Estou em luto pelo falecimento do Professor Olavo!
Um filósofo vivo no nosso tempo.
Conteúdo de Exatas e Humanas!
Utilize os textos, contanto que fale de mim (bem ou mal)... e se for para fins comerciais, eu quero a minha parte!
O advogado Miguel Nagib fundou e promoveu até 22 de agosto de 2020 o Escola sem Partido e depois afastou-se por diversos motivos. Dentre estes motivos, a falta de apoio e os ataques injustos vindo de dentro da própria trincheira, a chamada “direita”.
Não obstante o meu respeito ao filósofo Olavo de Carvalho, ele
foi superficial na sua análise do Escola sem Partido e tal análise espalhou-se
na época. Mas eu como o Olavo de Carvalho, também já fiz análises superficiais... quando tinha 12 anos de idade. Não que o pimpão Olavo seja o principal responsável por atacar o ESP, mas ele teve grande
influência, pois na época o Bolsonaro e outros pautavam-se em algumas análises
do abrangente Olavo.
Trecho da entrevista ao jornal O Globo:
“O senhor publicou recentemente um vídeo com
críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e
pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?
Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas
sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas
minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a
coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não
existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas
escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o
debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois.
Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda
estamos na esfera do argumento retórico.”
Basicamente a
argumentação repetida por Olavo com soltura de espírito em relação ao ESP está nos trechos de
entrevistas e vídeos. Vou do início.
“Você não pode começar um debate legislativo sem ter o
debate científico primeiro.” Ora, umas
vezes primeiro promove-se o debate para depois entrar com o projeto que
resultará na lei. Outras vezes primeiro entra-se com o projeto de lei (já
sabendo que não será aprovado), mas entra-se com a intenção de promover o
debate para depois, então, aprovar a lei. A esquerda, que eu saiba, nunca,
nunca, nunca apresentou e/ou apresenta fundamentação científica para seus
projetos de lei e como a guerra é cultural acredito que a “fundamentação
científica” no debate legislativo já foi para as cucuias há muito tempo.
Quando se promove um debate sobre qualquer assunto que for,
é óbvio que sabemos que algumas pessoas se colocarão contra, outras a favor e
outras tanto-faz-como-fez, mas todas falarão e/ou debaterão o assunto até ele
chegar na sua “maturidade” política.
Além disso, promovendo-se o debate, a fundamentação
científica começa a aparecer. Porém, a própria “direita” matou o debate sobre o
ESP não permitindo sequer que a pouca fundamentação existente sobressaísse ou
que outras fundamentações aparecessem. O próprio Olavo sempre diz que a
esquerda aparelhou o Estado Brasileiro, tem militância organizada, etc, e a
direita não tem, então, de que modo o ESP iria juntar “fundamentação científica”
para depois promover o debate é uma coisa que me escapa.
A esquerda estava em polvorosa em 2018 e 2019, pois o ESP era considerado a maior ameaça ao projeto deles porque "na cultura e na educação é onde estão as mentes e os corações", palavras do Zé Dirceu e ele não estava falando falsamente para enganar a direita.
Outra fala do abundante Olavo:
“Eu estudo o [combate cultural] há 50 anos, tento
oferecer uma ajuda, uma orientação, e vocês passam por cima. Insistem no erro.
Há mais de dois anos, falei que não fazia sentido o projeto. Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião,
exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Depois o
Olavo disse que o nome deveria ser “Escola sem Censura”. E depois afirmou que,
caso não mudassem radicalmente de estratégia “Não só vou ficar contra, como
irei denunciar vocês. Vocês estão querendo mudar o país pela sua incultura.
Vocês não entendem nada do combate cultural porque não têm cultura. Vocês não
têm o meu apoio. Apenas [tem o apoio] no intuito central e inicial da campanha,
que é o de combater a manipulação de comportamento e o sistema hegemônico da
escola. Mas os meios, não aprovo de maneira alguma”.
“Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião,
exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Acredito que o véio Olavo, nesta parte, estava falando do item 4 do Escola sem Partido (se é que o espiralado Olavo teve gosto pelo conhecimento em ler):
“Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e
econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a
mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e
perspectivas concorrentes a respeito”.
Vemos que esse item está falando de questões políticas,
sócio-culturais e econômicas, ou seja, ao falar de correntes filosóficas, correntes
ideológicas, etc, o professor deverá apresentá-las da mesma maneira, assim como
era antigamente. Por exemplo, ao dar o conteúdo sobre Marxismo – ou qualquer
outra corrente - o professor dará a aula em cima desse tema sem manifestar sua
opinião sobre política partidária, eleições, candidatos, etc. Caso quiser
manifestar sua opinião sobre a pessoa de Karl Marx não vejo problema nenhum. Simples
assim.
O ESP já estava dando resultado positivo, pois as denúncias
estavam aparecendo através de depoimentos, filmagens, gravações, etc, e, a
partir daí, com o debate, surgiria a fundamentação científica.
Lembro-me agora de um vídeo do próprio Olavo onde ele falou
que teve aula durante uns três anos com o filósofo Stanislavs Ladusãns onde o
Ladusãns começava expondo todas as correntes envolvidas no conteúdo até chegar
ao final onde fazia um apanhado geral e, às vezes, manifestava sua própria opinião.
Mas vamos agora, a trechos do livro “Filosofia e seu Inverso”
do barrigudo Olavo de Carvalho.
Página 21: “Se há um dado histórico do qual não se pode
duvidar, é que a filosofia nasceu na Grécia e adquiriu sua forma clássica, de
uma vez por todas, com Platão e Aristóteles (ambos sob a inspiração original de
Sócrates). Você pode chegar a ser filósofo ignorando Sartre, Husserl, Nietsche,
até mesmo Hegel, Leibniz ou Sto. Tomás de Aquino. Mas quem não tomou um banho
de imersão nos ensinamentos dos dois pais fundadores permanecerá eternamente
alheio ao espírito da filosofia”.
Não somente pelo trecho acima, mas quem acompanha o proxeneta das palavras Olavo de Carvalho há
algum tempo sabe que ele mesmo recomenda você ler de tudo, todas as correntes,
pois isso é óbvio, assim se poderá absorver uma ampla gama de conhecimentos.
Ainda que o curso do esclerosado Olavo não seja “ensino fundamental”, “ensino médio” ou “ensino
superior” nos modelos existentes no Brasil, ainda assim essa base de ter várias
correntes permanece, o que é natural.
Página 145: “Foi então que, por intermédio de uma das filhas
de Mário Ferreira, conheci o Pe. Stanislavs Ladusãns, s.j., um filósofo
estoniano que o Papa João Paulo II, seu amigo de juventude, havia encarregado
da missão impossível de reintroduzir um pouco de catolicismo numa universidade
católica do Brasil”.
Nas páginas 145, 146, 147 e 148 pode-se encontrar o proposto,
mas deixo aqui um trecho da página 147 com o Pe. Stanislavs Ladusãns discorrendo:
“- Vamos examinar cada uma dessas questões desde o ponto de
vista das principais escolas filosóficas, confrontando umas com as outras, e
depois vamos esboçar a solução pessoal que nos parece a mais apropriada para
cada uma delas”.
Ainda que se trate especificamente de ensino de Filosofia
pode-se ver com clareza que a proposta do ESP não é exigir que um professor,
toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião
contrária, mas é abordar todas questões como o Pe. Ladusãns fazia.
É óbvio que em se tratando de ensino escolar (fundamental,
médio e superior) os métodos e metodologias empregados são diferentes, porém,
repito, a proposta do ESP não é exigir com igual referência a opinião contrária
como o tonitruante Olavo alardeou pelos quatro cantos das salas – virtuais e presenciais –
onde habitam seus alunos, o qual já fui também e ainda o leio e vejo alguns
vídeos com suas exposições.
E, mesmo que a proposta fosse exigir com igual referência a opinião contrária, rebato com o próprio Olavo chorão, onde podemos encontrar no livro "Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão" de Arthur Schopenhauer; Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, no comentário suplementar XVI: n. 151, na página 249, feito pelo comentarista Olavo de Carvalho:
"Não nos esqueçamos de que Aristóteles começava seus tratados sempre com uma resenha das opiniões de seus antecessores sobre o assunto em questão, e depois, laboriosamente, meticulosamente, se punha a confrontá-los dialeticamente, com a humildade de quem, como dele disse Al-Biruni, 'fazia o melhor que podia, sem jamais se pretender um protegido de Deus que estivesse ao abrigo do erro'".
O advogado Miguel Nagib, ao anunciar o fim da sua participação no movimento Escola sem Partido expôs suas razões e gravou entrevista em vídeo
onde percebe-se claramente ali que um dos problemas também é o Judiciário, principalmente o STF e a Promotoria Pública que promovem legalmente a discussão
político-partidária dentro das escolas, então a questão não é científica de
modo algum.
De qualquer maneira, caso o debate sobre o ESP tivesse se
mantido, isso ocuparia, no mínimo, boa parte do tempo da esquerda.
Meu caro Professor Olavo, o senhor está sofrendo de Paralaxe Cognitiva?
A Filosofia e seu Inverso e outros estudos, Olavo de
Carvalho. Vide Editorial, julho de 2012.
Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, Arthur Schopenhauer. Introdução, Notas e Comentários: Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro, Topbooks, 1997.
Debruçar-me-ei e labutarei sobre a Paralaxe Cognitiva. Este é um fenômeno estudado pelo Olavo de Carvalho. Ele define como “o deslocamento entre o eixo da experiência real do indivíduo e o eixo da construção teórica”.
Olavo nos explica que a Paralaxe Cognitiva não tem muito a
ver com hipocrisia ou a canalhice, mas pode levar à hipocrisia e à canalhice.
Paralaxe: “deslocamento aparente de um objeto quando se muda
o ponto de observação”.
Cognitivo: “relativo ao conhecimento, à cognição”.
Grosso modo, o “eixo da construção teórica” é o que a pessoa
tem na cabeça, os conceitos, as definições, os significados, os sentidos, os
referentes. É o que a pessoa entende a respeito das coisas do mundo. Na
paralaxe cognitiva esse entendimento está deslocado da realidade das coisas.
Tomarei como base também a frase do poeta austríaco Hugo von
Hofmannsthal: “‘Nada é real na vida política de uma nação, que não estivesse antes
presente em sua literatura”, sentença esta também citada pelo Olavo (Hugo von
Hofmannsthal and the Austrian idea: selected essas and adresses, página 159). Mas
vou parafraseá-la: “Nada está na cultura de uma nação, que não estivesse antes
presente em sua literatura”.
Porém, a minha abordagem será para investigar o que acontece
entre a literatura até chegar na cultura de uma nação, até se popularizar,
vamos dizer assim. E, como, de que maneira chega na população, o que acontece no
meio, pois os autores tem um estilo literário (uma forma de escrever) diferente
da maioria da população. E, como sabemos, apesar de que a forma da escrita e da
fala da língua formal seja diferente da língua coloquial, muitas vezes a língua
e a linguagem mudam, mas o conceito permanece.
Em outros escritos, com base em autores consagrados,
discorro sobre conceito, definição, signo, significado (com seus vários
sentidos) e referente, então não me deterei nesta parte. E, já vimos, também,
com Aristóteles e Arthur Schopenhauer, além de outros não menos importantes, o
problema de se trocar conceitos por palavras. E, já vimos, também, com Olavo de
Carvalho, de onde vem o “raciocínio por chavões” ou o “raciocínio metonímico”
que, de certa forma, decorre da troca de conceitos por palavras e, no meu modo
de raciocinar, resulta na Paralaxe Cognitiva.
Porém, a Paralaxe Cognitiva da qual o Olavo fala, está lá em
cima, ele aborda os autores conhecidos e/ou consagrados e a minha abordagem
procura trazer aqui embaixo para nós, a população. Como o Olavo ainda está
investigando o fenômeno da Paralaxe, também estou investigando, como não poderia
deixar de ser diferente.
Então, a minha abordagem é de baixo para cima e a do Olavo é
cima para baixo, vamos dizer assim. Talvez, em algum momento, nos encontremos
no meio do caminho.
Eu parto do signo, significado (vários sentidos) e
referente, eu parto da língua e da linguagem e, desta base, vou subindo. Porém,
tem vários conceitos que o próprio Olavo expressa de maneira simples, ou seja,
ele “pega” o conceito de outros autores e conceitos dele mesmo e traduz numa
linguagem simples que todo mundo entende sem distorcer o conceito. Isto é
muito importante, pois muitas vezes entendemos conceitualmente o que
determinado autor quis expressar, mas não conseguimos traduzir em palavras, e,
algumas vezes, conseguimos traduzir em palavras simples, mas distorcemos o
conceito original. Às vezes não distorcemos completamente, alguma coisa
permanece, mas no todo se perde boa parte do conceito original.
Por exemplo: quando estudamos os Princípios da Lógica Formal
(Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído) podemos entendê-los, mas na
hora de explicar nos perdemos em palavras; e em Mário Ferreira dos Santos, no
seu tratado Lógica e Dialética, encontramos tais conceitos explicados numa
linguagem simples e fácil de entender sem que o conceito se distorça.
Certos autores têm e/ou adquirem essa habilidade de “pegar” conceitos complicados e traduzi-los de uma forma fácil em uma linguagem simples e acessível sem distorcer o conceito. Óbvio é que hão certos conceitos que não são possíveis de explicar numa linguagem simples, como certos conceitos metafísicos. Aí entra o senso das proporções, o discernimento em saber quando é um e quando é outro, como já vimos também.
Um bom exemplo – e até corriqueiro – é quando
as pessoas dizem com relação ao Olavo: “Esse cara consegue dizer exatamente o
que eu penso”. Isto significa que o Olavo, pelo seu conhecimento e estudo, adquiriu essa habilidade (e/ou uma boa parte dessa habilidade nasceu com ele),
e ele tem essa facilidade de traduzir conceitos complicados para uma linguagem
simples sem distorcer o conceito.
Insisto neste ponto “traduzir conceitos complicados para uma
linguagem simples sem distorcer o conceito” porque não é coisa fácil: requer
estudo, raciocínio, “queimar a mufa”, aprimorar os neurônios e suas sinapses, etc.
Vamos tomar como exemplo o seguinte texto de Kant:
“Há
por fim um imperativo que, sem se basear como condição em qualquer outra
intenção a atingir por um certo comportamento, ordena imediatamente este
comportamento. Este imperativo é categórico. Não se relaciona com a matéria da acção e com o que dela
deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom na acção reside na disposição (Gesinnung)
(*), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o
imperativo da moralidade.
(*)
A palavra prudência é tomada em sentido duplo: ou pode designar a prudência nas
relações com o mundo, ou a prudência privada. A primeira é a destreza de uma
pessoa no exercício de influência sobre outras para as utilizar para as suas
intenções. A segunda é a sagacidade em reunir todas estas intenções para
alcançar uma vantagem pessoal durável. A última é propriamente aquela sobre que
reverte mesmo o valor da primeira, e quem é prudente no primeiro sentido mas
não no segundo, desse se poderá antes dizer: é esperto e manhoso, mas em suma é
imprudente. (Nota de Kant.)” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 52,
tradução de Paulo Quintela.
Não me deterei aqui na tradução utilizada, apesar de que a
tradução de uma obra é coisa importantíssima, pois representa o entendimento final
da obra do autor para quem está lendo.
Kant nos escreve ao final: “Este imperativo
pode-se chamar o imperativo da moralidade”. Percebam que ele,
através das palavras, transforma o imperativo categórico em imperativo da
moralidade, mas nos diz que “pode-se chamar”, não nos afirma que o imperativo
categórico é o imperativo da moralidade. Fazendo isso ele distorce os dois
conceitos ao mesmo tempo. Caso ele tivesse escrito: “O imperativo categórico é
o imperativo da moralidade” o nosso entendimento seria diferente, mas, ainda
assim, ele teria distorcido os dois conceitos. Então, através das palavras
posso conduzir o leitor a uma conclusão falsa, o que é óbvio, pois as palavras
são importantes. Já vimos também a importância da linguagem com tudo o que
decorre dela.
Mas vamos a um exemplo mais simples: “Bebi
uma garrafa de cachaça”. Quando escrevo ou falo isso não estou dizendo que
peguei o vasilhame de vidro ou plástico, moí, misturei com o líquido e bebi. Estou
dizendo que bebi a cachaça que estava dentro da garrafa. O conceito da frase “Bebi
uma garrafa de cachaça” como um todo, de certo modo, permanece o mesmo, todo
mundo entenderá. A frase em questão é uma metonímia (figura de linguagem), cuja
explicação já vimos também.
Então, de certo modo, Paralaxe
Cognitiva na minha abordagem, tem muito a ver com signos, significados (e vários
sentidos) e o referente, conceitos estes que o Olavo também nos traz muito.
Estes conceitos, definições, significados, etc, referem-se, basicamente, à
linguística.
Para expressarmos um conceito,
expressamo-lo através da palavra falada e da palavra escrita. Língua é a Língua
Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc. Linguagem engloba a
língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo
com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que
fala a mesma língua.
Percebam que, para o leitor entender do
quê estou falando, há certos conceitos, definições, significados, etc, que são
necessários para o entendimento deste texto.
Acredito eu que a Paralaxe Cognitiva
começa, basicamente, neste ponto: nos conceitos básicos e em saber expressá-los através da língua
e da linguagem. Isto nos remete à educação básica e ao ensino básico (lembrando que educação e
ensino são coisas diferentes). Já vimos também o que é coisa tanto no
seu significado básico do dicionário como no seu sentido filosófico.
A partir deste ponto podemos perceber
(eu e o leitor) que se faz necessário certos conceitos básicos para o
entendimento entre nós, seres humanos, senão terminaremos por falar a mesma
língua, mas não a mesma linguagem e não nos entenderemos.
O referente já vimos o que é,
mas vamos retornar, porém, antes se faz necessário explicar a forma do raciocínio, como o Olavo diz: “vamos num raciocínio em espiral, uma cadeia
de espirais, onde vamos avançando no raciocínio e muitas vezes voltamos a um
conceito básico para avançar no raciocínio, formando uma cadeia de espirais”. Ele
não diz exatamente com essas palavras, mas o entendimento é esse, dada ser uma
coisa simples de entender.
Então, o referente é o que a
coisa é na realidade. Já vimos tudo isso. E quando não conseguimos expressar o
conceito que temos na cabeça de acordo com a realidade na qual vivemos, quando
não conseguimos expressar o referente ou captar o referente, então temos Paralaxe
Cognitiva, ou seja, o que temos dentro da nossa cabeça não corresponde à experiência
real. E a base é signo, significado (vários sentidos) e o referente.
Um exemplo simples, corriqueiro até,
mas que aconteceu na realidade aqui no Brasil. Na CPI da Covid feita pelo
Senado Federal teve um senador que não sabia o significado do signo (palavra,
no caso) “compulsoriedade”. Na cabeça dele “compulsoriedade” significava “aleatoriedade”.
Ele estava falando da “vacinação compulsória”, porém, na cabeça dele essa expressão
significava “se vacina quem quiser”. O estrago causado por esse tipo de coisa é
imenso, pois este senador defenderá a compulsoriedade da vacina e aprovará o
projeto de lei acreditando no contrário: “se vacina quem quiser”. O referente
está deslocado do eixo da construção teórica dele, a realidade está deslocada
do eixo da construção teórica dele.
Teve outro senador que escreveu na rede
social Tweeter: “Não tenho substantivos para qualificar este governo”. Não tem
mesmo, pois um substantivo não qualifica nada, quem faz isso é o adjetivo. De
novo, a construção teórica dele está deslocada da experiência real porque ele não sabe o que é substantivo nem o que é adjetivo.
Imaginem isso com várias, inúmeras
palavras e expressões que as pessoas tem na cabeça e não sabem sequer o
significado. E se não sabem o significado como saberão identificar o referente?
Não saberão.
Claro que há mais coisas nessa
investigação. Alguém poderá pensar agora: “Ah, mas só porque ele não sabe o
significado de uma palavra (signo), não significa que tenha Paralaxe Cognitiva”.
Porém, não é disto que se trata, além disso, como já vimos, perceberam o
estrago causado por não saber o significado de uma simples palavra como “compulsório”?
E como eu já disse, imaginem isso com
vários signos (palavras, no caso), significados, sentidos, etc, que compõem a
mentalidade da pessoa.
Neste ponto, estamos tratando aqui da “aversão
ao conhecimento”, conceito bastante utilizado pelo Olavo. Acredito que a “aversão
ao conhecimento” do Brasileiro começa nos conceitos básicos, começa em sequer
querer saber o significado das palavras; e assim o Brasileiro vai compondo a
sua mentalidade tentando adivinhar o referente das coisas, distanciando-se da
realidade.
Já vimos e demonstramos também que a
língua em si é uma convenção, mas a linguagem não é estritamente uma convenção,
a linguagem tem nuances que vem, basicamente, dos sentidos de cada significado.
E de acordo com o sentido no qual empregamos uma palavra, o entendimento da
frase muda, o referente muda um pouco. Sentidos são significados um pouco mais
específicos. Todo significado é genérico.
Por exemplo: “Aquela pessoa tem
inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O
signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos
diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma
agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que
aquela pessoa é inteligente, enquanto que, na outra frase eu estou afirmando
que aquela pessoa é inteligente. Simples assim.
Para não me estender, pois este é
somente um prolegômeno, vou encerrando por aqui para não ficar muito extenso,
mas esta investigação continua.
“Tem uma palavra em Novafala”, disse Syme, “que não sei se você conhece. Patofala, grasnar feito um pato. É uma dessas palavras interessantes com dois sentidos contraditórios. Quando você aplica a um adversário, é ofensa; aplicada a alguém com quem você concorda, é elogio” (Orwell, George, 1984, página 71).
Não sei se é o meu lugar de fala grasnar coisas sobre o
livro 1984, mas pretendo ser politicamente correto para que o Supremo
Ministério Federal da Verdade não me vaporize ou me prenda por crimideia...
ou crime de opinião... ou crime de pensamento, dá no mesmo.
Mas vamos adiante, página 68-69... vamos adiante no
raciocínio, não na sequência das páginas, pois o duplipensar exige que
se vá indo e voltando: “Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é
estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime
literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo. Todo
conceito de que pudermos necessitar será expresso por apenas uma palavra,
com significado rigidamente definido, e todos os seus significados subsidiários
serão eliminados e esquecidos”.
Percebam, surgindo das sombras, no parágrafo anterior, signo,
significado (com seus vários sentidos) e o referente. A
redução do vocabulário a palavras, termos, chavões e expressões imbecis; a troca de conceitos por palavras, como Arthur Schopenhauer, em 1813, aproximadamente 135 anos antes da obra 1984, já explicitou com propriedade no livro “Sobre a
Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” o problema de se trocar
conceitos por palavras.
Aliás, a burrice e a malícia parecem-me que nasceram com a
humanidade (vide Adão e Eva, por exemplo, que caíram no engodo das palavras da
serpente), mas não precisamos retornar tanto assim na história. Vamos retornar para
meados de 335 A.C., na época de Aristóteles (também não precisamos retornar aos pré-socráticos).
Aristóteles teve vários embates com os chamados sofistas.
“Assim como há pessoas que preferem parecer sábios a sê-lo, em
vez de o serem mesmo sem parecer, dado que a Sofística é uma sabedoria aparente
e não real, e o sofista é o que negocia uma sabedoria aparente e não real, assim
é evidente que se lhes torna mais necessário parecer que fazem obra de sabedoria,
do que fazer obra de sabedoria sem parecer” (Organon, Elencos Sofísticos,
página 11, tradução de Pinharanda Gomes).
Aristóteles também escreveu, em relação aos sofistas – numa tradução
livre: “eles nem lêem o que escrevo, mas estão sempre contestando”.
Então podemos ver que esse problema vem de longe; e antes
que o leitor pense: “Ha, se vem de longe então sempre foi assim, a humanidade é
burra e maligna em si”, advirto que isso é duplipensar (defender duas posições antagônicas, contraditórias, ao mesmo tempo).
Em relação ao parágrafo anterior onde Aristóteles fala de “parecer
sábio a sê-lo”, podemos distorcer isso com o chavão popular: “Não basta ser,
tem que parecer que é”. Chavão idiota este tão utilizado por positivistas e
afins.
Vamos reduzindo o vocabulário a chavões idiotas (aliás, todo
chavão em si é idiota) e vamos emburrecendo, pois o ser humano se comunica
majoritariamente através de palavras (palavra falada e palavra escrita), a
gente lê e escreve e a gente fala e escuta. Nos comunicamos também por músicas,
filmes, obras de arte, mímica, etc, tudo isso, mas nos comunicamos
majoritariamente através das palavras. Orwell observou isso muito bem: “Que coisa
bonita, a destruição de palavras! Claro que a grande concentração de palavras
inúteis está nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que também
podem ser descartados” (página 67), porém, ele estava se referindo a novafala.
“Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência
com um alcance cada vez menor” (página 69). Porém, não é somente a redução do
vocabulário, é a redução somada à mudança constante das palavras. Por exemplo, “disforia
de gênero” passou a ser “ideologia de gênero” e depois “identidade de gênero”; “dívida
histórica” saiu para dar lugar ao “racismo estrutural”, mas você pode continuar
usando um ou outro chavão; seja lá o que forem essas coisas e se é que existe o
referente delas, seja lá o que essas expressões imbecis representam na
realidade, ninguém sabe e quem tentar explicar se perderá numa confusão mental.
Pensamento e/ou raciocínio, linguagem e comportamento. Quando
você altera o significado e o sentido das palavras você consegue direcionar o
pensamento e o raciocínio e, por consequência, o comportamento das pessoas. A
partir daí as pessoas passam a discutir por três meses até onde entra a língua
- uma na garganta da outra - num beijo lésbico de uma campanha do
governo, as pessoas passam a repetir “sou liberal na economia e conservador nos
costumes” como um mantra, sou didireita, sou diesquerda, etc. E temos a
materialização do duplipensar. Duas posições falsamente antagônicas na
sociedade porque as pessoas sequer raciocinam sobre o que estão dizendo.
Reduzir o vocabulário das pessoas e mudar constantemente a
língua resulta, invariavelmente e inexoravelmente, em emburrecimento.
Basta a ver a uniformidade da grande propaganda – a grande
propaganda é aquilo que chamam de grande mídia – eu chamo de grande propaganda
porque de jornalismo não tem mais nada. Tornaram-se repetidores e propagadores
da “Novafala”. A coisa vem pronta de cima de poucos donos que cooptam um ou dois diretores e/ou
editores, sendo que o repórter e o apresentador já nem raciocinam mais, executam bovinamente, tipo
o Winston e o O’brien reescrevendo a história a mando do partido, cada qual
dentro do seu macacão azul e dentro do seu cubículo mental.
Outro exemplo: pandemia confundiu-se com vacina. Tal onda de pandemia significa tal dose de vacina e, ao mesmo tempo, pode-se utilizar tanto uma expressão quanto a outra.
Não é à toa que Orwell escreveu: “Winston não conseguia se
lembrar sequer a data em que o próprio Partido passara a existir. Não lhe
parece que tivesse ouvido a palavra Socing antes de 1960, mas quem sabe na
expressão utilizada pela Velhafala – ou seja, “Socialismo inglês” – ela um dia
tivesse sido de uso corrente. Tudo se desmanchava na névoa. Às vezes, de fato,
era possível apontar uma mentira específica. Não era verdade, por exemplo, que,
como afirmavam os livros de história do Partido, o Partido tivesse inventado o
avião. Winston se lembrava de que na sua mais tenra infância já existiam
aviões. Só que era impossível provar o que quer que fosse. Nunca havia prova de
nada” (página 49).
Socialismo inglês podemos entender por Socialismo Fabiano,
aquele socialismo que abandonou a tomada violenta do poder – porém, às vezes se
utiliza de alguns para isso, como bois de piranha. É, em suma, o único
socialismo, aquele que não tem pressa, vamos aos poucos, comendo pelas
beiradas, vamos paulatinamente cerceando as pessoas, vamos esquentando a água
da panela aos poucos e o sapo morre sem nem perceber. Às vezes usamos uns
malucos revolucionários para agitar as coisas (e não importa se o maluco
é didireita, diesquerda, dicentro ou diPQP), o que importa é agitar para
desviar a atenção e ainda ganhamos dinheiro, vivemos disso.
Mas eu quero socialismo para os outros; não quero essa merda para mim e para
minha família. Então através da grande propaganda eu vou
formando o senso comum, o imaginário popular, o fabulário popular, e vou
socando na cabeça das pessoas inúmeras expressões idiotas, chavões, vamos
bombardeando de informações erradas, desinformando, em suma, emburrecendo todo
mundo, principalmente nós mesmos até que somente exista uma única corrente de
pensamento vinda do “Partido”. Mas o “Partido” é capitaneado por pessoas e o
ciclo sempre se repete, somente vão mudando os rostos no poder, às vezes um mata
o outro sem querer (mas faz parte do "processo"), porém, a mentalidade continua a
mesma. O tal sistema permanece o mesmo.
No fim, tudo se resume numa questão de inteligência e moral.
Pessoas burras, inseridas nesse tipo de burrice que leva à canalhice, não tem moral. Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa.
O Anuel (corruptela de Immanuel, o Kant), em 1785 defecou o termo Imperativo em sua obra - obra aqui no sentido de “obreiro”, aquele que vai aos pés -, Fundamentação da Metafísica dos Costumes.
Vou direto ao ponto:
“A representação de um princípio objectivo, enquanto obrigante para uma
vontade, chama-se um mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se
Imperativo.” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 48, tradução de
Paulo Quintela.
“A representação de um princípio objetivo, na medida em que coage a vontade, denomina-se mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se IMPERATIVO.” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 17, tradução de Antônio Pinto de Carvalho.
Depois na tradução de Paulo Quintela (seguirei com essa), página 50:
“Ora, todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente.
Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma acção possível como
meio de alcançar qualquer outra coisa que se quer (ou que é possível que se
queira). O imperativo categórico seria aquele que nos representasse uma acção
como objectivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra
finalidade.
Como toda a lei prática representa uma acção possível como boa e por isso como necessária para um sujeito praticamente determinável pela razão, todos os imperativos são fórmulas da determinação da acção que é necessária segundo o princípio de uma vontade boa de qualquer maneira. No caso de a acção ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo é hipotético; se a acção é representada como boa em si, por conseguinte como necessária numa vontade em si conforme à razão como princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico.”
Até aí
tudo bem. O Anuel (parece nome de anjo, caído) está usando seu próprio Imperativo
Categórico no seu estilo de escrita no qual afirma coisas, sentenças, palavras,
expressões, etc, das quais o leitor conclui: “É assim porque é assim e não
precisamos explicar, provar ou sequer demonstrar”. Esta é a base do
Imperativo Categórico.
Vou afirmando coisas sem precisar dizer o porquê delas. E se alguém perguntar eu respondo que é um “conhecimento a priori” e demonstro que estou com a razão sem precisar demonstrar nada. E assim não levo em consideração a pergunta básica da Filosofia: Quid. O quê. O cerne da questão, o ponto básico, do quê estamos falando, qual é o assunto, qual o objeto de assunto.
Vamos adiante, página 52:
“Há por fim um imperativo que, sem se basear como condição em qualquer
outra intenção a atingir por um certo comportamento, ordena imediatamente este
comportamento. Este imperativo é categórico. Não se relaciona com a matéria da acção e com o que dela
deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom na acção reside na disposição (Gesinnung)
(*), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o
imperativo da moralidade.
(*) A palavra prudência é tomada em sentido duplo: ou pode designar a prudência nas relações com o mundo, ou a prudência privada. A primeira é a destreza de uma pessoa no exercício de influência sobre outras para as utilizar para as suas intenções. A segunda é a sagacidade em reunir todas estas intenções para alcançar uma vantagem pessoal durável. A última é propriamente aquela sobre que reverte mesmo o valor da primeira, e quem é prudente no primeiro sentido mas não no segundo, desse se poderá antes dizer: é esperto e manhoso, mas em suma é imprudente. (Nota de Kant.)”
Veja só que beleza. Mandamento agora chama-se Imperativo que agora se desdobra em Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético e o Imperativo Categórico agora pode-se chamar Imperativo da Moralidade. Vou trocando conceitos por palavras e vou desdobrando tudo numa sequência sem fim.
O imperativo categórico é o imperativo da moralidade. Eu mando os
outros fazerem as coisas sem me preocupar com a merda que dará e depois que der
merda eu digo que a culpa e a responsabilidade são suas, pois você que não
entendeu o que eu disse. E isso é chamado agora de imperativo categórico
(moralidade). E de qual “moralidade” o charlatão maligno está falando?
“Ora, caso queira saber, leia todo o calhamaço das charlatanices malignas que eu
escrevi e ainda assim não compreenderás, pois tu és burro! Eu sou o gênio! O
conteúdo não importa mais, o que importa é que eu escrevo com palavras bonitas,
elegantes, afetadas até, muitas vezes nauseabundas, mas você não nota. Você só
presta atenção na boniteza das minhas palavras e nas afetações
que elas te causam.
E quando
começares a entender, eu desdobrarei o conceito, o significado e a definição de
“moralidade” em um turbilhão de novas classificações saídas do meu
conhecimento a priori, ou seja, vou inventado coisas da minha
cabeça, mas transcrevo-as para o papel usando palavras bonitas (até lindas),
mas vazias de conteúdo. Troco conceitos por palavras e assim vou emburrecendo a
patuleia.
Eu invento uma coisa... vamos chamá-la de Imperativo, mas já existe o conceito e a palavra Mandamento! Não interessa.
Agora mandamento chama-se imperativo e afirmo isso categoricamente. Daí eu desdobro em imperativo hipotético
e imperativo categórico... e a trama se complica. Neste momento nem eu mesmo
sei do quê estou falando, mas isso enseja mais desdobramentos. Daí eu digo que
o imperativo categórico ordena um comportamento (não interessa qual) e ele não
se relaciona com a matéria da ação e com o que dela deve resultar (resultado),
mas com a forma e o princípio de que ela mesma (a ação) deriva - mas isso ficou
muito feio, não dá para se entender – então acrescento: o essencialmente bom na
ação reside na disposição (Gesinnung), seja qual for o
resultado. Este imperativo pode-se chamar o imperativo da
moralidade.
Enfim, o
que importa é o resultado, não interessa o quê eu farei para atingi-lo; e
desdobro agora o tal imperativo categórico e passo
a chamá-lo de moralidade. Mas... pera lá... isso também ficou feio,
então colocarei ali no meio que “o essencialmente bom na ação reside na
prudência”, escrevo a palavra bom e seguro todos pela
emoção e tchan tchan tchan tchannn... desdobro o conceito prudência em
vários outros conceitos, significados, definições, etc e estendo ao infinito
emburrecendo a patuléia até chegarmos a um estado mental que beira a insanidade
e malignidade, mas de um modo estranho, continuo sendo um gênio da filosofia”.
Grosso modo, o Anuel trocou a palavra Mandamento por imperativo e
desdobrou o conceito em vários outros conceitos ferindo de morte a Lógica.
Esse
charlatão maligno fez uma distorção brutal até do próprio Aristóteles, pois há termos
verbais equívocos (homônimos) os quais você pode desdobrar, mas não existem
conceitos equívocos. A equivocidade (neste sentido, equivalência) está nos
significados e quando você vai trocando palavras por conceitos, você vai
desdobrando o conceito em outros conceitos sem se dar conta que neste ponto do
seu raciocínio você mesmo já não sabe mais do quê está falando.
Eu posso
desdobrar um conceito em vários significados com palavras diferentes (sem alterar o conceito), mas posso
fazer isso somente até um certo limite; e este limite é determinado pela coisa
em si (o referente). E o charlatão diz que “se a acção é representada como
boa em si, por conseguinte como necessária numa vontade em si
conforme à razão como princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico”.
Percebam: redundância, tautologia, masturbação mental, ele vai indo e
voltando. Depois ele desdobra “razão” e “vontade” em outros conceitos alterando
o que a coisa é, e assim vai indo, junto com a humanidade.
Charlatães malignos como Anuel - e existem vários, todos famosos com milhões de
citações na “Academia” – trocam conceitos por palavras, desdobram a substância.
A substância é o que permanece, e não o que se perpetua numa imutabilidade,
pois Aristóteles admite uma mutação substancial. Porém, uma substância pode ser
completa ou incompleta. A primeira é simples (conceito), a segunda é composta
(significado e vários sentidos) e somente se pode desdobrar em palavras a
segunda, nunca a primeira, coisa que o charlatão do Kant faz muito. Não se pode
desdobrar um conceito em outro conceito, pois vai contra os Princípios da
Lógica (Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído). No momento em que eu
troco um conceito por outro - conceitos são expressos através de palavras
(signos) -, neste momento estou querendo alterar o que a coisa é em si, ou
seja, estou brigando com a realidade, estou ficando burro e maluco e estou
dando um significado falso para o referente.
Como bem
disse o Mário Ferreira dos Santos: “Kant desconhecia a obra aristotélica, e
fundou-se nas afirmativas de Wolf”. E eu complemento: ainda assim, o charlatão
burro maligno não entendeu muita coisa.
No Brasil temos, por exemplo, Paulo Freire, que repete à ufa em praticamente toda sua obra: "educação é política" ou "educação é um ato político". E usa o mesmo estilo de escrita: "Não é demais repetir aqui essa afirmação, ainda recusada por muita gente, apesar de sua obviedade, a educação é um ato político" (Professora, sim, Tia, não, página 83, Paz e Terra, 2013). Percebam o imperativo categórico, a troca de uma palavra por um significado falso e a troca de conceitos. Dizer que educação é um ato político é a mesma coisa que dizer que céu é uma poça d'água. Fere os Princípios da Lógica. O que resultou disso foi que as pessoas começaram a praticar "política" dentro da sala de aula, sendo que o que se entende por política no Brasil é você defender seu candidato e falar mal do outro. É o que estão fazendo dentro das salas de aula. Não sabem o que é Educação nem Política, assim como Paulo Freire também não sabia ou, caso sabia, então também é um charlatão maligno.
O Imperativo Categórico de Kant posso resumir como sendo um estilo de escrita e de fala no qual você afirma uma coisa trocando conceitos por palavras, fazendo sofismas, jogos de palavras ao mesmo tempo em que afirma categoricamente: “isto é aquilo porque é aqueloutro” (banana é pepino porque é abacaxi).
De certo modo, o tal materialismo dialético de Marx veio, basicamente, de Hegel e Kant (além de outros) que resultou no mesmo: um estilo de escrita e fala baseado em mentiras, sofismas, jogos de palavras, troca de conceitos por palavras, coisas ilógicas em si porque ferem de morte os Princípios Básicos da Lógica Formal que são naturais. É, grosso modo, a Dialética Erística que, de certo modo, tem um apelo emocional porque nos permite vencer um debate sem precisar ter razão, porém, sequer vencemos o debate, é uma ilusão, somente perdemos a alma pela corrupção da inteligência.
A
definição de uma coisa e a prova de sua existência são duas coisas diferentes e
separadas, isto é auto-evidente, porém, Kant passou a chamar a auto-evidência
das coisas de a priori e desdobrou o tal a priori,
bem como Kant passou a chamar a razão de entendimento. E
o que é Razão? Ora, é entendimento. E o que é entendimento? Ora, é razão. E
assim vou nesse ciclo imbecil, mas ali no meio coloco umas palavras bonitas,
crio uma salada mental, tranço um emaranhado de termos e expressões no qual
prendo o leitor numa teia para sugar-lhe a seiva da inteligência.
Sobre a
Crítica da Razão Pura, outra “obra” do Kant, não há o que discorrer, pois
Arthur Schopenhauer em “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão
Suficiente” já elucidou.
Caso o
leitor queira, leia os §§ 20 a 23 do quarto capítulo... ou leia o livro todo do Schopenhauer,
caso quiser, ou nem leia, muitos não se interessam mesmo. Por um lado é até
bom isso, pois sobra mais inteligência para mim e para quem se interessa.