domingo, 16 de fevereiro de 2020

Raciocínio

   Para este estudo, coisa é tudo que há (corpóreo ou incorpóreo) tanto fisicamente quanto em pensamento; objeto é aquilo que se está estudando; sujeito é aquele que estuda o objeto. Uma coisa pode ser um objeto material ou imaterial estudado pelo sujeito.
   Coisa é tudo o que há e engloba tudo o que existe. Tudo o que existe, para o nosso estudo, para a nossa organização do pensamento, refere-se especificamente às coisas físicas, existentes fisicamente no mundo. Porém, uma coisa que existe fisicamente também há. Então, tudo o que há e existe no mundo são coisas, mas são coisas enquanto objeto de estudo. Logo entraremos nos conceitos e definições.
   Tomaremos agora como exemplo as palavras cadeira e liberdade. Cadeira existe fisicamente e também há como conceito. Quando eu falo a palavra cadeira ela pode referir-se na mente dos outros a todas as cadeiras do mundo, a nenhuma cadeira (somente o conceito de cadeira) ou a uma cadeira em específico.
   Liberdade não existe fisicamente, mas há como conceito, não sabemos o tamanho da liberdade, a cor da liberdade, etc, mas sabemos que a liberdade existe na realidade física pelos seus efeitos e consequências. Pegamos uma pessoa e a colocamos atrás das grades, na cadeia. Tiramos a sua liberdade, porém, tiramos somente a sua liberdade física, mas essa pessoa conserva sua liberdade de espírito, de pensamento, etc. Caso dermos uma paulada na cabeça dessa pessoa e a colocarmos na cadeia, aí sim podemos dizer que tiramos de um modo mais completo a sua liberdade. Poderíamos entrar agora na discussão de alma, consciência, etc, pois mesmo desmaiada essa pessoa pode conservar algum tipo de consciência, mas não nos cabe agora discutir isso.
   O que foi dito acima refere-se a conceitos objetivos e conceitos subjetivos. Para o nosso estudo e para nossa organização do pensamento, pois outros autores podem ter conceitos e definições diferentes, tomaremos as seguintes definições:
   Conceito: é aquela imagem mental abstrata que cada um tem na sua mente a respeito de uma coisa.
   Descrição: é quando descrevemos uma coisa em palavras, seja ela falada ou escrita, mas não damos a sua finalidade. Simplesmente damos a sua descrição física.
   Definição: é quando descrevemos uma coisa e damos a sua finalidade. Então, a “definição” de alguma coisa é a sua descrição mais a sua finalidade. A definição engloba a descrição. A partir de agora nos referiremos somente à definição.
   Então, a definição também é o conceito que temos na mente externado em palavras faladas ou escritas.
   Para clarificar, vamos tomar como exemplo um simples exercício: tenho aqui na mão um lápis e eu pergunto “O que é esta coisa que eu tenho na mão?”. Alguém responderá: um lápis. Porém, eu digo: não perguntei o nome desta coisa, perguntei o que é esta coisa chamada lápis. É óbvio que atrelado ao nome da coisa (lápis) está a definição. Todo mundo sabe o que é um lápis. Todos aprendemos o que é um lápis através do conhecimento intuitivo. Veremos mais adiante o que é conhecimento intuitivo.
   Para respondermos “o que é esta coisa chamada lápis”, precisamos definir (descrição mais a finalidade) o que é um lápis, ou, mais precisamente, este lápis: é um objeto de uns 20 cm de comprimento, de meio cm de largura, tem um cilindro pontudo de grafite envolto por uma camada de madeira e esta camada de madeira está pintada na cor verde, etc, e serve para escrevermos no papel (finalidade). Esta é a definição. Lembrando que isto é feito somente para organização do pensamento. Nada mais.
   Este exercício pode ser aplicado a todas as coisas. Tente definir em palavras (faladas ou escritas) os objetos que você está vendo na sua frente agora.
   Posso agora inferir que, a partir de um simples lápis, podemos escrever uma enciclopédia completa. Basta termos na cabeça que a pessoa para a qual estamos definindo o lápis não saiba de nada. Precisaremos definir o que é grafite, o que é tinta, o que é madeira, etc. Madeira vem da árvore, mas o que é árvore? Precisaremos definir árvore com tudo o que compõe uma árvore. Vemos que daí, basicamente, vieram as ciências, a taxonomia, etc.
   Caso fôssemos definir “liberdade”, não podemos dar a sua definição física, pois “liberdade” não existe fisicamente, mas podemos tentar dar uma definição subjetiva. E chegamos em conceitos objetivos e conceitos subjetivos.
   Conceito objetivo: refere-se ao objeto físico, o objeto físico em si é que determina a sua própria definição, como no caso do lápis. Objetivo vem de objeto. Grosso modo, o objeto é que se autodefine.
   Conceito subjetivo: refere-se ao sujeito, a definição da coisa parte do sujeito (pessoa) que está definindo a coisa, como no caso da liberdade, ou seja, o conceito subjetivo tem muito do sujeito que está se expressando e da coisa que não existe fisicamente (liberdade, igualdade, fraternidade, sistemas políticos e econômicos [socialismo, capitalismo, etc]). São conceitos subjetivos e partem, basicamente, do sujeito que está definindo a coisa. Muitas vezes chegamos a um consenso entre vários autores do que é o conceito subjetivo de tal coisa expresso em palavras. Mas se fôssemos tentar definir completamente, por exemplo, de novo, liberdade, provavelmente ficaríamos anos, ou talvez o resto da vida tentando definir exatamente o que é liberdade sem nunca chegarmos a uma definição completa. Então, se faz necessário um consenso entre as pessoas para que avancemos no pensamento, senão ficaremos o resto da vida discutindo o que é liberdade.
   Assim é a linguagem; um consenso, uma convenção, mesmo sabendo que, talvez, a definição de tal coisa, de tal nome, não seja exata, mas foi o melhor que conseguimos fazer e temos consciência disso. Ter consciência disso é muito importante.
   Para nosso entendimento, língua é a língua portuguesa, a língua inglesa, língua alemã, etc. Linguagem envolve a língua, pois temos a entonação da voz, expressão corporal, etc. Na linguagem falada expressamos melhor as idéias, pois o interlocutor percebe a entonação da voz, a expressão corporal, etc. A linguagem escrita requer uma habilidade para expressar, por exemplo, ironia. Eu falo: "você é inteligente". Na entonação de voz e na expressão facial o interlocutor percebe a ironia, mas na linguagem escrita, requer que tenhamos uma certa habilidade para expressarmos a ironia.
   Óbvio é que uma palavra que nomina uma coisa que não existe fisicamente (liberdade), pode ter um conceito objetivo, mas nesse sentido, objetivo refere-se à gramaticalidade do conceito.
   Outro exercício para clarificar: imaginemos 10 pessoas olhando para uma árvore, uma mesma árvore. Estas 10 pessoas estão em fila, uma ao lado da outra e cada uma munida com papel e caneta. Pediremos para cada uma delas definir no papel a árvore que estão vendo. Ao final do exercício veremos que as 10 definições não serão exatamente iguais e nem totalmente diferentes. Terão semelhanças e diferenças. Essas semelhanças e diferenças, podemos dizer, vem, basicamente, do vocabulário de cada pessoa. Uma definirá a árvore como tendo folhas verdes, outra, como tendo folhas verdes escuras e assim por diante. Porém, todos estão vendo a mesma árvore. Umas definições serão mais detalhistas que outras de acordo com o vocabulário de cada pessoa. Entraremos nesta parte da linguagem mais adiante.
   Agora vamos ao conhecimento intuitivo. Intuição, grosso modo, refere-se ao que percebemos através dos sentidos. Conhecimento intuitivo é aquele que não precisa de intermediário, não precisa de uma definição.
   Por exemplo, quando você era criança seu pai lhe chamou e disse: vem cá, meu filho, senta aqui nesta cadeira e vamos conversar. E você aprendeu que aquela coisa se chamava cadeira. Seu pai não precisou dizer: vem cá, meu filho, senta aqui neste objeto que tem 4 pernas, um assento, um encosto, é feito de madeira, na cor marrom, etc. Simplesmente disse: cadeira. E você aprendeu.
   Vemos que a maioria esmagadora das coisas físicas do mundo aprendemos por conhecimento intuitivo. Nunca precisamos definir tal ou tal coisa. Sabemos o nome da coisa sem nunca nos preocuparmos em definir a coisa. Isto refere-se, basicamente, a sabermos ou não sabermos do que estamos falando na maioria das vezes.
   Refere-se à linguagem, aos nomes das coisas, como bem colocou Aristóteles nas Categorias. Em relação à linguagem, refere-se ao signo, significado (definição) e referente.
   Signo: são os sinais gráficos que representam os fonemas (gramática). Mas signo também são os nomes das coisas, também são símbolos que representam alguma determinada coisa. Repetindo: essas definições aqui presentes são para organização do pensamento, outros autores podem ter definições diferentes e tomamos essas definições para não nos perdermos no raciocínio.
   Significado: é o que a coisa significa. Dizer o que é um nome (uma palavra) por meio de outras palavras. É também a definição da coisa, do signo.

   Referente: é a coisa à qual o signo se refere, por exemplo, cadeira se refere ao objeto físico cadeira. Vemos que quando o referente é uma coisa que não existe fisicamente (liberdade, esperança, etc), torna-se um pouco mais difícil identificar o referente. Muitas vezes identificamos o referente do signo (nome, palavra, verbo, etc) de um conceito subjetivo pelo próprio significado (o referente é o próprio significado) e outras vezes identificamos o referente de um conceito subjetivo pelo contexto do enunciado (frase, oração, período, etc) onde o signo do conceito subjetivo está inserido.

   Faço uma diferenciação de pensamento e raciocínio. Pensamento, todo mundo nasce sabendo pensar, mas precisamos aprender a raciocinar. O raciocínio analítico que nos foi ensinado por Aristóteles é diferente do pensar. Este, já nascemos sabendo, aquele precisamos aprender para organizar os pensamentos. Raciocínio, grosso modo, é a organização dos pensamentos e é disto que estamos falando aqui: raciocínio analítico, que vem de análise, analisar as coisas. Raciocínio também é a aplicação da razão.
   Tomaremos como parâmetros para definir uma coisa as Categorias de Aristóteles, na tradução de Pinharanda Gomes:
o que (a substância),
o quanto (quantidade),
o como (qualidade),
com que se relaciona (relação),
 onde está (lugar),
 quando (tempo),
como está (estado),
 em que circunstância (hábito),
 atividade (acção),
 e passividade (paixão).
Dizendo de modo elementar, são exemplos
de substância, homem, cavalo;
de quantidade, de dois côvados de largura, ou de três côvados de largura;
de qualidade, branco, gramatical;
de relação, dobro, metade, maior;
de lugar, no Liceu, no Mercado;
de tempo, ontem, o ano passado;
de estado, deitado, sentado;
de hábito, calçado, armado;
de acção, corta, queima;
de paixão, é cortado, é queimado.

   Lembrando que são somente parâmetros para termos como base para definir uma coisa, como, por exemplo, no caso da definição de lápis anteriormente feita. Podemos utilizar as nove categorias (uma vez que a substância é a coisa em si), ou podemos utilizar algumas das categorias, pois em alguns casos não tem como aplicar as nove categorias porque depende da coisa que estamos definindo. No caso da liberdade, não tem como aplicarmos, por exemplo, a categoria de quantidade, pois não sabemos o tamanho da liberdade, mas podemos aplicar a categoria de lugar adaptando-a em relação a estarmos dentro ou fora da cadeia. E assim partimos desses parâmetros que facilitam a análise e posterior definição de uma coisa.
   Fazendo um adendo, hão discussões sobre o que Aristóteles quis dizer com “essência”. Alguns autores dizem que “essência” para Aristóteles é a coisa em si na sua origem, no sentido de origem de todas as coisas, aquela essência primária que deu origem a tudo que existe.
   Outros exemplificam “essência” dando o seguinte exemplo: uma mesa feita de madeira, a “essência” da mesa é a madeira da qual ela foi feita. Penso que esta última está errada. Uma mesa com o tampão de madeira e os pés de metal, qual seria sua essência? A madeira ou o metal?
   Formos pedir a “essência” de liberdade, a coisa de complica ainda mais. Qual é a “essência” da liberdade?
   Não entrarei aqui nas definições de “forma” e “matéria” de Aristóteles, pois o assunto se estenderia, mas penso que a “essência” de uma mesa de madeira não é a madeira na qual ela foi feita. Teríamos que ver de qual madeira essa mesa foi feita (eucalipto, mogno, etc) e sabemos que eucalipto é uma coisa e mogno é outra. As duas são árvores, mas de gêneros diferentes, vamos por assim dizer.
   Então, segundo meu modo de raciocínio, “essência” de uma coisa talvez nunca saibamos o que é. Mas podemos chegar perto de saber o que é a “essência” de uma coisa analisando-se a coisa tomando por base as categorias, mesmo que nunca possamos dizer com exatidão qual a “essência” da coisa.
   Esta é uma das dúvidas constantes da filosofia e temos que aceitar. Talvez algum dia alguém saiba dizer com exatidão a qual “essência” Aristóteles estava se referindo, mas, por enquanto, a dúvida persiste.
   Esta é a analítica de Aristóteles. Analisar-se as coisas por todos os lados. Aristóteles conseguiu, com muita propriedade, sintetizar no papel como funciona o raciocínio natural do ser humano, mesmo que esse raciocínio não chegue a uma conclusão lógica.
   A lógica, como conhecemos hoje, é o que vem depois da analítica. Primeiro o raciocínio passa por um processo de análise e depois chega-se a uma conclusão e esta pode ser lógica ou não, o popular, faz ou não faz sentido. Isso está bem claro em Aristóteles.
   Não encontramos no Organon o substantivo "lógica" nenhuma vez. Aristóteles falava da analítica. O raciocínio analítico é um processo de análise mental que leva à lógica. Aristóteles conseguiu colocar no papel com muita propriedade como funciona o processo de raciocínio natural do ser humano.
   O ser humano se comunica, basicamente, através da linguagem falada e da linguagem escrita. Entenda-se aqui "língua" como língua portuguesa, língua inglesa, língua alemã, etc. E "linguagem" engloba a língua. A linguagem se compõe da língua, da expressão corporal, da entonação da voz, etc.
   Vemos que, na linguagem escrita, torna-se um pouco mais difícil demonstrar, por exemplo, ironia, ao passo que na linguagem falada isto se torna mais perceptível.
   Quando eu falo, minhas palavras evocam pensamentos e provocam emoções nos ouvintes. Então vemos que não há como separar a razão da emoção no ser humano (é impossível), apesar de que vários autores tentaram (e falharam miseravelmente) em querer separar a razão da emoção no ser humano. Podemos separá-las gramaticalmente, somente enquanto definições linguísticas, mas na realidade não há como separar a razão da emoção no ser humano.
   O Brasileiro, de um modo geral, reage somente à emoção que as palavras e as coisas causam nele. Não há mais aquele processo de análise que, primeiro, leva em conta o significado e o referente dos signos (palavras, nomes, símbolos, etc). O raciocínio natural, aquele processo de análise que leva à lógica, tornou-se confuso. A reação automática é emocional (fiquei ofendido ou não, gostei ou não gostei, etc). E isso leva a variantes: se eu simpatizo com uma pessoa, concordo com ela, mesmo que ela esteja mentindo. Caso eu antipatize com uma pessoa, discordo dela, mesmo que ela esteja certa; além de outras variantes que não cabe aqui discorrer agora.
   O Brasileiro, de um modo geral, reage somente à emoção que as palavras e as coisas causam nele. Parece-me que não raciocinam mais com o significado dos signos (palavras, nomes, símbolos, etc) e com o referente. Aliás, parece-me que não sabem sequer que existe uma coisa chamada referente.
   Podemos resumir, grosso modo, àquela pergunta básica de Filosofia: o que é esta coisa?
   O que é esta coisa da qual estamos falando? Do que estamos falando? Do quê esse cara está falando?
   Qual o assunto e qual o objeto do assunto? A que se refere isso que esse cara está falando?
   Por exemplo: o assunto geral são frutas, mas o objeto do assunto é banana. Então se eu começo falando de banana, você não pode responder com laranja, pois são frutas, é óbvio, mas são objetos de assunto diferentes. A banana tem um formato específico, uma cor, gosto, etc, e a laranja tem outras características.
   Exemplificando mais na realidade física: quando se discute liberação das drogas, mais especificamente, da maconha, geralmente e quase automaticamente usa-se o argumento do álcool e do cigarro. É um raciocínio extremamente superficial e errado. O assunto são drogas, mas maconha é diferente do álcool. Maconha é sólida, álcool é líquido, as substâncias que compõem uma e outro são diferentes, os efeitos no corpo humano são diferentes. Não há como comparar maconha com álcool enquanto drogas. O assunto é o mesmo: drogas, mas são drogas diferentes, são objetos de assunto diferentes.
   Raciocinar somente como "drogas" e querer compará-las uma justificando a outra é relativizar dois objetos de assunto que somente tem relação verbal na palavra "drogas", mais nada. É ilusão mental. É a mesma coisa que dizer que banana e laranja são a mesma coisa porque são frutas.
   Parta sempre da pergunta: do que estamos falando? E depois, qual o assunto (assunto geral) e qual o objeto do assunto?
   Tudo no mundo tem um assunto e um objeto do assunto quando estamos conversando ou discorrendo sobre alguma coisa. E para organizar o pensamento (raciocínio) é interessante partirmos dessas premissas até isso se tornar automático na mentalidade.

quinta-feira, 13 de fevereiro de 2020

Materialismo Dialético

Vamos lá.
   O que todo mundo precisa entender é que o Materialismo Dialético (a “filosofia” inexistente do comunismo) parte do princípio de que a dialética é, fundamentalmente, o contrário da metafísica, ou seja, é a negação da metafísica, ou mais seja ainda: a metafísica não existe no comunismo marxista. Por outro lado, como o comunismo troca de discurso como troca de cueca, a metafísica está começando a ser interessante para o discurso comunista. Mentiras, mentiras e mentiras.
   Para o nosso entendimento neste texto, metafísica é, grosso modo, “o conhecimento das causas primeiras e mais universais”, aquilo que está além da física, sendo “física” (physis), natureza. São, basicamente, as boas e velhas perguntas filosóficas: “de onde viemos, para onde vamos, qual o princípio de tudo?”, as quais o comunismo marxista ignora completamente em sua “filosofia”.
   “Meu método dialético — diz Marx — não só é fundamentalmente diverso do método de Hegel, mas é, em tudo e por tudo, o seu reverso. Para Hegel o processo do pensamento que ele converte inclusive em sujeito com vida própria, sob o nome de idéia, é o demiurgo (criador) do real e este, a simples forma externa em que toma corpo. Para mim, o ideal, ao contrário, não é mais do que o material, traduzido e transposto para a cabeça do homem”. (Karl Marx, palavras finais da 2.ª edição do t. I do “O Capital”).
   “O desenvolvimento é a “luta” dos contrários” (Lenin, t. XIII, pag. 301, ed. russa, “Em torno do problema da dialética”).
   “A concepção materialista do mundo — diz Engels — se limita simplesmente a conceber a natureza tal como é, sem nenhuma espécie de acréscimos estranhos” (F. Engels, 'Ludwig Feuerbach”, em Karl Marx, Obras Escolhidas, ed. Europa-América, t. I, pág. 413).

   Para o marxismo, seja ele qual for, a moral universal não existe. Somente existe a moral social, política e econômica, que muda (movimenta-se, desenvolve-se) dentro do materialismo histórico, ou seja, o que é imoral hoje, por exemplo, matar; num próximo momento histórico pode não ser imoral, e matar pode ser permitido. E isso vale para qualquer tipo de moral.
   Para os comunistas, ou quem adota essa doutrina, não existe nada além da presente vida. Não existe "nenhuma espécie de acréscimo estranho", não existe qualquer tipo de Deus, não existe moral, não existe respeito... não dá nem para chamar um comunista de ateu, pois um ateu pelo menos pensa no que existe após a morte mesmo acreditando que com a morte tudo se acaba. A maioria dos ateus conserva a moral. O comunista sequer pensa nessas coisas, pois a moral, para ele, é uma coisa de momento, é um capricho, é uma birra do ser humano.
   Como Marx escreveu no texto Propriedade Privada e Comunismo: "Uma vez que a essência do homem e da natureza, o homem como um ser natural e a natureza como uma realidade humana, se tenha tornado evidente na vida prática, na experiência sensorial, a busca de um ser estranho, um ser acima do homem e da natureza (busca essa que é uma confissão da irrealidade do homem e da natureza) torna-se praticamente impossível. O ateísmo, como negação desse irrealismo, não mais faz sentido, pois ele é uma negação de Deus e procura afirmar, por essa negação, a existência do homem."
    Para o comunismo nem o ateísmo faz sentido, existe somente a confusão mental e a luta de classes, não importando quais classes. Aliás, “classe” nem existe para o comunista, é somente um termo para enganar trouxas. No original em Alemão está "Lutas de Classes", no plural porque as lutas não devem acontecer somente entre as classes, mas também entre os indivíduos. É a luta sem fim, fragmentação da sociedade. O negócio do comunista é lutar, discutir, mentir, roubar, matar... revolucionar. E, de quebra, induzir os outros a fazer a mesma coisa, porém, estes outros nunca sabem no que se meteram como veremos adiante na carta histórica de Engels a Marx em 23 de outubro de 1846 contando como foi a reunião que decidiu a fundação do socialismo/comunismo contemporâneo, mas até lá se fazem necessárias algumas explicações.
   “Parece-me que, no período posterior a Marx, - diz Lukács - a tomada de posição em relação ao seu pensamento deve constituir o problema central de todo pensador que leve a sério a si próprio, e que o modo e o grau com que ele se apropria do método e dos resultados de Marx determinam o seu lugar no desenvolvimento da humanidade. Esse desenvolvimento está determinado pela situação de classe, se bem que essa determinação não é rígida, mas dialética. A nossa posição na luta de classes determina amplamente o modo e o grau que assumimos o marxismo, mas, por outro lado, todo novo progresso nessa adoção nos faz aderir cada vez mais à vida e à práxis do proletariado e redunda beneficamente no aprofundamento da nossa relação com a doutrina marxista” (Meu Caminho para Marx). Lembrando que Lukács passou 10 anos estudando Marx (para quê eu não sei), mas não dá para desconsiderar o que ele escreve.
   O comunista se coloca acima do burguês e do proletário, é isso que significa "essa determinação não é rígida, mas dialética". Para o comunista, o que ele chama de burguês e o que ele chama de proletário, são meios de ação para atingir seus fins: dinheiro e/ou poder e/ou satisfação do seu ego pessoal. A moral vale somente para os outros e, ainda assim, como uma simples fórmula para enganar esses outros. O comunista, tal qual um psicopata, utiliza-se da culpa e da compaixão - ora uma, ora a outra e ora as duas - e promove esses sentimentos nos outros fazendo-os sentirem-se às vezes culpados, às vezes com compaixão e às vezes com culpa e compaixão para se aproveitarem desses sentimentos através da agressividade psicológica que lhe é característica (do comunista).
   “O materialismo dialético, - diz Lukács - a doutrina de Marx, deve ser conquistada a cada dia, assimilada a cada hora, a partir da práxis. Por outro lado, a doutrina de Marx, em sua inatacável unidade e totalidade, constitui a arma para a condução da prática, para o domínio dos fenômenos e de suas leis” (Meu Caminho para Marx).
   A práxis marxista nada mais é do que formar coletivos para se apoderar deles com a intenção de chegar ao poder. E no processo de formação desses coletivos o comunista utiliza-se do materialismo dialético, da mentira. Fornece uma causa para o coletivo, não importando qual causa for, e mantém essa causa - ou várias causas ao mesmo tempo -, sempre em movimento, sempre mudando para manter o coletivo ocupado com coisas irrelevantes. É isso que "a partir da práxis" significa. A partir da práxis o comunista troca de discurso como troca de cueca... apesar de que alguns comunistas trocam de discurso (mentem), mas não trocam de cueca, literalmente.
   “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo” (Meu Caminho para Marx, Lukács).
   Vai se movimentando e mudando a causa até que a verdade se torna um absurdo dentro da própria causa. Mas o comunista, que forneceu a causa para o coletivo, sabe que esta “causa” nada mais é do que um engodo, uma mentira. Mentir, mentir e mentir até virar um absurdo.

   Um exemplo de materialismo dialético:
   “Em física... toda mudança é uma transformação de quantidade em qualidade, uma consequência da mudança quantitativa da massa de movimento de qualquer forma inerente ao corpo ou que se transmite a este último. Assim, por exemplo, o grau de temperatura da água não influi em nada, a princípio, em seu estado líquido; mas, ao aumentar ou diminuir a temperatura da água líquida, chega-se a um ponto em que o seu estado de coesão se modifica e a água se converte, num caso, em vapor, e noutro, em gelo.
   ... As chamadas constantes da física (os pontos de transição de um estado para outro — N. do A.) não são, na maior parte das vezes, senão os nomes dos pontos nodais em que a soma ou a subtração quantitativas (mudanças quantitativas) de movimento provocam mudanças qualitativas no estado do corpo em questão, no qual, portanto, a quantidade se transforma em qualidade” (F. Engels, “Dialética da Natureza”, ed. cit., pag. 503)”.
   Ora, a quantidade não se transforma em qualidade, pois quantidade é uma coisa e qualidade é outra coisa. O que se transforma, vamos por assim dizer, é a qualidade líquida da água para qualidade sólida transformando-se em gelo. Engels confunde a quantidade de temperatura com a qualidade do corpo ao qual é aplicada a temperatura.
   Aí podemos ver um sofisma: “(mudanças quantitativas) de movimento provocam mudanças qualitativas no estado do corpo em questão”, esta foi a primeira premissa, que está correta; mas a segunda premissa a seguir: “no qual, portanto, a quantidade se transforma em qualidade” está errada.
   No exemplo, Engels evoca a possibilidade de a quantidade se transformar em qualidade. Porém, como já foi explicado, essa possibilidade não existe, mas Engels cria essa possibilidade falsa na mente do leitor ou do ouvinte fazendo com o que o leitor ou o ouvinte confunda quantidade com qualidade, destruindo a inteligênciaIsso é o materialismo dialético.
   Outro exemplo:
   “Não é a consciência do homem que determina a sua existência, mas, ao contrário, sua existência social é que determina a sua consciência” (Karl Marx, Obras Escolhidas, t. I, pag. 339, “Contribuição à crítica da Economia política”).
   Marx confunde “existência” com “existência social” dando a entender que a consciência é puramente produto da construção social e que o ser humano nasce sem consciência e, portanto, sem moral. A partir daí fica fácil dizer que não existe moral universal e que a moral é social, política e econômica. Não se sabe com exatidão de onde vem e nem o que determina a “consciência”, mas Marx dá como certo que a consciência é determinada pela existência social. E ainda cria um adendo (social), um penduricalho à palavra “existência” modificando seu sentido original anteriormente exposto por ele mesmo. Marx transforma "existência" em "existência social" e a verdade torna-se  um absurdo. Eu até poderia dizer que Marx e Engels foram os precursores do “politicamente correto”, pois este é sempre uma expressão, nunca uma palavra isolada.
   Como Aristóteles bem escreveu: “Toda a asserção, afirmativa ou negativa, deve ser verdadeira ou falsa, enquanto as palavras não combinadas, por exemplo, homem, branco, corre, vence, não podem ser, nem verdadeiras, nem falsas” (Organon, Categorias). E quando combinamos duas palavras onde uma anula ou confunde o significado e/ou o sentido da outra, temos confusão mental.
   Por exemplo, o que significa “politicamente correto”? É alguém que é correto na política ou é alguém que tem uma política correta? Pois são duas coisas diferentes. “Politicamente” sabemos o que é, e “correto” também sabemos o que é. E também sabemos que essas palavras isoladas não podem ser verdadeiras nem falsas, não deixam dúvidas quanto ao seu significado. Mas “politicamente correto”, o que é? Ninguém sabe. Então torna-se necessário inventar uma definição esdrúxula para a expressão, seja qual for a expressão. A partir da junção dessas palavras cria-se um exagero da verdade que se torna em absurdo, como Lenin explicou acima. Mas lembremos que “exagero da verdade” nada mais é do que mentira.
   Vemos também que a expressão “politicamente correto” é uma expressão politicamente correta - a partir daí tudo se confunde numa pasta mental -, pois significa nada, são expressões imbecis, chavões idiotas jogados na boca do coletivo, jogos de palavras que destroem a inteligência.
   Aliás, a expressão “materialismo dialético”, além de significar excremento nenhum, é a transformação da mentira em absurdo.
   Absurdo é aquilo que viola as leis da lógica por ser totalmente contraditório (lógica, para Aristóteles é a analítica, pois não encontramos nenhuma vez no Organon o substantivo "lógica"). Absurdo é distinto de falso, que pode não ser contraditório. De duas proposições contraditórias, se uma é verdadeira, a outra será necessariamente falsa. O absurdo é distinto, também, do dilema. O dilema é o raciocínio que parte de premissas contraditórias e mutuamente excludentes, mas que terminam por fundamentar uma mesma conclusão. Exemplo de dilema: ou eu caso ou compro uma geladeira, posto que os dois são entrar numa fria. Não obstante a jocosidade do exemplo, vemos que o dilema é diferente do absurdo. Absurdo, seguindo o exemplo anterior, seria: ou eu caso ou tenho matrimônio. É um absurdo, pois as duas proposições são iguais e, sendo iguais, não tem como uma ser verdadeira e a outra falsa.
   Um exemplo de absurdo em uma única frase: não existem verdades absolutas! Ora, quando você afirma que não existem verdades absolutas, então essa frase em si não é uma verdade absoluta, portanto, existem verdades absolutas porque você propôs essa frase como sendo uma verdade absoluta. Você fez uma afirmação falsa e verdadeira ao mesmo tempo, e isto é um absurdo. O "materialismo dialético" é repleto de absurdos e isento de dilemas. O dilema leva à dúvida e a dúvida é uma constante em filosofia no que concerne à metafísica. É através da dúvida que chegamos às escolhas na vida. Onde há dilema, onde há dúvida, temos que fazer escolhas até nas coisas mais simples da vida, isso faz parte da vida (ou caso ou compro uma geladeira). Para fazer uma escolha na vida, as premissas devem ser contraditórias. E o tal "materialismo dialético" tenta eliminar a dúvida substituindo-a pelo absurdo destruindo a inteligência do ser humano, pois no absurdo as premissas não são contraditórias e daí a escolha que você fizer, o resultado será o mesmo (ou caso ou tenho matrimônio). O materialismo dialético é a "filosofia" do absurdo; do sofisma, da falsidade e da mentira.
   Talvez na analítica de Aristóteles encontremos a cura para esta doença mental chamada materialismo dialético. Mas esta é uma outra conversa, pois, para Aristóteles, a analítica é um processo de análise das coisas. Sendo coisa, em filosofia, tudo o que há, e não tudo o que existe, pois tudo o que existe refere-se somente às coisas físicas (materiais) e tudo o que há refere-se a todas as coisas. Por exemplo, liberdade e cadeira são coisas. Então, a cadeira existe (fisicamente) e há (conceito); e a liberdade há, mas não existe fisicamente, porém, sabemos que a liberdade existe através dos seus efeitos e consequências na realidade física, contudo, enquanto objeto de filosofia, as duas (liberdade e cadeira) são coisas.
   Vamos agora a um exemplo real de como funciona o tal “materialismo dialético” na prática, ou seja, o tal materialismo dialético na práxis do proletariado de acordo com esta carta histórica de Engels a Marx em 23 de outubro de 1846 contando como foi a reunião que decidiu a fundação do socialismo/comunismo contemporâneo:
   “Sobre o plano de Associação proudhoniana, discutiu-se três noites”, escreve Engels. “A princípio tive quase a clique toda contra mim. [...] O principal foi, então, demonstrar necessidade da revolução violenta” (23 de Outubro de 1846). “Finalmente fiquei furioso e persegui os meus adversários até que eles se viram forçados a pronunciar-se abertamente contra o comunismo. Exigi uma votação sobre a questão de saber se nós éramos ou não comunistas. Grande foi a indignação dos grünianos, que começaram a afirmar que se haviam reunido para discutir o “bem da humanidade” e que era necessário saber o que é precisamente o comunismoDei-lhes então a mais simples definição, a fim de não permitir que eludissem o fundo da questão. Defini, portanto”, escreve Engels, “as intenções dos comunistas assim: 1) impor os interesses dos proletários em oposição aos dos burgueses; 2) fazê-lo através da supressão da propriedade privada e sua substituição pela comunidade dos bens; 3) não reconhecer nenhum outro meio para a realização destas intenções que não a revolução democrática, violenta” (escrito um ano e meio antes da revolução de 1848)”.
   A discussão terminou com a aceitação da definição de Engels sobre o que é socialismo/comunismo por 13 votos contra 2, a favor de Engels. Vemos que esta estrovenga chamada socialismo/comunismo já nasceu através de enganação, fingimento e mentira. Um ano mais tarde, numa carta de 24 de novembro de 1847, Engels informa Marx de que escrevera o rascunho do Manifesto Comunista, os princípios básicos do comunismo.
   Eu poderia dar inúmeros exemplos, pois a obra marxista, e a decorrente dela, é toda repleta destes absurdos, sofismas, mentiras, distorções e enganações, mas, no momento, é o que basta.
   Vemos que o materialismo dialético nada mais é do que empregar sofismas de quinta categoria daqueles que podemos encontrar em profusão na ZBM (zona do baixo meretrício) ... com todo o respeito às mulheres que ali trabalham, pois em questão de moral um comunista está abaixo delas e deve respeitá-las porque uma delas bem que pode ser sua mãe.
   Quando se junta o materialismo dialético com a práxis marxista temos mentiras aplicadas ao "coletivo" para que este aja na prática fazendo a mentira tornar-se um absurdo e, por conseguinte, a moral, a metafísica e a inteligência extinguem-se e temos o comunismo transformando-se em uma cultura na qual o comunista parasita a sociedade causando uma confusão mental que inspira terror no seio desta sociedade.

Referência
https://www.marxists.org/portugues/lenin/1913/mes/correspondencia.htm