavo, “sucessores” estes no sentido de eles mesmos se arvorarem esta condição.
Isto poderá causar uma quebra do movimento entre várias e diversas correntes
que, porventura, não corresponderão.
Talvez esta seja a hora de o Olavo escolher um ou mais
discípulos (discípulo no sentido de seguidor disposto a dar prosseguimento ao
trabalho de seu mestre) e, após um tempo de treinamento, proclamar de público,
nominar seus discípulos como seus prováveis sucessores que continuarão seu
trabalho. Isso evitará que surjam falsos discípulos, ou discípulos que, por terem
frequentado as aulas do seu mestre e terem sido elogiados por ele de forma
pública, arvorem-se esta qualidade de sucessores mesmo não tendo as qualidades
pessoais do seu mestre.
Talvez, se o Olavo já escolhesse um ou mais alunos e os
treinasse pessoalmente para serem seus discípulos e prováveis sucessores, seria
de bom tom no momento temporal e, futuramente, anunciar de público seus sucessores.
Eu não saberia agora especificar quanto tempo seria esse “futuramente”, pois
isto não depende de mim, mas depende, obviamente, do próprio Olavo.
Acredito que o Olavo tenha meios e técnicas de o fazer, de
dar um acompanhamento mais próximo como mentor e pupilo, mestre e discípulo, procurando
passar para eles o âmago do seu pensamento. Lembrei agora do filme “Tropa de
Elite”, na cena onde o Capitão Nascimento, ao treinar uma nova equipe, diz,
mais ou menos com estas palavras: “Tenho que deixar meu sucessor, mas o cara
tem que ser eu”. Não obstante essa relação parecer trivial, brega até, vejo uma
verdade filosófica naquelas palavras.
Em se tratando de sucessor (ou sucessores) de idéias, de
filosofia e de movimento, é necessário que o pupilo acompanhe seu mestre
estando perto dele fisicamente, convivendo com ele, absorvendo seus pensamentos
até “tornar-se ele”. “Tornar-se ele” está entre aspas porque, mesmo o objetivo
final sendo esse, tal objetivo jamais será alcançado tendo em vista a
individualidade de cada um, isso é óbvio. Uma pessoa jamais poderá
transformar-se em outra pessoa no sentido específico de um discípulo
transformar-se no seu mestre. O discípulo, agora mestre, pode superar seu
mestre ou ficar aquém dele. Mas, com relação às idéias, ao pensamento, esse
objetivo pode realizar-se.
As qualidades pessoais de uma pessoa podem ser perfeitamente
passadas para outra pessoa, mas isso se dá através da convivência diária do
mesmo modo que um pai passa seus valores para seu filho. No caso de mestre e
pupilo é necessária uma convivência íntima, não no sentido grego - se é que me
entendem -, mas no sentido de pai para filho. Convivência esta na qual se estabelece
uma relação de confiança onde o mestre, em determinado momento, dará uma
inspiração profunda e prolongada seguida de uma expiração audível - um suspiro de
satisfação - que o fará saber que sua missão está cumprida, que seu pupilo está
pronto para se tornar o mestre.
E estes apóstolos, agora mestres, escolherão, entre seus
alunos, aqueles que serão seus discípulos e adotarão a mesma relação com esses
discípulos criando uma corrente inquebrável que se espalhará como uma
progressão geométrica multiplicando as idéias e o pensamento ao longo do tempo.