domingo, 25 de novembro de 2018

Eminência Parda


   Prazer, Eminência Parda. Meu nome é Nome, mas pode me chamar de Eminência Parda. Eu sou o responsável por todas as informações mais relevantes e pertinentes que correm pelo mundo. Eu sou o primeiro a falar nelas, mais do que tudo, sou eu que lanço determinada idéia em estipulado meio para atingir estabelecido objetivo.
   Sou a eminência pardacenta por trás de toda informação. Eu preparo o ambiente, semeio a idéia e colho as conclusões. Eu sou aquele cara que, em uma conversa informal, nem parcimonioso nem demasiado, falo uma fala normal - normal de entonação, mas de conteúdo original. A partir das minhas idéias meus servos começam o trabalho de pesquisa - mesmo eles não sabendo que são meus serviçais.
   Dá-los-ei apenas dois exemplos, um, um pouco mais antigo e outro mais atual: fui eu o primeiro a dizer que viria um salvador da humanidade e fui o primeiro a falar em Nova Ordem Mundial... aliás, a modéstia sempre me impediu de dizer que ambas foram minhas idéias, mas resolvi deixar a modéstia de lado.
   Algumas idéias são mera constatação da realidade, outras são por mim inventadas. A coisa funciona assim: eu falo aparentemente desapercebidamente como quem não fala a verdade nem mente. Sou aquela observação que você ouve no churrasco de domingo, no amigo secreto, na reunião da empresa, na festa do sindicato, no dia-a-dia rotineiro, etecétera. E você escuta, mas no momento não dá bola e depois fica pensando nisso, mas em casa começa a desenvolver a idéia e em pouco tempo não lembra mais quem foi o autor e você passa realmente a acreditar que a idéia é sua. E eu faço isso com várias pessoas. Uma dessas várias pessoas irá levar adiante a idéia transformando-a em pesquisa, depois em projeto envolvendo mais pessoas e depois colocando na prática envolvendo mais pessoas ainda. E, a prática, ao ser introduzida, embrenha-se na realidade transformando o boato em verdade. Uma mentira não se transforma em verdade, mas um boato transforma-se em realidade.
   A teoria é a semente e a prática é a árvore que dá frutos. Eu planto e cuido da teoria até ela germinar e crescer sadia e forte para erguer-se como uma árvore frondosa que dará muitos frutos. Eu sou um agricultor de idéias. Sou, ao mesmo tempo, trabalhador e produtor, eu tenho os meios de produção, planto e cuido das sementes, mas quem cuida da árvore são os servos. Depois eu colho os melhores frutos e aos outros restam os frutos podres e as vãs esperanças que se perdem em discussões idiotas onde ficam tentando definir conceitos indefiníveis porque são conceitos subjetivos e, como tais, por isso mesmo são indefiníveis. Eu invento um nome saído da minha cabeça e depois crio uma definição elegantemente escrita, mas vazia de conteúdo e espalho isso pelos meios acadêmicos com a força de alguma “autoridade intelectual” recheada de títulos (Doutor tal, PhD tal, etc.) e todo mundo acredita que essa loucura inventada da minha cabeça existe. E se aparecer alguém, mesmo que não seja inteligente, mas que veja a verdade da minha loucura, eu simplesmente mudo o nome da coisa e isso ocasiona outra sucessão de livros e escritos acarretando mais definições vagas e mais confusão ainda. Às vezes eu observo a realidade e tento encaixá-la nas minhas definições, sempre elegantemente escritas, e isso confunde a todos provocando expressões como: “Mas é claro que isso existe, nós podemos ver os efeitos e as consequências”... e pronto. É simples assim.
   Eu já inventei vários sistemas políticos e econômicos simplesmente observando a realidade e encaixando essas consequências naturais à minha definição vaga saída da loucura da minha cabeça... e tem gente que acredita, e pior, ficam tentando provar que isso existe.
E eu dou muitas gargalhadas gostosas.

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