Entendendo a mais-valia de Marx. Não entrarei profundamente
na mais valia absoluta e na mais valia relativa, mas deixo aqui as
conceituações de Marx, que não servem para muita coisa:
Chamo de mais valia absoluta a
produzida pelo prolongamento do dia de trabalho, e de mais valia relativa a
decorrente da contração do tempo de trabalho necessário e da correspondente
alteração na relação quantitativa entre ambas as partes componentes da jornada
de trabalho (O Capital, Livro 1, Vol. I, p. 363).
Vamos tomar como exemplo o atacado e o varejo. Quando compramos no varejo (de uma até duas
ou três, ou mais mercadorias, até um certo número estipulado pelo fabricante
e/ou pelo comerciante) a mercadoria tem um determinado valor. Quando compramos
pelo atacado, a mercadoria, unitariamente, sai por um valor menor. No caso,
segundo Marx, este valor é o valor de troca, posto que o valor de uso é
intrínseco à mercadoria, o valor de uso já nasce com a mercadoria. Grosso modo,
o valor de uso é a própria mercadoria, é o produto, é o valor que cada um dá à
mercadoria não importando seu valor de troca, ou seja, não importando por
quanto (em dinheiro ou capital) a pessoa vende ou compra a mercadoria. Algumas
vezes o valor de uso é o valor de troca, outras vezes não.
Ao comprar uma caixa de, por exemplo, água sanitária, o
valor unitário (valor de troca, o preço) de cada recipiente é um determinado
valor, mesmo eu não concordando com o preço e achando aquele valor (valor de
uso para mim) muito caro. Utilizo o exemplo de água sanitária porque é bastante
apropriado quando se estuda Karl Marx.
Ao comprar um recipiente apenas, o valor é maior. Quando
estamos dentro de um supermercado que vende por atacado temos uma caixa de água
sanitária cujas unidades recipientes tem um determinado valor. Caso eu comprar a
caixa toda, obviamente pagarei esse determinado valor. Porém, se eu abrir a
caixa e retirar somente um recipiente, o valor deste recipiente aumenta
automaticamente.
Posso dizer, neste ponto, que aí está a mais valia de Marx
(o valor excedente), pois, para o fabricante, o valor de produção da água
sanitária é o mesmo. Seu custo e seu lucro já estão embutidos neste valor de
produção. O preço que pagamos a mais quando levamos um único recipiente em
relação a levarmos a caixa toda é, neste sentido, a mais valia de Marx, pois
não há nada que justifique financeiramente este aumento no preço.
Mas podemos dizer que o que justifica este aumento de preço
é a quantidade da mercadoria (relação quantitativa entre mais valia e lucro,
segundo Marx). Quanto mais compramos, menor preço pagamos. Assim é em
praticamente tudo. Compramos uma dúzia de ovos, o preço é um; compramos uma
bandeja de ovos, o preço é menor. Compramos um único livro de O Capital, o preço é um; compramos todos os volumes de uma vez só, o preço é menor.
Obviamente temos, neste processo, os intermediários. Aí a
trama se complica. Cada mercadoria tem um ou mais intermediários até chegar no
consumidor final, por exemplo, o comerciante dono de mercado que compra no
atacado e vende para o consumidor final, é um intermediário. Cada intermediário
leva a sua parte aumentando o valor final. Até aí tudo bem. Este é o processo
normal desde a produção até a venda final.
Vemos, então, que temos uma estratificação no processo de
troca de mercadorias onde cada camada tem o seu lucro (ou mais valia).
Analisando-se assim, isoladamente, podemos chegar à conclusão segura de que a
solução seria eliminar os intermediários. Porém, analisando-se a sociedade como
um todo, tal solução é inviável pois acabaria em concentração de poder,
totalitarismo, fim da humanidade como a conhecemos.
Poderíamos aventar a possibilidade de que a mais valia seria
também o que se chama de especulação, ou seja, aumentar o valor tendo por base
uma situação futura e, obviamente, incerta. Por exemplo, a especulação do
próprio dinheiro, a usura da qual Sócrates falava, emprestar dinheiro a juros.
Teríamos aí, de certa maneira, a mais valia (o valor excedente).
Vemos, então, que a mais valia não é simplesmente um valor
excedente que resulta exclusiva e obrigatoriamente do lucro, posto que o lucro é
uma parte financeira do processo de produção e venda. E digo, agora, processo
de produção e venda, pois a venda faz parte do processo de produção, pois não
teria sentido produzir uma mercadoria sem vendê-la sendo que estamos falando
daquilo que Marx chamava de Capitalismo.
Então, analisando-se neste sentido, a mais valia de Marx
existe, porém, ela resulta da falta de moral e da falta de honestidade em cada
camada do processo de produção, ou seja, resulta da falta de moral e da falta
de honestidade de cada indivíduo envolvido no processo.
Mais valia, taxa de mais valia, lucro e taxa de lucro são
coisas distintas para Marx. Porém, Marx se perde na explicação dessas
distinções. Basicamente, lucro, para
Marx, é coisa exclusiva do empresário, do capitalista malvado. Ele fez um
estudo em O Capital considerando tal estudo de forma geral, mas esqueceu-se de
que os negócios feitos por um consumidor no mercado da esquina numa rua de um
bairro de uma cidade são diferentes dos negócios entre países e que, no meio
disso, tem inúmeros níveis e tipos de negócios que se diferenciam por si só.
Atirar-se esta expressão - mais valia - de forma vaga e
imprecisa na sociedade e ligando-a única e exclusivamente ao lucro, temos que,
quando se fala a palavra “lucro” as pessoas automaticamente raciocinam como se
lucro fosse uma coisa errada, malvada, mas todo mundo quer ter lucro. Não fosse
assim, todos trabalharíamos de graça e todos morreríamos de fome; ou, então, eliminamos
o dinheiro e adotamos o processo de escambo total (troca direta de mercadorias
total), coisa impossível e até um tanto ingênua atualmente.
Lucro, neste sentido no qual estou falando, posso dizer que
lucro é também o salário do trabalhador. Não fosse assim, então o trabalhador
deve transformar-se num capitalista para que possa ter lucro, mas daí
voltaremos a toda a discussão de Marx que envolve capital, processo de
produção, mais valia, lucro, taxa de lucro, valor de uso, mercadoria, valor de
troca, etc, entrando, de novo, num processo sem fim.
Donde conclui-se: caso você não quer ser um capitalista
malvado, então não tenha lucro e mantenha-se a vida inteira na classe dos
trabalhadores e seja explorado a vida inteira pelo capitalista malvado, pois no
momento em que você tiver lucro, você deixa de ser um trabalhador e passa a ser um
capitalista malvado.
Então, a questão resume-se na resposta da seguinte pergunta:
o que é lucro?
Lucro seria o valor excedente cobrado na mercadoria? Neste
caso, então lucro é a mais valia de
Marx.
Neste momento se faz necessário discernir o que é mercadoria
para Marx. Basicamente, mercadoria para Marx é tudo, incluindo bens e serviços,
e até o próprio ser humano. A força de trabalho também é uma mercadoria no
sentido marxiano... ou marxista.
Então, sendo lucro
o valor excedente que um trabalhador cobra de seu patrão, logicamente, este
trabalhador está usufruindo da mais valia. E sabemos que mais valia é pecado
mortal para Marx. E isto transforma automaticamente o trabalhador num
capitalista ganancioso. Um chefe de alguma agremiação de trabalhadores, por
exemplo, um sindicato, quando está negociando com os patrões, de certa forma
ele está negociando a mais valia (ou lucro) para os trabalhadores, pois a força
de trabalho, para Marx, faz parte do processo de produção. Neste momento,
“nosso capitalista recobra sua fisionomia costumeira com um sorriso jovial”.
Obviamente podemos dizer que a mais valia vale somente para
o capitalista, não vale para o trabalhador, pois este não tem lucro, tem
somente o seu salário e o salário não é lucro. E assim desmanchamos o sorriso
jovial do nosso capitalista. Então, a mais valia não está ligada ao lucro, são
coisas distintas. E separamos trabalhador de capitalista, pois o capitalista,
para Marx, é um não-trabalhador. E, desta forma, separamos em classes
financeiras a humanidade que existe em cada ser humano.
E voltamos à pergunta anterior: o que diabos é lucro?
Talvez algum leitor saiba me responder essa
pergunta, ou, algum leitor com moral e honestidade verá que a resposta dessa
pergunta é que lucro é uma coisa individual, pessoal, intrínseca a cada negócio
e que depende da satisfação pessoal de cada um dos envolvidos naquele negócio. Mesmo
lucro sendo qualquer vantagem,
benefício (material, intelectual ou moral) que se pode tirar de alguma coisa,
ainda assim, o lucro em si não é malvado. Malvadas são as pessoas que escrevem 2.582 páginas em uma obra que, além de não conseguir responder nada, causam uma confusão
imensa na sociedade.