Prazer, Eminência Parda. Meu nome é Nome, mas pode me
chamar de Eminência Parda. Eu sou o responsável por todas as informações mais
relevantes e pertinentes que correm pelo mundo. Eu sou o primeiro a falar
nelas, mais do que tudo, sou eu que lanço determinada idéia em estipulado meio
para atingir estabelecido objetivo.
Sou a eminência pardacenta por trás de toda informação. Eu preparo
o ambiente, semeio a idéia e colho as conclusões. Eu sou aquele cara que, em
uma conversa informal, nem parcimonioso nem demasiado, falo uma fala normal -
normal de entonação, mas de conteúdo original. A partir das minhas idéias meus
servos começam o trabalho de pesquisa - mesmo eles não sabendo que são meus
serviçais.
Dá-los-ei apenas dois exemplos, um, um pouco mais antigo e
outro mais atual: fui eu o primeiro a dizer que viria um salvador da humanidade
e fui o primeiro a falar em Nova Ordem Mundial... aliás, a modéstia sempre me
impediu de dizer que ambas foram minhas idéias, mas resolvi deixar a modéstia
de lado.
Algumas idéias são mera constatação da realidade, outras são
por mim inventadas. A coisa funciona assim: eu falo aparentemente
desapercebidamente como quem não fala a verdade nem mente. Sou aquela
observação que você ouve no churrasco de domingo, no amigo secreto, na reunião
da empresa, na festa do sindicato, no dia-a-dia rotineiro, etecétera. E você
escuta, mas no momento não dá bola e depois fica pensando nisso, mas em casa
começa a desenvolver a idéia e em pouco tempo não lembra mais quem foi o autor
e você passa realmente a acreditar que a idéia é sua. E eu faço isso com várias
pessoas. Uma dessas várias pessoas irá levar adiante a idéia transformando-a em
pesquisa, depois em projeto envolvendo mais pessoas e depois colocando na
prática envolvendo mais pessoas ainda. E, a prática, ao ser introduzida,
embrenha-se na realidade transformando o boato em verdade. Uma mentira não se
transforma em verdade, mas um boato transforma-se em realidade.
A teoria é a semente e a prática é a árvore que dá frutos.
Eu planto e cuido da teoria até ela germinar e crescer sadia e forte para
erguer-se como uma árvore frondosa que dará muitos frutos. Eu sou um agricultor
de idéias. Sou, ao mesmo tempo, trabalhador e produtor, eu tenho os meios de
produção, planto e cuido das sementes, mas quem cuida da árvore são os servos.
Depois eu colho os melhores frutos e aos outros restam os frutos podres e as
vãs esperanças que se perdem em discussões idiotas onde ficam tentando definir
conceitos indefiníveis porque são conceitos subjetivos e, como tais, por isso
mesmo são indefiníveis. Eu invento um nome saído da minha cabeça e depois crio
uma definição elegantemente escrita, mas vazia de conteúdo e espalho isso pelos
meios acadêmicos com a força de alguma “autoridade intelectual” recheada de
títulos (Doutor tal, PhD tal, etc.) e todo mundo acredita que essa loucura
inventada da minha cabeça existe. E se aparecer alguém, mesmo que não seja
inteligente, mas que veja a verdade da minha loucura, eu simplesmente mudo o
nome da coisa e isso ocasiona outra sucessão de livros e escritos acarretando
mais definições vagas e mais confusão ainda. Às vezes eu observo a realidade e
tento encaixá-la nas minhas definições, sempre elegantemente escritas, e isso
confunde a todos provocando expressões como: “Mas é claro que isso existe, nós
podemos ver os efeitos e as consequências”... e pronto. É simples assim.
Eu já inventei vários sistemas políticos e econômicos
simplesmente observando a realidade e encaixando essas consequências naturais à
minha definição vaga saída da loucura da minha cabeça... e tem gente que
acredita, e pior, ficam tentando provar que isso existe.
E eu dou muitas gargalhadas gostosas.
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