domingo, 30 de dezembro de 2018

A Vida Intelectual - Anotações do meu pai

 


   
Meu pai deixou este livro: “A Vida Intelectual, Espírito, Condições, Métodos”, A. -D. Sertillanges.
   Tradução e prefácio de Dr. Antônio Pinto de Carvalho. (3ª edição corrigida). Armênio Amado, Editor, SUC. - Coimbra - 1957.
   Transcrevo abaixo os textos datilografadas na década de 1960 encontrados dentro do livro em uma folha de papel amarelada e em uma ficha desgastada. A folha não é sobre o livro. Na ficha tem passagens do livro.

Discurso

   “1. - Terrorismo - Assaltos a Bancos, Sequestro de Diplomatas e aviões.
   2. - Filosofia do Comunismo, Linha chinesa. “AP, POC, VPR, VAR-Palmares, M3-G.
   3. - Núcleo local - A que movimento pertence? Saberão.
   ANOTAÇÕES:  Não é o povo pobre, o povo simples, o povo ainda tão pouco instruído que está traindo o Brasil. Já estão muitos subjugados pelo medo, o medo de parecer reacionário e o medo de lutar contra o inevitável. O medo de se opor e o medo de não se opor. No Brasil, há quem cometa erros de julgamento sobre a ameaça comunista apenas por ignorância. Mas, em certos postos, em certos homens e certas situações, a ignorância sobre esta matéria é o pior dos crimes. O terrorismo, sequestrando diplomatas e aviões, saqueando bancos, quer privar o Brasil da ordem democrática, da ordem com liberdade, da liberdade com responsabilidade.
   O domínio pela coação psicológica e intelectual preparou monstros de conformismo, como os aleijões intelectuais, os mesmos intelectuais que lançavam manifestos até há pouco tempo. Sem lhes negar a cultura bitolada, passado o cio intelectual dos manifestos, recolhem-se nos ninhos para chocar filhotes de quinta-coluna. Esses brasileiros, os se dizentes intelectuais, são os traidores do Brasil, não o povo simples, o povo pobre, o povo pouco instruído.
   A noção de uma liberdade com responsabilidade desapareceu para ceder lugar a uma degeneração da liberdade, que consiste em usá-la para renegá-la.
   Em tais escolas os futuros propagandistas são primeiro despersonalizados, depois remodelados segundo uma rigorosa ortodoxia, fanatizados, treinados para serem joguetes nas mãos dos chefes, instruídos nas técnicas de organização e agitação.
   Os criptocomunistas e os aliados temporários são enleados por fios do dinheiro ao sentimentalismo, passando pela ambição, a pusilanimidade, o esnobismo, a fidelidade, o interesse profissional, etc. Os estragos que podem causar esses intermediários velados da propaganda comunista são ilustrados pelo exemplo do Presidente Eduardo Benès, da Tchecoslovaquia. Quando ele se convenceu que fora logrado pelos comunistas já estava consumada a sujeição de seu país; e êle morreu de desgosto.
   O principal aliado da conspiração comunista é o intelectual liberal que não acredita na existência da conspiração comunista.
   PADRES. Em 1955, um ex-padre do Secretário do PC Francês, Albert Vassari, revelou que em 1936 Moscou ordenou que entrassem em seminários, para se tornarem padres, membros de confiança, bem selecionados da Juventude Comunista. Outros se infiltraram em congregações religiosas.
   Um bom patriota jamais alegará que os comunistas podem agir porque também são brasileiros, como se o fato de serem brasileiros desse aos comunistas o direito de servir à Rússia ou à China. A ação de todo brasileiro deve ser no sentido de reafirmar a fidelidade à Pátria, cujo símbolo não servirá de pálio no desfile dos tiranos nem de tapete às ambições dos aventureiros e ambiciosos.
   Somos um povo impetuoso e generoso, capaz de disciplina e de indocilidade; povo que não gosta de se curvar mas que se volta para ver a beleza que todos os dias, ao amanhecer, a natureza nos oferece.
   Tão recatados quanto prostitutas num batizado. Thomas Hart Benton.
   Não mais capazes de compreender a situação... do que um coelho, que se reproduz doze vezes por ano, poderia compreender a gestação de um elefante que dura dois anos. Thomas Hart Benton.
   Montam num leão adormecido e, quando ele acorda, não sabem como se apear dele.”

   Na ficha:
   “Pensamos com todo o ser. Como querereis pensar bem com a alma doente, com o coração trabalhado pelos vícios, solicitado pelas paixões, desorientado por amores violentos ou culpados?
   Cada verdade é um fragmento que mostras por todos os lados as suas ligações; a verdade em si é uma, a verdade é Deus.
   ‘Como te chamas? - Legião’: eis a resposta do espírito disperso e dissipado na vida exterior.”

sábado, 29 de dezembro de 2018

Mentiras e Enganos

Não acredito no que fala,
Eu vou pelo que eu sinto.
Você diz que me ama.
Você mente e eu minto.

Eu digo que lhe amo
E você vai pelo que sente,
Não acredita no que eu falo.
Eu minto e você mente.

Pesa tanto nos enganar
E isso é tão triste.
Não sabemos o que pensar,
Isso alegra e entristece.

Não somos sinceros
Nem com nós mesmos.
Que dirá um com o outro?
E assim vamos entristecendo.

Parece que nada adianta.
Por que não somos sinceros?
A esperança é branca,
Mas a tristeza é azul.

A brancura escurecendo,
O azul ficando escuro.
O quadro da nossa vida
Foi pichado como um muro. 

Eu espero que você não minta,
Você espera a verdade.
Mas estamos tristes,
Alegres da realidade

De uma vida de paixões
Entre um caso e outro.
Você desconfia de tudo
E eu desconfio de todos.

Estamos cansados de tanta mentira.
Quando terá um fim nossa vida de enganos?
Vivemos lado a lado uma vida passageira.
Você mente que me ama e eu minto que lhe amo.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

A Vida é Curta

Quem te disse que a vida é curta
E que dela não se leva nada?
Por acaso você voltou da morte
Ou viveu pela eternidade?

Deixará seus bens para seus filhos
E diz que da vida não se leva nada
Mas deixará sua prole
Que mais precisa deixar?

Quer que seus filhos comecem sem nada
Pensando que para eles será fácil
Mas você também teve dificuldades
E o que seus pais lhe deixaram?

Não culpe quem veio antes
Pense em quem virá depois
A sua vida não é um instante
Ela começou com seus pais

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Pensando


Pensei que eu não sabia pensar
E não estou alegre nem triste
Só estou imaginando o ar
Se é algo que não existe

Na minha cabeça vazia
Nem o vácuo se forma
Os pensamentos do dia
Na noite vão embora

Pensando que eu existo
Existo logo penso
Penso que não existo
E não tenho pensamento

É tão fácil pensar que não penso
Daí penso nos pensamentos
Eu penso que não penso
E isso é um pensamento

Se não estou alegre nem triste
Não tenho sentimentos
Daí a vida não existe
E nem os pensamentos

Que confusão suprema.
Quem sabe o que disso virá?
A alma será eterna?
Nada mais importará?

Se eu imagino o ar
Sinto no rosto uma brisa
É uma questão de imaginar
Ou a realidade é precisa?

Certamente que penso
Isto sinto e isto escrevo
Mas acabo não lendo
Esse pensamento é grotesco

Penso, logo existo
Mas para pensar tenho que existir
E se penso que não existo
Então tenho que mentir

Se não existo não penso
Para mim mesmo eu minto
Se penso, portanto existo
Já não sei mais o que eu sinto

Dando voltas na mente
Os pensamentos circulam
Não estou alegre nem triste
Mas os sentimentos perduram

Então eu sei pensar
E tenho sentimentos
Fico imaginando o ar
E tenho pensamentos

Um Poema Engraçado

Sinto a eletricidade do corpo
Entre cosquinhas e risadas
Temos a alegria dos porcos
Que fuçam na lama da estrada

Um beijo de lábios juntos
O cheiro do perfume suave
O teu batom é o rejunte
Que nos meus lábios não arde

O choque da realidade vivida
Com todo amor e carinho
É como desligar da tomada
Separar o nariz do focinho

Um abraço e um beijo infinito
Duradouro e apertado
Da boca nos cala o grito
Mas deixa o corpo colado

Quero guardar na lembrança
Esse momento estranho
Na lama fizemos lambança
E fomos tomar banho

Sinto a eletricidade do corpo
Da vida não se leva nada
O último suspiro de um morto
A cama é a nossa estrada

Sem ter o que fazer
Deitados pensando em tudo
Meu ser é o teu ser
Dane-se o mundo

Velha Ilusão

Na briga dos anjos e demônios
Anjos de luz vós desejais
Sob a forma melíflua de ideais
Eles vivem em matrimônio

Do que vós imagineis da vida
Tens a realidade concreta
Que mais parece incerta

Não digas que sabes de tudo
Lúcifer também é feito de luz
A mentira da ilusão do mundo

Que a todos nós conduz
É um sentimento profundo:
Somos feitos de trevas e de luz

domingo, 16 de dezembro de 2018

Análise do livro Aristóteles em Nova Perspectiva - Parte 1

Textículo Introdutório
Ou Prolegômenos

Não pretendo aqui refutar ou elogiar a obra da presente análise (o livro Aristóteles em Nova Perspectiva - Introdução à Teoria dos Quatro Discursos de Olavo de Carvalho), pois refutar ou elogiar pressupõe que se dê algum valor à obra e, como ainda não a estudei, não tenho essa pretensão.
Seguindo esse raciocínio coloco aqui o método que aplicarei: primeiro lerei o livro todo de uma vez, “de cabo a rabo”, sem me preocupar em estudá-lo. Segundo: partirei para o estudo, relendo-o e, daí sim, entrando no estudo propriamente dito, comparando-o com outras obras, fazendo anotações, tirando conclusões, procurando compreendê-lo seguindo, principalmente, o próprio conceito de “compreensão” sugerido pelo autor nas primeiras páginas do livro, cujas linhas me saltaram aos olhos.
Porém, isso não implica que entrarei nos termos que o autor propõe. Não posso cometer os erros filosófico e psicológico de analisar um livro nos termos que um autor propõe (mas os levarei em conta, é óbvio), senão entrarei em uma investigação que cairá num “jogo de cartas marcadas” que acarretará na delimitação do assunto a ser estudado, delimitação esta, dada pelo próprio autor, o que não é o caso, pois, acredito eu, não se trata de obra de ficção posto que filosofia se traduz, também, como a busca pelo bem e pela verdade e, num conceito mais específico semanticamente: a busca pela verdade com base na realidade, sem falseamentos.
Reitero, minha intenção não é refutá-lo ou elogiá-lo, mas somente entendê-lo e, se possível, agregar conhecimento.
À primeira leitura o autor nos oferece um conceito de “compreensão” (páginas 21 e 22), que aqui transcrevo: “No entanto, ela é a chave mesma dessa compreensão, se por compreensão se entende o ato de captar a unidade do pensamento de um homem desde suas próprias intenções e valores, em vez de julgá-lo de fora; ato que implica respeitar cuidadosamente o inexpresso e o subentendido, em vez de sufocá-lo na idolatria do “texto” coisificado, túmulo do pensamento. ”
Num primeiro momento pensei que, quando o autor fala em “respeitar cuidadosamente o inexpresso e o subentendido”, teria que “adivinhar”, ler nas entrelinhas, imaginar fertilmente alguma coisa que o autor não disse no texto coisificado, como se eu fosse um adolescente subginasiano tentando compreender, por exemplo, a Retórica sem ter lido os Tópicos, semelhante ao que o próprio Aristóteles assinalou na Metafísica:
As tentativas de alguns [pensadores] que se pronunciam
acerca da verdade e do modo como a devemos reconhecer
são realizadas na completa ignorância dos [meus]
Analíticos; ora todas estas matérias só devem ser abordadas
por quem tenha um conhecimento prévio [desses textos],
e não por quem busca a verdade sem ter sequer ouvido
falar deles.”
Partindo do pensamento de adivinhação eu pararia logo a leitura naquele conceito de “compreensão” e cairia na armadilha do desconstrucionismo.
Vejo claramente que o autor, com aquele conceito de “compreensão”, refere-se, por evidente, à obra de Aristóteles e não ao seu próprio livro; refere-se à “compreensão” como um processo de conhecimento (a escalada cognitiva), onde, para compreender alguma coisa deve-se, obrigatoriamente, compreender o(s) princípio(s) dessa alguma coisa para depois compreendê-la na sua totalidade (das partes para o todo), ou, pelo menos, através desse processo de conhecimento chegar mais perto da verdade. “Compreensão” esta, creio eu, no sentido do silogismo aristotélico: “um argumento em que, dadas certas proposições, algo distinto delas resulta necessariamente, pela simples presença das proposições aduzidas” (Tópicos, pág. 10).
Dirimida esta dúvida, sigo a leitura sem estudo, apesar de já ter feito um estudo prévio dessas primeiras linhas, delineando assim, o método desta análise.

Após terminada a leitura inicial sem estudo, minha primeira impressão (que pode ser interpretada como uma análise epistemológica leiga, não somente pela leitura do livro em questão, mas, também, pela execução de vários dos vídeos do autor no Youtube) é a de que o autor tem o raciocínio aristotélico - tanto básico quanto em suas quatro variedades - completamente arraigado no seu eu, tornou-se parte dele... como não poderia ser diferente dado o seu conhecimento sobre o assunto. Até fiquei um pouco inibido em continuar esta análise, mas venho com a minha fé, companheira fiel, e venho - com o conhecimento que tenho, que, em comparação com o autor, é menor - levar a cabo este empreendimento na intenção de chegar ao mais puro aprendizado e, entre concordâncias e discordâncias, chegaremos a uma conclusão, seja ela certa, provável, verossímil ou possível.

Introdução ao estudo do livro Aristóteles em Nova Perspectiva

A base do livro, a Teoria dos Quatro Discursos, como o próprio autor diz: “Pode ser resumida em uma frase: o discurso humano é uma potência única, que se atualiza de quatro maneiras diversas: a poética, a retórica, a dialética e a analítica (lógica) ” (p. 22).
A idéia da Teoria dos Quatro Discursos foi baseada na percepção de dois outros autores, citados no próprio livro: Avicena e Santo Tomás de Aquino, cuja nota 2 reproduzo abaixo:

2 Esses dois foram Avicena e Sto. Tomás de Aquino. Avicena (Abu ‘Ali el-Hussein ibn Abdallah ibn Sina, 375-428 H. / 985-1036 d.C.) afirma taxativamente, na sua obra Nadjat (“A Salvação”), a unidade das quatro ciências, sob o conceito geral de “lógica”. Segundo o Barão Carra de Vaux, isto “mostra quanto era vasta a idéia que ele fazia desta arte”, em cujo objeto fizera entrar “o estudo de todos os diversos graus de persuasão, desde a demonstração rigorosa até a sugestão poética” (cf. Baron Carra de Vaux, Avicenne, Paris, Alcan, 1900, pp. 160-161). Sto. Tomás de Aquino menciona também, nos Comentários às Segundas Analíticas, I, I.I, nº 1-6, os quatro graus da lógica, dos quais, provavelmente tomou conhecimento através de Avicena, mas atribuindo-lhe o sentido unilateral de uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poético) e dando a entender que, da Tópica “para baixo”, estamos lidando apenas com progressivas formas do erro ou pelo menos do conhecimento deficiente. Isto não coincide exatamente com a concepção de Avicena nem com aquela que apresento neste livro, e que me parece ser a do próprio Aristóteles, segundo a qual não há propriamente uma hierarquia de valor entre os quatro argumentos, mas sim uma diferença de funções articuladas entre si e todas igualmente necessárias à perfeição do conhecimento. De outro lado, é certo que Sto. Tomás, como todo Ocidente Medieval, não teve acesso ao texto da Poética. Se tivesse, seria quase impossível que visse na obra poética apenas a representação de algo “como agradável ou repugnante” (loc. cit., nº 6), sem meditar mais profundamente sobre o que diz Aristóteles quanto ao valor filosófico da poesia (Poética, 1451 a.). De qualquer modo, é um feito admirável do Aquinatense o haver percebido a unidade das quatro ciências lógicas, raciocinando como o fez, desde fontes de segunda mão.

Então se faz necessário analisar os textos citados acima, sendo que os analisarei na próxima parte do estudo.
Mas, de imediato, fazendo uma análise do próprio texto do autor, posso depreender (não compreender), mas posso depreender friamente do texto coisificado da nota 2 que Avicena afirma taxativamente, na sua obra Nadjat (“A Salvação”), a unidade das quatro ciências, sob o conceito geral de “lógica”. À primeira vista posso entender que, para Avicena, a unidade das quatro ciências está na lógica e não na poética. Mas para dirimir esta dúvida se faz necessário ler o texto de Avicena, o que farei na segunda parte.
Depois o autor cita o Barão Carra de Vaux cuja obra não se encontra nas “Leituras Sugeridas”, porém, isto não desabona o livro, pois refere-se à forma e não ao conteúdo.
Sobre Sto. Tomás de Aquino o autor cita que “provavelmente tomou conhecimento através de Avicena, mas atribuindo-lhe o sentido unilateral de uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poético) e dando a entender que, da Tópica “para baixo”, estamos lidando apenas com progressivas formas do erro ou pelo menos do conhecimento deficiente”.
Posso depreender que a hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poética) significa isso mesmo: o mais certo é a analítica e o mais incerto é a poética. E depois o autor diz que “Isto não coincide exatamente com a concepção de Avicena nem com aquela que apresento neste livro, e que me parece ser a do próprio Aristóteles, segundo a qual não há propriamente uma hierarquia de valor entre os quatro argumentos, mas sim uma diferença de funções articuladas entre si e todas igualmente necessárias à perfeição do conhecimento”.
Ora, se a concepção de Avicena não coincide com a de Sto. Tomás de Aquino e nem com a do autor, aparentemente não estão falando da mesma coisa ou estão falando da mesma coisa, mas sob óticas diferentes. Este é um dos pontos a serem analisados profundamente. Do que cada um está falando?
Porém, como o próprio texto informa “De outro lado, é certo que Sto. Tomás, como todo Ocidente Medieval, não teve acesso ao texto da Poética. Se tivesse, seria quase impossível que visse na obra poética apenas a representação de algo “como agradável ou repugnante” (loc. cit., nº 6), sem meditar mais profundamente sobre o que diz Aristóteles quanto ao valor filosófico da poesia (Poética, 1451 a.)”.
Então vejo que, segundo o próprio autor Olavo de Carvalho, Sto. Tomás de Aquino não tinha dados e informações suficientes para atribuir uma hierarquia descendente que vai do mais certo (analítico) ao mais incerto (poética). Contudo, isto não desabona em qualquer coisa que seja. O texto é bastante claro: Sto. Tomás de Aquino não tinha conhecimento da Poética, porém, o autor colocou a Poética como último grau da hierarquia descendente baseando-se nas indagações de Sto. Tomás.
Mas posso ver na página 22 do livro: “A questão biparte-se numa investigação histórico-filológica. Não poderei, nas dimensões da presente comunicação, realizar a contento nem uma, nem a outra. Em compensação, posso indagar as razões da estranheza”.
O autor Olavo de Carvalho deixa claro que seu livro é uma comunicação feita de indagações que não são históricas, nem filológicas. Entretanto, até o momento não posso dizer que isso o qualifica positivamente ou o qualifica negativamente. Estas expressões, qualificar positivamente ou negativamente, uso-as somente como forma gramatical, pois qualificar sugere julgamento que implica em estudo e conhecimento daquilo que se está julgando, implica em umas pessoas julgando outras pessoas, mas quem estará com a razão e com a emoção, posto que a razão serve para controlar a emoção, mas uma não vive sem a outra, são indissociáveis, inseparáveis, bem como as letras e as ciências, pois o conhecimento começa com a intuição e confirma-se com as experiências.
Nas próximas partes entrarei no estudo propriamente dito.

Sem Título

   Um Filósofo não tem a memória mecânica muito boa. Um Filósofo tem o aparato cerebral configurado para pensar e raciocinar, não para decorar citações e citar autores. Alguém já viu na obra dos grandes autores citações de outros autores?
   Na obra de Aristóteles, por exemplo, alguém já viu ele citando: segundo Platão e colaboradores o mundo ideal é o das formas estáveis.
Mesmo Platão quando fala de Sócrates não faz citações dele, mas escreve seus ensinamentos. Não vemos Platão escrever: segundo Sócrates e colaboradores a maiêutica é o parto do conhecimento. Não. Platão escreve os pensamentos de Sócrates e descreve as situações das quais decorrem esses pensamentos.
   Um grande autor menciona outro autor quando tem uma concordância ou uma discordância. Ou quando quer reforçar seu ponto de vista, mas sem citações, e sim expressando o âmago do seu pensamento.
   Citações são usadas somente para expressar uma emoção, para elogiar determinado autor ou para mostrar que o citador sabe copiar e colar uma citação utilizando uma frase impactante.
   Vemos que hoje em dia ainda temos a disputa entre dois profetas: Aristóteles e Platão.
Toda a filosofia que veio depois deles podemos colocar de um lado e de outro: o mundo do real e o mundo das idéias. Uma luta entre duas "classes", segundo o imbecil do Marx. Por outro lado, estes dois, Platão e Aristóteles, tem a mesma origem e a luta entre eles não passa de uma ilusão.
   A ambiguidade das coisas é indivisível, o mundo das idéias e o mundo do real são como o corpo e a alma: um não existe sem o outro. A alma é matéria, matéria etérea ainda desconhecida para nós.
   Fazendo uma comparação grosseira, a alma está para o corpo assim como o ar está para as ondas sonoras. A voz se propaga no ar e a alma se propaga no corpo, mas o ar está por toda parte bem como a alma e as ondas sonoras tem alcance limitado bem como a alma.
   A nossa alma se propaga pela essência. Podemos dizer, sem ter certeza, que algumas almas tem uma essência maior do que outras, sem que isso seja uma luta. É uma união. Duas almas se encontram; a maior não diminui, mas a menor aumenta.
   Há uma troca. Agora especulando, talvez a alma seja as sensações e as emoções. Talvez isso explique porque quando encontramos alguém, simpatizamos ou antipatizamos com esse alguém sem que isso seja uma coisa ruim, sem que isso seja uma luta, mas que seja um encontro entre almas. Uma troca aberta onde todos saem ganhando.
   Por isso não me preocupo com o mundo, nem com o pecado nem com a carne. Existe uma substância maior que regula tudo isso.
   A essência, a substância primeira que todos conhecem como Deus, não importando o nome.
   O nome é uma questão semântica, gramatical. A substância, a essência é a mesma. Por substância e essência entendo que são sinônimos. Chamo a partir de agora de essência.
   A essência se manifesta na alma de cada ser animal, humano ou não. Sendo um ser humano a essência se manifesta através da razão e da emoção: um ser humano sente uma emoção e através da razão julga se a emoção é válida. Este processo muitas vezes é inconsciente.
   Por inconsciente entendo aquilo que acontece sem pensar, acontece automaticamente. Comumente se diz: ele deixou se levar pela emoção. Isso é um erro. Ninguém deixa se levar pela emoção. A emoção vem e toma conta. Deixar se levar pela emoção implica em ter controle das emoções. Deixar se levar pela emoção implica em saber, por exemplo, quando a raiva aparece e você sabe que está com raiva e se deixa levar pela raiva. Mas todos nós sabemos que a raiva é incontrolável. Se alguém "deixou se levar pela raiva" então não estava com raiva ou estava com raiva, mas não se deixou levar por ela, foi tomado pela raiva. Ou começou a ter raiva, teve consciência disso e daí sim, deixou se levar pela raiva, deixou a raiva tomar conta do seu ser.
Há que se fazer uma distinção entre sentimentos e emoções. Entendo por sentimento aquilo que sentimos de forma branda, calma; e por emoção aquilo que sentimos de forma arrebatadora, agitada. Por exemplo, a alegria é um sentimento posto que é calma; a euforia é uma emoção posto que é uma agitação. O ódio é um sentimento posto que vem de forma calma; a raiva é uma emoção posto que é uma explosão. A raiva dá e passa, o ódio quando se instala, permanece. Uma pessoa com ódio pode não agir com raiva em momento nenhum. Uma pessoa com raiva pode dizer que está com ódio, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo. Uma pessoa eufórica pode dizer que está alegre, mas é um engano, ela não sabe o que está sentindo.
   Por isso é que a razão serve para controlar as emoções.
   Para esclarecer: cada situação é uma situação.
   E como saber como agir em cada situação? É simples: siga seus pensamentos. A essência também chamada Deus está em todos nós. E ela age em cada um de nós de acordo com o que pensamos.
   Esclarecendo melhor: se você tem um pensamento maligno, analise com a razão e, caso decidir segui-lo, siga-o e sofra as consequências depois.
   Se você tem um pensamento bom: siga-o.
   Cada pensamento tem a sua consequência. Somos a soma das consequências dos nossos pensamentos.
   Por consequência, neste caso, entendo as atitudes, os atos, as ações, as práticas, os efeitos, tudo aquilo que resulta dos nossos pensamentos.
   Por pensamento bom entendo tudo aquilo que gera um ato que colocado em prática causa um bem para si e para as outras pessoas.
   A teoria é o pensamento e a prática é a materialização do pensamento. Por exemplo, eu penso em sentar ou sinto vontade de sentar ou quero sentar, caso eu tenha uma cadeira por perto, eu sento. Caso eu não tenha uma cadeira nem nada parecido por perto, eu sento no chão ou fico em pé. Isso acontece automaticamente. É a razão com a emoção.
   É como pensar e depois escrever ou falar. O falar é a materialização do pensamento, o escrever também o é. Por exemplo, eu penso em construir uma cadeira, essa é a teoria. Ao planejar por escrito como farei a cadeira já estou realizando a prática e ao pegar a madeira, o, pregos, serrote, etc, e serrar a madeira, juntar as peças e dar a forma à cadeira, esse processo todo é a prática. A cadeira finalizada é a materialização do pensamento.
O falar e o escrever envolvem a razão e a emoção. Eu falo com a razão e com a emoção.
   Eu escrevo com a razão e com a emoção. A razão e a emoção fazem parte da essência, fazem parte daquilo que conhecemos como Deus, não importando em qual língua.
Esse conflito falso entre razão e emoção, religião e ciência, rico e pobre, homem e mulher e várias outras coisas provoca um pensamento dualista que leva à luta, leva à luta com você mesmo e com os outros. O contraditório não é luta, o contraditório é concordância.
Razão e emoção são complementares, são a essência. O que existe é a essência, nada mais.
Siga seus pensamentos utilizando a razão e a emoção.
Siga seus pensamentos, dessa forma você saberá quem você é, e será essência.
Caso você mentir para você mesmo, você mentirá para os outros e não será essência.
Assim foi escrito.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Construção Social


   Hoje vamos falar da expressão Construção Social. Ela significa basicamente que o ser humano é construído socialmente de acordo com a sociedade na qual vive, de acordo com o meio-ambiente, de acordo com os princípios familiares ensinados, de acordo com as atitudes, com o modo de agir do seu círculo social. Na prática é tudo aquilo que você aprende na sua vida, seja em termos de pensamentos, de idéias, de atitudes, ações, princípios morais, caráter e assim por diante.
   Atualmente esse termo Construção Social é utilizado somente para falar de identidade de gênero no tocante ao aspecto sexual. Eu sou heterossexual, sou homossexual, sou binário e por aí vai. Mas a construção social não age somente na opção sexual de uma pessoa, ela também age em outras áreas.
   Se você cresce num ambiente de maus princípios aprendendo a mentir, a roubar, esta terá sido a sua construção social. É aquele ditado popular: diga-me com quem andas e eu te direi quem és. Ou quando alguém fala para ter cuidado com certas companhias. Isso faz parte da construção social. E a construção social é um fato, é verdade.
   O problema é que escondem o outro lado da coisa que é a índole, as características individuais que nascem com cada pessoa. Isso também é fato, também é verdade. Nesse sentido o ser humano não nasce uma tábula rasa. Basta observar bebês de colo, bebês de berço com meses de idade e veremos que esses bebês têm diferenças assim como nós tivemos quando éramos bebês. Se você perguntar para seu pai ou para sua mãe, geralmente a mãe observa melhor essas coisas, ela irá falar as diferenças que tinham entre você e seus irmãos ou irmãs quando eram bebês. Num berçário ou numa maternidade um bebê acorda e dorme em horário diferente de outro bebê, chora em horário diferente, um chora mais do que o outro, um é mais introvertido, outro é mais extrovertido, tem aquele capetinha também e assim por diante.
   Então vemos que a formação de uma pessoa envolve duas coisas: a índole e a construção social. Antigamente se dizia que o ser humano nasce com características inatas que são as características naturais que nascem com cada indivíduo e que o ser humano é produto do meio ambiente no qual vive, ou seja, mudou-se somente a terminologia, mas são essas duas coisas que agem na formação de uma pessoa. Hoje se fala somente em construção social. Esqueceu-se da índole.
   A índole é o conjunto de traços e qualidades inerentes ao indivíduo desde o seu nascimento; é o caráter inicial, as suas inclinações, a sua vocação natural, o seu temperamento, aquela voz interior, aquele pensamento que lhe avisa quando você está prestes a fazer merda na sua vida. E não tem como mudar a índole de uma pessoa, mas tem como confundir essa índole dando a essa pessoa princípios de caráter e temperamento contrários à sua índole, ou seja, dando uma construção social contrária à sua índole.
   Se uma criança de índole boa for construída socialmente em um ambiente de maus princípios essa criança poderá não se tornar um adulto ruim, mas certamente se tornará um adulto confuso, ignorante, sem muito entendimento das coisas.
   Para esclarecer, farei 4 classificações tendo por base a índole e a construção social.
   A pessoa nasce com uma índole boa, é lógico que essa índole boa tem níveis, uma pessoa lá tem bom caráter, mas tem outra que tem caráter melhor ainda. Mas para essa classificação, para nosso entendimento, vamos tomar índole boa e índole ruim. Princípios são o que se chama popularmente de "valores", mas o correto é dizer Princípios.
   1 - A pessoa nasce com uma índole boa e é construída socialmente numa sociedade com bons princípios;
   2 - A pessoa nasce com uma índole boa e é construída socialmente numa sociedade com maus princípios;
   3 - A pessoa nasce com uma índole ruim e é construída socialmente numa sociedade com bons princípios e
   4 - A pessoa nasce com uma índole ruim e é construída socialmente numa sociedade com maus princípios.
   É lógico que esses princípios também têm níveis. Você é criado numa família sem muitas brigas, teus pais te ensinam coisas boas, teus amigos não são mentirosos, ladrões. Ou você é criado num ambiente de mentiras, enganações, brigas, enfim. Tem vários níveis.
   E o que pode acontecer em cada uma dessas 4 classificações é:
   1 - Índole boa com bons princípios, boa educação, com certeza essa criança se tornará um adulto maduro, inteligente, consciente de si, uma boa pessoa.
   2 - Índole boa com maus princípios: dependendo do nível de maus princípios da sociedade essa criança poderá se tornar um bandido ou não, mas com certeza será um adulto confuso porque a sua índole boa dirá uma coisa, mas o ambiente no qual ela viveu lhe ensinou outra coisa. Se uma criança assim, com índole boa, for criada num ambiente de mentiras ela se tornará um adulto mentiroso, mas interiormente terá alguma coisa lhe dizendo que isso é errado e isso fará com que ela seja um adulto confuso e esteja propenso a fazer coisas erradas.
   3 - Índole ruim com bons princípios. Uma criança que nasce com uma índole mais para ruim, mas é criada num ambiente de bons princípios, a probabilidade dela se tornar um adulto maduro, consciente, uma boa pessoa, será grande porque ela aprenderá coisas boas. A sua índole não mudará, mas aprenderá através dos bons exemplos da sociedade, aprenderá através do convívio desde criança o que se deve fazer para ter uma vida boa e isso fará com que ela mesma controle seus maus desejos, com que ela mesma controle a sua índole ruim.
   E 4 - Índole ruim com maus princípios: esta combinação é a pior de todas, é essa combinação que produz psicopatas, bandidos, certos políticos e outros tantos.
   Vejam bem, a formação do caráter, dos bons princípios, independe da condição social da pessoa. Eu posso ser rico e ser um bandido, bem como posso ser pobre e ser um bandido.
   Nesse último caso, índole ruim e construção social com maus princípios, posso exemplificar com uma favela, uma comunidade de qualquer grande centro. Ali tem pessoas que estão no mesmo ambiente, mas uns se tornam boas pessoas, outros se tornam bandidos, poucos se tornam os chefes da bandidagem. Esses que se tornam os chefes é porque juntou a fome com a vontade de comer: índole ruim e ambiente de maus princípios. Os que são bandidos, mas não se tornam os chefes da bandidagem provavelmente é porque a índole deles não é tão ruim uma vez que foram criados no mesmo ambiente, na mesma favela.
   Então vemos que quando uma sociedade é formada por maus princípios, por mentiras, enganações, levar vantagem em tudo (o famoso jeitinho brasileiro), esta sociedade passa a produzir, a educar, a formar cada vez mais pessoas assim porque a construção social, o ambiente no qual você vive tem uma influência enorme na sua formação.
   São essas duas coisas: a índole e a construção social, e são indivisíveis. Mas em relação a crianças em processo de formação a construção social é predominante. É nas fases infantil e de adolescência que uma pessoa aprenderá determinados princípios que carregará para o resto da sua vida e esses princípios são muito difíceis de mudar depois de adulto.
   Eu dei o processo aqui somente em linhas gerais, mas acredito que deu para entender que o problema é quando falam somente um lado da coisa e esquecem o outro lado. Quando falam somente da construção social e esquecem da índole, quando falam somente da coletividade e esquecem da individualidade ou quando falam da individualidade e esquecem da coletividade. São duas coisas indissociáveis, indivisíveis, uma não vive sem a outra. Por exemplo, quando dizem que o homem e a mulher são sexos opostos, isso é mentira. O homem e a mulher são sexos complementares, que se complementam, que unem forças, que unem suas individualidades para viver bem em coletividade e depois passam seus princípios para seus filhos.
   Qual é a sua índole? Como você era quando era criança?