domingo, 30 de dezembro de 2018

A Vida Intelectual - Anotações do meu pai

 


   
Meu pai deixou este livro: “A Vida Intelectual, Espírito, Condições, Métodos”, A. -D. Sertillanges.
   Tradução e prefácio de Dr. Antônio Pinto de Carvalho. (3ª edição corrigida). Armênio Amado, Editor, SUC. - Coimbra - 1957.
   Transcrevo abaixo os textos datilografadas na década de 1960 encontrados dentro do livro em uma folha de papel amarelada e em uma ficha desgastada. A folha não é sobre o livro. Na ficha tem passagens do livro.

Discurso

   “1. - Terrorismo - Assaltos a Bancos, Sequestro de Diplomatas e aviões.
   2. - Filosofia do Comunismo, Linha chinesa. “AP, POC, VPR, VAR-Palmares, M3-G.
   3. - Núcleo local - A que movimento pertence? Saberão.
   ANOTAÇÕES:  Não é o povo pobre, o povo simples, o povo ainda tão pouco instruído que está traindo o Brasil. Já estão muitos subjugados pelo medo, o medo de parecer reacionário e o medo de lutar contra o inevitável. O medo de se opor e o medo de não se opor. No Brasil, há quem cometa erros de julgamento sobre a ameaça comunista apenas por ignorância. Mas, em certos postos, em certos homens e certas situações, a ignorância sobre esta matéria é o pior dos crimes. O terrorismo, sequestrando diplomatas e aviões, saqueando bancos, quer privar o Brasil da ordem democrática, da ordem com liberdade, da liberdade com responsabilidade.
   O domínio pela coação psicológica e intelectual preparou monstros de conformismo, como os aleijões intelectuais, os mesmos intelectuais que lançavam manifestos até há pouco tempo. Sem lhes negar a cultura bitolada, passado o cio intelectual dos manifestos, recolhem-se nos ninhos para chocar filhotes de quinta-coluna. Esses brasileiros, os se dizentes intelectuais, são os traidores do Brasil, não o povo simples, o povo pobre, o povo pouco instruído.
   A noção de uma liberdade com responsabilidade desapareceu para ceder lugar a uma degeneração da liberdade, que consiste em usá-la para renegá-la.
   Em tais escolas os futuros propagandistas são primeiro despersonalizados, depois remodelados segundo uma rigorosa ortodoxia, fanatizados, treinados para serem joguetes nas mãos dos chefes, instruídos nas técnicas de organização e agitação.
   Os criptocomunistas e os aliados temporários são enleados por fios do dinheiro ao sentimentalismo, passando pela ambição, a pusilanimidade, o esnobismo, a fidelidade, o interesse profissional, etc. Os estragos que podem causar esses intermediários velados da propaganda comunista são ilustrados pelo exemplo do Presidente Eduardo Benès, da Tchecoslovaquia. Quando ele se convenceu que fora logrado pelos comunistas já estava consumada a sujeição de seu país; e êle morreu de desgosto.
   O principal aliado da conspiração comunista é o intelectual liberal que não acredita na existência da conspiração comunista.
   PADRES. Em 1955, um ex-padre do Secretário do PC Francês, Albert Vassari, revelou que em 1936 Moscou ordenou que entrassem em seminários, para se tornarem padres, membros de confiança, bem selecionados da Juventude Comunista. Outros se infiltraram em congregações religiosas.
   Um bom patriota jamais alegará que os comunistas podem agir porque também são brasileiros, como se o fato de serem brasileiros desse aos comunistas o direito de servir à Rússia ou à China. A ação de todo brasileiro deve ser no sentido de reafirmar a fidelidade à Pátria, cujo símbolo não servirá de pálio no desfile dos tiranos nem de tapete às ambições dos aventureiros e ambiciosos.
   Somos um povo impetuoso e generoso, capaz de disciplina e de indocilidade; povo que não gosta de se curvar mas que se volta para ver a beleza que todos os dias, ao amanhecer, a natureza nos oferece.
   Tão recatados quanto prostitutas num batizado. Thomas Hart Benton.
   Não mais capazes de compreender a situação... do que um coelho, que se reproduz doze vezes por ano, poderia compreender a gestação de um elefante que dura dois anos. Thomas Hart Benton.
   Montam num leão adormecido e, quando ele acorda, não sabem como se apear dele.”

   Na ficha:
   “Pensamos com todo o ser. Como querereis pensar bem com a alma doente, com o coração trabalhado pelos vícios, solicitado pelas paixões, desorientado por amores violentos ou culpados?
   Cada verdade é um fragmento que mostras por todos os lados as suas ligações; a verdade em si é uma, a verdade é Deus.
   ‘Como te chamas? - Legião’: eis a resposta do espírito disperso e dissipado na vida exterior.”

sábado, 29 de dezembro de 2018

Mentiras e Enganos

Não acredito no que fala,
Eu vou pelo que eu sinto.
Você diz que me ama.
Você mente e eu minto.

Eu digo que lhe amo
E você vai pelo que sente,
Não acredita no que eu falo.
Eu minto e você mente.

Pesa tanto nos enganar
E isso é tão triste.
Não sabemos o que pensar,
Isso alegra e entristece.

Não somos sinceros
Nem com nós mesmos.
Que dirá um com o outro?
E assim vamos entristecendo.

Parece que nada adianta.
Por que não somos sinceros?
A esperança é branca,
Mas a tristeza é azul.

A brancura escurecendo,
O azul ficando escuro.
O quadro da nossa vida
Foi pichado como um muro. 

Eu espero que você não minta,
Você espera a verdade.
Mas estamos tristes,
Alegres da realidade

De uma vida de paixões
Entre um caso e outro.
Você desconfia de tudo
E eu desconfio de todos.

Estamos cansados de tanta mentira.
Quando terá um fim nossa vida de enganos?
Vivemos lado a lado uma vida passageira.
Você mente que me ama e eu minto que lhe amo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A Vida é Curta

Quem te disse que a vida é curta
E que dela não se leva nada?
Por acaso você voltou da morte
Ou viveu pela eternidade?

Deixará seus bens para seus filhos
E diz que da vida não se leva nada
Mas deixará sua prole
Que mais precisa deixar?

Quer que seus filhos comecem sem nada
Pensando que para eles será fácil
Mas você também teve dificuldades
E o que seus pais lhe deixaram?

Não culpe quem veio antes
Pense em quem virá depois
A sua vida não é um instante
Ela começou com seus pais

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Pensando


Pensei que eu não sabia pensar
E não estou alegre nem triste
Só estou imaginando o ar
Se é algo que não existe

Na minha cabeça vazia
Nem o vácuo se forma
Os pensamentos do dia
Na noite vão embora

Pensando que eu existo
Existo logo penso
Penso que não existo
E não tenho pensamento

É tão fácil pensar que não penso
Daí penso nos pensamentos
Eu penso que não penso
E isso é um pensamento

Se não estou alegre nem triste
Não tenho sentimentos
Daí a vida não existe
E nem os pensamentos

Que confusão suprema.
Quem sabe o que disso virá?
A alma será eterna?
Nada mais importará?

Se eu imagino o ar
Sinto no rosto uma brisa
É uma questão de imaginar
Ou a realidade é precisa?

Certamente que penso
Isto sinto e isto escrevo
Mas acabo não lendo
Esse pensamento é grotesco

Penso, logo existo
Mas para pensar tenho que existir
E se penso que não existo
Então tenho que mentir

Se não existo não penso
Para mim mesmo eu minto
Se penso, portanto existo
Já não sei mais o que eu sinto

Dando voltas na mente
Os pensamentos circulam
Não estou alegre nem triste
Mas os sentimentos perduram

Então eu sei pensar
E tenho sentimentos
Fico imaginando o ar
E tenho pensamentos

Um Poema Engraçado

Sinto a eletricidade do corpo
Entre cosquinhas e risadas
Temos a alegria dos porcos
Que fuçam na lama da estrada

Um beijo de lábios juntos
O cheiro do perfume suave
O teu batom é o rejunte
Que nos meus lábios não arde

O choque da realidade vivida
Com todo amor e carinho
É como desligar da tomada
Separar o nariz do focinho

Um abraço e um beijo infinito
Duradouro e apertado
Da boca nos cala o grito
Mas deixa o corpo colado

Quero guardar na lembrança
Esse momento estranho
Na lama fizemos lambança
E fomos tomar banho

Sinto a eletricidade do corpo
Da vida não se leva nada
O último suspiro de um morto
A cama é a nossa estrada

Sem ter o que fazer
Deitados pensando em tudo
Meu ser é o teu ser
Dane-se o mundo

Velha Ilusão

Na briga dos anjos e demônios
Anjos de luz vós desejais
Sob a forma melíflua de ideais
Eles vivem em matrimônio

Do que vós imagineis da vida
Tens a realidade concreta
Que mais parece incerta

Não digas que sabes de tudo
Lúcifer também é feito de luz
A mentira da ilusão do mundo

Que a todos nós conduz
É um sentimento profundo:
Somos feitos de trevas e de luz

domingo, 16 de dezembro de 2018

Análise do livro Aristóteles em Nova Perspectiva - Parte 1

Textículo Introdutório
Ou Prolegômenos

Não pretendo aqui refutar ou elogiar a obra da presente análise (o livro Aristóteles em Nova Perspectiva - Introdução à Teoria dos Quatro Discursos de Olavo de Carvalho), pois refutar ou elogiar pressupõe que se dê algum valor à obra e, como ainda não a estudei, não tenho essa pretensão.
Seguindo esse raciocínio coloco aqui o método que aplicarei: primeiro lerei o livro todo de uma vez, “de cabo a rabo”, sem me preocupar em estudá-lo. Segundo: partirei para o estudo, relendo-o e, daí sim, entrando no estudo propriamente dito, comparando-o com outras obras, fazendo anotações, tirando conclusões, procurando compreendê-lo seguindo, principalmente, o próprio conceito de “compreensão” sugerido pelo autor nas primeiras páginas do livro, cujas linhas me saltaram aos olhos.
Porém, isso não implica que entrarei nos termos que o autor propõe. Não posso cometer os erros filosófico e psicológico de analisar um livro nos termos que um autor propõe (mas os levarei em conta, é óbvio), senão entrarei em uma investigação que cairá num “jogo de cartas marcadas” que acarretará na delimitação do assunto a ser estudado, delimitação esta, dada pelo próprio autor, o que não é o caso, pois, acredito eu, não se trata de obra de ficção posto que filosofia se traduz, também, como a busca pelo bem e pela verdade e, num conceito mais específico semanticamente: a busca pela verdade com base na realidade, sem falseamentos.
Reitero, minha intenção não é refutá-lo ou elogiá-lo, mas somente entendê-lo e, se possível, agregar conhecimento.
À primeira leitura o autor nos oferece um conceito de “compreensão” (páginas 21 e 22), que aqui transcrevo: “No entanto, ela é a chave mesma dessa compreensão, se por compreensão se entende o ato de captar a unidade do pensamento de um homem desde suas próprias intenções e valores, em vez de julgá-lo de fora; ato que implica respeitar cuidadosamente o inexpresso e o subentendido, em vez de sufocá-lo na idolatria do “texto” coisificado, túmulo do pensamento. ”
Num primeiro momento pensei que, quando o autor fala em “respeitar cuidadosamente o inexpresso e o subentendido”, teria que “adivinhar”, ler nas entrelinhas, imaginar fertilmente alguma coisa que o autor não disse no texto coisificado, como se eu fosse um adolescente subginasiano tentando compreender, por exemplo, a Retórica sem ter lido os Tópicos, semelhante ao que o próprio Aristóteles assinalou na Metafísica:
As tentativas de alguns [pensadores] que se pronunciam
acerca da verdade e do modo como a devemos reconhecer
são realizadas na completa ignorância dos [meus]
Analíticos; ora todas estas matérias só devem ser abordadas
por quem tenha um conhecimento prévio [desses textos],
e não por quem busca a verdade sem ter sequer ouvido
falar deles.”
Partindo do pensamento de adivinhação eu pararia logo a leitura naquele conceito de “compreensão” e cairia na armadilha do desconstrucionismo.
Vejo claramente que o autor, com aquele conceito de “compreensão”, refere-se, por evidente, à obra de Aristóteles e não ao seu próprio livro; refere-se à “compreensão” como um processo de conhecimento (a escalada cognitiva), onde, para compreender alguma coisa deve-se, obrigatoriamente, compreender o(s) princípio(s) dessa alguma coisa para depois compreendê-la na sua totalidade (das partes para o todo), ou, pelo menos, através desse processo de conhecimento chegar mais perto da verdade. “Compreensão” esta, creio eu, no sentido do silogismo aristotélico: “um argumento em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta necessariamente, pela simples presença das proposições aduzidas” (Tópicos, pág. 10).
Dirimida esta dúvida, sigo a leitura sem estudo, apesar de já ter feito um estudo prévio dessas primeiras linhas, delineando assim, o método desta análise.

Após terminada a leitura inicial sem estudo, minha primeira impressão (que pode ser interpretada como uma análise epistemológica leiga, não somente pela leitura do livro em questão, mas, também, pela execução de vários dos vídeos do autor no Youtube) é a de que o autor tem o raciocínio aristotélico - tanto básico quanto em suas quatro variedades - completamente arraigado no seu eu, tornou-se parte dele... como não poderia ser diferente dado o seu conhecimento sobre o assunto. Até fiquei um pouco inibido em continuar esta análise, mas venho com a minha fé, companheira fiel, e venho - com o conhecimento que tenho, que, em comparação com o autor, é menor - levar a cabo este empreendimento na intenção de chegar ao mais puro aprendizado e, entre concordâncias e discordâncias, chegaremos a uma conclusão, seja ela certa, provável, verossímil ou possível.

Introdução ao estudo do livro Aristóteles em Nova Perspectiva

A base do livro, a Teoria dos Quatro Discursos, como o próprio autor diz: “Pode ser resumida em uma frase: o discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a analítica (lógica) ” (p. 22).
A idéia da Teoria dos Quatro Discursos foi baseada na percepção de dois outros autores, citados no próprio livro: Avicena e Santo Tomás de Aquino, cuja nota 2 reproduzo abaixo:

2 Esses dois foram Avicena e Sto. Tomás de Aquino. Avicena (Abu ‘Ali el-Hussein ibn Abdallah ibn Sina, 375-428 H. / 985-1036 d.C.) afirma taxativamente, na sua obra Nadjat (“A Salvação”), a unidade das quatro ciências, sob o conceito geral de “lógica”. Segundo o Barão Carra de Vaux, isto “mostra quanto era vasta a idéia que ele fazia desta arte”, em cujo objeto fizera entrar “o estudo de todos os diversos graus de persuasão, desde a demonstração rigorosa até a sugestão poética” (cf. Baron Carra de Vaux, Avicenne, Paris, Alcan, 1900, pp. 160-161). Sto. Tomás de Aquino menciona também, nos Comentários às Segundas Analíticas, I, I.I, nº 1-6, os quatro graus da lógica, dos quais, provavelmente tomou conhecimento através de Avicena, mas atribuindo-lhe o sentido unilateral de uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poético) e dando a entender que, da Tópica “para baixo”, estamos lidando apenas com progressivas formas do erro ou pelo menos do conhecimento deficiente. Isto não coincide exatamente com a concepção de Avicena nem com aquela que apresento neste livro, e que me parece ser a do próprio Aristóteles, segundo a qual não há propriamente uma hierarquia de valor entre os quatro argumentos, mas sim uma diferença de funções articuladas entre si e todas igualmente necessárias à perfeição do conhecimento. De outro lado, é certo que Sto. Tomás, como todo Ocidente Medieval, não teve acesso ao texto da Poética. Se tivesse, seria quase impossível que visse na obra poética apenas a representação de algo “como agradável ou repugnante” (loc. cit., nº 6), sem meditar mais profundamente sobre o que diz Aristóteles quanto ao valor filosófico da poesia (Poética, 1451 a.). De qualquer modo, é um feito admirável do Aquinatense o haver percebido a unidade das quatro ciências lógicas, raciocinando como o fez, desde fontes de segunda mão.

Então se faz necessário analisar os textos citados acima, sendo que os analisarei na próxima parte do estudo.
Mas, de imediato, fazendo uma análise do próprio texto do autor, posso depreender (não compreender), mas posso depreender friamente do texto coisificado da nota 2 que Avicena afirma taxativamente, na sua obra Nadjat (“A Salvação”), a unidade das quatro ciências, sob o conceito geral de “lógica”. À primeira vista posso entender que, para Avicena, a unidade das quatro ciências está na lógica e não na poética. Mas para dirimir esta dúvida se faz necessário ler o texto de Avicena, o que farei na segunda parte.
Depois o autor cita o Barão Carra de Vaux cuja obra não se encontra nas “Leituras Sugeridas”, porém, isto não desabona o livro, pois refere-se à forma e não ao conteúdo.
Sobre Sto. Tomás de Aquino o autor cita que “provavelmente tomou conhecimento através de Avicena, mas atribuindo-lhe o sentido unilateral de uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poético) e dando a entender que, da Tópica “para baixo”, estamos lidando apenas com progressivas formas do erro ou pelo menos do conhecimento deficiente”.
Posso depreender que a hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poética) significa isso mesmo: o mais certo é a analítica e o mais incerto é a poética. E depois o autor diz que “Isto não coincide exatamente com a concepção de Avicena nem com aquela que apresento neste livro, e que me parece ser a do próprio Aristóteles, segundo a qual não há propriamente uma hierarquia de valor entre os quatro argumentos, mas sim uma diferença de funções articuladas entre si e todas igualmente necessárias à perfeição do conhecimento”.
Ora, se a concepção de Avicena não coincide com a de Sto. Tomás de Aquino e nem com a do autor, aparentemente não estão falando da mesma coisa ou estão falando da mesma coisa, mas sob óticas diferentes. Este é um dos pontos a serem analisados profundamente. Do que cada um está falando?
Porém, como o próprio texto informa “De outro lado, é certo que Sto. Tomás, como todo Ocidente Medieval, não teve acesso ao texto da Poética. Se tivesse, seria quase impossível que visse na obra poética apenas a representação de algo “como agradável ou repugnante” (loc. cit., nº 6), sem meditar mais profundamente sobre o que diz Aristóteles quanto ao valor filosófico da poesia (Poética, 1451 a.)”.
Então vejo que, segundo o próprio autor Olavo de Carvalho, Sto. Tomás de Aquino não tinha dados e informações suficientes para atribuir uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poética). Contudo, isto não desabona em qualquer coisa que seja. O texto é bastante claro: Sto. Tomás de Aquino não tinha conhecimento da Poética, porém, o autor colocou a Poética como último grau da hierarquia descendente baseando-se nas indagações de Sto. Tomás.
Mas posso ver na página 22 do livro: “A questão biparte-se numa investigação histórico-filológica. Não poderei, nas dimensões da presente comunicação, realizar a contento nem uma, nem a outra. Em compensação, posso indagar as razões da estranheza”.
O autor Olavo de Carvalho deixa claro que seu livro é uma comunicação feita de indagações que não são históricas, nem filológicas. Entretanto, até o momento não posso dizer que isso o qualifica positivamente ou o qualifica negativamente. Estas expressões, qualificar positivamente ou negativamente, uso-as somente como forma gramatical, pois qualificar sugere julgamento que implica em estudo e conhecimento daquilo que se está julgando, implica em umas pessoas julgando outras pessoas, mas quem estará com a razão e com a emoção, posto que a razão serve para controlar a emoção, mas uma não vive sem a outra, são indissociáveis, inseparáveis, bem como as letras e as ciências, pois o conhecimento começa com a intuição e confirma-se com as experiências.
Nas próximas partes entrarei no estudo propriamente dito.

Sem Título

   Um Filósofo não tem a memória mecânica muito boa. Um Filósofo tem o aparato cerebral configurado para pensar e raciocinar, não para decorar citações e citar autores. Alguém já viu na obra dos grandes autores citações de outros autores?
   Na obra de Aristóteles, por exemplo, alguém já viu ele citando: segundo Platão e colaboradores o mundo ideal é o das formas estáveis.
Mesmo Platão quando fala de Sócrates não faz citações dele, mas escreve seus ensinamentos. Não vemos Platão escrever: segundo Sócrates e colaboradores a maiêutica é o parto do conhecimento. Não. Platão escreve os pensamentos de Sócrates e descreve as situações das quais decorrem esses pensamentos.
   Um grande autor menciona outro autor quando tem uma concordância ou uma discordância. Ou quando quer reforçar seu ponto de vista, mas sem citações, e sim expressando o âmago do seu pensamento.
   Citações são usadas somente para expressar uma emoção, para elogiar determinado autor ou para mostrar que o citador sabe copiar e colar uma citação utilizando uma frase impactante.
   Vemos que hoje em dia ainda temos a disputa entre dois profetas: Aristóteles e Platão.
Toda a filosofia que veio depois deles podemos colocar de um lado e de outro: o mundo do real e o mundo das idéias. Uma luta entre duas "classes", segundo o imbecil do Marx. Por outro lado, estes dois, Platão e Aristóteles, tem a mesma origem e a luta entre eles não passa de uma ilusão.
   A ambiguidade das coisas é indivisível, o mundo das idéias e o mundo do real são como o corpo e a alma: um não existe sem o outro. A alma é matéria, matéria etérea ainda desconhecida para nós.
   Fazendo uma comparação grosseira, a alma está para o corpo assim como o ar está para as ondas sonoras. A voz se propaga no ar e a alma se propaga no corpo, mas o ar está por toda parte bem como a alma e as ondas sonoras tem alcance limitado bem como a alma.
   A nossa alma se propaga pela essência. Podemos dizer, sem ter certeza, que algumas almas tem uma essência maior do que outras, sem que isso seja uma luta. É uma união. Duas almas se encontram; a maior não diminui, mas a menor aumenta.
   Há uma troca. Agora especulando, talvez a alma seja as sensações e as emoções. Talvez isso explique porque quando encontramos alguém, simpatizamos ou antipatizamos com esse alguém sem que isso seja uma coisa ruim, sem que isso seja uma luta, mas que seja um encontro entre almas. Uma troca aberta onde todos saem ganhando.
   Por isso não me preocupo com o mundo, nem com o pecado nem com a carne. Existe uma substância maior que regula tudo isso.
   A essência, a substância primeira que todos conhecem como Deus, não importando o nome.
   O nome é uma questão semântica, gramatical. A substância, a essência é a mesma. Por substância e essência entendo que são sinônimos. Chamo a partir de agora de essência.
   A essência se manifesta na alma de cada ser animal, humano ou não. Sendo um ser humano a essência se manifesta através da razão e da emoção: um ser humano sente uma emoção e através da razão julga se a emoção é válida. Este processo muitas vezes é inconsciente.
   Por inconsciente entendo aquilo que acontece sem pensar, acontece automaticamente. Comumente se diz: ele deixou se levar pela emoção. Isso é um erro. Ninguém deixa se levar pela emoção. A emoção vem e toma conta. Deixar se levar pela emoção implica em ter controle das emoções. Deixar se levar pela emoção implica em saber, por exemplo, quando a raiva aparece e você sabe que está com raiva e se deixa levar pela raiva. Mas todos nós sabemos que a raiva é incontrolável. Se alguém "deixou se levar pela raiva" então não estava com raiva ou estava com raiva, mas não se deixou levar por ela, foi tomado pela raiva. Ou começou a ter raiva, teve consciência disso e daí sim, deixou se levar pela raiva, deixou a raiva tomar conta do seu ser.
Há que se fazer uma distinção entre sentimentos e emoções. Entendo por sentimento aquilo que sentimos de forma branda, calma; e por emoção aquilo que sentimos de forma arrebatadora, agitada. Por exemplo, a alegria é um sentimento posto que é calma; a euforia é uma emoção posto que é uma agitação. O ódio é um sentimento posto que vem de forma calma; a raiva é uma emoção posto que é uma explosão. A raiva dá e passa, o ódio quando se instala, permanece. Uma pessoa com ódio pode não agir com raiva em momento nenhum. Uma pessoa com raiva pode dizer que está com ódio, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo. Uma pessoa eufórica pode dizer que está alegre, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo.
   Por isso é que a razão serve para controlar as emoções.
   Para esclarecer: cada situação é uma situação.
   E como saber como agir em cada situação? É simples: siga seus pensamentos. A essência também chamada Deus está em todos nós. E ela age em cada um de nós de acordo com o que pensamos.
   Esclarecendo melhor: se você tem um pensamento maligno, analise com a razão e, caso decidir segui-lo, siga-o e sofra as consequências depois.
   Se você tem um pensamento bom: siga-o.
   Cada pensamento tem a sua consequência. Somos a soma das consequências dos nossos pensamentos.
   Por consequência, neste caso, entendo as atitudes, os atos, as ações, as práticas, os efeitos, tudo aquilo que resulta dos nossos pensamentos.
   Por pensamento bom entendo tudo aquilo que gera um ato que colocado em prática causa um bem para si e para as outras pessoas.
   A teoria é o pensamento e a prática é a materialização do pensamento. Por exemplo, eu penso em sentar ou sinto vontade de sentar ou quero sentar, caso eu tenha uma cadeira por perto, eu sento. Caso eu não tenha uma cadeira nem nada parecido por perto, eu sento no chão ou fico em pé. Isso acontece automaticamente. É a razão com a emoção.
   É como pensar e depois escrever ou falar. O falar é a materialização do pensamento, o escrever também o é. Por exemplo, eu penso em construir uma cadeira, essa é a teoria. Ao planejar por escrito como farei a cadeira já estou realizando a prática e ao pegar a madeira, o, pregos, serrote, etc, e serrar a madeira, juntar as peças e dar a forma à cadeira, esse processo todo é a prática. A cadeira finalizada é a materialização do pensamento.
O falar e o escrever envolvem a razão e a emoção. Eu falo com a razão e com a emoção.
   Eu escrevo com a razão e com a emoção. A razão e a emoção fazem parte da essência, fazem parte daquilo que conhecemos como Deus, não importando em qual língua.
Esse conflito falso entre razão e emoção, religião e ciência, rico e pobre, homem e mulher e várias outras coisas provoca um pensamento dualista que leva à luta, leva à luta com você mesmo e com os outros. O contraditório não é luta, o contraditório é concordância.
Razão e emoção são complementares, são a essência. O que existe é a essência, nada mais.
Siga seus pensamentos utilizando a razão e a emoção.
Siga seus pensamentos, dessa forma você saberá quem você é, e será essência.
Caso você mentir para você mesmo, você mentirá para os outros e não será essência.
Assim foi escrito.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Construção Social


   Hoje vamos falar da expressão Construção Social. Ela significa basicamente que o ser humano é construído socialmente de acordo com a sociedade na qual vive, de acordo com o meio-ambiente, de acordo com os princípios familiares ensinados, de acordo com as atitudes, com o modo de agir do seu círculo social. Na prática é tudo aquilo que você aprende na sua vida, seja em termos de pensamentos, de idéias, de atitudes, ações, princípios morais, caráter e assim por diante.
   Atualmente esse termo Construção Social é utilizado somente para falar de identidade de gênero no tocante ao aspecto sexual. Eu sou heterossexual, sou homossexual, sou binário e por aí vai. Mas a construção social não age somente na opção sexual de uma pessoa, ela também age em outras áreas.
   Se você cresce num ambiente de maus princípios aprendendo a mentir, a roubar, esta terá sido a sua construção social. É aquele ditado popular: diga-me com quem andas e eu te direi quem és. Ou quando alguém fala para ter cuidado com certas companhias. Isso faz parte da construção social. E a construção social é um fato, é verdade.
   O problema é que escondem o outro lado da coisa que é a índole, as características individuais que nascem com cada pessoa. Isso também é fato, também é verdade. Nesse sentido o ser humano não nasce uma tábula rasa. Basta observar bebês de colo, bebês de berço com meses de idade e veremos que esses bebês têm diferenças assim como nós tivemos quando éramos bebês. Se você perguntar para seu pai ou para sua mãe, geralmente a mãe observa melhor essas coisas, ela irá falar as diferenças que tinham entre você e seus irmãos ou irmãs quando eram bebês. Num berçário ou numa maternidade um bebê acorda e dorme em horário diferente de outro bebê, chora em horário diferente, um chora mais do que o outro, um é mais introvertido, outro é mais extrovertido, tem aquele capetinha também e assim por diante.
   Então vemos que a formação de uma pessoa envolve duas coisas: a índole e a construção social. Antigamente se dizia que o ser humano nasce com características inatas que são as características naturais que nascem com cada indivíduo e que o ser humano é produto do meio ambiente no qual vive, ou seja, mudou-se somente a terminologia, mas são essas duas coisas que agem na formação de uma pessoa. Hoje se fala somente em construção social. Esqueceu-se da índole.
   A índole é o conjunto de traços e qualidades inerentes ao indivíduo desde o seu nascimento; é o caráter inicial, as suas inclinações, a sua vocação natural, o seu temperamento, aquela voz interior, aquele pensamento que lhe avisa quando você está prestes a fazer merda na sua vida. E não tem como mudar a índole de uma pessoa, mas tem como confundir essa índole dando a essa pessoa princípios de caráter e temperamento contrários à sua índole, ou seja, dando uma construção social contrária à sua índole.
   Se uma criança de índole boa for construída socialmente em um ambiente de maus princípios essa criança poderá não se tornar um adulto ruim, mas certamente se tornará um adulto confuso, ignorante, sem muito entendimento das coisas.
   Para esclarecer, farei 4 classificações tendo por base a índole e a construção social.
   A pessoa nasce com uma índole boa, é lógico que essa índole boa tem níveis, uma pessoa lá tem bom caráter, mas tem outra que tem caráter melhor ainda. Mas para essa classificação, para nosso entendimento, vamos tomar índole boa e índole ruim. Princípios são o que se chama popularmente de "valores", mas o correto é dizer Princípios.
   1 - A pessoa nasce com uma índole boa e é construída socialmente numa sociedade com bons princípios;
   2 - A pessoa nasce com uma índole boa e é construída socialmente numa sociedade com maus princípios;
   3 - A pessoa nasce com uma índole ruim e é construída socialmente numa sociedade com bons princípios e
   4 - A pessoa nasce com uma índole ruim e é construída socialmente numa sociedade com maus princípios.
   É lógico que esses princípios também têm níveis. Você é criado numa família sem muitas brigas, teus pais te ensinam coisas boas, teus amigos não são mentirosos, ladrões. Ou você é criado num ambiente de mentiras, enganações, brigas, enfim. Tem vários níveis.
   E o que pode acontecer em cada uma dessas 4 classificações é:
   1 - Índole boa com bons princípios, boa educação, com certeza essa criança se tornará um adulto maduro, inteligente, consciente de si, uma boa pessoa.
   2 - Índole boa com maus princípios: dependendo do nível de maus princípios da sociedade essa criança poderá se tornar um bandido ou não, mas com certeza será um adulto confuso porque a sua índole boa dirá uma coisa, mas o ambiente no qual ela viveu lhe ensinou outra coisa. Se uma criança assim, com índole boa, for criada num ambiente de mentiras ela se tornará um adulto mentiroso, mas interiormente terá alguma coisa lhe dizendo que isso é errado e isso fará com que ela seja um adulto confuso e esteja propenso a fazer coisas erradas.
   3 - Índole ruim com bons princípios. Uma criança que nasce com uma índole mais para ruim, mas é criada num ambiente de bons princípios, a probabilidade dela se tornar um adulto maduro, consciente, uma boa pessoa, será grande porque ela aprenderá coisas boas. A sua índole não mudará, mas aprenderá através dos bons exemplos da sociedade, aprenderá através do convívio desde criança o que se deve fazer para ter uma vida boa e isso fará com que ela mesma controle seus maus desejos, com que ela mesma controle a sua índole ruim.
   E 4 - Índole ruim com maus princípios: esta combinação é a pior de todas, é essa combinação que produz psicopatas, bandidos, certos políticos e outros tantos.
   Vejam bem, a formação do caráter, dos bons princípios, independe da condição social da pessoa. Eu posso ser rico e ser um bandido, bem como posso ser pobre e ser um bandido.
   Nesse último caso, índole ruim e construção social com maus princípios, posso exemplificar com uma favela, uma comunidade de qualquer grande centro. Ali tem pessoas que estão no mesmo ambiente, mas uns se tornam boas pessoas, outros se tornam bandidos, poucos se tornam os chefes da bandidagem. Esses que se tornam os chefes é porque juntou a fome com a vontade de comer: índole ruim e ambiente de maus princípios. Os que são bandidos, mas não se tornam os chefes da bandidagem provavelmente é porque a índole deles não é tão ruim uma vez que foram criados no mesmo ambiente, na mesma favela.
   Então vemos que quando uma sociedade é formada por maus princípios, por mentiras, enganações, levar vantagem em tudo (o famoso jeitinho brasileiro), esta sociedade passa a produzir, a educar, a formar cada vez mais pessoas assim porque a construção social, o ambiente no qual você vive tem uma influência enorme na sua formação.
   São essas duas coisas: a índole e a construção social, e são indivisíveis. Mas em relação a crianças em processo de formação a construção social é predominante. É nas fases infantil e de adolescência que uma pessoa aprenderá determinados princípios que carregará para o resto da sua vida e esses princípios são muito difíceis de mudar depois de adulto.
   Eu dei o processo aqui somente em linhas gerais, mas acredito que deu para entender que o problema é quando falam somente um lado da coisa e esquecem o outro lado. Quando falam somente da construção social e esquecem da índole, quando falam somente da coletividade e esquecem da individualidade ou quando falam da individualidade e esquecem da coletividade. São duas coisas indissociáveis, indivisíveis, uma não vive sem a outra. Por exemplo, quando dizem que o homem e a mulher são sexos opostos, isso é mentira. O homem e a mulher são sexos complementares, que se complementam, que unem forças, que unem suas individualidades para viver bem em coletividade e depois passam seus princípios para seus filhos.
   Qual é a sua índole? Como você era quando era criança?

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Liberação da Maconha

O projeto que libera o cultivo da maconha para uso medicinal foi aprovado na CAS (Comissão de Assuntos Sociais) do Senado nesta 4ª feira (28/11/2018).
Essa será mais uma das Leis perniciosas para terminar de destruir a mentalidade da sociedade brasileira. A liberação da maconha tem os fins de atingir o que essa gente chama de classe média, porque eles odeiam a classe média, além de dar dinheiro para traficantes, classe na qual o governo se incluirá de vez legalmente após a aprovação desta Lei e ganhará régios impostos aumentando ainda mais a arrecadação e a roubalheira.
O projeto fala somente das maravilhas medicinais da maconha, mas sequer menciona seus males como, por exemplo, esquizofrenia, perda da capacidade de concentração e burrice.
Ao ler o projeto fica mais uma vez bem claro como água de rocha que os nossos legisladores são retardados mentais e interesseiros ao extremo.
Abaixo um trecho do relatório da Marta Suplício:
“Há inúmeras razões pelas quais se fala em auto cultivo da cannabis para uso terapêutico. O óleo artesanal utiliza a planta inteira, sendo assim, encontra melhor resposta terapêutica do que os compostos industrializados. E os custos de produção, manuseio e extração do óleo são muito baixos, tornando-a mais acessível às famílias brasileiras.
Embora atualmente já existam alguns medicamentos que podem ser importados, o custo muito elevado ainda os tornam inacessíveis para a maior parte da população. Para se ter uma ideia, um medicamento à base de cannabis importado custa em torno de R$ 1.500,00. A depender da condição socioeconômica e até mesmo da quantidade de medicamento necessária, seu consumo é absolutamente inviável.
Garantir o cultivo de cannabis para uso próprio medicinal se configura como medida urgente para os milhões de brasileiros que dependem da planta para ter qualidade de vida. Por este motivo, é primordial diferenciar o uso recreativo do terapêutico e permitir que este último seja legalizado, permitindo assim o auto cultivo.”
A obrigação do governo, em vez de liberar a maconha, segundo o que se entende do texto acima, deve ser investir na produção de um remédio a base de óleo da cannabis, pois como o próprio texto diz os custos são muito baixos. Mas é mais fácil criar uma lei perniciosa para liberar a maconha transferindo a responsabilidade para o cidadão. Como sempre, essa politicalha faz com todas as Leis que promulgam: jogam a responsabilidade para a bunda do cidadão enquanto eles ficam com o dinheiro dos impostos, ou seja, a população paga para tomar na bunda.
Em um País como o nosso onde não se tem controle de nada, mas tem 190 mil Leis vigentes, em um País como o nosso que é o País da falcatrua, como que o Governo Federal pretende fiscalizar quem usará medicinalmente ou quem se chapará todos os dias para ficar “legal”. O Governo estará dentro de cada casa de cada município do Brasil?
Além disso, voltamos ao princípio de que um dos maiores problemas do Brasil é que as Leis vêm prontas do Governo Federal e a arrecadação fica toda com o Governo Federal, está tudo centralizado nas mãos de um bando de pessoas... menos a culpa, essa é distribuída por igual para a bunda da população.
O que acontecerá na prática é que isso disseminará o uso da maconha nas chamadas classes média, média baixa e média alta, ou seja, classe média como um todo. A população das classes mais baixas não comprará maconha na loja, pois tem um cara vendendo maconha em cada esquina da sua vila ou comunidade. O afrouxamento dessa Lei permite que se possa ter lojas para a venda de maconha num futuro próximo. Esse será o próximo passo.
Outro ponto, o que impedirá a proliferação de receitas “frias” para plantio e auto cultivo “medicinal”?
Esse projeto altera o parágrafo 1º do Artigo 28 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, que tem a seguinte redação:
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica.
E passará a vigorar com a seguinte:
§ 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica, ressalvado o semeio, cultivo e colheita de cannabis sativa para uso pessoal terapêutico, em quantidade não mais do que suficiente ao tratamento, de acordo com a indispensável prescrição médica.
Mais uma vez um textículo completamente subjetivo, como todas as Leis criadas por esse nosso Congresso incompetente e canalha.
Pequena quantidade? O que define pequena quantidade? De novo essa ladainha bem como existia na Lei 6.368. Aliás, a Lei 6.368 já permitia a cultura dessas plantas com fins terapêuticos ou científicos mediante prévia autorização das autoridades competentes, sendo que a Lei 6.368 já era frouxa demais.
E tanto a Lei 11.343 quanto a Lei 6.368, que foi revogada por aquela, eram subjetivas, com texto que não era claro, nem conciso nem preciso.
Agora vai se discutir e se debater - de novo - para incutir na população através da grande mídia que a maconha deve ser liberada, que pessoas estão sofrendo e morrendo aos milhões porque não tem maconha “medicinal”.
Além disso o parágrafo único do artigo 2º dessa mesma Lei já permite isso: “Parágrafo único. Pode a União autorizar o plantio, a cultura e a colheita dos vegetais referidos no caput deste artigo, exclusivamente para fins medicinais ou científicos, em local e prazo predeterminados, mediante fiscalização, respeitadas as ressalvas supramencionadas.”
Cada vez liberam mais, cada vez afrouxam mais as Leis sempre com uma desculpinha e depois todo mundo não entende porque o Brasil está desse jeito com tanta criminalidade, corrupção e roubalheira. Quando isso terá fim?
Quando essa mentalidade canalha e incompetente do nosso Congresso Nacional mudará?
É sempre a mesma coisa há décadas, as Leis sendo afrouxadas, a criminalidade subindo em todos os níveis e classes sociais, a roubalheira correndo solta e aposto que a maioria dos advogados vão defender essa alteração porque “têm pessoas que precisam de tratamento”.
Mas, também, o que esperar de uma classe que permite um órgão como a OAB que está completamente politizado e não fala uma linha do aspecto legal e da escrita subjetiva dos textos de qualquer Lei que os nossos “legisladores” promulgam, e quando falam é somente para elogiar ou tratar de questões menores.
Mas enfim, nem sei porque escrevi este texto, afinal a maconha já é liberada tal é a facilidade de se comprá-la.
Talvez eu que seja burro demais e não entenda de Leis. O Congresso somente está legalizando a coisa utilizando uma das fontes do direito: os usos e costumes.
Todo mundo faz, eu também posso fazer: Viva a Maconha... obaaa!
E será o fim da classe média que, no Brasil, é formada basicamente pelo funcionalismo público.
Referências

domingo, 25 de novembro de 2018

Eminência Parda


   Prazer, Eminência Parda. Meu nome é Nome, mas pode me chamar de Eminência Parda. Eu sou o responsável por todas as informações mais relevantes e pertinentes que correm pelo mundo. Eu sou o primeiro a falar nelas, mais do que tudo, sou eu que lanço determinada idéia em estipulado meio para atingir estabelecido objetivo.
   Sou a eminência pardacenta por trás de toda informação. Eu preparo o ambiente, semeio a idéia e colho as conclusões. Eu sou aquele cara que, em uma conversa informal, nem parcimonioso nem demasiado, falo uma fala normal - normal de entonação, mas de conteúdo original. A partir das minhas idéias meus servos começam o trabalho de pesquisa - mesmo eles não sabendo que são meus serviçais.
   Dá-los-ei apenas dois exemplos, um, um pouco mais antigo e outro mais atual: fui eu o primeiro a dizer que viria um salvador da humanidade e fui o primeiro a falar em Nova Ordem Mundial... aliás, a modéstia sempre me impediu de dizer que ambas foram minhas idéias, mas resolvi deixar a modéstia de lado.
   Algumas idéias são mera constatação da realidade, outras são por mim inventadas. A coisa funciona assim: eu falo aparentemente desapercebidamente como quem não fala a verdade nem mente. Sou aquela observação que você ouve no churrasco de domingo, no amigo secreto, na reunião da empresa, na festa do sindicato, no dia-a-dia rotineiro, etecétera. E você escuta, mas no momento não dá bola e depois fica pensando nisso, mas em casa começa a desenvolver a idéia e em pouco tempo não lembra mais quem foi o autor e você passa realmente a acreditar que a idéia é sua. E eu faço isso com várias pessoas. Uma dessas várias pessoas irá levar adiante a idéia transformando-a em pesquisa, depois em projeto envolvendo mais pessoas e depois colocando na prática envolvendo mais pessoas ainda. E, a prática, ao ser introduzida, embrenha-se na realidade transformando o boato em verdade. Uma mentira não se transforma em verdade, mas um boato transforma-se em realidade.
   A teoria é a semente e a prática é a árvore que dá frutos. Eu planto e cuido da teoria até ela germinar e crescer sadia e forte para erguer-se como uma árvore frondosa que dará muitos frutos. Eu sou um agricultor de idéias. Sou, ao mesmo tempo, trabalhador e produtor, eu tenho os meios de produção, planto e cuido das sementes, mas quem cuida da árvore são os servos. Depois eu colho os melhores frutos e aos outros restam os frutos podres e as vãs esperanças que se perdem em discussões idiotas onde ficam tentando definir conceitos indefiníveis porque são conceitos subjetivos e, como tais, por isso mesmo são indefiníveis. Eu invento um nome saído da minha cabeça e depois crio uma definição elegantemente escrita, mas vazia de conteúdo e espalho isso pelos meios acadêmicos com a força de alguma “autoridade intelectual” recheada de títulos (Doutor tal, PhD tal, etc.) e todo mundo acredita que essa loucura inventada da minha cabeça existe. E se aparecer alguém, mesmo que não seja inteligente, mas que veja a verdade da minha loucura, eu simplesmente mudo o nome da coisa e isso ocasiona outra sucessão de livros e escritos acarretando mais definições vagas e mais confusão ainda. Às vezes eu observo a realidade e tento encaixá-la nas minhas definições, sempre elegantemente escritas, e isso confunde a todos provocando expressões como: “Mas é claro que isso existe, nós podemos ver os efeitos e as consequências”... e pronto. É simples assim.
   Eu já inventei vários sistemas políticos e econômicos simplesmente observando a realidade e encaixando essas consequências naturais à minha definição vaga saída da loucura da minha cabeça... e tem gente que acredita, e pior, ficam tentando provar que isso existe.
E eu dou muitas gargalhadas gostosas.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

O Estado e a Prosperidade


   Continuando a série de artigos que se completam, hoje iremos conversar sobre o Estado e a prosperidade, sobre como eles estão intimamente ligados.
Tomaremos como exemplo os Estados Unidos. E por que os Estados Unidos da América do Norte? Porque é a nação que melhor representa a prosperidade no mundo, ainda que alguns discordem.
   Os EUA têm uma das Constituições mais longevas do mundo e a sua prosperidade bem como a sua cultura tem muito a ver com a formação do seu Estado através da Constituição. Grande parte de sua cultura próspera vem dos princípios definidos, regras morais, leis escritas e tradições respeitáveis constantes na sua Constituição, que perdura há 231 anos. O Estado americano formado pela sua Constituição teve importantíssima influência na construção da sua cultura ao longo dos anos. E não estou dizendo que devemos copiar a Constituição americana, até porque isso seria impossível dadas as diferenças entre Brasil e EUA.
   Em outro artigo já fiz um comparativo entre Constituições de alguns países, e o principal diferencial é a longevidade da Constituição. Uma Constituição bem-feita determina culturalmente o respeito às Leis, sendo que os governos que entram e saem não têm como alterar esses princípios. Já mencionei em outro artigo a diferença entre Estado e governo. Mas repito aqui: o Estado é definitivo, permanente; o governo é transitório, passageiro. O governo é apenas o gerente do Estado em determinado momento da sua história. É importantíssima a distinção entre Estado e governo.
   Uma Constituição bem-feita impede a proliferação de Leis. Sabe-se que sociedades corruptas se caracterizam pela elevada burocracia que reduz a eficiência administrativa, sistema judiciário moroso e ineficiente, com sistema de leis arcaico e excessivo poder discricionário do governo na execução de políticas públicas. E a elevada burocracia que conduz à corrupção traduz-se na enorme quantidade de Leis de um país que, por sua vez, conduz a um judiciário moroso e ineficiente.
   Lembro também que nos princípios morais de uma Constituição, por ocasião de sua feitura, não se deve esquecer de Deus. Deve-se Tê-lo em mente, pois Deus está acima de tudo, sendo que a palavra tudo engloba a palavra todos. Neste momento há que se fazer uma distinção entre Estado laico e Estado sem Deus. São coisas completamente diferentes. O Estado laico refere-se às religiões e não a um Estado sem Deus. Todas as religiões têm a sua base em Deus, mas o Estado não pode impingir uma religião. Talvez um determinado governo tente, mas os governos são passageiros.
   Um Estado próspero é calcado na sua Constituição posto que é a Constituição que influencia primordialmente a cultura de um povo. Posso até dizer que sem uma Constituição bem-feita não há uma cultura bem definida, ainda que existam outros fatores que influenciam a cultura de um povo.
   Um Estado se define fisicamente pelo seu país, pelas suas riquezas naturais (minérios, aquíferos, território, etc.). E o Estado deve proteger o seu país. Uma nação é o país em conjunto com seu povo e o Estado envolve a nação e o país.
   Na prática, penso eu, ao se elaborar a Constituição de um Estado deve-se levar em conta a cultura existente do povo, o modo de vida deste povo, seus princípios, e procurar traduzi-los, após uma longa análise, em palavras escritas na Constituição. Uma Constituição bem-feita (bem como as Leis) deve ter seus artigos claros, concisos e precisos. Dou um exemplo: os dez mandamentos; são claros, concisos e precisos. Estou falando da forma dos dez mandamentos e não do seu conteúdo, pois os dez mandamentos não são uma peça jurídica. E tomei tal exemplo somente pela sua clareza, concisão e precisão. É isto que se deve ter em mente.
   Uma Constituição bem-feita faz com que todos devam respeitá-la não dando margem às interpretações. E daí vem a prosperidade. Um Estado bem construído dá prosperidade a todo o seu povo.
   Ficaram várias questões para trás, pois em artigos não há como realizar essa grande tarefa sozinho. Mas fica a ideia a ser aproveitada e refeita por todos.




segunda-feira, 29 de outubro de 2018

Tudo continua como antes

O Estado e a Política

Eleições são necessárias por uma simples razão: a alternância democrática de governos na gerência do Estado. Políticos eleitos são funcionários públicos de cargo eletivo, mas são funcionários públicos, nada além disso.
Governos são somente isto mesmo: gerentes do Estado, e nada além disto. Governos não são entidades supremas e transcendentais, governos não são o poder.
O poder é o Estado e o Brasil não tem Estado, o que deixa nosso País entregue às influências alienígenas, sem pátria. Isso deixa nosso País à gerência do tráfico... de influências e de interesses escusos de pessoas que, provavelmente, tiveram o pai preso e a mãe na zona e, com 18 anos de idade, foram seduzidos por aquele tio degenerado designado tutor pelo governo que, além de usar, abusou das cavidades e agora, já crescidos, eles procuram compartilhar o mesmo prazer sentido com a população brasileira.
O Brasil, desde 1822, tem governos, mas nunca teve Estado. Desde 1822, tem políticas de governo, mas nunca teve política de Estado.
Dizendo de uma forma bem clara: sem Estado não há nação, sem nação não há país e sem país não há povo. Portanto, não temos Estado, por conseguinte não somos nação e temos um país (geograficamente falando), mas somos um amontoado de pessoas - um amontoado bem grande, diga-se de passagem - vivendo em um território sem Estado. E um território sem Estado é um território sem Lei. É um território que fica ao léu, à mercê de governos formados por grupos com espírito imundo que fazem a população brasileira de refém, e esta, como prostituta de cabaré apaixonada pelo cafetão, adora apanhar - quanto mais apanha, mais se apaixona. Neste momento alguém deve estar se divertindo com os gracejos, mas lembre-se de que você, possivelmente, é uma das prostitutas.
Mas não confundam Estado com governo e também não confundam Estado com partidos políticos.
O Estado é formado pelas instituições: População, Executivo, Legislativo, Judiciário e Forças Armadas.
Em ordem de importância a população vem, inexoravelmente, primeiro, depois acaba-se a ordem de importância, pois as outras instituições são independentes e harmoniosas entre si. No estado de coisas atualmente faz-se necessário dizer que esta é uma organização de Estado para fins de... organização. Antes que alguém diga que separando a população das outras instituições estamos querendo transformar uns nos inimigos dos outros, reiteramos: é uma organização para orientar mentalmente o entendimento do Estado posto que todos fazemos parte da população, TODOS somos povo.
As Forças Armadas e o Judiciário diferenciam-se pelo fato de que são instituições que devem ter obrigatoriamente políticas de Estado, mas não de governo. Novamente, falo de política e não do que temos no Brasil: politicalha, cujo sufixo define com propriedade a nossa classe politicalha.
"Política é a arte de gerir o Estado, segundo princípios definidos, regras morais, leis escritas e tradições respeitáveis" (BARBBOSA, 1954). E os governos são gerentes do Estado respeitando as políticas do Estado.
O Estado é definitivo, permanente, motorista; o governo é transitório, passageiro, passageiro. Existem políticas de Estado e políticas de governo. As políticas de Estado são aquelas definidas pela Constituição. As políticas de governo são definidas pelo restante das leis (ordinárias, complementares, etc.), desde que, obrigatoriamente, essas leis sigam as normas da Constituição.
Aquilo que temos no Brasil é uma balbúrdia onde os governos que entram desmantelam o Estado e remontam a seu gosto e a população nunca sabe quais as normas vigentes, e pior, nem se importa em saber - e com razão, afinal qual prostituta tem interesse pelas regras da casa?
E os governos podem desmantelar e remontar o Estado justamente porque não temos uma Constituição séria, sólida e bem elaborada e planejada para ser política de Estado que seja definitiva, duradoura.
O simples fato de que com essa Constituição de 1988 começaram a aparecer inúmeras e incontáveis ações de inconstitucionalidade prova a bagunça que é essa coisa que chamamos de "constituição". Além disso, uma "constituição" em que vários artigos terminam com "a ser regulamentado em Lei complementar" é uma aberração jurídica, uma teratologia, uma monstruosidade. Uma Lei complementar NÃO pode regulamentar uma Constituição, é uma inversão de valores.
Explicando em miúdos: o "a ser regulamentado em Lei complementar" foi canalhice e/ou incompetência dos legisladores na época que deixaram essas brechas - brechas não, rombos, buracos enormes - que permitiram aos poderes executivo, legislativo e judiciário ao longo desses 30 anos defecarem (defecarem não, cagarem mesmo) na constituição.
O problema é que, fazendo uma nova constituição, teremos que lidar com o espírito humano desonesto da nossa politicalha, pois serão eles que comporão a nossa gloriosa assembléia constituinte. E o resultado será uma nova Constituição com o adendo: pior.
Mas tem o dilema, já posto em outro artigo, fazer ou não fazer uma nova Constituição?
Em se fazendo-a, como será feita? Dando um “gópi” e escolhendo em uma prateleira um conjunto de notáveis ou fazendo-a com essa politicalha do Congresso Nacional? Eis o dilema.
Independentemente dessa escolha, o ponto principal é que a Constituição seja planejada, elaborada, séria, honesta, com princípios definidos, regras morais, artigos objetivos e bem escritos, com tradições responsáveis, clara, concisa e precisa.
Referências:
BARBOSA, Ruy. Lições de Ruy. 2ª ed. Livraria Progresso Editora, Salvador, 1954.