segunda-feira, 8 de julho de 2019

Criminalidade

     O governo Bolsonaro completou 6 meses. Com 6 meses de governo já dá para saber a que o governo Bolsonaro veio. O pacote anticrime do Ministro Moro, o qual eu concordo, e devido à entrevista do Ministro Moro onde ele afirmou várias vezes que é preciso investimentos na área de segurança pública, coisa que eu concordo também, devido a isso resolvi escrever estas linhas.

     Sem investimento na área de segurança pública não adianta muita coisa esse pacote anticrime do Ministro Moro. É preciso investir pesado na área de segurança pública. A Polícia Civil e a Polícia Militar estão completamente desmanteladas no Brasil, estão acabadas. E estão acabadas tanto em meios de ação quanto em poder legal.
     A população cresceu e o número de Policiais, de delegacias, de postos da PM não acompanhou.
     Aqui onde moro no interior do Rio Grande do Sul, aqui no bairro e nos bairros adjacentes não tem Delegacia de Polícia. Quando a população precisa registrar uma ocorrência tem que se descolar até o centro. E, em se tratando de crimes comuns (furtos, roubos menores, agressão física, etc), são esses que afetam a população brasileira. Mas as Polícias estão tão desmanteladas que, para o cidadão, muitas vezes, o registro da ocorrência é somente isto: registro de ocorrência. A Polícia não tem como fazer nada porque não tem meios de ação.
     Faz uns 30 anos que não se vê mais patrulhamento decente de PMs nas ruas. Antes você saía na rua e volta e meia topava com uma viatura da PM fazendo o patrulhamento ou topava com dois PMs a pé na rua fazendo o patrulhamento ostensivo. Isso acabou faz tempo. A Polícia foi desmantelada, o número de Policiais não acompanhou o crescimento populacional, mas o número de criminosos aumenta proporcionalmente. E isso é óbvio, pois Policiais são contratados mediante concurso, e criminosos existem desde que o mundo é mundo. À medida que a população cresce é necessário contratar mais Policiais para acompanhar este crescimento. Os criminosos vieram primeiro, a Polícia veio depois.
     Se o Bolsonaro quiser resolver 70% dos problemas do Brasil basta investir maciçamente nas Polícias. E antes que alguém diga que é preciso investir em escolas, eu digo que, no momento atual, para se ter uma ação eficaz e eficiente deve se começar pela segurança pública.
     Os governos existem para investir em quatro áreas: na educação, na saúde, na segurança e na infraestrutura. Mas não tem dinheiro para investir nessas 4 áreas porque a coisa está tão desmantelada nestas 4 áreas que se torna impossível arrumar as 4 ao mesmo tempo. Mas dinheiro tem para investir em uma das áreas. E eu acredito que se deve começar pela segurança pública que é o nosso maior problema. Porque os cidadãos tendo delegacias próximas a sua casa, tendo PMs nas ruas, a população se sentirá mais segura para trabalhar e ganhar a vida.
     Quem combate a criminalidade na sociedade são os Policiais. Nenhum advogado, arquiteto, médico, juiz, etc, ao chegar em casa após um dia de trabalho coloca três ou quatro armas na cintura, dá um beijo na esposa e diz: - "Vou patrulhar o bairro, já volto". Isso é função da Polícia. É para isso que a Polícia existe. Mas, para tanto, a Polícia precisa de investimentos, precisa de treinamento, precisa de meios para cumprir suas funções.
     As nossas Polícias não têm meios para a produção daquilo que se chama “prova técnica”. A prova, juridicamente falando, grosso modo, é o conjunto de indícios juntados durante a investigação e durante o processo. E dentro desse conjunto de indícios temos, basicamente, o que se chama de “prova técnica (prova documental e prova pericial)” e “prova testemunhal”. Porém, as nossas Polícias não têm meios para coleta de provas técnicas. Os inquéritos baseiam-se na prova testemunhal e depois os inquéritos são refeitos no Poder Judiciário. O Juiz toma novamente o depoimento de todos os envolvidos. O acusado pode dizer uma coisa na Delegacia e, depois, pode dizer o contrário perante o Juiz.
     Vou dar um exemplo simples. O cidadão que sai de casa sábado de manhã e volta no domingo à tarde pode encontrar sua casa arrombada e furtada. Tendo Policiais suficientes na Delegacia, um deles pode deslocar-se até a residência do cidadão e bater fotos e tirar as impressões digitais na janela arrombada. Porém, a nossa Polícia Civil sequer tem o pó para recolher as impressões digitais. Essa coleta de impressões daria o início para as investigações caso se encontrasse alguma impressão digital que não fosse de algum morador da casa furtada. Mas sem Policiais suficientes e sem meios de ação, a Polícia não faz nada porque não tem como fazer. O cidadão chega em casa e joga o registro da ocorrência em alguma gaveta.
     E ainda temos a câmara de Gesell (sala com espelho que permite ver de um lado e não ser visto do outro lado), estandes de tiros nas Delegacias Regionais, etc. Coisas necessárias, mas impensáveis aqui no Brasil onde as Polícias têm nada. A Polícia Militar também não tem meios de ação. Não têm viaturas suficientes, não tem gasolina, não têm equipamentos condizentes à função, etc.
     Existe um cálculo de número de Policiais por habitante. Esse cálculo é baseado de acordo com as estatísticas que foram colhidas ao longo do tempo. São 3 a 4 Policiais para cada mil habitantes. Mas isso depende da região também. Em regiões mais violentas é esse parâmetro: 3 a 4 Policiais para cada mil habitantes. Em regiões mais violentas coloca-se mais Policiais Civis e mais Policiais Militares até debelar a criminalidade.
     Nas sociedades atuais, as Polícias têm uma função de suma importância, isto é fato inegável. Investimentos em educação, saúde e infraestrutura são importantes também, mas do jeito que a coisa está, investir-se em alguma dessas áreas não trará benefícios como um todo.
     Vejamos. Investir em educação trará frutos a longo prazo e resolverá grande parte dos problemas, mas somente a longo prazo. Investir em saúde trará frutos imediatos, mas não resolverá os problemas das outras áreas. Investir em infraestrutura também trará frutos imediatos, mas não resolverá os problemas das outras áreas.
     Somente o investimento em segurança pública trará frutos imediatos e afetará as outras três áreas. Na área da educação, trará mais segurança para se trabalhar. Na área da saúde, além da segurança, diminuirá o número de atendimentos por crimes violentos. Na área da infraestrutura, trará mais segurança para se trabalhar.
     O ideal seria investir-se nas quatro áreas, mas a coisa está tão desmantelada no Brasil que se torna impossível investir nas quatro áreas ao mesmo tempo.
     É uma escolha difícil para qualquer governante, mas é necessário começar em alguma área. E eu voto pela segurança pública para a população.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A Escola de Frankfurt e o Incesto

      No livro “Eros e Civilização - uma Interpretação Filosófica do Pensamento de Freud”, de autoria de Herbert Marcuse, um dos expoentes da Escola de Frankfurt, encontramos referências explícitas ao incesto.
     Porém, faz-se necessário dizer que o ensaio “Eros e Civilização”, segundo Herbert Marcuse, "emprega categorias psicológicas porque elas se converteram em categorias políticas”.
     Trata-se de um ensaio - porque não dizer: um êxtase - que pretende interpretar filosoficamente o pensamento de Sigmund Freud.
     Nesta primeira etapa farei uma breve interpretação "filosófica" do pensamento de Marcuse enquanto ele interpreta o pensamento de Freud. Caso o leitor não contenha sua curiosidade e seus instintos freudianos sobre o incesto, pule direto para a segunda etapa.
     1 - O procedimento da urdidura de Marcuse podemos encontrar no seguinte parágrafo da Introdução:
A noção de uma civilização não repressiva será examinada, não como uma especulação abstrata e utópica. Acreditamos que o exame está justificado com base em dois dados concretos e realistas: primeiro, a própria concepção teórica de Freud parece refutar a sua firme negação da possibilidade histórica de uma civilização não repressiva; e, segundo, as próprias realizações da civilização repressiva parecem criar as precondições para a gradual abolição da repressão. Para elucidarmos esses dados, tentaremos reinterpretar a concepção teórica de Freud, segundo os termos de seu próprio conteúdo sócio-histórico (p. 3).

     Marcuse parte do pressuposto que, segundo Freud, a civilização é repressiva e sua própria concepção teórica (de Freud) refuta a sua firme negação da possibilidade histórica de uma civilização não repressiva. Portanto, segundo Marcuse, Freud nega firmemente que a civilização venha a ser não repressiva, porém, a sua própria concepção teórica refuta tal negação. Parece-me um pensamento meio confuso, porém, assim sendo, Marcuse diz que Freud nega a possibilidade histórica de uma civilização não repressiva, mas, segundo a interpretação filosófica de Marcuse, Freud entra em contradição com a sua própria concepção teórica, ou seja, estamos no terreno das interpretações filosóficas e teóricas, beirando ao devaneio lírico. Não sei o que Marcuse entendia como interpretação filosófica.
     E depois Marcuse diz que as realizações da civilização repressiva parecem criar as precondições para que a repressão seja gradualmente abolida. Contudo, Marcuse não especifica no seu anseio quais seriam as realizações da civilização repressiva que parecem criar tais precondições e não cita quais seriam essas precondições. Ainda que tais “realizações da civilização repressiva” sejam as que estão no livro “A Civilização e seus Descontentes (O Mal Estar na Civilização)”, de Freud, sendo estas, realizações intelectuais, artísticas e científicas (p. 36), ainda assim permanecemos no terreno da mais abstrata teoria.
     Portanto, Marcuse afirma que o exame da noção de uma civilização não repressiva está justificado com base em dois dados concretos e realistas, mas faz uma interpretação filosófica e teórica sem especificar as realizações da civilização repressiva e sem especificar as precondições, ou seja, tudo meio vago e genérico. Marcuse diz que o exame não será uma especulação abstrata e utópica, mas faz uma especulação abstrata e utópica no seu ensaísmo. Não sei o que Marcuse entendia como especulação abstrata e utópica e o que ele entendia como dado concreto e realista.
     Talvez as realizações da "civilização repressiva" sejam as realizações que permitiram a Marcuse escrever seu pretenso ensaio. Talvez seu próprio anseio seja uma realização dessa "civilização repressiva". Talvez seu próprio ensaio seja uma das precondições para a abolição da repressão. Isso, por si só, já seria autocontraditório, quase um devaneio lírico, um enlevo parafilosófico.
     Ainda na Introdução, Marcuse diz:
A finalidade do presente ensaio é contribuir para a filosofia da Psicanálise - não para a Psicanálise em si. Move-se exclusivamente no terreno da teoria e mantém-se fora da disciplina técnica em que a Psicanálise se converteu (p. 4).

     Fica bem claro que Marcuse afirma uma coisa (fazer um exame justificado em dados concretos e realistas) e faz outra (especulação abstrata e teórica). E assim ele segue no seu anseio, dizendo uma coisa e fazendo outra. Às vezes, Marcuse diz e faz o que se propõe, mas isto somente confunde ainda mais o leitor incauto. Esta é uma técnica de escrita característica de autores desta laia: a enganação.
     Ainda na Introdução: “Tal procedimento implica oposição às escolas revisionistas neofreudianas”. Marcuse foi de encontro ao pensamento corrente dos revisionistas da época.
     2 - Como o intuito deste texto não é analisar o enliço completo de Marcuse - não tenho esse padecimento e nem essa pretensão -, passo a interpretar os excertos explícitos do enleio no tocante ao incesto. E, utilizando-me do próprio Marcuse, vou mover-me exclusivamente no terreno da teoria. Se ele pode, eu também posso. Sem repressão.
     Na página 51 temos a primeira referência (os negritos a partir de agora são meus):
Através do poder sexual, a mulher é perigosa para a comunidade, cuja estrutura social assenta no medo deslocado para o pai. O rei é massacrado pelo povo, não para que este se torne livre, mas para que possa tomar sobre si um jugo mais pesado, um jugo que o protegerá com mais segurança da mãe.15

O rei pai é chacinado não só porque impõe restrições intoleráveis, mas também porque essas restrições, impostas por uma pessoa individual, não são suficientemente eficazes como uma “barreira ao incesto”, porque não são eficientes para enfrentar e dominar o desejo de regressar para a mãe.16 Portanto, à libertação segue-se uma dominação ainda “melhor”:

O desenvolvimento da dominação paterna para um sistema estatal cada vez mais poderoso, administrado pelo homem, é, assim, uma continuação da repressão primordial, que tem como seu propósito a exclusão cada vez mais vasta da mulher.17

     As notas 15, 16 e 17 são do livro The Trauma of Birth, de Otto Rank.
     Pelo que se depreende da referência acima, as restrições impostas por uma pessoa individual (o pai) não são suficientemente eficazes como uma barreira ao incesto. E o desenvolvimento da dominação paterna para um sistema estatal cada vez mais poderoso, administrado pelo homem, é uma continuação das restrições impostas pelo pai, que tem como seu propósito a exclusão da mulher.
     Portanto, para derrubar o sistema patriarcal deve-se promover o incesto, pois assim se impede que o filho se torne ele próprio pai e patrão. Dessarte, este indivíduo se tornará um átomo solto na civilização, um radical livre que se liga ao crime primordial, e o sentimento de culpa que lhe é concomitante reproduz-se no conflito da velha e da nova geração - filhos contra pais. O indivíduo, carregado de culpa, não constituirá família e, caso constituir, provavelmente não considerará o incesto como um tabu - olha que maravilha!
     A leitura de todo o capítulo da referência em questão (A Origem da Civilização Repressiva [Filogênese]) induz à conclusão acima.
     Na página 57 temos a referência 2, ainda no mesmo capítulo:
A transformação do princípio de prazer em princípio de desempenho, que muda o monopólio despótico do pai em comedida autoridade educacional e econômica, também muda o objeto original da luta: a mãe. Na horda primordial, a imagem da mulher desejada, a esposa-amante do pai, era a imagem de Eros e Thanatos em união imediata, natural. Ela era a finalidade dos instintos sexuais e era a mãe em que o filho desfrutara outrora paz integral, que é a ausência de toda a necessidade e desejo - o Nirvana pré-natal. Talvez o tabu sobre o incesto tenha sido a primeira grande proteção contra o instinto de morte: o tabu sobre o Nirvana, sobre o impulso regressivo para a paz que se ergueu no caminho do progresso, da própria Vida. Mãe e esposa foram separadas, e a identidade fatal de Eros e Thanatos foi, portanto, dissolvida.

     Na horda primordial a imagem de Eros (sexo) e Thanatos (morte) era a imagem da mulher desejada, a esposa-amante do pai que era a finalidade dos instintos sexuais do pai e do filho que desfrutara outrora paz integral no Nirvana pré-natal que é a ausência de toda necessidade e desejo.
     Talvez o tabu sobre o incesto não seja um tabu. Talvez a não promoção do incesto seja a ordem natural das coisas. Para o incesto não ser um tabu ele deve ser praticado por toda a civilização mundial como um todo. Enquanto existir UMA única família que não pratique o incesto, o incesto continuará sendo, na mente de Marcuse e de seus seguidores, um tabu.
     E Marcuse termina o capítulo da seguinte maneira:
No presente nível da civilização, dentro do sistema de inibições recompensadas, o pai pode ser superado sem que a ordem instintiva e social sofra violento abalo; agora, sua imagem e sua função perpetuam-se em cada filho - ainda que este o não conheça. Funde-se com a autoridade devidamente constituída. A dominação ultrapassou a esfera das relações pessoais e criou as instituições para a satisfação ordeira das necessidades humanas, numa escala crescente. Mas é precisamente o desenvolvimento dessas instituições que está abalando os alicerces estabelecidos da civilização. Seus limites interiores aparecem na recente era industrial (p. 58).

     “O pai pode ser superado sem que a ordem instintiva e social sofra violento abalo”. E de que maneira o pai pode ser superado? Através do incesto? Através do "empoderamento" da mulher separando a mãe da esposa? O pai fica com a mãe e o filho fica com a esposa? Ou vice-versa?
     “... agora, sua imagem e sua função perpetuam-se em cada filho - ainda que este o não conheça”. O modo como um filho que não conhece o pai possa vir a ter a imagem e a função deste pai é algo que me escapa.
     Um órfão de pai pode constituir família, mas se o incesto for uma prática comum na civilização inteira, não teremos mais pais nem filhos. Teremos somente sei-lá-o-quê como família. É óbvio que a civilização inteira praticar incesto é impossível, mas a promoção de tais coisas (incesto, pedofilia, destruição da família, criminalização da sociedade [lumpenproletarização], etc) causa confusão na sociedade. Parece-me que o objetivo é a destruição da família dos outros, não da sua própria.
     Na página 176 temos, no capítulo Eros e Thanatos, a referência 3: “O pai hostil é exonerado e reaparece como o salvador que, ao punir o desejo de incesto, protege o ego de seu aniquilamento na mãe”.
     Ora, a mãe não pode punir o desejo de incesto também? Lembremos que Freud denominou o seu "complexo de Édipo" a partir de uma fábula grega.
     As imagens de um futuro livre, em lugar de um passado obscuro, vão além do princípio da realidade patriarcal que mantém ascendência sobre a interpretação psicanalítica. Portanto, para ir além da realidade patriarcal em direção a um futuro livre, faz-se necessária a exoneração do pai hostil para que ele possa reaparecer como o salvador que pune o desejo de incesto para proteger o ego de seu aniquilamento na mãe. Porém, não se levanta a questão de saber se a atitude narcisista-maternal, em relação à realidade, não pode retornar. Pelo contrário, é necessário suprimir essa atitude de uma vez para sempre. É necessário suprimir a atitude de reaparecimento do pai como salvador que pune o desejo de incesto. É necessário acabar com a figura do pai. O homem deve ser um mero produtor e fornecedor de esperma; deve ser visto como um acidente da natureza, sem essência e sem substância.
     E Marcuse termina o capítulo aconselhando os homens a cometerem suicídio:
Os homens podem morrer sem angústia se souberem que o que eles amam está protegido contra a miséria e o esquecimento. Após uma vida bem cumprida, podem chamar a si a incumbência da morte - num momento de sua própria escolha. Mas até o advento supremo da liberdade não pode redimir aqueles que morrem em dor. É a recordação deles e a culpa acumulada da humanidade contra as suas vítimas que obscurecem as perspectivas de uma civilização sem repressão.

     Pelo visto Marcuse nunca soube que o que ele amava estava protegido contra a miséria e esquecimento, e não teve uma vida bem cumprida, pois não chamou para si a incumbência da morte num momento de sua própria escolha. Morreu de infarto - e não de suicídio - aos 81 anos.
     Nas páginas 205-206, no capítulo Crítica do Revisionismo Neofreudiano, temos a quarta e última referência: “O ponto essencial dessa “translação” é que a essência do desejo de incesto não é um “anseio sexual”, mas o desejo de conservar-se protegido, seguro - uma criança”.
     Marcuse fala da reinterpretação ideológica do complexo de Édipo feita por Erich Fromm, que tenta “transladá-lo da esfera do sexo para a esfera das relações interpessoais” e o ponto essencial é que o desejo de incesto não é um anseio sexual.
     Marcuse diz que a interpretação ideológica do complexo de Édipo, por Fromm, implica a aceitação da infelicidade da liberdade, de sua separação da satisfação; e a teoria de Freud implica que o desejo de Édipo é o eterno protesto infantil contra essa separação - "protesto não contra a liberdade, mas contra a liberdade dolorosa e repressiva". Liberdade dolorosa e repressiva?!?!? Será que é desta liberdade que Marcuse fala quando cita o "advento supremo da liberdade"?
     E Marcuse segue no seu deleite: “É primeiro a 'ânsia sexual' pela mãe-mulher que ameaça a base psíquica da civilização; é a 'ânsia sexual' que torna o conflito de Édipo o protótipo dos conflitos instintivos entre o indivíduo e sua sociedade”.
     Ora, Marcuse diz que a ânsia sexual torna o complexo de Édipo, que pode ser adquirido ou não na infância, o protótipo dos conflitos entre o indivíduo e sua sociedade. Marcuse reduz os conflitos entre o indivíduo e sua sociedade a uma simples questão sexual, que pode existir ou não, como se todos os problemas da sociedade viessem da ânsia sexual... que pode existir ou não. Talvez Marcuse introjetou seus desejos em relação à sua própria mãe e depois projetou freudianamente suas próprias ânsias sexuais para a sociedade.
     Não sou um entendido em Freud, mas é do entendimento de todos que a maior parte de sua psicanálise é baseada em conflitos sexuais internos, sendo que escreveu um texto chamado “Algumas Consequências Psíquicas da Diferença Anatômica entre os Sexos”, entre outros. Neste texto, Freud fala da inveja feminina do pênis:
Mesmo após a inveja do pênis ter abandonado seu verdadeiro objeto, ela continua existindo: através de um fácil deslocamento, persiste no traço característico do ciúme. Naturalmente, o ciúme não se limita a um único sexo e tem um fundamento mais amplo, porém sou de opinião que ele desempenha um papel muito maior na vida mental das mulheres que na dos homens e isso se deve ao fato de ser enormemente reforçado por parte da inveja do pênis deslocada.
     Para Freud, o ciúme das mulheres vem da inveja do pênis deslocada - é a inveja que está deslocada, não o pênis. Não obstante as contribuições de Freud para a psicanálise, ele tem momentos risíveis.
     E Marcuse, em seu anseio, faz uma interpretação parafilosófica do pensamento de Freud, sendo que o próprio Freud concebia o pensamento como originário da experiência do sujeito e, para Freud, pensamento e linguagem são dois domínios diferentes que podem ou não se entrecruzar.
     Marcuse interpretou a linguagem de Freud dizendo que interpretou o pensamento... e fez isso entrecruzando com Freud de forma “filosófica” colocando incesto explícito no meio talvez para dar vazão aos seus desejos reprimidos como forma de aplacar seus mais recônditos, sexuados e suados instintos freudianos.
     Talvez Marcuse visse em Freud uma figura paterna e tentou libertar-se do seu complexo de Édipo através do incesto, onde, em uma inversão da inveja do pênis, viu em Freud a figura materna e, como consolo, teve o desejo ardente de que Freud o conhecesse no sentido Bíblico.
     Mas, como eu disse, tudo não passa de uma teoria, tanto de Marcuse quanto minha.

terça-feira, 2 de julho de 2019

Razão e Emoção

 
   Razão é, para o nosso entendimento, o intelecto, a capacidade de raciocínio - o raciocínio é a aplicação da Razão -, o senso das proporções, a capacidade de inteligência, etc. É também a capacidade de autoconhecimento que nos faz saber quando estamos sentidos e que nos permite não deixar que as emoções tomem conta. E, quando as emoções começarem a tomar conta, a Razão nos traz de volta à normalidade.
   Emoção é, para o nosso entendimento, as emoções em si, os sentimentos, as vontades, os desejos, sensações, intenções, etc; a parte psicológica do ser humano, a psiquê.
   O ser humano é formado, neste sentido, por Razão e Emoção.
   Posso definir, para o nosso entendimento, que sentimento é o ato ou efeito de sentir, aquilo que sentimos interiormente.
   Emoções são agitações dos sentimentos posto que todo sentimento é calmo.
   Faço essa distinção entre as palavras Emoção, emoção e emoções. Emoção com "E" maiúsculo, para o nosso entendimento, é o complementar da Razão e vice-versa, como veremos adiante. A Emoção engloba as emoções e os sentimentos. As "emoções" são simplesmente o plural de "emoção".
   Por exemplo, raiva é uma emoção e ódio é um sentimento. Este vem de forma calma, aquela vem de forma explosiva. A raiva vem e passa. O ódio, quando se instala no ser humano, permanece por muito tempo. A alegria é um sentimento, a euforia é uma emoção.
   Nem todo sentimento corresponde uma emoção e vice-versa, por exemplo, a raiva não é a emoção do sentimento ódio, pois a raiva necessariamente não leva ao ódio; e a alegria não é o sentimento da emoção euforia, pois a alegria não leva necessariamente à euforia. Ainda que estejam relacionados enquanto emoções e sentimentos, são coisas distintas.
   Faço esta classificação básica dos sentimentos e das emoções como método de autoconhecimento. Muitas vezes confundimos os sentimentos com as emoções e vice-versa.
   Quando estamos com raiva não significa que odiamos o objeto da nossa raiva posto que a raiva dá e passa. E quando odiamos outra pessoa, muitas vezes não ficamos com raiva dela; ou não externamos essa raiva e sequer deixamos a raiva transparecer para os outros. Este é o ódio no seu começo.
   É importante saber identificar o que estamos sentindo. Muitas vezes falamos que odiamos uma pessoa sendo que somente estamos com raiva dela. O ódio é um dos piores sentimentos, pois vem de forma calma, instala-se paulatinamente, e depois não sabemos como retirar o ódio de nós mesmos.
   Existem sentimentos bons e sentimentos ruins. As emoções são, basicamente, ruins, posto que são agitações dos sentimentos.
   Quando choramos de forma calma - sem ser um choro convulsivo, descontrolado - posso dizer que é um sentimento. Chorar copiosamente é uma emoção, por isso o correto é dizer que fulano está emocionado. É fato que existe uma linha tênue entre os sentimentos e as emoções e, às vezes, torna-se difícil saber quando estamos sentidos ou emocionados. “Sentidos” referem-se aos sentimentos e “emocionados” referem-se às emoções.
   Basicamente, as emoções são agitações dos sentimentos. Geralmente quando estamos emocionados não nos apercebemos disto, pois já ultrapassamos a linha tênue. Perdemos a Razão.
   A Razão serve para controlar os sentimentos, serve para não deixar que os sentimentos se transformem em emoções. E, ao mesmo tempo, a Razão serve para que não nos tornemos sem sentimentos. Não falo aqui somente daquela razão no sentido de estar certo ou errado, esta faz parte da Razão.
   É óbvio também que, às vezes, não conseguimos nos controlar. Porém, quando o descontrole emocional toma conta do ser humano dizemos que ciclano perdeu a Razão. E quando o descontrole sentimental toma conta de forma permanente do ser humano entramos em um processo de perda da Razão no qual passamos a reagir somente aos sentimentos e emoções que as palavras e as coisas nos causam. Não raciocinamos mais com o significado das palavras e das coisas. Simplesmente reagimos pelas emoções que, com o tempo, acarretam em reação pelo instinto. E o instinto, neste caso, é irracional. O instinto somente é válido quando é aquele impulso natural que nos faz agir com uma finalidade específica e que não está de todo independente da Razão.
   A Razão é baseada na analítica que leva à lógica e nos dá a capacidade de raciocínio necessária. A Razão baseada na analítica que leva à lógica, que nos dá a capacidade de raciocínio necessária, nos traz aquela virtude que chamamos de Prudência, Temperança, Moderação.
   A Virtude é o equilíbrio entre a Razão e a Emoção, equilíbrio este, dado pela Razão. Para chegarmos nesse equilíbrio primeiro temos de saber o que estamos sentindo. Temos de saber identificar nossos sentimentos e emoções. Temos de saber quando estamos sentidos ou emocionados. A partir daí saberemos como não ultrapassar a linha.
   A virtuosidade não é algo inalcançável. A Virtude não é algo que somente os santos possuem. A Virtude está ao alcance de todos. A "filosofia" moderna colocou a Virtude como algo inatingível. E a mitologia moderna, aquilo que chamam de "religião atualmente, corrobora a Virtude como algo místico, algo ao alcance dos “deuses” somente.
   A Razão é também um processo mental a ser praticado através do controle das vontades e dos desejos. Por exemplo, caso eu extravase minhas emoções de maneira consciente, ainda assim estarei consciente. É óbvio que, nesse processo, poderei perder o controle, poderei perder a Razão momentaneamente. Porém, não será uma perda permanente. Este exemplo aplica-se somente a pessoas adultas, maduras.
   Crianças, adolescentes e jovens quando submetidos a situações que os levam à perda da Razão (afloramento das emoções) não tem consciência do fato. O estresse causado por tais situações prejudicá-lo-ão de forma permanente.
   A lógica da qual eu falo é aquela lógica baseada na análise de um fato. Fazemos uma análise de um fato ou situação (analítica), de uma verdade, sendo que podemos chegar a uma conclusão e esta conclusão pode ter lógica ou não; caso a conclusão tenha lógica em si podemos encerrar o processo de análise ou continuar para nos aprofundarmos no assunto, estudar para entender mais. Caso a conclusão, após a análise, não tenha lógica em si se faz necessário continuar o processo de análise. A lógica é o que vem depois da analítica e sem analítica não há lógica.
   Todo argumento é lógico e toda opinião é baseada em um fato, senão não é opinião. Porém, posso construir um argumento lógico baseado num fato (verdade) ou em uma mentira. A mentira, para ser uma mentira, precisa ter lógica. Por exemplo, caso eu afirmar que esta coisa é vermelha (sendo que esta coisa é verde) todo mundo identificará a mentira, mas se eu argumentar que o espectro visível de cores depende da frequência e do comprimento de onda e depende também da espécie que vê a cor e varia muito de uma espécie animal para outra, posso aventar que a coisa é, na realidade, vermelha e que você não está enxergando o espectro real da cor.
   Outro exemplo: caso eu falar que sou negro, mesmo sendo branco, todo mundo identificará a mentira. Porém, caso se eu falar que tenho um avô por parte de mãe que era negro e uma avó por parte de pai que era negra e que fui criado dentro da cultura afro-brasileira (seja lá o que for isso) e mesmo sabendo que tenho a pele branca, posso dizer que sou negro. Isso dará lógica à mentira.
   Com os sentimentos e as emoções o processo é o mesmo. Quando mentimos para nós mesmos em relação aos nossos sentimentos e emoções estamos nos enganando. Entramos em um processo de perda da Razão no qual passamos a reagir somente às emoções que as palavras e as coisas nos causam. Não raciocinamos mais com o significado das palavras e das coisas. Simplesmente reagimos pelo instinto. E o instinto é irracional.
   Por exemplo, quando somos xingados e perguntamos a quem nos xingou o que significa esta palavra e este alguém não sabe o significado da palavra e responde que não precisa saber o significado, que basta saber que é um xingamento, eu pergunto: - Como você sabe que é um xingamento se não sabe o significado da palavra?
   Para saber que é um xingamento você precisa saber que a palavra tem um significado ruim, mas se você não sabe sequer o que significa a palavra, como sabe que é um xingamento e não um elogio?
   Aí está a lógica da verdade. Perdemos a Razão quando não sabemos o significado e o referente das coisas e das palavras. E o que se segue depois é que passamos a reagir somente à Emoção que as coisas e as palavras nos causam. A concepção zoológica da humanidade advém desse processo.
   Óbvio também é, que a lógica depende do conhecimento. Porém, para se ter Razão baseada na analítica que leva à lógica da verdade não se faz necessário ter conhecimento de todas as coisas. Basta saber reconhecer e identificar o que são sentimentos e o que são emoções em você mesmo. A partir daí você saberá reconhecer e identificar o que são sentimentos e o que são emoções nos outros.
   Por exemplo, quando você sabe distinguir entre raiva e ódio em você mesmo, saberá distinguir nos outros, pois todos somos seres humanos e temos os mesmos sentimentos e as mesmas emoções porque o ser humano é um ser racional e um ser emocional. Não há como separar um do outro.

quarta-feira, 26 de junho de 2019

Empresários e Políticos Brasileiros Burros

     Vamos falar de patriotismo e nacionalismo. Os empresários e políticos brasileiros não são nacionalistas e não são patriotas. Ainda que essas duas palavras sejam sinônimas, eles não são nenhuma das duas.
     E são burros.
     Corrompem-se, prostituem-se e vendem-se como prostitutas da ZBM (Zona do Baixo Meretrício). Peço perdão às mulheres da ZBM pela comparação. As mulheres da ZBM vendem seus corpos, mas nossos empresários e políticos vendem seus corpos e suas almas.
     E vendem o futuro da sua prole. São proletários da elite mundial. Ainda que eu não goste de colocar as coisas em termos de luta de classes; ainda assim, não há outra maneira de se fazer entender porque a burrice impera. E quando a burrice impera temos que fazer como Jesus Cristo e descer à terra da loucura para trazer um pouco de sanidade.
     Não estou me comparando a Jesus Cristo. E se alguém quiser pensar que estou me comparando a Jesus Cristo... amém, que assim seja. Atire a primeira pedra.
     Não temos uma multinacional brasileira, não temos parque industrial, não temos tecnologia, não temos sistema financeiro próprio, não temos qualidade de vida.
     Mas temos as maiores riquezas naturais do mundo e temos empresários e políticos que as vendem em troca do futuro dos seus filhos. Empresários que trabalham uma vida inteira e depois vendem os esforços do seu trabalho árduo para empresas alienígenas em troca de migalhas. Aceitam continuar de “presidente” da empresa porque a lei brasileira exige que assim seja. O presidente deve ser um brasileiro nato. Mas não passam de “laranjas”, “testas de ferro”. Quando chega a hora de escolher entre fazer lobby para a empresa ou fazer o melhor para o país no qual nasceram, eles escolhem o lobby. Lobby este que se traduz em corrupção. Vendem-se. Porque caso não se venderem, perdem a “teta”. E perdem porque são burros. Não pensam no País no qual nasceram. Não pensam que podem ser grandes.
     Não tem o mínimo de patriotismo e nacionalismo, nem sabem o que é. E os políticos seguem na mesma toada. Aceitam o lobby. Aprovam leis que os favorecem em detrimento do próprio país. São prostitutas do sistema financeiro internacional.
     Um empresário que vende sua empresa para estrangeiros não pensa no futuro dos seus filhos. Um político que aprova uma lei perniciosa para o país não pensa no futuro dos seus filhos. Uma prostituta que se prostitui, pensa no futuro dos seus filhos. Esta tem mais dignidade.
     Não temos UMA família brasileira que está entre as mais ricas do mundo. Não temos influência em âmbito mundial. Somos proletários.
     A nossa “elite” brasileira não passa de um bando de proletários burros. Acreditam que, vendendo-se, farão parte da elite mundial, da nova ordem mundial. Santa ingenuidade. E a população de arrasto nessa ingenuidade.
     Não tem amor pela terra na qual nasceram. Vendem tudo acreditando que estão garantindo o futuro dos seus filhos. Futuro este que ficará na mão de estrangeiros os quais não tem nenhum sentimento pela nossa terra - e não precisam ter. Mas eles sabem disso, os nossos empresários e políticos, a nossa “elite”, não sabem disso. São burros.
     Quando chegar a hora - e essa hora chegará em breve - a nacionalidade falará mais alto. Falará aos gritos. E os brasileiros, nem proletários mais serão, pois a sua prole não será mais nada, a sua prole terá somente a força do seu trabalho, que é a mesma coisa que nada em uma nova ordem mundial.
     Sinto muito, mas é assim que eu vejo as coisas. Um empresário trabalha aqui no Brasil, faz a sua empresa crescer... e depois a vende para estrangeiros. E os políticos concordam. Muitas vezes, os empresários vendem porque foram burros e deixaram os políticos aprovar leis que prejudicam o empresariado brasileiro. Outras vezes, os políticos, em conluio com os empresários, aprovam leis que obrigam os empresários a vender.
     Tudo aqui está quase vendido. Nada mais será dos brasileiros.
     Quando algum estrangeiro quer alguma coisa aqui do Brasil, que venha negociar. É assim que funciona. Se esta alguma coisa não tem no país dele, paciência. Que reclame com Deus porque não nasceu no Brasil.
     Não vejo nenhum estrangeiro vendendo seu país, suas empresas, suas riquezas, seu patrimônio para os brasileiros. Somente vejo brasileiros vendendo tudo para fora.
     Somos mesmo um povo abençoado por Deus. Abençoados com a burrice dos nossos empresários e políticos. Estão sendo engolidos pelos estrangeiros. Estão sendo estuprados pelos estrangeiros... e estão gostando, pedindo mais.
     O sangue fala mais alto. Na hora do adeus, a escolha será para os filhos da terra, e a nossa “elite” terá vendido tudo para os filhos de outras terras. Haverá choro e ranger de dentes para seus próprios filhos... e será tarde demais.

sábado, 22 de junho de 2019

Por que Acreditar em Deus?


     Por que acreditar em Deus?
     Começando do princípio quando tudo era verbo... depois vieram substantivos, predicados, etc.
     Saber se Deus existe, vamos tomar como certa a premissa de que ninguém sabe com certeza se Deus existe. Podemos dizer que é uma questão de fé e de lógica. Ou acredita que Deus existe ou não acredita. Os pormenores em que uns acreditam em Deus, mas seu Deus é diferente de algum Deus de alguma religião, esses pormenores não interessam, pois, a questão básica é acreditar ou não em Deus!
     Assim temos uma dúvida: Deus existe ou não? Isto é fato. Perscrute aí no interior do seu pensamento se Deus existe ou não, pergunte a si mesmo e saberá que existe essa dúvida. E não estou falando dos santos ou de alguém que teve uma experiência nesse sentido pois isso é uma certeza da qual somente ele sabe, estou falando do ser humano que tem essa dúvida.
     Partindo desta dúvida, deste fato, não sabemos em que acreditar.
     Agora faço uma distinção entre “acreditar” e “confiar”. “Acreditar” refere-se a não questionar. Por exemplo, você me fala uma coisa (qualquer coisa) e eu acredito, nem me passa pela minha cabeça que você está mentindo. Somente depois quando eu descobrir a sua mentira é que me darei conta que acreditei em você.
     “Confiar” refere-se ao popular “vou dar um voto de confiança”, ou seja, no momento em que você me fala uma coisa, eu sinto que você pode estar mentindo ou não, mas resolvo confiar em você.
     Partindo da mesma dúvida acima (Deus existe ou não?), chegamos à outra questão: existe vida após a morte? Sabemos que Deus e a eternidade estão intimamente relacionados. São indissociáveis. Caso você confie que Deus existe, automaticamente você confia na vida eterna. Caso você não confie que Deus existe, automaticamente você não confia na vida eterna.
     Com efeito, da primeira dúvida decorre esta segunda dúvida: existe vida eterna ou não?
     Depois que morrermos vamos para um outro plano (seja qual for o nome que você der: céu, outra dimensão, plano espiritual, etc); ou depois que morrermos acabou-se, o corpo vira pó e a vida de um ser humano deixa de existir? Não vou entrar aqui na discussão se os animais têm alma, não é o caso. Estou falando do ser humano, que pensa com inteligência.
     Existindo essa dúvida, acredito ser mais lógico confiar que Deus existe e confiar na vida eterna, pois é mais reconfortante pensar que a vida não se acaba nesta vida física. É mais reconfortante confiar que existe vida eterna. Isso dá mais coragem para vivermos esta vida.
     Alguém poderá dizer: mas acreditar em Deus e na vida eterna não depende de mim. O que eu posso fazer se não acredito em Deus e na vida eterna?
     Independentemente se você teve uma formação religiosa ou não, a questão não se baseia mais somente na fé. Baseia-se também na lógica. A fé e a lógica também são indissociáveis. Por que confiar que tudo se acaba com a morte se não sabemos com certeza se tudo se acaba com a morte?
     Essa dúvida nos dá a opção de escolha. Ainda que internamente eu tenha dúvida se Deus existe e se existe vida eterna, eu posso optar em confiar ou não confiar. E, como já falei, acredito ser mais lógico confiar que Deus existe e confiar na vida eterna mesmo não tendo provas de uma coisa ou de outra.
     O (verdadeiro) ateu é aquele que opta por não confiar que Deus existe e não confiar na vida eterna, mas carrega dentro si essa dúvida, pois se não soubesse que existe um ente chamado Deus sequer pensaria Nele. Não teria nenhum conceito metafísico na sua mente. Viveria uma vida sem perspectivas metafísicas (além da física). Viveria uma vida dentro de uma concepção zoológica.
     Por exemplo, confiar no big-bang (criador do universo) é um conceito metafísico que leva a pensar no princípio de tudo.
     Coloco aqui duas questões:
     1 - Sendo Deus o criador do universo, quem ou o que criou Deus?
     2 - Sendo o big-bang o criador do universo, quem ou o que criou o big-bang?
     Essas duas, no que concerne à infinitude de pensamento, são, basicamente, a mesma questão. E nenhuma delas tem, no momento, uma resposta.
     Então, resta a nós a vida eterna ou o fim da vida com a morte. E chegamos novamente em uma dúvida que nos permite uma escolha. E seja qual for a sua escolha, viva esta vida da melhor maneira possível para você e para os outros (isto também é indissociável), pois se tudo se acaba com a morte você deixará apenas seu legado (seja ele bom ou ruim); e se existe vida eterna você deixará seu legado (e ele será bom) e viverá a vida eterna onde reencontrará seus entes queridos. Este último é um pensamento muito mais reconfortante para este mundo repleto de dúvidas.