quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Crítica

    A palavra, o signo, crítica tem como significado “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; juízo crítico” (do dicionário Houaiss).

   Aristóteles começa as Categorias, no Organon, discorrendo, entre outras coisas, sobre “os nomes das coisas” que podemos adotar aqui como sendo os signos, grosso modo, as palavras não combinadas.

   Vejamos estes trechos retirados das Categorias, tradução de Pinharanda Gomes:


   “As afirmações e as negações só se produzem quando eles [os nomes, as palavras] são combinados entre si.  Toda a asserção, afirmativa ou negativa, deve ser verdadeira ou falsa, enquanto as palavras não combinadas, por exemplo, homem, corre, vence, não podem ser, nem verdadeiras, nem falsas.”

   “Casos de combinação de palavras são, por exemplo, o homem corre, o homem vence; casos de palavras sem combinação são, por exemplo, homem, boi, corre, vence.


    Então está bem claro, há aproximadamente 2.340 anos, que de uma palavra não combinada (uma palavra sozinha) não podemos captar uma acepção verdadeira ou falsa.

   Crítica é uma palavra não combinada e quando usada isoladamente não podemos predicar, tirar um atributo, uma característica verdadeira ou falsa; e assim o é com todas as palavras.

   Uma crítica pode ser positiva ou negativa posto que crítica é, no seu significado, “capacidade e habilidade de julgar”. Uma crítica positiva podemos chamar de elogio. Uma crítica negativa podemos chamar de “apontar um erro e oferecer uma solução”, entre outras coisas.

   No Brasil, a palavra, o signo Crítica já adotou o significado e o sentido de “falar mal”. Ora, “falar mal” não podemos, neste sentido, sequer considerar como um julgamento.

   Ainda que, na derivação, por extensão de sentido, podemos adotar circunstancialmente crítica como opinião desfavorável; censura, condenação, porém, é somente um sentido no qual estamos empregando a palavra crítica.

   No seu significado genérico, básico, crítica é tão somente “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; juízo crítico”.

   O problema começa quando um sentido de um signo é adotado como sendo único, como sendo o significado genérico básico; e isto afeta a mentalidade das pessoas pois elas passam a raciocinar somente com este sentido esquecem (ou não sabem) que tem o significado e vários sentidos os quais podemos empregar uma palavra e cada qual destes vários sentidos tem seu próprio referente de acordo com o contexto da frase (palavras combinadas).

   Soma-se a isso várias outras palavras (signos) e expressões (frases) os quais as pessoas desconhecem completamente o significado... e temos emburrecimento. E pior, não querem mais saber o significado básico das coisas.

   Lembrando que “básico” é o que faz parte da base, porém, tem mais coisas em cima. A estrutura do processo de conhecimento: básico, intermediário e avançado. Parte-se da base para se chegar a um entendimento maior e, neste sentido, a base é “signo, significado (com seus vários sentidos) e referente”.

   Combinarei agora a palavra crítica com a palavra pensamento: Pensamento Crítico. É uma expressão da qual podemos tirar uma afirmação ou uma negação, mas a base são os signos que compõem a expressão. Então pergunto: o que é pensamento? E o que é crítica ou, no caso da expressão, o que é crítico?

   Ainda que devemos raciocinar com o conjunto da expressão (palavras combinadas), devemos saber o significado de cada palavra que a compõe para então, aí sim, podermos tirar o entendimento (semântica) da expressão como um todo.

   Pensamento: “ato ou efeito de pensar”. Crítico: “que faz a análise de; analítico”.

   Então Pensamento Crítico é, basicamente, fazer a análise do ato ou efeito de pensar ou, invertendo, é pensar analiticamente, é o ato ou efeito de se pensar fazendo análises.

   Óbvio que podemos tirar outros sentidos da expressão Pensamento Crítico, porém, quando não se sabe sequer o básico raciocinaremos de forma completamente diferente uns em relação aos outros, teremos mentalidades diferentes e aí começam as discussões, brigas de egos, etc. E ainda nem falei do conhecimento relativo a cada assunto e objetos do assunto que estão presentes numa simples conversa e nem vou discorrer sobre isso neste texto, pois tomaria várias laudas.

   Quando uma simples expressão como “Pensamento Crítico” é esvaziada de significado - é esvaziada de tudo -, temos palavras ocas, chavões idiotas jogados no ar para os imbecis repetirem como papagaios. E, a partir daí, pela quantidade excessiva de expressões esvaziadas de significado as pessoas passam a nem raciocinar mais, simplesmente repetem palavras e expressões.

   Quando uma simples expressão como “Pensamento Crítico” vira, na mente das pessoas, “falar mal”, temos emburrecimento. E tem cursos, palestras, seminários sobre “Pensamento Crítico” os quais são palavras ocas, vazias, trocam conceitos por palavras. A partir daí, Pensamento Crítico é aquilo que eu quiser que seja desde que ninguém me critique, mas eu posso "criticar" tudo e tudo vira uma “pasta mental”.

   Repetindo, imaginem isso com várias, inúmeras expressões, frases que são transformadas em chavões simplesmente porque não se sabe mais o significado dos signos e as pessoas não tem mais sequer o desejo, a vontade de saber, aprender, compreender, entender, as pessoas adquirem aversão ao conhecimento até nas coisas mais simples porque acham que sabem tudo e ao mesmo tempo repetem palavras vazias para demonstrar uma afetação, um modo artificial de ser, uma atitude fingida, falsa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário