terça-feira, 16 de março de 2021

A Linguagem não é somente Palavras

Interpretação de Texto

   Classificação e relação. É importante entendermos estes dois conceitos. Lembrando que conceito é uma imagem mental abstrata. Podemos significar e/ou definir conceitos através de palavras. E lembrando, também, que a Linguagem não é somente palavras. Temos o signo, o significado (dentro do significado temos vários sentidos os quais podemos empregar uma mesma palavra) e o referente. Já vimos o que são essas coisas, aliás, já vimos também o que é coisa. Mas vamos a um exemplo simples de signo, significado e referente: A palavra, o verbo correr é um signo cujo significado em palavras é "movimentar-se com velocidade" e o referente é quando você está correndo. Ao final deste texto tem links com esses conceitos e definições.

   Todo significado é, basicamente, genérico. Ao expressarmos uma idéia, um conceito, ao falarmos uma frase ou ao escrevermos podemos significar alguma coisa, podemos estar definindo esta coisa ou podemos somente falar sobre (a respeito, acerca de) esta coisa; ou tudo ao mesmo tempo no mesmo discurso ou texto. Lembrando que discurso é falado e texto é escrito. Um discurso podemos transformar em texto e vice-versa. Tudo o que falamos ou escrevemos são nossos pensamentos e raciocínios materializados.

   Então, classificação e relação. Classificação é um signo, linguisticamente falando, e tem um significado (e vários sentidos, em qualquer dicionário está bem claro isso) e tem um referente. Em relação à relação é a mesma coisa (não pude evitar o trocadilho). Lembrando que referente é o que a coisa é. E o referente também é circunstancial, pois um signo tem um significado (e vários sentidos) e, linguisticamente falando, no conjunto das palavras (frases, parágrafos, capítulos, etc) captamos o referente ou, neste caso, a tal semântica, o entendimento. E, ao mesmo tempo, o referente é o que a coisa é. Gramaticalmente falando, o referente captamos no conjunto da frase... a que estamos nos referindo quando falamos uma frase?

   Ao mesmo tempo em que é um signo, uma palavra, classificação é um todo composto de várias partes bem como todo signo o é. Relação também. Para entender, vou analisar o signo Linguagem, mas isso pode e deve ser feito com qualquer signo. Depois veremos classificação e relação.

   Linguagem é um signo, uma palavra, um verbete da língua e é também o nome de uma coisa. O que é esta coisa chamada Linguagem? Linguagem tem um significado e este significado (e seus vários sentidos) encontram-se em qualquer dicionário, como já demonstrei em outro texto, mas vou relembrar rapidamente: todo dicionário está organizado de maneira que o primeiro significado de um signo geralmente é o significado genérico e os outros significados são os vários sentidos nos quais podemos empregar o signo.

   E Linguagem também é um todo composto de várias partes, é um geral composto de particulares; os gerais e os particulares. Por exemplo, dentro deste todo, desta coisa chamada Linguagem encontramos a gramática, a língua, a linguística, o raciocínio, etc. E para sabermos o que é Linguagem, além do significado e dos sentidos, devemos analisar as partes que compõem o todo, os particulares, as várias variáveis envolvidas nesse pensamento um pouco mais complexo. Usamos isso para interpretar um texto, pois um texto são palavras e se num texto tem palavras às quais não sabemos sequer o significado devemos partir dessa base, pois nos é impossível captar o entendimento de um signo (e seus sentidos) somente através do contexto.

   Então vamos numa espécie de raciocínio em espiral (uma cadeia de espirais) ou, também, dos particulares para os geral e voltamos aos particulares e assim vamos indo. Parece complicado, mas confunde-se pela simplicidade. De certa forma é o raciocínio natural do ser humano. Para entendermos um todo obviamente passamos necessariamente pelos particulares, pelas suas partes. Raciocínio em espiral, aqui é aquele raciocínio natural onde vamos indo avançando no raciocínio e, às vezes, voltamos a um conceito básico para esclarecer ou dar uma razão suficiente ao que estamos falando e assim vamos indo, em espiral, indo e voltando, mas sempre avançando no raciocínio, várias espirais uma ligada na outra.

   Classificação é a distribuição por classes e tem vários sentidos que não fogem do significado genérico. Porém, classificação também é uma convenção feita pelo ser humano, uma taxonomia que, neste sentido, taxonomia é um sinônimo de classificação.

   Relação é ato de relatar, relato, informação, descrição. Porém relação aqui emprego no sentido de vinculação, conexão, relação entre as coisas.

   Toda classificação é, neste sentido, uma convenção feita pelo ser humano, porém, esta convenção surge, muitas vezes, ao natural através da relação entre as coisas e entre os nomes das coisas e através da observação da realidade.

   Toda relação é natural. Vamos tomar como exemplo a categoria de relação de Aristóteles: dobro, metade. Percebam que há uma relação que surge naturalmente. Alguma coisa é o dobro ou a metade de outra. Estão relacionadas naturalmente, por exemplo: o número dois é o dobro de quê? Ora, é o dobro de nada ou é o dobro dele mesmo! Porém, sabemos que dois é o dobro de um, está convencionado. Então um e dois estão relacionados nessa categoria e isto surge naturalmente.

   Vamos a outro exemplo um pouco mais elaborado. Eu começo uma conversa falando de banana e a outra pessoa responde “laranja”. Eu argumento que estou falando de banana e a outra pessoa responde: “mas é fruta do mesmo jeito ou você vai negar que banana e laranja são frutas?” Não nego, pois são frutas, mas o fato de serem frutas é uma classificação, não é uma relação. Não podemos relacionar objeto de assunto a objeto de assunto diretamente, pois sabemos que o referente de banana é diferente do referente de laranja. Banana é uma fruta e laranja é outra fruta e você diz “outra fruta” porque você sabe que na realidade são coisas diferentes. Então, ao fazer isso, confundir classificação com relação você foge do objeto do assunto e, num estágio mais avançado, você pode começar a pensar que banana e laranja são a mesma coisa sendo que na realidade você sabe que não são (confusão mental). Já vimos também que, grosso modo, tudo tem um assunto, o assunto geral, e tem objetos do assunto (ou temas). De novo, partes que compõem o todo, os particulares e os gerais. Ao fugir do objeto do assunto você relativiza a conversa, vira conversa de doido pois não estamos mais falando da mesma coisa.

   Vamos a um referente da realidade. Aliás, já vimos a diferença entre exemplo e referente. Todo referente é um exemplo, mas nem todo exemplo é um referente. Referente agora é uma coisa tirada da realidade, grosso modo, alguma situação que aconteceu. O objetivo de um exemplo é clarificar o que você disse anteriormente, porém, se o exemplo não for um referente e se o exemplo for mal formulado (inventado) corre-se o risco de complicar mais ainda o raciocínio. Mas vamos ao referente. Começo falando de “liberação da maconha” e a outra pessoa responde: “Mas o álcool e o cigarro também são drogas e também são liberados”. Pronto, já fugiu do objeto do assunto, relativizou. É o mesmo caso: banana e laranja, frutas; maconha, álcool, cigarro, drogas. Confunde classificação com relação. Caso você queira comparar o preço de um e o preço de outro, aí temos uma relação, pois os objetos de assunto envolvidos têm preços. São os tais acidentes, predicados, características, atributos. Caso você queira comparar o gosto da banana com o gosto da laranja aí temos uma relação natural. Fugir logo do objeto do assunto é ilógico, irracional. Comparar objeto de assunto a objeto de assunto é impossível, comparar coisas diretamente é impossível.

   No exemplo acima, banana e laranja, ao fazer o dito na conversa acima, você está sendo ilógico, está dizendo que banana é a mesma coisa que laranja e você sabe que, na realidade, não são a mesma coisa, daí você entra numa confusão mental, numa “pasta mental”.

   Com relação ao outro exemplo, da maconha, do álcool e do cigarro de carteira, é a mesma coisa. Você confunde as coisas na realidade e, ao mesmo tempo, você sabe que não são a mesma coisa. Como o ser humano classifica as drogas? É, basicamente pelos seus efeitos no corpo humano. O efeito de cada droga é o que se chama de acidente, predicado, característica, atributo, ou mais lá em cima, categorias. Partes que compõem o todo, particulares e gerais. Quando você bebe água isso causa um efeito no seu organismo, mas não classificamos água como droga. Então, ao se falar sobre liberação de qualquer droga e você responder com outra droga você está sendo ilógico, está fugindo do objeto do assunto, está relativizando a conversa e, fazendo isso, a conversa resultará em discussão idiota, briga de egos, picuinhas.

   Não é à toa que, no Brasil, quando fala-se sobre “liberação da maconha”, cinco minutos depois os “debatedores” estão falando num país lá não sei onde que liberou, outro país que não liberou, a violência que aumentou ou diminuiu em tal país e por aí vai. E, dentro da cabeça deles, acreditam que estão falando da mesma coisa, do mesmo objeto de assunto. Isto é meio insano até. E assim o é com vários assuntos e objetos de assunto que se conversa no Brasil. Torna-se tudo ilógico, sem sentido, não se chega a lugar nenhum. São somente brigas de egos. Um está falando de banana e o outro de laranja, mas ambos acreditam que estão falando da mesma coisa.

   O problema de se trocar conceitos por palavras é esse. Vira tudo um palavrório oco, vazio, nauseabundo. E a Linguagem não é somente palavras.

   Interpretação de texto é um processo, é sistemático, começa com a consulta ao dicionário e é necessário, muitas vezes, fazer o crivo básico do signo, significado (e vários sentidos) e referente. Este crivo básico não é tudo, aliás, “básico”, obviamente, é a base e já está implícito que não é tudo; mas partindo do crivo básico vai se avançando no raciocínio, na interpretação do texto. Ao ler um texto e captar somente as impressões você não interpretou o texto, pois essas impressões iniciais geralmente são emocionais, mas você não interpretou, não raciocinou, sequer tentou entender, ficou somente com as impressões e você chama isso de “interpretação”. Raciocínio metonímico, você troca uma palavra pela outra.

   Veja bem, vamos ao crivo básico, interpretação: determinar o significado preciso de (texto, lei etc.). É o significado genérico. Dentro dessa tal interpretação temos, gramaticalmente falando, a ortografia, a sintaxe e a semântica. Ortografia é a grafia correta das palavras, sintaxe é a relação de concordância entre as palavras enquanto elementos de uma frase e semântica, neste caso, é o componente dos sentidos das palavras e do sentido de uma frase como um todo.

   Erros ortográficos: escrever casa com “z” em vez de com “s”, trocar “ç” por “ss”, escrever “mais” em vez de “mas” (aqui temos, além de erro ortográfico, erro semântico). Erro ortográfico na palavra falada chama-se erro de pronúncia. Por exemplo: “Nois fumo lá”. Na palavra falada chama-se erro de pronúncia, na palavra escrita chama-se erro ortográfico.

   Sintaxe, exemplo básico: “Nós vai lá”. Percebam, não tem erro ortográfico nessa frase, mas tem erro sintático, o verbo não concorda com o sujeito. O correto é “Nós vamos lá”.

   Semântica, exemplo: “Nós vai lá”. Quando alguém fala esta frase você capta, percebe a semântica, o entendimento, a pessoa quis dizer que ele e os outros, talvez você mesmo esteja incluído nesse “nós”, nós vai lá. Você entendeu. Neste momento a semântica mistura-se com o referente da frase, é o referente da frase. Mesmo tendo um erro sintático, você entende.

   Então, um erro ortográfico ou um erro sintático não leva a um erro semântico, porém, muitos erros ortográficos e/ou muitos erros sintáticos levam aos erros semânticos, de entendimento. Aquela pessoa que fala e escreve tudo errado e você não entende nada.

   A Língua e a Linguagem são convenções, mas a Linguagem tem nuances. Ao analisar, interpretar um texto, percebe-se claramente a diferença entre erros ortográficos, erros sintáticos e erros semânticos. Óbvio é que a tal da gramática não é somente isso, mas estou partindo dessa base. É um ótimo começo.

   Por outro lado, tem “escritores” que, na ortografia e sintaxe, tudo está correto, porém, deixam a desejar na semântica, no entendimento, não são claros, aumentam a subjetividade da Linguagem. E, como já vimos, a Língua e a Linguagem são, em si, subjetivas. É impossível eliminar a subjetividade da Linguagem, mas falando e escrevendo com clareza diminuiu-se a subjetividade intrínseca. Por isso devemos observar, basicamente, a ortografia correta, a sintaxe correta e a semântica correta.

   Na parte da semântica, muitas vezes, certos escritores, famosos até, juntam palavras da língua que não dá para juntar, pois uma frase é uma junção de palavras. Você junta as letras e forma as palavras, junta as palavras e forma as frases, junta as frases e forma os parágrafos, junta os parágrafos e forma os capítulos, junta os capítulos e forma os livros, junta os livros e forma os volumes, compêndios, enciclopédias. E tudo precisa ter organização analítica-lógica.

   Lembrando que a menor unidade da Língua é a palavra. E por que não é a letra? Uma letra é menor quantitativamente do que qualquer palavra. Não é a letra porque não nos comunicamos por sons de letras, por grunhidos. Juntam-se as letras para formar palavras, daí a coisa começa a fazer sentido. E as palavras são, linguisticamente falando, signos que tem um significado (e vários sentidos) e referente.

   Vamos tomar como referente agora, a seguinte frase: “Toda tirania deve ser evitada, inclusive a tirania da maioria que elege o Executivo e o Congresso”. Esta frase, dita por um Ministro do STF, claramente, não faz sentido.

   Vamos interpretar. “Tirania” em qual sentido está empregado na frase? Não fica claro. Ele trocou conceitos por palavras. Tirania: poder soberano usurpado e ilegal; governo de tirano. Neste sentido, “tirania” implica em um tirano e isso por si é a minoria. Então ele estava falando da “minoria da maioria”?!?

   Vamos, por descargo de consciência, interpretar que ele estava falando de “tirania” enquanto opressão. Ora, o referente você entende pelo conjunto da frase. Quem elege o Executivo e o Congresso? São os eleitores, e o próprio Ministro é um eleitor, então ele mesmo se chamou de tirano, opressor e não percebeu. Mas estranhamente ele acertou.

   O problema da parte semântica é esse. Percebam que a frase em questão está correta ortograficamente e sintaticamente, mas cagou-se na semântica. Ele fez “relação” entre coisas que não tem como relacionar, ele juntou palavras da Língua que não dá para juntar. É como se eu falasse ou escrevesse: “A pedra da bola pegou fogo”. Ortograficamente e sintaticamente está correta a frase, mas encontrem um sentido (semântica) nessa frase.

   Vamos mais além analisando a frase. A expressão “tirania da maioria” já é em si imbecil. Democracia é a vontade da maioria, então “tirania da maioria” é a tirania da democracia. Pronto, agora tirania é democracia e democracia é tirania, guerra é paz, liberdade é escravidão e por aí vai. Este é o problema de trocar conceitos por palavras e ficar juntando palavras aleatoriamente. Perde-se, de certa forma, o contato com a realidade, fica-se meio insano. É a pedra da bola que pegou fogo. É aquela anedota de um louco oferecendo 100 reais para outro louco subir pelo facho de luz da lanterna e o outro responde: “Está achando que sou bobo, quando eu estiver no meio você desliga a lanterna e eu caio”. É mais ou menos a mesma falta de lógica. Conversa de doido.

   Enfim, interpretação de texto é um processo que requer necessariamente passar por certas etapas. Não é somente ler e captar impressões. Óbvio que isso depende do texto. Textos não muito bem elaborados você lê e entende rapidamente, mas certos textos requerem uma análise, consulta, pesquisa, investigar, informar-se, estudar. E, penso eu, começar pelo crivo básico dos signos, significados (e vários sentidos) e referente é um ótimo começo. Muitas vezes é necessário, não é tudo, mas é o básico, pois um texto são palavras, mas a Linguagem não é somente palavras.

   Há também aquele sentido por trás das palavras. Tomarei como exemplo o texto “Meu Caminho para Marx” de Georg Lukács e interpretarei com base no excerto final de um parágrafo:

 

O materialismo dialético, a doutrina de Marx, deve ser conquistada a cada dia, assimilada a cada hora, a partir da práxis. Por outro lado, a doutrina de Marx, em sua inatacável unidade e totalidade, constitui a arma para a condução da prática, para o domínio dos fenômenos e de suas leis. Se dessa totalidade for destacado (ou apenas subestimado) um só elemento constitutivo, teremos de novo a rigidez e a unilateralidade. Basta que se perca a relação dos momentos uns com os outros, e lá se vai o chão da dialética marxista sobre o qual apoiamos os pés. “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”

 

   Percebam a citação no final do parágrafo: “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.” Exagerar qualquer verdade é um eufemismo para mentira, pois tudo que fizermos para exagerar qualquer verdade será automaticamente mentira. Então o referente da citação é: mentir, mentir e mentir até tornar-se um absurdo. Porém, alguém poderá contra-argumentar: “Mas nem tem escrita ali a palavra ‘mentira’, tem a palavra ‘verdade’, ele está falando da verdade e  vem você e interpreta isso como mentira”?

   Vamos lá. Dê-me um referente, um exemplo de “exagerar qualquer verdade”! Tente exagerar qualquer verdade e você verá que isso é um eufemismo para mentira. "Exagerar qualquer verdade" não existe na realidade. As perguntas que vêm agora são: por que Lukács utilizou exatamente esta citação de Lênin? Por que Lukács não usou outra citação de Lênin, por que ele não usou outra citação de qualquer outro autor? Ainda que seja uma pergunta que não enseja uma resposta, por questão de interpretação do texto devemos fazer tais perguntas e o fato é que está ali. E Lukács utilizou esta citação no final do parágrafo, sendo que no texto ele está falando do “Materialismo Dialético, a doutrina de Marx”. Isso nos diz alguma coisa.

   O que decorre de tal coisa é que alguém poderá mentir e dizer: “Não estou mentindo, estou ‘exagerando a verdade’ ou 'estou faltando com a verdade'”. É um jogo de palavras; e dos mais chulepas, mas tem gente que cai nessa.

   E podemos perceber que tal citação é, claramente, um sofisma. A primeira premissa: “Pois qualquer verdade se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo;”. Lênin não está dizendo para você ‘exagerar a verdade’ e não está dizendo que se você fizer isso a verdade se tornará um absurdo, ela pode ou não se tornar um absurdo. Porém, na segunda premissa: “aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”, ele diz que é inevitável que na circunstância de ‘exagerar qualquer verdade’, aí sim, é inevitável que a verdade se torne um absurdo. No sentido por trás das palavras de ‘exagerar qualquer verdade’, na citação como um todo, Lênin está certo. Então ele está dizendo: “Mentir, mentir e mentir até tornar-se um absurdo”. E mentir, mentir e mentir sem parar torna-se automaticamente absurdo. O resultado final da mendacidade é o absurdo.

   Caso você mentir e chamar isso de ‘exagerar a verdade’ entrará num universo semântico de mentiras onde você emburrecerá, ficará ilógico e, depois, ficará insano, mas desenvolverá aquilo que Aristóteles chamava de ‘astúcia maligna’. Astúcia maligna é a caricatura satânica da inteligência. No Brasil, podemos traduzir ‘astúcia maligna’ para o famoso ‘jeitinho brasileiro’, levar vantagem em tudo, prometer e não cumprir, lograr os outros, subir na vida pisando em cima dos outros, fazer acordos escusos, em suma, mentir. Baixeza moral.

   Muita gente confunde ‘astúcia maligna’ com ‘inteligência’, porém, a inteligência é fortemente ligada ao bem, ao belo e à verdade. Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa. Não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra. E de qual moral estou falando?

   Valores universais morais: mentir, matar, estuprar, roubar, corrupção, etc, todo mundo sabe que isso é errado, aliás, o ser humano praticamente nasce sabendo que isso é errado.

   Dei um simples e singelo exemplo, mas poderia ficar aqui um ano dando esse tipo de exemplo tirado de certas obras de certos autores que desenvolveram essa habilidade de fazer jogo de palavras e usar sofismas para enganar as pessoas.

   Mas vamos a outros exemplos e acredito que o leitor não ficará um ano lendo este texto, talvez nem leia, mas enfim.

   “Vamos implantar um estado ético no Brasil”, ou em qualquer outro país do mundo, tanto faz. Vocês me ajudarão a fazer isso, pois ‘estado ético’ nos remete a um estado de moralidade, honestidade. Porém, para Antonio Gramsci, "estado ético" significa um estado autoritário. Ele mudou o significado da palavra ‘ético’. Ético, para ele, significa “adequação das normas sociais às necessidades de produção”, sejam lá quais forem elas. Normas sociais são leis e quem fiscaliza as leis são as “autoridades”. Então, quando um cara desses fala “vamos implantar um estado ético” ele está falando, em última instância, num estado autoritário, e você, crédulo, o ajudará a fazer isso.

   Hegemonia cultural. Hegemonia é a predominância de uma coisa sobre as outras. Cultural vem de cultura. Hegemonia cultural, no sentido original significa a predominância de uma cultura sobre as outras. Qual cultura? A que está predominante no momento histórico da sociedade. Pode mudar ao longo do tempo. Você observa esse fenômeno na realidade. Para Gramsci, "hegemonia cultural" significa a predominância do socialismo sobre todas as outras culturas. Então, quando um cara desses fala: “Temos que ter hegemonia cultural no Brasil”, ele está falando em implantar o socialismo. É assim que você vira socialista sem nem perceber. A base é a linguagem. Imaginem isso com várias palavras e expressões na cabeça de uma pessoa onde, toda hora, a Linguagem (signo, significado [e vários sentidos] e referente) vai mudando constantemente.

   Você entra num tal "coletivo" desses e fica escutando tais expressões, tais jogos de palavras, tais sofismas e passa a acreditar que este novo sentido das expressões e palavras são o sentido verdadeiro, porém, não são. Isso causa uma confusão mental, pois são várias palavras e expressões que mudarão na sua cabeça e você tentará raciocinar no meio desta confusão mental. Você ficará com um "polipensar". Adotará um discurso interno e um discurso externo cujo resultado será a insanidade. Quando eu falo, por exemplo, ‘hegemonia cultural’, tenho que raciocinar com o sentido Gramsciano e, ao mesmo tempo, tenho que raciocinar como as outras pessoas entenderão o que estou falando. É o famoso: “Não importa o que você fala, o que importa é como as outras pessoas entenderão o que você fala”. Isto é insanidade em si, pois há um limite para a capacidade de raciocínio circunstancial de um ser humano. Como é possível eu dirigir um discurso a várias pessoas e querer saber o que cada uma delas entenderá pelas minhas palavras se meu discurso em si é subjetivo ao extremo? Isso resulta em enganação, mentiras, emburrecimento e, depois, insanidade minha e dos outros.

   “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, grosso modo, José Ortega Y Gasset, refere-se às circunstâncias da vida. Você está conversando com um familiar ou um colega de trabalho, é uma circunstância. Você deixa de conversar com este familiar e passa a conversar imediatamente com outro, é outra circunstância. Há mais coisas por trás da expressão, mas as tais "circunstâncias da vida" são essas. De uma situação decorrem várias circunstâncias. Situação: estou no trabalho. Circunstância: conversando com alguém no trabalho. As circunstâncias formam o “eu”.

   E você entra em um universo semântico de jogo de palavras, sofismas... subjetividade extrema da Linguagem e afasta-se da realidade. Como já vimos, a Linguagem é subjetiva em si, mas por isso mesmo que você tem que falar e escrever com clareza para diminuir esta subjetividade, e não aumentá-la através de jogo de palavras e sofismas. Não tem como eliminar a subjetividade da Linguagem, mas podemos diminuí-la falando e escrevendo com clareza.

   Como já se disse, a Linguagem não é tudo, mas é a base da comunicação humana. Nos comunicamos, basicamente, através da Linguagem falada e da Linguagem escrita. O ser humano se comunica também por músicas, filmes, obras de arte, mímicas, etc, mas, quantitativamente, o ser humano se comunica através da palavra falada e da palavra escrita. Não tem como fugir disso. Esta é a importância da Linguagem e para interpretar textos você tem que saber disso.

Para saber um pouco mais, acesse:

https://julioseibei.blogspot.com/2020/09/chavoes.html

https://julioseibei.blogspot.com/2020/08/esboco-de-filosofia-10-importancia-da.html

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O Bem vem da Razão

   A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino nos traz vários raciocínios e emoções. Não é à toa que uma das conclusões ali presentes é: O bem vem da razão.

   Posso depreender disso que Santo Tomás referiu-se à razão no sentido de raciocínio e não no sentido de certo ou errado ou outro sentido. Lembrando que raciocínio se refere à concatenação lógica de pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. E lembrando que expressamos nossos pensamentos e raciocínios através da linguagem. Porém, o raciocínio em si começa dentro da sua própria cabeça. A linguagem (palavra falada e palavra escrita, basicamente) são expressões físicas do pensamento e/ou do raciocínio. A linguagem é a base pois, grosso modo, raciocinamos e pensamos em palavras. Raciocinamos e pensamos também em imagens, conceitos, etc, mas de uma forma quantitativamente maior isso se dá em palavras.

   Lembrando que o ser humano é um ser racional E um ser emocional. Razão no sentido de raciocínio e Emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica do ser humano, vamos por assim dizer. Não tem como separar a razão da emoção dentro de um ser humano. Somos assim.

   Porém, tem como causar um desequilíbrio entre razão e emoção e, geralmente, este desequilíbrio vem da perda de raciocínio e esta vem, geralmente, da linguagem. Lembrando que este todo chamado “linguagem” compõe-se de várias partes. Dentro deste signo, desta palavra, do nome desta coisa, temos o raciocínio, a língua, a gramática, a linguística, etc. Aliás, tudo no mundo, grosso modo, é composto de várias partes (as partes que compõem o todo), ou como dizia Aristóteles, os particulares e os gerais, porque um particular também pode ser decomposto em várias partes e assim sucessivamente, mas dentro de um certo limite, senão enlouquecemos. Trabalhar somente com o pensamento de não ter definições, ter as tais determinações, como Marx, e ir desdobrando o objeto até o infinito na intenção de concretizá-lo é a fórmula certa para a burrice e para a insanidade. Você nunca saberá o que é o objeto, irá somente desdobrando até que as tais “determinações” desdobram-se em loucura.

   Lembrando que “objeto” aqui, refere-se às coisas. Coisa é tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea, não se refere especificamente aos objetos físicos. Ou, coisa, tudo o que há e tudo o que existe. Tudo o que existe, aí sim, refere-se somente aos objetos que existem fisicamente no mundo. Tudo o que há engloba coisas físicas (corpóreas) e coisas não físicas (incorpóreas). Por exemplo, um lápis há e existe; Liberdade somente há, posto que não existe uma coisa física chamada Liberdade (você não tem como dizer qual o tamanho da liberdade, qual a cor, etc). São os conceitos subjetivos. Lembrando que “subjetivo”, neste sentido, vem de sujeito, tem muito do sujeito ao significar ou definir uma coisa não física. Conceito “objetivo”, neste sentido, vem de objeto, o objeto físico se auto-significa, se auto-define, você extrai as informações do objeto físico. Posso definir objetivamente em palavras um conceito subjetivo, pois a palavra falada são ondas sonoras materializadas e palavras escritas, grosso modo, são a tinta no papel. Aí nossos pensamentos e raciocínios passam a existir fisicamente.

   Lápis há e existe, pois existe fisicamente e ao mesmo há enquanto conceito, há no pensamento, na imaginação, no raciocínio. E tudo no mundo tem um nome, são os nomes das coisas. Olha aí Aristóteles de novo se metendo no meio da conversa. Esse cara é impressionante, vive se enfiando no meio da conversa dos outros.

   Para encerrar essa introdução e passar à Suma propriamente dita, quero deixar um exemplo: “Você tem um lápis aí?” Quando falamos isso, de qual lápis estamos falando? Do lápis que o cara tiver. Não estamos falando de nenhum lápis em específico, mas do lápis que ele tiver, o que é óbvio. Então este objeto físico chamado “lápis” ele, neste sentido, há e existe. E expressamos nosso raciocínio e, muitas vezes, nossa emoção, através das palavras. No meio disso temos as “atitudes (no sentido de comportamento)”, mas isso é conversa para outra hora.

   A Suma, Santo Tomás de Aquino separou-a em questões e artigos. Foi analisando várias questões surgidas da observação da realidade, ele não inventou da cabeça dele, por isso que cada questão se desdobra em vários artigos e cada artigo é separado em itens, soluções, objeções e respostas. Ele analisa cada questão por vários lados, porém, não vai desdobrando até o infinito, pois é impossível trabalhar somente com o pensamento de não ter definições ou de somente ter definições. Todos nós sabemos que tem coisas na vida que tem definições, outras não e outras tem definições um pouco mais trabalhosas e você tem que procurar, muitas vezes, analisar o contrário. Aliás, o simples fato de você trabalhar com o pensamento do contraditório já evita desdobramentos infindáveis. Lembrando que “contradição” é uma coisa diferente de “contraditório”, mas não me estenderei nesta parte.

   Santo Tomás fala em bondade e malícia, ato interior e ato exterior, mal, pecado e a culpa (que são coisas distintas). Discorre quando a bondade é transformada em malícia.

   Tomarei como exemplo várias questões. Não entrarei no mérito das questões, como Santo Tomás, pois isso já está na Suma. Por exemplo, quando você vai dar esmola seu ato interior são suas emoções, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc. A emoção, a parte psicológica do ser humano. O ato exterior é o ato físico em si: dar cinco reais para um mendigo, largar cinco reais na mão dele.

   Temos então esta situação: dar esmola. A partir desta situação Santo Tomás analisa várias circunstâncias que decorrem. Lembrei agora de Ortega y Gasset: eu, sou eu e minhas circunstâncias.

   Trazendo para a realidade, eu passo ali e dou cinco reais ao mendigo e sigo meu caminho. Na próxima esquina já nem penso mais nisso. Neste caso, meu ato interior foi de bondade, eu quis ajudar. Porém, o mendigo, com os cinco reais na mão, vai tomar uns goles de cachaça. Posso pensar que o mendigo transformou meu ato de bondade em um ato de malícia. Mas Santo Tomás nos esclarece: “Ora, o que num gênero é princípio não é acidental, mas essencial; pois, tudo o que é acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da vontade depende unicamente do que torna o ato essencialmente bom, isto é, do objeto, e não das circunstâncias, acidentes do ato”. O objeto, no caso, foi o bem do meu ato interior, partiu da minha vontade, eu quis ajudar. Lembremos que, dentro do mendigo (um ser humano racional e emocional), também há o ato interior e o ato exterior. Além disso, nem fiquei sabendo que ele foi tomar cachaça, eu já estava lá na esquina. A culpa não é minha e a culpa não é dele. Mas isso é pecado e isso foi um mal? Para dirimir essa questão, leia a Suma.

   Outra circunstância. Passo ali e vejo o mendigo. Antes de dar a esmola eu penso: “não vou dar cinco reais para esse cara, vá que ele tome em cachaça, não vou sustentar o vício dos outros”. Aí temos um problema. “Sustentar o vício dos outros”. Eu sustento esse mendigo? Ele vive comigo? E se o problema é que ele irá tomar em cachaça, então, raciocine: traga um prato de comida ou, com o dinheiro, compre alguma coisa para ele. Está resolvido o problema. O bem vem da razão.

   Outra circunstância: passo ali e não dou esmola. Qual é o problema? Nenhum. Em outra oportunidade darei. Ou, então, dou esmola sabendo que o cara vai tomar a cachaça dele. Qual é o problema? Nenhum. O cara está ali numa situação sofrível, de repente deu um revés na vida dele, ele não chegou nessa situação por culpa dele. Você sabe disso? Conversou com ele?

Outra circunstância: dou esmola, chego em casa e conto para todo mundo que dei esmola, estão vendo como sou bonzinho? Posso até comentar que dei esmola, mas e o ato interior ao comentar tal fato? Um ato interior que era para ser de bondade eu mesmo transformo em malícia. Caso alguém perguntar, daí falo que ajudei.

   Outra circunstância: digamos que eu fosse um milionário, coisa que não sou. E vou doar 50 mil reais para uma instituição de caridade. Ao doar, levo toda a imprensa comigo. Quero capitalizar em cima, mostrar que sou um “filantropo”, sou um cara bom. A generosidade nos faz sentirmos grandes. Porém, meu ato interior já não é de tão bondade assim. Pode acontecer que já não me preocuparei se o dinheiro será realmente investido para ajudar. Já fiz meu “marketing”. Vai que o pessoal da instituição divida o dinheiro entre eles. Alguém poderá argumentar: “Mas está ajudando, não está?” Há controvérsias. Lembrem de Santo Tomás: “Ora, o princípio da bondade e malícia dos atos humanos procede de um ato da vontade. E portanto, a bondade e a malícia desta se fundam nalguma unidade, ao passo que a bondade e a malícia dos outros atos podem advir-lhes de origens diversas.

   Ora, o que num gênero é princípio não é acidental, mas essencial; pois, tudo o que é acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da vontade depende unicamente do que torna o ato essencialmente bom, isto é, do objeto, e não das circunstâncias, acidentes do ato”. O objeto, no caso, é o fim, o objetivo.

   “O bem é apresentado à vontade pela razão como objeto; e na medida em que entra na ordem da razão, pertence à ordem moral e causa, no ato da vontade, a bondade moral. Pois a razão é o princípio dos atos humanos e morais, como antes se disse”.

   O bem vem da razão.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Conhecimento Intuitivo e Argumento Lógico

    Alô pessoal.

   Vamos começar com a etimologia da palavra “argumento”: do latim argumentum, prova, indício, raciocínio lógico. Lógica: do grego logike (tekhne), a ciência do raciocínio, a lógica.

   Conhecimento: ato ou efeito de conhecer. Intuição: do latim intuitio, imagem refletida no espelho.

   Ainda que a etimologia seja um bom parâmetro para iniciarmos uma investigação, ainda assim é apenas um parâmetro, não é tudo, pois a etimologia de uma palavra pode estar errada algumas vezes e outras não.

   Conhecimento intuitivo é aquilo que você conhece por intuição, você vê, ouve, toca, cheira e lambe, grosso modo, os cinco sentidos. As pessoas confundem intuição com pressentimento, trocam uma palavra pela outra (raciocínio metonímico). “Tive uma intuição de que não devo viajar amanhã”. Você não teve uma intuição, teve um pressentimento. E isso não é apenas uma questão de nomes, de palavras, de signos... de linguagem. Lembrando que Linguagem é um signo, tem um significado e, circunstancialmente, tem referentes, bem como todo signo tem um (ou mais) significado(s) e referente(s). Lembrando que dentro do significado temos vários sentidos os quais podemos empregar um mesmo signo (palavra).  E Linguagem é um todo composto de várias partes (as partes que compõem o todo, os particulares e os gerais), bem como quase tudo na vida. Dentro da Linguagem podemos dizer que temos a língua, a gramática, a linguística, o raciocínio, etc. E cada uma dessas partes podemos decompor em outras partes, são as classificações (que muita gente confunde com "relações"), mas isso é assunto para outro dia.

   Intuição é aquilo que você intui. Por exemplo: quando você era criança você aprendeu que uma cadeira era uma cadeira por conhecimento intuitivo. Seu pai ou sua mãe ou outro alguém disse para você: “Vem cá, senta aqui nesta cadeira e vamos conversar”, e você aprendeu que aquele objeto se chama cadeira. Seu pai não lhe disse: “Vem cá, senta aqui neste objeto de madeira, com quatro pernas, um assento e um encosto, isto chama-se cadeira”. Você aprendeu diretamente o signo e o referente, sem ter o significado. Conhecimento intuitivo também é aquele conhecimento sem intermediário, no caso o intermediário é o significado, posto que todo signo tem um significado (em palavras) e tem um referente (o que a coisa é).

   A maioria das coisas que aprendemos na vida aprendemos por conhecimento intuitivo. Isso é intuição e tem nada a ver com pressentimento. Intuição você intui, você percebe através da sua percepção, através dos seus cinco sentidos. Dizem que existem mais do que cinco sentidos, mas os cinco são os comprovados, então não me estenderei nesta parte também.

   A partir do momento que você intui, que você aprende alguma coisa pelo conhecimento intuitivo, a partir daí vem o argumento lógico. E uso essa expressão “argumento lógico” como uma redundância (figura de linguagem), pois todo argumento é lógico.

   Vamos a um exemplo: “Eu sou negão!” Quando faço essa afirmação, meu interlocutor verá que sou branco, não sou negro. Não é um argumento. É uma mentira. Porém, se eu falar: “Fui criado na cultura afro-brasileira, tive um avô por parte de mãe que era negro e tive uma avó por parte de pai que era negra, então, mesmo sabendo que eu tenho a pele branca posso dizer que tenho a alma negra, portanto, eu sou negão!”

   Percebam a coerência interna do meu argumento. Tornei mais palatável a afirmação “eu sou negão”. Porém, fui mesmo criado na cultura afro-brasileira? Tenho mesmo um avô e uma avó negros?

   A parte em que eu afirmo “mesmo sabendo que eu tenho a pele negra posso dizer que tenho a alma negra” mostra que não sou louco, que tenho consciência da minha pele branca. Isso confundirá a cabeça das pessoas e tornará meu argumento mais palatável.

   Quando faço tal afirmação que fiz completa anteriormente, no momento em que a faço o meu interlocutor não tem como saber a veracidade das minhas afirmações, das partes que compõem o todo, das orações que compõem a minha frase. Lembrando que o referente, no caso, você capta no todo da frase. Uma frase é um conjunto de palavras (signos).

   Então meu interlocutor deveria perguntar-me: “Você foi mesmo criado na cultura afro-brasileira?” Eu poderia responder: “Sim”. Daí dependeria de uma investigação posterior do meu interlocutor para saber se estou mentindo ou falando a verdade. E dependeria também da percepção do meu interlocutor em saber na hora se estou mentindo ou falando a verdade; e depende também do conhecimento que meu interlocutor tem a meu respeito, da convivência; ele me conhece ou não?

   No canto vinte e sete da Divina Comédia de Dante, estavam lá Dante, Guido de Montefeltre e o querubim negro (o diabo, o sete-velas, o capeta, o satanás ou um dos seus representantes). E Montefeltre e o querubim negro estavam num embate em queo querubim negro argumenta que Montefeltre deve ir para o inferno e Montefeltre argumenta que não. Estavam no oitavo círculo do inferno, o círculo dos intrigueiros, dos mentirosos. E o querubim negro dizendo para Montefeltre: “Você pecou”. Montefeltre respondeu: “Pequei, mas todas as vezes que pequei eu me arrependi”. E o querubim negro: “Pois é, mas você voltou a pecar”. E assim foram nessa toada até que o querubim negro pegou o Montefeltre numa intriga que ele tinha feito em vida contra o Papa da época. E o Montefeltre: “É, realmente, devo ir para o inferno”.

   Esse diálogo, apesar de conter a essência do acontecido, não está com as palavras exatas da Divina Comédia, mas exemplifica muito bem. Então o querubim negro termina: “Então não imaginavas que eu fosse lógico?” A frase completa é: “Então não imaginavas que eu fosse lógico nas ciências e nas artes?”

   Isso mostra que todo argumento é lógico. Mas um argumento corresponde à verdade dos fatos?

   Todo argumento é expresso em palavras: palavras faladas ou escritas. E as palavras refletem nossos pensamentos e raciocínios, ou seja, quando você fala ou escreve está mostrando para os outros como é a sua cabeça, como é o seu modo de pensar, o seu raciocínio. Lembrando que raciocínio é a organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. E você expressa seus pensamentos e/ou raciocínios através da palavra falada e da palavra escrita. A palavra falada e a palavra escrita são seus pensamentos e/ou raciocínios materializados, tornados reais, realizados fisicamente.

   Lembrando que pensamento, todos nós nascemos sabendo pensar. “Precisamos ensinar - ou aprender - a pensar”. O correto é: “Precisamos aprender a raciocinar”. Raciocínio é a concatenação de pensamentos, é a organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outros. E isso se reflete no que falamos e escrevemos.

   O ser humano se comunica através da palavra falada e da palavra escrita. O ser humano também se comunica por mímica, músicas, filmes, imagens, obras de arte, etc. Mas, quantitativamente, o ser humano se comunica muito mais através da palavra falada e da palavra escrita. Isso é fato, é verdade. Nós falamos e escrevemos, nós ouvimos e lemos. E tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos e/ou raciocínios.

   Vou colocar aqui de novo uma frase que exemplifica bem: “Nunca ouvi falar disso, mas não tem cabimento”. Esta frase é composta de duas orações: “Nunca ouvi falar disso” e “,mas não tem cabimento”. Porém, não temos um raciocínio aí. São somente dois pensamentos jogados ao vento em forma de duas orações. Quando você fala “nunca ouvi falar disso” você está admitindo que nunca ouviu falar, que é uma informação nova para você e, ao mesmo tempo, está chegando na conclusão de que não tem cabimento. Como isso é possível?

   Como é possível alguém admitir que nunca ouviu falar de alguma coisa e chegar a qualquer conclusão? Não é! Esse sujeito está dizendo que é burro, não percebe, mas se acha o gostosão.

   Caso ele respondesse: “Nunca ouvi falar disso, mas tem cabimento”, seria a mesma estupidez. Não é possível alguém afirmar que não sabe de uma coisa e, ao mesmo tempo, chegar a uma conclusão lógica.

   A parte gramatical de frases, orações, ortografia, sintaxe, semântica, etc. Dentro da gramática temos a ortografia, a sintaxe e a semântica - e outras. Mas vamos tomar por base essas três. Ortografia: conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras. Sintaxeparte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Semântica: estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados.

    Erros ortográficos, por exemplo, trocar "ç" por dois "s", escrever "caza" em vez de "casa". Erro sintático, por exemplo, "Nós vai lá"; há um erro de concordância do sujeito com o verbo; o correto é "Nós vamos lá". Porém, perceba, não há erro ortográfico na frase "Nós vai lá". Lembrando que erros ortográficos na palavra falada chamam-se de erros de pronúncia. Quando você troca "mais" por "mas" há dois erros: de ortografia e de semântica. Nem sempre erros ortográficos e/ou sintáticos levam a erros semânticos, por exemplo: "Nós vai lá!", há erro sintático, mas você capta o referente, a semântica da frase, você entende o que o cara quis dizer. Ele quis dizer que ele e os outros (talvez você mesmo esteja incluído nesse "nós") vai lá, vão lá. Porém, muitos erros ortográficos e sintáticos levam a um erro semântico, você não capta o sentido da frase porque o animal não sabe escrever ou falar. è aquela pessoa que fala e escreve tudo errado. Então, quando estiver lendo um livro (ou qualquer outra coisa) procure identificar e discernir entre ortografia, sintaxe e semântica.

Você não precisa decorar o dicionário e a gramática, até porque isso é impossível, mas esse entendimento básico você tem de ter. Isso deveria ser ensinado às crianças nas escolas. Óbvio que deve ser ensinado em uma linguagem que elas entendam, mas não me estenderei nessa parte.

   Todo argumento é lógico posto que todo argumento é dado em palavras faladas ou escritas. Dê-me um argumento por telepatia. Verá que é impossível. Não lemos pensamentos.

   Você sabe quando uma pessoa é, vamos por assim dizer, burra ou não, pelo quê ela fala ou escreve, pelo raciocínio dela, pela concatenação dos pensamentos que se refletem nas palavras, faladas ou escritas.

   Óbvio é também que a língua e a linguagem tem nuances. Signo, significado (e vários sentidos de uma mesma palavra) e referente, mas não me estenderei nesta parte de novo.

   Todo argumento é lógico e todo conhecimento é intuitivo.

Para saber mais:

terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Coisas Aleatórias

    Aleatório: que depende das circunstâncias, do acaso; casual, fortuito, contingente.

 

   Coisa: tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea. Em Filosofia, “coisa” vai um pouco mais além, é tudo o que há e tudo o que existe. Tudo o que existe são, basicamente, de natureza corpórea, tudo o que existe fisicamente no mundo. Por exemplo, um lápis, um carro, uma árvore, etc. Tudo que há engloba tudo o que existe, mas tem coisas que somente hão. Por exemplo, liberdade, esperança, verbos (o verbo correr, por exemplo, não existe um objeto físico com esse nome “correr”, mas você sabe o que é correr na realidade, movimentar-se com velocidade) e assim por diante.

   Lápis há e existe. Caso eu falar somente a palavra “lápis”, na imaginação ou no pensamento ou no raciocínio, uns poderão pensar em todos os lápis do mundo, outros pensarão num lápis específico (um lápis que tem em casa) e aqueloutros pensarão: “Lápis, e daí, sei o que é um lápis, o conceito lápis”. Ou vaca, como bem disse o Olavo.

   Isso é feito para organização dos pensamentos. Raciocínio é organização dos pensamentos. Um pensamento organizado analítica e logicamente após o outro.

   Então, coisas aleatórias, neste texto, são pensamentos e raciocínios que virão surgindo e colocarei no papel ou, no caso, no teclado, que se materializará na tela, realizar-se-á na tela - mesóclises são bonitas. Mas aí já entraremos na linguagem e estou com preguiça de discorrer sobre signo, significado e referente.

 

   - Deus há e existe, mas não é uma coisa. Deus é Deus.

 

   - Sei lá em qual camada da personalidade estou, não entendo muito bem essas 12 camadas da personalidade. Preciso de mais tempo para ver isso com profundidade.

 

   - Já discorri sobre “conceitos objetivos” e “conceitos subjetivos”, coisas. Não ficarei voltando, pois já voltei várias vezes, senão o raciocínio não avança. O raciocínio em espiral requer a volta aos conceitos básicos, mas dentro de um limite.

 

   - Realidade: qualidade ou característica do que é real. Porém, “realidade” também é o mundo físico, o mundo das palavras, o mundo do pensamento, o mundo do raciocínio, enfim, a realidade na qual nós vivemos. Uma árvore é uma árvore em qualquer parte do mundo. As coisas que hão também fazem parte da realidade. Esse conjunto do que é chamado de “realidade” compõe-se de várias partes. As partes que compõem o todo, os particulares e os gerais. Outros exemplos: esse todo chamado “inteligência” compõe-se de várias partes. Esse todo chamado “lápis” compõe-se de várias partes. Partimos desse raciocínio básico e vamos avançando. São várias variáveis que compõem um raciocínio mais complexo. E, no meio disso tudo, temos as constantes por trás dos fatos.

 

   - Virtudes e vícios são uma questão de hábito. Caso eu me habituar a mentir, serei um mentiroso. Caso eu me habituar, pela repetição, a falar a verdade, serei virtuoso. De certa maneira é simples assim. Óbvio é que aí temos também razão e emoção. Razão no sentido de raciocínio, não no sentido de certo ou errado. E emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, intenções, sensações, etc, a parte psicológica do ser humano.

 

   - Classificação e relação. Não podemos confundir uma com a outra. Gênero e espécie são classificações. Gênero animal; espécie humana, espécie bovina, espécie eqüina, etc. São classificações, mas não há relação entre a espécie humana e a espécie bovina, por exemplo. Toda relação surge naturalmente. Por exemplo, a categoria de “relação” de Aristóteles; dobro, metade. Percebam a relação surgida naturalmente. Uma coisa é o dobro da outra, uma coisa é a metade de outra. Caso eu falar “banana” e o meu interlocutor responder “laranja”, não há relação. Mesmo que ele responda depois: - “Mas são frutas”; ainda assim é uma classificação, não é uma relação. Caso comparar o gosto da banana com o gosto da laranja, aí temos uma relação surgida naturalmente, pois as duas frutas têm um gosto específico. Acidentes, predicados.

   Vamos a um exemplo mais real. A liberação da maconha. Sempre que se toca nesse tema, alguém responde: - “Mas o álcool e o cigarro são drogas e são liberados”. Isso é uma classificação, não é uma relação. É ilógico raciocinar assim. A maconha é sólida, o álcool é líquido; um cigarro de maconha é sólido, um cigarro de carteira também o é, mas as substâncias que compõem cada um são diferentes, portanto, são coisas diferentes. As drogas são classificadas de acordo com seus efeitos no organismo humano e cada droga age de um modo diferente. É um exemplo bem real entre classificação e relação. Caso você queira comparar o preço da maconha com o preço do cigarro, aí temos uma relação, mas comparar diretamente objeto a objeto não tem como, é ilógico.

 

   - Vou discorrer sobre “conceitos objetivos” e “conceitos subjetivos” de forma breve. Conceito é aquela imagem mental abstrata na mente. Conceito objetivo vem de “objeto físico”, neste caso. O objeto físico se auto-define, você extrai as informações do objeto físico (lápis). “Conceito subjetivo” vem de sujeito; tem muito do sujeito ao definir o objeto (liberdade). Objeto aqui é “objeto de estudo”, não é objeto físico. Vemos aí dentro do significado dos signos, os vários sentidos de um signo. Grosso modo, uma palavra tem vários sentidos os quais você pode empregá-la. "Nós somos nós e nossas circunstâncias".

 

   - No começo tudo era verbo. Essa é a importância da linguagem e isso afeta o raciocínio. O uso incorreto das palavras emburrece. Signo, significado (dentro do significado temos os vários sentidos) e referente.

 

   - Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa. Decai uma, a outra vem de arrasto, não importa qual decai primeiro.

 

   - Termino de novo com Santo Tomás de Aquino: - “O bem vem da razão”. E ponto final.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2020

A Concepção Zoológica da Humanidade

   O mundo está se encaminhando para a reação por instinto animal puro e simples. Esta é a concepção zoológica da humanidade.

   Instinto é o impulso interior que faz um animal executar inconscientemente atos adequados às necessidades de sobrevivência própria, da sua espécie ou da sua prole. Porém, instinto também é um impulso natural independente da razão que faz o ser humano agir sem pensar, sem raciocinar.

   Lembrando que “pensamento” é distinto de “raciocínio”. O raciocínio é a concatenação de pensamentos, é a organização lógica dos pensamentos, é um pensamento organizado logicamente após o outro. E nós expressamos nossos pensamentos e raciocínios através da palavra falada e da palavra escrita. Por exemplo, a frase: “Nunca ouvi falar disso, mas não tem cabimento”; são somente dois pensamentos jogados ao vento, não há um raciocínio porque a segunda oração não “bate”, não “fecha” com a primeira, não há um raciocínio, não há uma organização analítica-lógica. A pessoa está dizendo, admitindo que nunca ouviu falar do que o outro está dizendo, mas ao mesmo tempo está chegando numa conclusão. Como isso é possível? Caso falasse: “Nunca ouvi falar, mas tem cabimento” seria a mesma estupidez, pois se nunca ouviu falar daquilo que o outro está dizendo, como pode chegar numa conclusão? O correto seria responder: “Nunca ouvi falar, mas vou pesquisar, irei me informar a respeito”.

   Nós expressamos nossos pensamentos e raciocínios através da palavra falada e da palavra escrita, através da linguagem. Quando você diz: “Perdi a linha de raciocínio” é porque estava seguindo um raciocínio e esqueceu o que estava falando - ou escrevendo -, ou veio um pensamento maluco e você perdeu a linha de raciocínio. Isto é óbvio, é natural, então podemos perceber na realidade a distinção entre pensamento e raciocínio e como isso se expressa nas palavras faladas e escritas. Tudo o que você fala e escreve são seus pensamentos e raciocínios, você está demonstrando para as outras pessoas como é a sua cabeça, como você pensa e raciocina.

   O ser humano é um ser racional e um ser emocional. É impossível separar essas duas condições em um ser humano. Razão, aqui no sentido de raciocínio, não no sentido de certo ou errado. E emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, intenções, sensações, etc, a parte psicológica do ser humano.

   Eu posso separar a razão da emoção na linguagem (signo, significado), como fiz anteriormente, mas na realidade é impossível separar a razão da emoção dentro de um ser humano. Essas minhas palavras neste texto provavelmente estão evocando pensamentos e/ou raciocínios no leitor e provocando emoções. Este conjunto “razão e emoção” é o referente, é o que a coisa é em si na realidade.

   Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa; decai uma, a outra vem de arrasto.

   Talvez o leitor não se sinta atraído por este início de texto, porém, independentemente disto, comprova o que eu afirmei. Talvez o leitor não gostou das palavras em si, talvez não está entendendo do quê estou falando, talvez o título do texto evocou um raciocínio específico e provocou uma emoção específica, talvez o leitor esteja pensando e/ou raciocinando: “É, até concordo com algumas coisas até agora (razão), mas não estou gostando muito do texto - ou estou gostando (emoção)”. Razão e emoção.

   Intrinsecamente o ser humano é um ser racional e emocional. Talvez o leitor raciocine com a palavra “emocional”, utilizada por mim na frase anterior, como transtorno afetivo ou forte abalo sentimental. Mas o sentido desta palavra neste momento vai mais além, como dito antes, emoção são as emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, intenções, sensações, etc, a parte psicológica do ser humano.

   É impossível separar a razão da emoção dentro de um ser humano, mas é possível causar um desequilíbrio. É possível fazer a pessoa reagir à emoção que as palavras e as coisas causam nela. Para tanto, basta emburrecer as pessoas. Basta fazê-las perder o raciocínio. Geralmente a perda de raciocínio vem de um medo ou uma ansiosidade constante que faz a pessoa reagir pela emoção que as palavras e as coisas causam nela.

   Vou comer teu cu, trouxa! Talvez o leitor sentiu, ao ler a frase anterior, um certo desconforto ou achou engraçada a frase pelo inusitado da coisa ou até esteja pensando em parar de ler o texto pelo uso de palavrões; não tenho como saber exatamente a emoção causada, mas pelo raciocínio posso imaginar de acordo com a emoção que eu sentiria ao ler a frase ou  imaginar pela reação de alguém que já tenha lido e me contado o que sentiu. Razão e emoção.

   Há uma distinção entre “emoção” e “sentimento”. Emoção é uma agitação dos sentimentos. Lembrando que o sentido de “emoção” em “razão e emoção”, anteriormente ditos, vai além do sentido que estamos vendo agora. Por exemplo, neste sentido específico de agora, raiva é uma emoção posto que é uma agitação, ódio é um sentimento posto que é calmo; alegria é um sentimento posto que é calma, euforia é uma emoção posto que é uma agitação. Mas nem todo sentimento está relacionado à uma emoção.

   Dentro do significado de uma palavra temos vários sentidos os quais podemos empregar essa palavra e é preciso deixar bem claro em qual sentido empregamos uma palavra em uma determinada circunstância. É preciso falar e escrever com clareza senão não vamos nos entender, estaremos falando a mesma língua, mas não estaremos falando a mesma linguagem e isso afeta a mentalidade das pessoas, afeta o raciocínio e afeta a emoção.

   Causado esse desequilíbrio entre razão e emoção, as pessoas emburrecem, perdem o raciocínio e passam a reagir pela emoção que as palavras e as coisas causam nela. Citando Aristóteles: “A palavra cão, não morde”. Vamos imaginar uma situação onde estamos reunidos um grupo de 4 amigos. E um deles, na sua fala usa a palavra cachorro e o outro encolhe de medo as pernas na cadeira e diz: “Já fui mordido por um cachorro”! E o outro responde: “Mas não tem nenhum cachorro aqui na sala, é um medo infundado”. É o que se chama de “trauma” em psicologia. Vem do desequilíbrio entre razão e emoção. Não há um cachorro presente na sala, mas a ansiosidade e/ou o medo (emoção) não deixam a pessoa raciocinar.

   Como diz Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica: “O bem vem da razão”. Você não precisará ter lido a Suma para entender que o bem vem da razão. Quantas vezes na sua vida você fez coisas erradas e depois disse: “É que eu não estava pensando direito” ou “É que não pensei direito no que estava fazendo”.

   Depois da reação pela emoção vem a reação pelo instinto. O raciocínio (razão) vai decaindo até que o ser humano deixa de reagir pela emoção - o que já é errado - e passa a reagir pelo instinto. Pessoas que saem na rua peladas com cartazes dizendo que estão “protestando” é reação pelo instinto. Pessoas que comem filhotes de ratos vivos é reação pelo instinto, pessoas que saem na rua, mesmo vestidas, quebrando tudo e tacando fogo nas coisas é reação pelo instinto. Caso eu sair sozinho pelado na rua com um cartaz dizendo que estou “protestando” serei considerado um louco, um maluco. Caso eu sair sozinho vestido na rua quebrando tudo e tacando fogo nas residências e comércios, serei considerado um maluco: “Olha lá, o cara enlouqueceu, acha que está protestando”. Porém, se eu sair na rua, nestes casos, com mais 30 ou 50 pessoas daí não é loucura, é um “protesto”. Neste sentido, um hospício está repleto de pessoas “protestando”.

   A concepção zoológica da humanidade é fazer as pessoas reagirem pelo instinto animal puro e simples. Isso vai se alastrando como um incêndio pela sociedade. Porém, de certa forma, é impossível de se fazer isto no mundo todo, mas causa miséria e sofrimento durante o processo.

   Por mais que se queira, vamos por assim dizer, ser “frio e calculista”, é impossível para a esmagadora maioria das pessoas, pois o ser humano não controla suas emoções (emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, intenções, sensações, etc, a parte psicológica do ser humano), mas equilibra a emoção pela razão (raciocínio).

   Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa; decai uma, a outra vem de arrasto.

   Sábias palavras de Santo Tomás de Aquino: “O bem vem da razão”. E ponto final.