sábado, 11 de dezembro de 2021

Escola sem Partido


   O advogado Miguel Nagib fundou e promoveu até 22 de agosto de 2020 o Escola sem Partido e depois afastou-se por diversos motivos. Dentre estes motivos, a falta de apoio e os ataques injustos vindo de dentro da própria trincheira, a chamada “direita”.

   Não obstante o meu respeito ao filósofo Olavo de Carvalho, ele foi superficial na sua análise do Escola sem Partido e tal análise espalhou-se na época. Mas eu como o Olavo de Carvalho, também já fiz análises superficiais... quando tinha 12 anos de idade. Não que o pimpão Olavo seja o principal responsável por atacar o ESP, mas ele teve grande influência, pois na época o Bolsonaro e outros pautavam-se em algumas análises do abrangente Olavo.

   Trecho da entrevista ao jornal O Globo:

   “O senhor publicou recentemente um vídeo com críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?

   Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois. Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda estamos na esfera do argumento retórico.

   Basicamente a argumentação repetida por Olavo com soltura de espírito em relação ao ESP está nos trechos de entrevistas e vídeos. Vou do início.

   “Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro.” Ora, umas vezes primeiro promove-se o debate para depois entrar com o projeto que resultará na lei. Outras vezes primeiro entra-se com o projeto de lei (já sabendo que não será aprovado), mas entra-se com a intenção de promover o debate para depois, então, aprovar a lei. A esquerda, que eu saiba, nunca, nunca, nunca apresentou e/ou apresenta fundamentação científica para seus projetos de lei e como a guerra é cultural acredito que a “fundamentação científica” no debate legislativo já foi para as cucuias há muito tempo.

   Quando se promove um debate sobre qualquer assunto que for, é óbvio que sabemos que algumas pessoas se colocarão contra, outras a favor e outras tanto-faz-como-fez, mas todas falarão e/ou debaterão o assunto até ele chegar na sua “maturidade” política.

   Além disso, promovendo-se o debate, a fundamentação científica começa a aparecer. Porém, a própria “direita” matou o debate sobre o ESP não permitindo sequer que a pouca fundamentação existente sobressaísse ou que outras fundamentações aparecessem. O próprio Olavo sempre diz que a esquerda aparelhou o Estado Brasileiro, tem militância organizada, etc, e a direita não tem, então, de que modo o ESP iria juntar “fundamentação científica” para depois promover o debate é uma coisa que me escapa.

   A esquerda estava em polvorosa em 2018 e 2019, pois o ESP era considerado a maior ameaça ao projeto deles porque "na cultura e na educação é onde estão as mentes e os corações", palavras do Zé Dirceu e ele não estava falando falsamente para enganar a direita.

   Outra fala do abundante Olavo:

   “Eu estudo o [combate cultural] há 50 anos, tento oferecer uma ajuda, uma orientação, e vocês passam por cima. Insistem no erro. Há mais de dois anos, falei que não fazia sentido o projeto. Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Depois o Olavo disse que o nome deveria ser “Escola sem Censura”. E depois afirmou que, caso não mudassem radicalmente de estratégia “Não só vou ficar contra, como irei denunciar vocês. Vocês estão querendo mudar o país pela sua incultura. Vocês não entendem nada do combate cultural porque não têm cultura. Vocês não têm o meu apoio. Apenas [tem o apoio] no intuito central e inicial da campanha, que é o de combater a manipulação de comportamento e o sistema hegemônico da escola. Mas os meios, não aprovo de maneira alguma”.

   “Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Acredito que o véio Olavo, nesta parte, estava falando do item 4 do Escola sem Partido (se é que o espiralado Olavo teve gosto pelo conhecimento em ler):

   “Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”.

   Vemos que esse item está falando de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, ou seja, ao falar de correntes filosóficas, correntes ideológicas, etc, o professor deverá apresentá-las da mesma maneira, assim como era antigamente. Por exemplo, ao dar o conteúdo sobre Marxismo – ou qualquer outra corrente - o professor dará a aula em cima desse tema sem manifestar sua opinião sobre política partidária, eleições, candidatos, etc. Caso quiser manifestar sua opinião sobre a pessoa de Karl Marx não vejo problema nenhum. Simples assim.

   O ESP já estava dando resultado positivo, pois as denúncias estavam aparecendo através de depoimentos, filmagens, gravações, etc, e, a partir daí, com o debate, surgiria a fundamentação científica.

   Lembro-me agora de um vídeo do próprio Olavo onde ele falou que teve aula durante uns três anos com o filósofo Stanislavs Ladusãns onde o Ladusãns começava expondo todas as correntes envolvidas no conteúdo até chegar ao final onde fazia um apanhado geral e, às vezes, manifestava sua própria opinião.

   Mas vamos agora, a trechos do livro “Filosofia e seu Inverso” do barrigudo Olavo de Carvalho.

   Página 21: “Se há um dado histórico do qual não se pode duvidar, é que a filosofia nasceu na Grécia e adquiriu sua forma clássica, de uma vez por todas, com Platão e Aristóteles (ambos sob a inspiração original de Sócrates). Você pode chegar a ser filósofo ignorando Sartre, Husserl, Nietsche, até mesmo Hegel, Leibniz ou Sto. Tomás de Aquino. Mas quem não tomou um banho de imersão nos ensinamentos dos dois pais fundadores permanecerá eternamente alheio ao espírito da filosofia”.

   Não somente pelo trecho acima, mas quem acompanha o proxeneta das palavras Olavo de Carvalho há algum tempo sabe que ele mesmo recomenda você ler de tudo, todas as correntes, pois isso é óbvio, assim se poderá absorver uma ampla gama de conhecimentos. Ainda que o curso do esclerosado Olavo não seja “ensino fundamental”, “ensino médio” ou “ensino superior” nos modelos existentes no Brasil, ainda assim essa base de ter várias correntes permanece, o que é natural.

   Página 145: “Foi então que, por intermédio de uma das filhas de Mário Ferreira, conheci o Pe. Stanislavs Ladusãns, s.j., um filósofo estoniano que o Papa João Paulo II, seu amigo de juventude, havia encarregado da missão impossível de reintroduzir um pouco de catolicismo numa universidade católica do Brasil”.

   Nas páginas 145, 146, 147 e 148 pode-se encontrar o proposto, mas deixo aqui um trecho da página 147 com o Pe. Stanislavs Ladusãns discorrendo:

   “- Vamos examinar cada uma dessas questões desde o ponto de vista das principais escolas filosóficas, confrontando umas com as outras, e depois vamos esboçar a solução pessoal que nos parece a mais apropriada para cada uma delas”.

   Ainda que se trate especificamente de ensino de Filosofia pode-se ver com clareza que a proposta do ESP não é exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária, mas é abordar todas questões como o Pe. Ladusãns fazia.

   É óbvio que em se tratando de ensino escolar (fundamental, médio e superior) os métodos e metodologias empregados são diferentes, porém, repito, a proposta do ESP não é exigir com igual referência a opinião contrária como o tonitruante Olavo alardeou pelos quatro cantos das salas – virtuais e presenciais – onde habitam seus alunos, o qual já fui também e ainda o leio e vejo alguns vídeos com suas exposições.

   E, mesmo que a proposta fosse exigir com igual referência a opinião contrária, rebato com o próprio Olavo chorão, onde podemos encontrar no livro "Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão" de Arthur Schopenhauer; Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, no comentário suplementar XVI: n. 151, na página 249, feito pelo comentarista Olavo de Carvalho:

   "Não nos esqueçamos de que Aristóteles começava seus tratados sempre com uma resenha das opiniões de seus antecessores sobre o assunto em questão, e depois, laboriosamente, meticulosamente, se punha a confrontá-los dialeticamente, com a humildade de quem, como dele disse Al-Biruni, 'fazia o melhor que podia, sem jamais se pretender um protegido de Deus que estivesse ao abrigo do erro'".

   O advogado Miguel Nagib, ao anunciar o fim da sua participação no movimento Escola sem Partido expôs suas razões e gravou entrevista em vídeo onde percebe-se claramente ali que um dos problemas também é o Judiciário, principalmente o STF e a Promotoria Pública que promovem legalmente a discussão político-partidária dentro das escolas, então a questão não é científica de modo algum.

   De qualquer maneira, caso o debate sobre o ESP tivesse se mantido, isso ocuparia, no mínimo, boa parte do tempo da esquerda.

   Meu caro Professor Olavo, o senhor está sofrendo de Paralaxe Cognitiva?

 

Referências

A Filosofia e seu Inverso e outros estudos, Olavo de Carvalho. Vide Editorial, julho de 2012.

Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, Arthur Schopenhauer. Introdução, Notas e Comentários: Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro, Topbooks, 1997.

http://escolasempartido.org/programa-escola-sem-partido/

https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2018/11/guru-de-bolsonaro-olavo-de-carvalho-reforca-critica-ao-escola-sem-partido-colocaram-a-carroca-na-frente-dos-bois-cjoub7l680g5p01rxuw58c1p0.html

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Paralaxe Cognitiva

   Debruçar-me-ei e labutarei sobre a Paralaxe Cognitiva. Este é um fenômeno estudado pelo Olavo de Carvalho. Ele define como “o deslocamento entre o eixo da experiência real do indivíduo e o eixo da construção teórica”.

   Olavo nos explica que a Paralaxe Cognitiva não tem muito a ver com hipocrisia ou a canalhice, mas pode levar à hipocrisia e à canalhice.

   Paralaxe: “deslocamento aparente de um objeto quando se muda o ponto de observação”.

   Cognitivo: “relativo ao conhecimento, à cognição”.

   Grosso modo, o “eixo da construção teórica” é o que a pessoa tem na cabeça, os conceitos, as definições, os significados, os sentidos, os referentes. É o que a pessoa entende a respeito das coisas do mundo. Na paralaxe cognitiva esse entendimento está deslocado da realidade das coisas.

   Tomarei como base também a frase do poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: “‘Nada é real na vida política de uma nação, que não estivesse antes presente em sua literatura”, sentença esta também citada pelo Olavo (Hugo von Hofmannsthal and the Austrian idea: selected essas and adresses, página 159). Mas vou parafraseá-la: “Nada está na cultura de uma nação, que não estivesse antes presente em sua literatura”.

   Porém, a minha abordagem será para investigar o que acontece entre a literatura até chegar na cultura de uma nação, até se popularizar, vamos dizer assim. E, como, de que maneira chega na população, o que acontece no meio, pois os autores tem um estilo literário (uma forma de escrever) diferente da maioria da população. E, como sabemos, apesar de que a forma da escrita e da fala da língua formal seja diferente da língua coloquial, muitas vezes a língua e a linguagem mudam, mas o conceito permanece.

   Em outros escritos, com base em autores consagrados, discorro sobre conceito, definição, signo, significado (com seus vários sentidos) e referente, então não me deterei nesta parte. E, já vimos, também, com Aristóteles e Arthur Schopenhauer, além de outros não menos importantes, o problema de se trocar conceitos por palavras. E, já vimos, também, com Olavo de Carvalho, de onde vem o “raciocínio por chavões” ou o “raciocínio metonímico” que, de certa forma, decorre da troca de conceitos por palavras e, no meu modo de raciocinar, resulta na Paralaxe Cognitiva.

   Porém, a Paralaxe Cognitiva da qual o Olavo fala, está lá em cima, ele aborda os autores conhecidos e/ou consagrados e a minha abordagem procura trazer aqui embaixo para nós, a população. Como o Olavo ainda está investigando o fenômeno da Paralaxe, também estou investigando, como não poderia deixar de ser diferente.

   Então, a minha abordagem é de baixo para cima e a do Olavo é cima para baixo, vamos dizer assim. Talvez, em algum momento, nos encontremos no meio do caminho.

   Eu parto do signo, significado (vários sentidos) e referente, eu parto da língua e da linguagem e, desta base, vou subindo. Porém, tem vários conceitos que o próprio Olavo expressa de maneira simples, ou seja, ele “pega” o conceito de outros autores e conceitos dele mesmo e traduz numa linguagem simples que todo mundo entende sem distorcer o conceito. Isto é muito importante, pois muitas vezes entendemos conceitualmente o que determinado autor quis expressar, mas não conseguimos traduzir em palavras, e, algumas vezes, conseguimos traduzir em palavras simples, mas distorcemos o conceito original. Às vezes não distorcemos completamente, alguma coisa permanece, mas no todo se perde boa parte do conceito original.

   Por exemplo: quando estudamos os Princípios da Lógica Formal (Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído) podemos entendê-los, mas na hora de explicar nos perdemos em palavras; e em Mário Ferreira dos Santos, no seu tratado Lógica e Dialética, encontramos tais conceitos explicados numa linguagem simples e fácil de entender sem que o conceito se distorça.

   Certos autores têm e/ou adquirem essa habilidade de “pegar” conceitos complicados e traduzi-los de uma forma fácil em uma linguagem simples e acessível sem distorcer o conceito. Óbvio é que hão certos conceitos que não são possíveis de explicar numa linguagem simples, como certos conceitos metafísicos. Aí entra o senso das proporções, o discernimento em saber quando é um e quando é outro, como já vimos também.

   Um bom exemplo – e até corriqueiro – é quando as pessoas dizem com relação ao Olavo: “Esse cara consegue dizer exatamente o que eu penso”. Isto significa que o Olavo, pelo seu conhecimento e estudo, adquiriu essa habilidade (e/ou uma boa parte dessa habilidade nasceu com ele), e ele tem essa facilidade de traduzir conceitos complicados para uma linguagem simples sem distorcer o conceito.

   Insisto neste ponto “traduzir conceitos complicados para uma linguagem simples sem distorcer o conceito” porque não é coisa fácil: requer estudo, raciocínio, “queimar a mufa”, aprimorar os neurônios e suas sinapses, etc.

   Vamos tomar como exemplo o seguinte texto de Kant:

 

“Há por fim um imperativo que, sem se basear como condição em qualquer outra intenção a atingir por um certo comportamento, ordena imediatamente este comportamento. Este imperativo é categóricoNão se relaciona com a matéria da acção e com o que dela deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom na acção reside na disposição (Gesinnung) (*), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade.

(*) A palavra prudência é tomada em sentido duplo: ou pode designar a prudência nas relações com o mundo, ou a prudência privada. A primeira é a destreza de uma pessoa no exercício de influência sobre outras para as utilizar para as suas intenções. A segunda é a sagacidade em reunir todas estas intenções para alcançar uma vantagem pessoal durável. A última é propriamente aquela sobre que reverte mesmo o valor da primeira, e quem é prudente no primeiro sentido mas não no segundo, desse se poderá antes dizer: é esperto e manhoso, mas em suma é imprudente. (Nota de Kant.)” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 52, tradução de Paulo Quintela.

 

   Não me deterei aqui na tradução utilizada, apesar de que a tradução de uma obra é coisa importantíssima, pois representa o entendimento final da obra  do autor para quem está lendo.

   Kant nos escreve ao final: “Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade”. Percebam que ele, através das palavras, transforma o imperativo categórico em imperativo da moralidade, mas nos diz que “pode-se chamar”, não nos afirma que o imperativo categórico é o imperativo da moralidade. Fazendo isso ele distorce os dois conceitos ao mesmo tempo. Caso ele tivesse escrito: “O imperativo categórico é o imperativo da moralidade” o nosso entendimento seria diferente, mas, ainda assim, ele teria distorcido os dois conceitos. Então, através das palavras posso conduzir o leitor a uma conclusão falsa, o que é óbvio, pois as palavras são importantes. Já vimos também a importância da linguagem com tudo o que decorre dela.

   Mas vamos a um exemplo mais simples: “Bebi uma garrafa de cachaça”. Quando escrevo ou falo isso não estou dizendo que peguei o vasilhame de vidro ou plástico, moí, misturei com o líquido e bebi. Estou dizendo que bebi a cachaça que estava dentro da garrafa. O conceito da frase “Bebi uma garrafa de cachaça” como um todo, de certo modo, permanece o mesmo, todo mundo entenderá. A frase em questão é uma metonímia (figura de linguagem), cuja explicação já vimos também.

   Então, de certo modo, Paralaxe Cognitiva na minha abordagem, tem muito a ver com signos, significados (e vários sentidos) e o referente, conceitos estes que o Olavo também nos traz muito. Estes conceitos, definições, significados, etc, referem-se, basicamente, à linguística.

   Para expressarmos um conceito, expressamo-lo através da palavra falada e da palavra escrita. Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc. Linguagem engloba a língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que fala a mesma língua.

   Percebam que, para o leitor entender do quê estou falando, há certos conceitos, definições, significados, etc, que são necessários para o entendimento deste texto.

   Acredito eu que a Paralaxe Cognitiva começa, basicamente, neste ponto: nos conceitos básicos e em saber expressá-los através da língua e da linguagem. Isto nos remete à educação básica e ao ensino básico (lembrando que educação e ensino são coisas diferentes). Já vimos também o que é coisa tanto no seu significado básico do dicionário como no seu sentido filosófico.

   A partir deste ponto podemos perceber (eu e o leitor) que se faz necessário certos conceitos básicos para o entendimento entre nós, seres humanos, senão terminaremos por falar a mesma língua, mas não a mesma linguagem e não nos entenderemos.

   O referente já vimos o que é, mas vamos retornar, porém, antes se faz necessário explicar a forma do raciocínio, como o Olavo diz: “vamos num raciocínio em espiral, uma cadeia de espirais, onde vamos avançando no raciocínio e muitas vezes voltamos a um conceito básico para avançar no raciocínio, formando uma cadeia de espirais”. Ele não diz exatamente com essas palavras, mas o entendimento é esse, dada ser uma coisa simples de entender.

   Então, o referente é o que a coisa é na realidade. Já vimos tudo isso. E quando não conseguimos expressar o conceito que temos na cabeça de acordo com a realidade na qual vivemos, quando não conseguimos expressar o referente ou captar o referente, então temos Paralaxe Cognitiva, ou seja, o que temos dentro da nossa cabeça não corresponde à experiência real. E a base é signo, significado (vários sentidos) e o referente.

   Um exemplo simples, corriqueiro até, mas que aconteceu na realidade aqui no Brasil. Na CPI da Covid feita pelo Senado Federal teve um senador que não sabia o significado do signo (palavra, no caso) “compulsoriedade”. Na cabeça dele “compulsoriedade” significava “aleatoriedade”. Ele estava falando da “vacinação compulsória”, porém, na cabeça dele essa expressão significava “se vacina quem quiser”. O estrago causado por esse tipo de coisa é imenso, pois este senador defenderá a compulsoriedade da vacina e aprovará o projeto de lei acreditando no contrário: “se vacina quem quiser”. O referente está deslocado do eixo da construção teórica dele, a realidade está deslocada do eixo da construção teórica dele.

   Teve outro senador que escreveu na rede social Tweeter: “Não tenho substantivos para qualificar este governo”. Não tem mesmo, pois um substantivo não qualifica nada, quem faz isso é o adjetivo. De novo, a construção teórica dele está deslocada da experiência real porque ele não sabe o que é substantivo nem o que é adjetivo.

   Imaginem isso com várias, inúmeras palavras e expressões que as pessoas tem na cabeça e não sabem sequer o significado. E se não sabem o significado como saberão identificar o referente?

   Não saberão.

   Claro que há mais coisas nessa investigação. Alguém poderá pensar agora: “Ah, mas só porque ele não sabe o significado de uma palavra (signo), não significa que tenha Paralaxe Cognitiva”. Porém, não é disto que se trata, além disso, como já vimos, perceberam o estrago causado por não saber o significado de uma simples palavra como “compulsório”?

   E como eu já disse, imaginem isso com vários signos (palavras, no caso), significados, sentidos, etc, que compõem a mentalidade da pessoa.

   Neste ponto, estamos tratando aqui da “aversão ao conhecimento”, conceito bastante utilizado pelo Olavo. Acredito que a “aversão ao conhecimento” do Brasileiro começa nos conceitos básicos, começa em sequer querer saber o significado das palavras; e assim o Brasileiro vai compondo a sua mentalidade tentando adivinhar o referente das coisas, distanciando-se da realidade.

   Já vimos e demonstramos também que a língua em si é uma convenção, mas a linguagem não é estritamente uma convenção, a linguagem tem nuances que vem, basicamente, dos sentidos de cada significado. E de acordo com o sentido no qual empregamos uma palavra, o entendimento da frase muda, o referente muda um pouco. Sentidos são significados um pouco mais específicos. Todo significado é genérico.

   Por exemplo: “Aquela pessoa tem inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que aquela pessoa é inteligente, enquanto que, na outra frase eu estou afirmando que aquela pessoa é inteligente. Simples assim.

   Para não me estender, pois este é somente um prolegômeno, vou encerrando por aqui para não ficar muito extenso, mas esta investigação continua.

segunda-feira, 15 de novembro de 2021

Novafala

    “Tem uma palavra em Novafala”, disse Syme, “que não sei se você conhece. Patofala, grasnar feito um pato. É uma dessas palavras interessantes com dois sentidos contraditórios. Quando você aplica a um adversário, é ofensa; aplicada a alguém com quem você concorda, é elogio” (Orwell, George, 1984, página 71).

   Não sei se é o meu lugar de fala grasnar coisas sobre o livro 1984, mas pretendo ser politicamente correto para que o Supremo Ministério Federal da Verdade não me vaporize ou me prenda por crimideia... ou crime de opinião... ou crime de pensamento, dá no mesmo.

   Mas vamos adiante, página 68-69... vamos adiante no raciocínio, não na sequência das páginas, pois o duplipensar exige que se vá indo e voltando: “Você não vê que a verdadeira finalidade da Novafala é estreitar o âmbito do pensamento? No fim teremos tornado o pensamento-crime literalmente impossível, já que não haverá palavras para expressá-lo. Todo conceito de que pudermos necessitar será expresso por apenas uma palavra, com significado rigidamente definido, e todos os seus significados subsidiários serão eliminados e esquecidos”.

   Percebam, surgindo das sombras, no parágrafo anterior, signo, significado (com seus vários sentidos) e o referente. A redução do vocabulário a palavras, termos, chavões e expressões imbecis; a troca de conceitos por palavras, como Arthur Schopenhauer, em 1813, aproximadamente 135 anos antes da obra 1984, já explicitou com propriedade no livro “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” o problema de se trocar conceitos por palavras.

   Aliás, a burrice e a malícia parecem-me que nasceram com a humanidade (vide Adão e Eva, por exemplo, que caíram no engodo das palavras da serpente), mas não precisamos retornar tanto assim na história. Vamos retornar para meados de 335 A.C., na época de Aristóteles (também não precisamos retornar aos pré-socráticos).

   Aristóteles teve vários embates com os chamados sofistas.

   “Assim como há pessoas que preferem parecer sábios a sê-lo, em vez de o serem mesmo sem parecer, dado que a Sofística é uma sabedoria aparente e não real, e o sofista é o que negocia uma sabedoria aparente e não real, assim é evidente que se lhes torna mais necessário parecer que fazem obra de sabedoria, do que fazer obra de sabedoria sem parecer” (Organon, Elencos Sofísticos, página 11, tradução de Pinharanda Gomes).

   Aristóteles também escreveu, em relação aos sofistas – numa tradução livre: “eles nem lêem o que escrevo, mas estão sempre contestando”.

   Então podemos ver que esse problema vem de longe; e antes que o leitor pense: “Ha, se vem de longe então sempre foi assim, a humanidade é burra e maligna em si”, advirto que isso é duplipensar (defender duas posições antagônicas, contraditórias, ao mesmo  tempo).

   Em relação ao parágrafo anterior onde Aristóteles fala de “parecer sábio a sê-lo”, podemos distorcer isso com o chavão popular: “Não basta ser, tem que parecer que é”. Chavão idiota este tão utilizado por positivistas e afins.

   Vamos reduzindo o vocabulário a chavões idiotas (aliás, todo chavão em si é idiota) e vamos emburrecendo, pois o ser humano se comunica majoritariamente através de palavras (palavra falada e palavra escrita), a gente lê e escreve e a gente fala e escuta. Nos comunicamos também por músicas, filmes, obras de arte, mímica, etc, tudo isso, mas nos comunicamos majoritariamente através das palavras. Orwell observou isso muito bem: “Que coisa bonita, a destruição de palavras! Claro que a grande concentração de palavras inúteis está nos verbos e adjetivos, mas há centenas de substantivos que também podem ser descartados” (página 67), porém, ele estava se referindo a novafala.

   “Menos e menos palavras a cada ano que passa, e a consciência com um alcance cada vez menor” (página 69). Porém, não é somente a redução do vocabulário, é a redução somada à mudança constante das palavras. Por exemplo, “disforia de gênero” passou a ser “ideologia de gênero” e depois “identidade de gênero”; “dívida histórica” saiu para dar lugar ao “racismo estrutural”, mas você pode continuar usando um ou outro chavão; seja lá o que forem essas coisas e se é que existe o referente delas, seja lá o que essas expressões imbecis representam na realidade, ninguém sabe e quem tentar explicar se perderá numa confusão mental.

   Pensamento e/ou raciocínio, linguagem e comportamento. Quando você altera o significado e o sentido das palavras você consegue direcionar o pensamento e o raciocínio e, por consequência, o comportamento das pessoas. A partir daí as pessoas passam a discutir por três meses até onde entra a língua - uma na garganta da outra - num beijo lésbico de uma campanha do governo, as pessoas passam a repetir “sou liberal na economia e conservador nos costumes” como um mantra, sou didireita, sou diesquerda, etc. E temos a materialização do duplipensar. Duas posições falsamente antagônicas na sociedade porque as pessoas sequer raciocinam sobre o que estão dizendo.

   Reduzir o vocabulário das pessoas e mudar constantemente a língua resulta, invariavelmente e inexoravelmente, em emburrecimento.

   Basta a ver a uniformidade da grande propaganda – a grande propaganda é aquilo que chamam de grande mídia – eu chamo de grande propaganda porque de jornalismo não tem mais nada. Tornaram-se repetidores e propagadores da “Novafala”. A coisa vem pronta de cima de poucos donos que cooptam um ou dois diretores e/ou editores, sendo que o repórter e o apresentador já nem raciocinam mais, executam bovinamente, tipo o Winston e o O’brien reescrevendo a história a mando do partido, cada qual dentro do seu macacão azul e dentro do seu cubículo mental.

   Outro exemplo: pandemia confundiu-se com vacina. Tal onda de pandemia significa tal dose de vacina e, ao mesmo tempo, pode-se utilizar tanto uma expressão quanto a outra.

   Não é à toa que Orwell escreveu: “Winston não conseguia se lembrar sequer a data em que o próprio Partido passara a existir. Não lhe parece que tivesse ouvido a palavra Socing antes de 1960, mas quem sabe na expressão utilizada pela Velhafala – ou seja, “Socialismo inglês” – ela um dia tivesse sido de uso corrente. Tudo se desmanchava na névoa. Às vezes, de fato, era possível apontar uma mentira específica. Não era verdade, por exemplo, que, como afirmavam os livros de história do Partido, o Partido tivesse inventado o avião. Winston se lembrava de que na sua mais tenra infância já existiam aviões. Só que era impossível provar o que quer que fosse. Nunca havia prova de nada” (página 49).

   Socialismo inglês podemos entender por Socialismo Fabiano, aquele socialismo que abandonou a tomada violenta do poder – porém, às vezes se utiliza de alguns para isso, como bois de piranha. É, em suma, o único socialismo, aquele que não tem pressa, vamos aos poucos, comendo pelas beiradas, vamos paulatinamente cerceando as pessoas, vamos esquentando a água da panela aos poucos e o sapo morre sem nem perceber. Às vezes usamos uns malucos revolucionários para agitar as coisas (e não importa se o maluco é didireita, diesquerda, dicentro ou diPQP), o que importa é agitar para desviar a atenção e ainda ganhamos dinheiro, vivemos disso.

   Mas eu quero socialismo para os outros; não quero essa merda para mim e para minha família. Então através da grande propaganda eu vou formando o senso comum, o imaginário popular, o fabulário popular, e vou socando na cabeça das pessoas inúmeras expressões idiotas, chavões, vamos bombardeando de informações erradas, desinformando, em suma, emburrecendo todo mundo, principalmente nós mesmos até que somente exista uma única corrente de pensamento vinda do “Partido”. Mas o “Partido” é capitaneado por pessoas e o ciclo sempre se repete, somente vão mudando os rostos no poder, às vezes um mata o outro sem querer (mas faz parte do "processo"), porém, a mentalidade continua a mesma. O tal sistema permanece o mesmo.

   No fim, tudo se resume numa questão de inteligência e moral. Pessoas burras, inseridas nesse tipo de burrice que leva à canalhice, não tem moral. Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa.

sexta-feira, 5 de novembro de 2021

O tal do Imperativo de Kant

   O Anuel (corruptela de Immanuel, o Kant), em 1785 defecou o termo Imperativo em sua obra - obra aqui no sentido de “obreiro”, aquele que vai aos pés -, Fundamentação da Metafísica dos Costumes.

   Vou direto ao ponto: 

“A representação de um princípio objectivo, enquanto obrigante para uma vontade, chama-se um mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se Imperativo.” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 48, tradução de Paulo Quintela.

 

“A representação de um princípio objetivo, na medida em que coage a vontade, denomina-se mandamento (da razão), e a fórmula do mandamento chama-se IMPERATIVO.”  Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 17, tradução de Antônio Pinto de Carvalho. 

   Depois na tradução de Paulo Quintela (seguirei com essa), página 50:

“Ora, todos os imperativos ordenam ou hipotética ou categoricamente. Os hipotéticos representam a necessidade prática de uma acção possível como meio de alcançar qualquer outra coisa que se quer (ou que é possível que se queira). O imperativo categórico seria aquele que nos representasse uma acção como objectivamente necessária por si mesma, sem relação com qualquer outra finalidade.

Como toda a lei prática representa uma acção possível como boa e por isso como necessária para um sujeito praticamente determinável pela razão, todos os imperativos são fórmulas da determinação da acção que é necessária segundo o princípio de uma vontade boa de qualquer maneira. No caso de a acção ser apenas boa como meio para qualquer outra coisa, o imperativo é hipotético; se a acção é representada como boa em si, por conseguinte como necessária numa vontade em si conforme à razão como princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico.” 

   Até aí tudo bem. O Anuel (parece nome de anjo, caído) está usando seu próprio Imperativo Categórico no seu estilo de escrita no qual afirma coisas, sentenças, palavras, expressões, etc, das quais o leitor conclui: “É assim porque é assim e não precisamos explicar, provar ou sequer demonstrar”. Esta é a base do Imperativo Categórico.

   Vou afirmando coisas sem precisar dizer o porquê delas. E se alguém perguntar eu respondo que é um “conhecimento a priori” e demonstro que estou com a razão sem precisar demonstrar nada. E assim não levo em consideração a pergunta básica da Filosofia: Quid. O quê. O cerne da questão, o ponto básico, do quê estamos falando, qual é o assunto, qual o objeto de assunto. 

   Vamos adiante, página 52: 

“Há por fim um imperativo que, sem se basear como condição em qualquer outra intenção a atingir por um certo comportamento, ordena imediatamente este comportamento. Este imperativo é categóricoNão se relaciona com a matéria da acção e com o que dela deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom na acção reside na disposição (Gesinnung) (*), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade.

(*) A palavra prudência é tomada em sentido duplo: ou pode designar a prudência nas relações com o mundo, ou a prudência privada. A primeira é a destreza de uma pessoa no exercício de influência sobre outras para as utilizar para as suas intenções. A segunda é a sagacidade em reunir todas estas intenções para alcançar uma vantagem pessoal durável. A última é propriamente aquela sobre que reverte mesmo o valor da primeira, e quem é prudente no primeiro sentido mas não no segundo, desse se poderá antes dizer: é esperto e manhoso, mas em suma é imprudente. (Nota de Kant.)”  

   Veja só que beleza. Mandamento agora chama-se Imperativo que agora se desdobra em Imperativo Categórico e Imperativo Hipotético e o Imperativo Categórico agora pode-se chamar Imperativo da Moralidade. Vou trocando conceitos por palavras e vou desdobrando tudo numa sequência sem fim.

   O imperativo categórico é o imperativo da moralidade. Eu mando os outros fazerem as coisas sem me preocupar com a merda que dará e depois que der merda eu digo que a culpa e a responsabilidade são suas, pois você que não entendeu o que eu disse. E isso é chamado agora de imperativo categórico (moralidade). E de qual “moralidade” o charlatão maligno está falando?

    “Ora, caso queira saber, leia todo o calhamaço das charlatanices malignas que eu escrevi e ainda assim não compreenderás, pois tu és burro! Eu sou o gênio! O conteúdo não importa mais, o que importa é que eu escrevo com palavras bonitas, elegantes, afetadas até, muitas vezes nauseabundas, mas você não nota. Você só presta atenção na boniteza das minhas palavras e nas afetações que elas te causam.

   E quando começares a entender, eu desdobrarei o conceito, o significado e a definição de “moralidade” em um turbilhão de novas classificações saídas do meu conhecimento a priori, ou seja, vou inventado coisas da minha cabeça, mas transcrevo-as para o papel usando palavras bonitas (até lindas), mas vazias de conteúdo. Troco conceitos por palavras e assim vou emburrecendo a patuleia.

   Eu invento uma coisa... vamos chamá-la de Imperativo, mas já existe o conceito e a palavra Mandamento! Não interessa.

   Agora mandamento chama-se imperativo e afirmo isso categoricamente. Daí eu desdobro em imperativo hipotético e imperativo categórico... e a trama se complica. Neste momento nem eu mesmo sei do quê estou falando, mas isso enseja mais desdobramentos. Daí eu digo que o imperativo categórico ordena um comportamento (não interessa qual) e ele não se relaciona com a matéria da ação e com o que dela deve resultar (resultado), mas com a forma e o princípio de que ela mesma (a ação) deriva - mas isso ficou muito feio, não dá para se entender – então acrescento: o essencialmente bom na ação reside na disposição (Gesinnung), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade.

   Enfim, o que importa é o resultado, não interessa o quê eu farei para atingi-lo; e desdobro agora o tal imperativo categórico e passo a chamá-lo de moralidade. Mas... pera lá... isso também ficou feio, então colocarei ali no meio que “o essencialmente bom na ação reside na prudência”, escrevo a palavra bom e seguro todos pela emoção e tchan tchan tchan tchannn... desdobro o conceito prudência em vários outros conceitos, significados, definições, etc e estendo ao infinito emburrecendo a patuléia até chegarmos a um estado mental que beira a insanidade e malignidade, mas de um modo estranho, continuo sendo um gênio da filosofia”.

    Grosso modo, o Anuel trocou a palavra Mandamento por imperativo e desdobrou o conceito em vários outros conceitos ferindo de morte a Lógica.

   Esse charlatão maligno fez uma distorção brutal até do próprio Aristóteles, pois há termos verbais equívocos (homônimos) os quais você pode desdobrar, mas não existem conceitos equívocos. A equivocidade (neste sentido, equivalência) está nos significados e quando você vai trocando palavras por conceitos, você vai desdobrando o conceito em outros conceitos sem se dar conta que neste ponto do seu raciocínio você mesmo já não sabe mais do quê está falando.

   Eu posso desdobrar um conceito em vários significados com palavras diferentes (sem alterar o conceito), mas posso fazer isso somente até um certo limite; e este limite é determinado pela coisa em si (o referente). E o charlatão diz que “se a acção é representada como boa em si, por conseguinte como necessária numa vontade em si conforme à razão como princípio dessa vontade, então o imperativo é categórico”.

   Percebam: redundância, tautologia, masturbação mental, ele vai indo e voltando. Depois ele desdobra “razão” e “vontade” em outros conceitos alterando o que a coisa é, e assim vai indo, junto com a humanidade.

   Charlatães malignos como Anuel - e existem vários, todos famosos com milhões de citações na “Academia” – trocam conceitos por palavras, desdobram a substância. A substância é o que permanece, e não o que se perpetua numa imutabilidade, pois Aristóteles admite uma mutação substancial. Porém, uma substância pode ser completa ou incompleta. A primeira é simples (conceito), a segunda é composta (significado e vários sentidos) e somente se pode desdobrar em palavras a segunda, nunca a primeira, coisa que o charlatão do Kant faz muito. Não se pode desdobrar um conceito em outro conceito, pois vai contra os Princípios da Lógica (Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído). No momento em que eu troco um conceito por outro - conceitos são expressos através de palavras (signos) -, neste momento estou querendo alterar o que a coisa é em si, ou seja, estou brigando com a realidade, estou ficando burro e maluco e estou dando um significado falso para o referente.

   Como bem disse o Mário Ferreira dos Santos: “Kant desconhecia a obra aristotélica, e fundou-se nas afirmativas de Wolf”. E eu complemento: ainda assim, o charlatão burro maligno não entendeu muita coisa.

   No Brasil temos, por exemplo, Paulo Freire, que repete à ufa em praticamente toda sua obra: "educação é política" ou "educação é um ato político". E usa o mesmo estilo de escrita: "Não é demais repetir aqui essa afirmação, ainda recusada por muita gente, apesar de sua obviedade, a educação é um ato político" (Professora, sim, Tia, não, página 83, Paz e Terra, 2013). Percebam o imperativo categórico, a troca de uma palavra por um significado falso e a troca de conceitos. Dizer que educação é um ato político é a mesma coisa que dizer que céu é uma poça d'água. Fere os Princípios da Lógica. O que resultou disso foi que as pessoas começaram a praticar "política" dentro da sala de aula, sendo que o que se entende por política no Brasil é você defender seu candidato e falar mal do outro. É o que estão fazendo dentro das salas de aula. Não sabem o que é Educação nem Política, assim como Paulo Freire também não sabia ou, caso sabia, então também é um charlatão maligno.

   O Imperativo Categórico de Kant posso resumir como sendo um estilo de escrita e de fala no qual você afirma uma coisa trocando conceitos por palavras, fazendo sofismas, jogos de palavras ao mesmo tempo em que afirma categoricamente: “isto é aquilo porque é aqueloutro” (banana é pepino porque é abacaxi).

   De certo modo, o tal materialismo dialético de Marx veio, basicamente, de Hegel e Kant (além de outros) que resultou no mesmo: um estilo de escrita e fala baseado em mentiras, sofismas, jogos de palavras, troca de conceitos por palavras, coisas ilógicas em si porque ferem de morte os Princípios Básicos da Lógica Formal que são naturais. É, grosso modo, a Dialética Erística que, de certo modo, tem um apelo emocional porque nos permite vencer um debate sem precisar ter razão, porém, sequer vencemos o debate, é uma ilusão, somente perdemos a alma pela corrupção da inteligência.

   A definição de uma coisa e a prova de sua existência são duas coisas diferentes e separadas, isto é auto-evidente, porém, Kant passou a chamar a auto-evidência das coisas de a priori e desdobrou o tal a priori, bem como Kant passou a chamar a razão de entendimento. E o que é Razão? Ora, é entendimento. E o que é entendimento? Ora, é razão. E assim vou nesse ciclo imbecil, mas ali no meio coloco umas palavras bonitas, crio uma salada mental, tranço um emaranhado de termos e expressões no qual prendo o leitor numa teia para sugar-lhe a seiva da inteligência.

   Sobre a Crítica da Razão Pura, outra “obra” do Kant, não há o que discorrer, pois Arthur Schopenhauer em “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” já elucidou.

   Caso o leitor queira, leia os §§ 20 a 23 do quarto capítulo... ou leia o livro todo do Schopenhauer, caso quiser, ou nem leia, muitos não se interessam mesmo. Por um lado é até bom isso, pois sobra mais inteligência para mim e para quem se interessa.

quinta-feira, 4 de novembro de 2021

Crítica

    A palavra, o signo, crítica tem como significado “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; juízo crítico” (do dicionário Houaiss).

   Aristóteles começa as Categorias, no Organon, discorrendo, entre outras coisas, sobre “os nomes das coisas” que podemos adotar aqui como sendo os signos, grosso modo, as palavras não combinadas.

   Vejamos estes trechos retirados das Categorias, tradução de Pinharanda Gomes:


   “As afirmações e as negações só se produzem quando eles [os nomes, as palavras] são combinados entre si.  Toda a asserção, afirmativa ou negativa, deve ser verdadeira ou falsa, enquanto as palavras não combinadas, por exemplo, homem, corre, vence, não podem ser, nem verdadeiras, nem falsas.”

   “Casos de combinação de palavras são, por exemplo, o homem corre, o homem vence; casos de palavras sem combinação são, por exemplo, homem, boi, corre, vence.


    Então está bem claro, há aproximadamente 2.340 anos, que de uma palavra não combinada (uma palavra sozinha) não podemos captar uma acepção verdadeira ou falsa.

   Crítica é uma palavra não combinada e quando usada isoladamente não podemos predicar, tirar um atributo, uma característica verdadeira ou falsa; e assim o é com todas as palavras.

   Uma crítica pode ser positiva ou negativa posto que crítica é, no seu significado, “capacidade e habilidade de julgar”. Uma crítica positiva podemos chamar de elogio. Uma crítica negativa podemos chamar de “apontar um erro e oferecer uma solução”, entre outras coisas.

   No Brasil, a palavra, o signo Crítica já adotou o significado e o sentido de “falar mal”. Ora, “falar mal” não podemos, neste sentido, sequer considerar como um julgamento.

   Ainda que, na derivação, por extensão de sentido, podemos adotar circunstancialmente crítica como opinião desfavorável; censura, condenação, porém, é somente um sentido no qual estamos empregando a palavra crítica.

   No seu significado genérico, básico, crítica é tão somente “arte, capacidade e habilidade de julgar, de criticar; juízo crítico”.

   O problema começa quando um sentido de um signo é adotado como sendo único, como sendo o significado genérico básico; e isto afeta a mentalidade das pessoas pois elas passam a raciocinar somente com este sentido esquecem (ou não sabem) que tem o significado e vários sentidos os quais podemos empregar uma palavra e cada qual destes vários sentidos tem seu próprio referente de acordo com o contexto da frase (palavras combinadas).

   Soma-se a isso várias outras palavras (signos) e expressões (frases) os quais as pessoas desconhecem completamente o significado... e temos emburrecimento. E pior, não querem mais saber o significado básico das coisas.

   Lembrando que “básico” é o que faz parte da base, porém, tem mais coisas em cima. A estrutura do processo de conhecimento: básico, intermediário e avançado. Parte-se da base para se chegar a um entendimento maior e, neste sentido, a base é “signo, significado (com seus vários sentidos) e referente”.

   Combinarei agora a palavra crítica com a palavra pensamento: Pensamento Crítico. É uma expressão da qual podemos tirar uma afirmação ou uma negação, mas a base são os signos que compõem a expressão. Então pergunto: o que é pensamento? E o que é crítica ou, no caso da expressão, o que é crítico?

   Ainda que devemos raciocinar com o conjunto da expressão (palavras combinadas), devemos saber o significado de cada palavra que a compõe para então, aí sim, podermos tirar o entendimento (semântica) da expressão como um todo.

   Pensamento: “ato ou efeito de pensar”. Crítico: “que faz a análise de; analítico”.

   Então Pensamento Crítico é, basicamente, fazer a análise do ato ou efeito de pensar ou, invertendo, é pensar analiticamente, é o ato ou efeito de se pensar fazendo análises.

   Óbvio que podemos tirar outros sentidos da expressão Pensamento Crítico, porém, quando não se sabe sequer o básico raciocinaremos de forma completamente diferente uns em relação aos outros, teremos mentalidades diferentes e aí começam as discussões, brigas de egos, etc. E ainda nem falei do conhecimento relativo a cada assunto e objetos do assunto que estão presentes numa simples conversa e nem vou discorrer sobre isso neste texto, pois tomaria várias laudas.

   Quando uma simples expressão como “Pensamento Crítico” é esvaziada de significado - é esvaziada de tudo -, temos palavras ocas, chavões idiotas jogados no ar para os imbecis repetirem como papagaios. E, a partir daí, pela quantidade excessiva de expressões esvaziadas de significado as pessoas passam a nem raciocinar mais, simplesmente repetem palavras e expressões.

   Quando uma simples expressão como “Pensamento Crítico” vira, na mente das pessoas, “falar mal”, temos emburrecimento. E tem cursos, palestras, seminários sobre “Pensamento Crítico” os quais são palavras ocas, vazias, trocam conceitos por palavras. A partir daí, Pensamento Crítico é aquilo que eu quiser que seja desde que ninguém me critique, mas eu posso "criticar" tudo e tudo vira uma “pasta mental”.

   Repetindo, imaginem isso com várias, inúmeras expressões, frases que são transformadas em chavões simplesmente porque não se sabe mais o significado dos signos e as pessoas não tem mais sequer o desejo, a vontade de saber, aprender, compreender, entender, as pessoas adquirem aversão ao conhecimento até nas coisas mais simples porque acham que sabem tudo e ao mesmo tempo repetem palavras vazias para demonstrar uma afetação, um modo artificial de ser, uma atitude fingida, falsa.

terça-feira, 5 de outubro de 2021

Trocar Conceitos por Palavras

       Tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos ou raciocínios, mesmo quando falamos ou escrevemos mentiras. Pelo quê uma pessoa fala ou escreve podemos saber se esta pessoa é burra ou não.

             Começarei definindo, para o nosso entendimento (meu e do leitor), o signo “Conceito”. Do dicionário: “faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; mente, espírito, pensamento.” Este é o significado do signo Conceito. E, como já vimos, todo significado é genérico, mas, ao mesmo tempo, todo signo tem seu significado (que é genérico) e seus sentidos, ou seja, uma palavra (no caso, um signo) tem o seu significado e tem seus vários sentidos os quais podemos empregar essa palavra (signo).

Grosso modo, é o que está no dicionário. O significado é um signo explicado por outros signos, ou seja, é dizer o que é uma palavra através de outras palavras. Não entrarei de novo no “nome das coisas” de Aristóteles que, neste sentido, são os signos. E lembrando, um signo é algo que simboliza alguma coisa; toda palavra é um signo, mas nem todo signo é uma palavra. Uma imagem também é um signo, um cheiro é um signo, um gosto, etc; pois representa, simboliza uma coisa ou várias coisas ao mesmo tempo.

Então, Conceito é aquela imagem mental abstrata, é o que está dentro da nossa cabeça. Repito, esta definição de conceito é para o entendimento deste texto, sabemos que existem outros significados e/ou definições do signo Conceito. Não estou aqui determinando que esta definição de Conceito seja absoluta, é somente para o entendimento deste texto; e também não estou inventando nada, esta definição aqui presente tem por base o dicionário e definições de outros autores.

Lembrando também a diferença entre significado, sentidos e definição. Significado já vimos. Sentidos de um significado também já vimos, mas nunca é demais repetir: sentidos são significados um pouco mais específicos. Por exemplo: “Aquela pessoa tem inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que aquela pessoa é inteligente. Simples assim. Os vários sentidos também podemos chamar de significante.

A estrutura das línguas comprova isso e, no caso, da Língua Portuguesa é o que encontramos em qualquer dicionário. Temos sempre o primeiro significado mais próximo do signo (às vezes até numerado, 1, 2, 3, etc), o primeiro é o significado genérico, os outros são os sentidos nos quais podemos empregar o signo. Não me estenderei nesta parte, pois já foi dito isso, mas posso acrescentar que de acordo com o sentido da palavra (signo) empregado na frase o referente (o que a coisa é) muda um pouco, mas não foge do significado genérico como vimos anteriormente no exemplo do signo "inteligência".

Definição é você delimitar a coisa, é você ser mais específico ao dizer o que uma coisa é. Coisa é “tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea.” Por exemplo: um lápis é uma coisa corpórea, liberdade é uma coisa incorpórea.

Lápis: um objeto composto por um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel. Este é o significado do signo “lápis” e é genérico porque significa todos os lápis do mundo que tem um bastão de grafite e são envoltos por uma camada de madeira. Caso eu tomar um lápis em específico, por exemplo, um lápis com um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel e é pintado na cor verde, tem o formato sextavado e tem um tamanho de 20 centímetros, estarei dando a “definição” deste lápis em específico, estarei delimitando-o (estarei dizendo o que é esta coisa chamada lápis especificamente), pois tem outros lápis que tem um formato cilíndrico, são na cor preta, etc.

E há o conceito do signo “lápis”, aquela imagem mental abstrata que se forma na sua mente ao perceber a coisa através dos cinco sentidos básicos: tato, olfato, paladar, visão e audição.

No momento em que você expressa um conceito em palavras (signos) você está ou significando a coisa (com seus vários sentidos) ou definindo-a ou somente falando (ou escrevendo) sobre ela. Percebam, quando eu escrevi “através dos cinco sentidos básicos” e quando eu escrevi “com seus vários sentidos” empreguei o signo “sentidos” em duas formas (sentidos) diferentes e, a partir daí, o entendimento das duas expressões tornam-se diferentes. Na primeira expressão estou falando dos sentidos básicos do ser humano e na segunda expressão estou falando dos sentidos que o significado de um signo pode adotar de acordo com a circunstância. Simples assim e bastante óbvio.

Muitas vezes não sabemos expressar um conceito em palavras, não sabemos dizer em palavras o que é tal coisa porque não sabemos o significado e seus vários sentidos e, a partir daí, não conseguimos saber o referente da coisa. Signo, significado (e seus vários sentidos) e o referente. O referente é o que a coisa é em si na realidade.

Muitas vezes é trabalhoso (mas não difícil) significar e/ou definir um conceito em palavras. Existem conceitos objetivos e conceitos subjetivos. Conceitos objetivos, basicamente, partem dos objetos corpóreos, objetos que existem fisicamente no mundo. E conceitos subjetivos, basicamente, partem de objetos incorpóreos que não existem fisicamente, como no exemplo anterior: lápis e liberdade. Não existe um objeto físico chamado liberdade (qual é o tamanho da liberdade, qual é a cor), porém, sabemos o que é liberdade através do seu significado e da sua definição; o significado e a definição vêm do conceito através da observação da realidade.

Então, resumindo, “conceito” é aquela imagem mental abstrata que está na nossa mente que vem da observação da realidade e quando externamos essa imagem em palavras torna-se ou um significado ou uma definição ou estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dessa coisa sem significa-la ou defini-la, grosso modo, estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dela sem dizer o que é esta coisa.

Não entrarei aqui, de novo, nas partes que compõem o todo (ou nos particulares e gerais de Aristóteles), mas darei uma breve explanação com relação ao objeto do assunto: Conceito.

Como vimos, um conceito é uma imagem mental abstrata e traduzimos os conceitos em palavras, pois é dessa forma que o ser humano se comunica basicamente, através da palavra falada e da palavra escrita.

Um signo (que simboliza uma coisa) é um geral composto de vários particulares (ou um todo composto de várias partes). Por exemplo: Inteligência. Dentro do conceito Inteligência (expresso através do signo gramatical Inteligência) podemos encontrar várias partes através da observação da realidade. A saber: conhecimento, raciocínio, percepção, etc. São partes que compõem o todo chamado de Inteligência. Podemos decompor qualquer coisa em suas partes através da observação da realidade. Isso é, de certo modo, natural, faz parte do ser humano, nascemos assim, é assim que entendemos e compreendemos as coisas.

O processo às vezes se dá partindo dos particulares (ou de um particular em específico) e vamos para o todo; e às vezes partimos do todo e vamos decompondo-o em partes, indo e voltando das partes para o todo e vice-versa. Por exemplo, ao consultar o dicionário em busca do significado de um signo (uma palavra neste caso) estamos partindo de uma parte que compõe o todo porque o significado é genérico e não explica especificamente o que é a coisa (o referente). A partir daí temos que raciocinar e investigar mais coisas (partes) para chegar ao entendimento do que é a coisa em si. É um processo natural do ser humano. Um sentido específico de um significado não nos dá um referente absoluto posto que temos de analisar as várias partes que compõem o todo.

Continuando no exemplo do signo Inteligência (ou poderia tomar qualquer outro signo), mas vamos continuar neste. Inteligência: “faculdade de conhecer, compreender e aprender.” Este é o significado. Inteligência: “capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.” Este é um sentido do signo Inteligência, tirado do dicionário. Dependendo do dicionário temos seis ou sete sentidos um pouco diferentes do significado genérico de Inteligência, mas não completamente diferentes.

Esta é a base para sabermos o referente, o que é a coisa em si na realidade, além do conhecimento intuitivo e da percepção.

Como já foi dito, um dicionário não é o “bam bam bam” do entendimento, mas é a base obrigatória, é onde está a convenção da língua e da linguagem. Quando não se sabe o significado (e os sentidos) de um signo torna-se impossível exprimir em palavras o referente, torna-se impossível expressar o conceito.

E como já foi dito, a língua e a linguagem são convenções e não tem como ser diferente. Todos nós que temos que ter o mesmo significado e sentidos dos signos, pois isso nos dá a base para sabermos o referente na realidade e a realidade é uma só para todos.

Um bom exemplo neste sentido são as diferentes línguas existentes no mundo. Um Brasileiro por falar a Língua Portuguesa, de certo modo, tem uma mentalidade um pouco diferente de um Alemão que fala a Língua Alemã. Porém, o entendimento básico das coisas é o mesmo. Por exemplo, uma árvore é uma árvore em qualquer lugar mundo não importando em qual língua eu expresso o signo “árvore”. O referente é o mesmo, o conceito “árvore” basicamente é o mesmo. Liberdade, esperança, igualdade, fraternidade, correr, dormir, comer, pular, etc, o conceito básico é o mesmo em qualquer lugar do mundo não importando a língua que se fala.

O problema é quando se trocam conceitos por palavras.

Agora tomarei como base o livro de Arthur Schopenhauer “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” que é a tese que deu o título de Doutor a Schopenhauer em 1813. Óbvio que tal título de Doutor na época era diferente do título de Doutor que temos hoje em dia, principalmente no Brasil.

Página 49: “Aristóteles... demonstra cuidadosamente no sétimo capítulo do segundo livro dos Segundos Analíticos que a definição de uma coisa e a prova de sua existência são duas coisas diferentes e eternamente separadas, pois pela primeira tomamos conhecimento do que é pensado, por meio da outra, porém, de que algo assim existe; e como um oráculo do futuro, profere ele a sentença: ‘a existência não pertence à essência de uma coisa; pois existência não é uma propriedade’. Isso significa: A existência jamais pode pertencer à essência das coisas. – Ao contrário disso. O quanto o senhor von Schelling venera a prova ontológica pode ser verificado a partir de uma longa nota da página 152 do primeiro volume de seus Escritos filosóficos de 1809. Mas algo ainda assim mais instrutivo pode ser verificado ali, a saber: que basta matraquear atrevidamente, fazendo ares de grandeza, para lançar poeira nos olhos dos alemães. Mas que até um patrono tão inteiramente deplorável como Hegel, cuja inteira filosofastria era propriamente uma monstruosa amplificação da prova ontológica, tenha querido defende-la contra a crítica de Kant, é uma aliança da qual se envergonharia a própria prova ontológica, por mais que não seja muito de se envergonhar. – Apenas não se espere de mim que fale com apreço de pessoas que levaram a filosofia ao desprezo.”

Coloquei este trecho para mostrar que a “troca de conceitos por palavras” vem de longe.

Agora pulo para a página 107: “Amiga – disseram-lhe-, as coisas andam mal para ti, muito mal, desde o dia de teu fatal encontro com o velho cabeça-dura de Königsberg [Kant]; tão mal como para tuas irmãs, a prova ontológica e físico-teológica. Mas, tem coragem: nós não te abandonamos por isso (tu sabes, somos pagos para isso). Entretanto, não há outra coisa a fazer: deves mudar de nome e de vestimentas; porque se te chamarmos por teu nome, todos fogem de nós. Incógnita, porém, nós te tomamos pelo braço e te reconduzimos novamente para entre as pessoas; apenas, porém, como dito, incógnita: isso dá certo! Primeiramente, pois: daqui para diante, teu objeto portará o nome: “o absoluto”; isso soa exótico, decente e nobre – e nós sabemos melhor do que qualquer um o quanto se pode impingir aos alemães com aparências de nobreza – qualquer um sabe o que se entende por essa palavra, e ainda se crê sábio por isso.... O absoluto, exclamas (e nós contigo), ‘que diabos, isso tem de ser, senão não existiria absolutamente nada!’ (e com isso bates com o punho sobre a mesa). Mas de onde procederia ele? ‘Estúpida pergunta! Já não disse que é o absoluto?’ – Isso dá certo, podes crer, dá certo! Os alemães estão habituados a aceitar palavras no lugar de conceitos: para tanto nós os temos adestrado desde a juventude – olha só a hegelianada, que outra coisa é senão um palavrório vazio, oco, e ainda por cima nauseabundo? E, no entanto, que esplêndida carreira fez essa criatura filosófica ministerial! Para isso, não foi preciso senão que alguns companheiros venais entoassem a glória daquela ruindade – para que sua voz, na cavidade oca de mil cabeças estúpidas, encontrasse um eco que ainda hoje ressoa e se propaga. E eis que assim logo se fez de uma cabeça vulgar, sim, de um vulgar charlatão, um grande filósofo. Portanto, toma coragem! Além disso, amiga e protetora, nós te secundamos também por outra razão: com efeito, sem ti não podemos viver” – O velho critiqueiro de Königsberg criticou a razão e cortou-lhe as asas? Pois bem, inventamos então uma nova razão, da qual ninguém tinha ouvido falar até aquele momento; uma razão que não pensa, mas intui imediatamente, que intui idéias (uma palavra distinta, criada para mistificação) em carne e osso; ou também uma razão que apreende, que apreende imediatamente aquilo que tu e os outros apenas queriam demonstrar; ou ainda – para aqueles que só admitem pouco, mas que também com pouco se satisfazem – o presente. E assim, damos conceitos populares de há muito inoculados por inspirações imediatas dessa nova razão, criticada à exaustão, degrademo-la, chamemo-la entendimento, e mandemo-la passear.”

O que Schopenhauer está dizendo é que trocaram conceitos por palavras. Razão agora se chama entendimento. E o que é entendimento? Ora, entendimento é razão! E o que é razão? Ora, tu és burro? Razão é entendimento! Não entendes uma coisa tão simples assim? Entendimento é razão e razão é entendimento... está explicado.

A amiga Prova Cosmológica agora chamemos de Absoluto! E o que é o absoluto? Ora, o absoluto é o infinito! E o que é o infinito? Ora, tu és burro? Infinito é o absoluto, cara!

Não precisamos mais significar as coisas, basta colocar outra palavra no lugar, seja esta palavra um sinônimo ou não.

Isto dá certo, pode crer!

O mundo é o finito e o absoluto é o infinito. E o que é o finito? Ora, tu és burro? Já falei que o finito é o mundo!

E podemos colocar também uma expressão no lugar de qualquer coisa esdrúxula que inventamos sem base nenhuma na realidade, como por exemplo: Politicamente Correto!

Temos também vários outros chavões imbecis: "consciência de classe", "pensamento crítico", "lutas de classes", "estado democrático de direito", "liberal na economia, conservador nos costumes", "desvelamento do ser", "não é crime, é doença", "racismo estrutural", "dívida histórica", "a culpa é do sistema", "crise climática", "desenvolvimento sustentável", "sociedade igualitária", "combate à pobreza", "direitos dos trabalhadores", "isolamento social", "classes sociais", "direitos humanos", "os fins justificam os meios", "discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer", "responsabilidade fiscal", "regras democráticas", "aquecimento global", "reformas estruturantes", "vacinação em massa", "manter a governabilidade", "linha da pobreza", "estruturas de poder", "combustível fóssil", "implodir o sistema", "tirania da maioria", "disparidade de gênero", "liberdade de mercado", "milícia digital", "nome social", "ação afirmativa", "isso será um avanço", "isso será um retrocesso", "nunca ouvi falar, mas não tem cabimento", "imperativo categórico", "democracia representativa", "dinheiro público", "desconto antecipado", "redenção democrática", "direitos dos trabalhadores", "compre agora e economize dinheiro", "a exceção é o que confirma a regra", "o Brasil não é para amadores", "consulta o pai dos burros", "pedantismo gramatical"... e por aí vai.

É a gosto do freguês, o freguês escolhe seus chavões prediletos para repetir como um papagaio. Daria para escrever um livro somente com essas expressões. Um glossário. Aliás, já existem dicionários e glossários de, por exemplos, Marx, Gramsci e Heidegger, além de vários outros. Para ler e entender (se for possível) autores desta cepa, deste estilo de escrita oco, vazio, nauseabundo; primeiro você tem de entender a linguagem própria deles para depois começar a entender do quê eles estão falando. E muitas vezes estão falando de nada; palavras bonitas, mas vazias de conteúdo; muitas vezes sem significado e na maioria das vezes sem referente. Eles usam palavras já existentes na língua e inventam um significado novo saído da cabeça maluca e/ou maligna deles e isso bagunça o referente, você já não sabe mais do que se está falando, mas fica tentando adivinhar e chama essa adivinhação de "interpretação de texto".

Mas vamos nos deter em analisar como exemplo a expressão "politicamente correto", pois a análise se estende para todas as outras expressões.

O que é “politicamente correto”? Qual o significado dessa expressão?

Partirei do básico. Politicamente vem de política: “arte ou ciência de governar”, significado genérico. “Derivação: sentido figurado. habilidade no relacionar-se com os outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados”.

Politicamente: “ocupar-se de política; fazer política”.

Correto: “que se corrigiu”. “possuidor de bom caráter; digno, honrado (diz-se de pessoa)”.

Não coloquei todos os sentidos de “política”, “politicamente” e “correto”, mas já dá para entender.

Politicamente Correto é alguém que é correto na política?

É alguém que tem uma política correta?

É alguém possuidor de bom caráter na política?

Ou é outra coisa?

São significados diferentes. Alguém que é correto na política obrigatoriamente é um político. Alguém que tem uma política correta não necessariamente é um político, pode ser um cidadão ali que tem uma política de vida e segue ela. São coisas diferentes.

Então o que é politicamente correto? Ora, inventemos um significado qualquer que nem significado é. Politicamente correto agora é “evitar certas palavras preconceituosas com relação a grupos de sexo, raça, gênero ou sei lá mais o quê”. Ou mais, faremos dossiês, artigos acadêmicos, livros inteiros tentando explicar o que é “politicamente correto” (somos pagos para isso).

Daremos mil “significados” de politicamente correto. Ganharemos pela quantidade e não pela qualidade. Eu vou citando você e você vai me citando, a nossa patota vai se auto-promovendo, assim teremos milhões de citações acadêmicas. O que importa a verdade? O que importa a realidade? Verdade e realidade são coisas ultrapassadas, são retrocessos, não é um avanço, não são coisas progressistas.

Mas voltando. “Evitar certas palavras”... quais palavras devo evitar? Existe uma lista de palavras que devo evitar?

Ora, tu és burro? As palavras que tu deves evitar são as palavras preconceituosas em relação aos grupos ali!

Mas o que é “preconceituoso”? Não é um conceito subjetivo?

O que decorre disso na realidade é que se alguém me falar alguma coisa que eu não goste (vai do meu capricho), eu digo que é politicamente incorreto. Pronto: acrescentei mais uma palavra (ou expressão) na tal da lista que não existe! E o absurdo não pára de crescer.

Quando dizem que “politicamente correto” é uma forma de censura eu concordo, mas o estrago vai mais além: causa emburrecimento.

Trocar conceitos por palavras ou expressões inventadas dá nisso: emburrecimento geral.

E podemos ver que na expressão “politicamente correto” foram juntados dois signos que não dá para juntar. Um altera o significado do outro. A partir daí não há base na realidade e temos que inventar alguma coisa para significar em palavras o que é isso. É como a frase: "A pedra da bola pegou fogo". Ortograficamente e sintaticamente está correta, mas semanticamente não tem sentido nenhum. E num texto e/ou discurso temos que, obrigatoriamente, preencher os três: ortografia, sintaxe e semântica.

Com palavras bonitas, mas vazias de conteúdo estamos fora da realidade. Trocamos conceitos por palavras esvaziadas de significados, de sentidos e de definições, e por isso não captamos mais o referente.

Passamos a falar por chavões, palavras vazias, signos sem significados e, por conseguinte, sem referente. Nos distanciamos da realidade, vivemos em um mundo de ilusão onde não nos entendemos mais. Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem.

Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc.

Linguagem engloba a língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que fala a mesma língua.

Caso eu fale “politicamente correto” e isso enseja várias adivinhações de acordo com a cabeça de cada um, temos confusão, não nos entendemos mais. Nesta hora precisa de um supremo sabedor da verdade para nos dizer o que significa isso, sendo que o supremo sabedor da verdade também não sabe o que é, então ele junta palavras bonitas, mas vazias de conteúdo e você sai repetindo isso por aí.

Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem. E assim vamos emburrecendo.

Êêê, vamos todo mundo ficarmos burros, assim teremos igualdade... que, aliás, “igualdade” é um conceito subjetivo.

Ficaremos todos iguais na burrice, mas sempre tem uns que são “mais iguais do que os outros”.

Uma população burra é fácil de controlar, mas a burrice leva à violência, uma pessoa burra só sabe resolver as coisas na base da violência (seja ela física e/ou psicológica), isso é fato.

A estultice, a estupidez de quem pensa que pode controlar uma população burra, drogada e promíscua é equivalente à burrice dessa mesma população.

Mas tudo em prol da “revolução”, da revolução surgirá o novo ser humano!

Dos escombros da humanidade surgirá o novo ser humano... não sei como.

Mas posso imaginar: esse novo ser humano que surgirá virá do caos que leva à ordem.

E assim vamos trocando conceitos por palavras: “do caos vem a ordem” é um chavão de tamanha estupidez e é errado em tantos níveis que até é difícil explicar. Mas vamos repetindo isso através da grande propaganda que todo mundo acredita que do caos vem a ordem... e vamos promovendo o caos, vamos promovendo a destruição esperando a reconstrução a partir dos entulhos que restaram da burrice. Vamos juntar os entulhos para formar uma pilha de escombros e vamos dar a esse conceito um novo nome: sociedade igualitária. Uma expressão esvaziada de tudo.