domingo, 16 de dezembro de 2018

Sem Título

   Um Filósofo não tem a memória mecânica muito boa. Um Filósofo tem o aparato cerebral configurado para pensar e raciocinar, não para decorar citações e citar autores. Alguém já viu na obra dos grandes autores citações de outros autores?
   Na obra de Aristóteles, por exemplo, alguém já viu ele citando: segundo Platão e colaboradores o mundo ideal é o das formas estáveis.
Mesmo Platão quando fala de Sócrates não faz citações dele, mas escreve seus ensinamentos. Não vemos Platão escrever: segundo Sócrates e colaboradores a maiêutica é o parto do conhecimento. Não. Platão escreve os pensamentos de Sócrates e descreve as situações das quais decorrem esses pensamentos.
   Um grande autor menciona outro autor quando tem uma concordância ou uma discordância. Ou quando quer reforçar seu ponto de vista, mas sem citações, e sim expressando o âmago do seu pensamento.
   Citações são usadas somente para expressar uma emoção, para elogiar determinado autor ou para mostrar que o citador sabe copiar e colar uma citação utilizando uma frase impactante.
   Vemos que hoje em dia ainda temos a disputa entre dois profetas: Aristóteles e Platão.
Toda a filosofia que veio depois deles podemos colocar de um lado e de outro: o mundo do real e o mundo das idéias. Uma luta entre duas "classes", segundo o imbecil do Marx. Por outro lado, estes dois, Platão e Aristóteles, tem a mesma origem e a luta entre eles não passa de uma ilusão.
   A ambiguidade das coisas é indivisível, o mundo das idéias e o mundo do real são como o corpo e a alma: um não existe sem o outro. A alma é matéria, matéria etérea ainda desconhecida para nós.
   Fazendo uma comparação grosseira, a alma está para o corpo assim como o ar está para as ondas sonoras. A voz se propaga no ar e a alma se propaga no corpo, mas o ar está por toda parte bem como a alma e as ondas sonoras tem alcance limitado bem como a alma.
   A nossa alma se propaga pela essência. Podemos dizer, sem ter certeza, que algumas almas tem uma essência maior do que outras, sem que isso seja uma luta. É uma união. Duas almas se encontram; a maior não diminui, mas a menor aumenta.
   Há uma troca. Agora especulando, talvez a alma seja as sensações e as emoções. Talvez isso explique porque quando encontramos alguém, simpatizamos ou antipatizamos com esse alguém sem que isso seja uma coisa ruim, sem que isso seja uma luta, mas que seja um encontro entre almas. Uma troca aberta onde todos saem ganhando.
   Por isso não me preocupo com o mundo, nem com o pecado nem com a carne. Existe uma substância maior que regula tudo isso.
   A essência, a substância primeira que todos conhecem como Deus, não importando o nome.
   O nome é uma questão semântica, gramatical. A substância, a essência é a mesma. Por substância e essência entendo que são sinônimos. Chamo a partir de agora de essência.
   A essência se manifesta na alma de cada ser animal, humano ou não. Sendo um ser humano a essência se manifesta através da razão e da emoção: um ser humano sente uma emoção e através da razão julga se a emoção é válida. Este processo muitas vezes é inconsciente.
   Por inconsciente entendo aquilo que acontece sem pensar, acontece automaticamente. Comumente se diz: ele deixou se levar pela emoção. Isso é um erro. Ninguém deixa se levar pela emoção. A emoção vem e toma conta. Deixar se levar pela emoção implica em ter controle das emoções. Deixar se levar pela emoção implica em saber, por exemplo, quando a raiva aparece e você sabe que está com raiva e se deixa levar pela raiva. Mas todos nós sabemos que a raiva é incontrolável. Se alguém "deixou se levar pela raiva" então não estava com raiva ou estava com raiva, mas não se deixou levar por ela, foi tomado pela raiva. Ou começou a ter raiva, teve consciência disso e daí sim, deixou se levar pela raiva, deixou a raiva tomar conta do seu ser.
Há que se fazer uma distinção entre sentimentos e emoções. Entendo por sentimento aquilo que sentimos de forma branda, calma; e por emoção aquilo que sentimos de forma arrebatadora, agitada. Por exemplo, a alegria é um sentimento posto que é calma; a euforia é uma emoção posto que é uma agitação. O ódio é um sentimento posto que vem de forma calma; a raiva é uma emoção posto que é uma explosão. A raiva dá e passa, o ódio quando se instala, permanece. Uma pessoa com ódio pode não agir com raiva em momento nenhum. Uma pessoa com raiva pode dizer que está com ódio, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo. Uma pessoa eufórica pode dizer que está alegre, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo.
   Por isso é que a razão serve para controlar as emoções.
   Para esclarecer: cada situação é uma situação.
   E como saber como agir em cada situação? É simples: siga seus pensamentos. A essência também chamada Deus está em todos nós. E ela age em cada um de nós de acordo com o que pensamos.
   Esclarecendo melhor: se você tem um pensamento maligno, analise com a razão e, caso decidir segui-lo, siga-o e sofra as consequências depois.
   Se você tem um pensamento bom: siga-o.
   Cada pensamento tem a sua consequência. Somos a soma das consequências dos nossos pensamentos.
   Por consequência, neste caso, entendo as atitudes, os atos, as ações, as práticas, os efeitos, tudo aquilo que resulta dos nossos pensamentos.
   Por pensamento bom entendo tudo aquilo que gera um ato que colocado em prática causa um bem para si e para as outras pessoas.
   A teoria é o pensamento e a prática é a materialização do pensamento. Por exemplo, eu penso em sentar ou sinto vontade de sentar ou quero sentar, caso eu tenha uma cadeira por perto, eu sento. Caso eu não tenha uma cadeira nem nada parecido por perto, eu sento no chão ou fico em pé. Isso acontece automaticamente. É a razão com a emoção.
   É como pensar e depois escrever ou falar. O falar é a materialização do pensamento, o escrever também o é. Por exemplo, eu penso em construir uma cadeira, essa é a teoria. Ao planejar por escrito como farei a cadeira já estou realizando a prática e ao pegar a madeira, o, pregos, serrote, etc, e serrar a madeira, juntar as peças e dar a forma à cadeira, esse processo todo é a prática. A cadeira finalizada é a materialização do pensamento.
O falar e o escrever envolvem a razão e a emoção. Eu falo com a razão e com a emoção.
   Eu escrevo com a razão e com a emoção. A razão e a emoção fazem parte da essência, fazem parte daquilo que conhecemos como Deus, não importando em qual língua.
Esse conflito falso entre razão e emoção, religião e ciência, rico e pobre, homem e mulher e várias outras coisas provoca um pensamento dualista que leva à luta, leva à luta com você mesmo e com os outros. O contraditório não é luta, o contraditório é concordância.
Razão e emoção são complementares, são a essência. O que existe é a essência, nada mais.
Siga seus pensamentos utilizando a razão e a emoção.
Siga seus pensamentos, dessa forma você saberá quem você é, e será essência.
Caso você mentir para você mesmo, você mentirá para os outros e não será essência.
Assim foi escrito.

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