sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Projeto Em Frente Brasil


   Recentemente saiu a notícia do projeto Em Frente Brasil que visa combater a criminalidade violenta. Tal projeto foi lançado em cerimônia oficiosa e pomposa pelo governo federal, tal como era feito no governo Lula. Projetos de nomes bonitos lançados em cerimônias bonitas e muito puxa-saquismo entre os integrantes, egos exacerbados.
   A Força Nacional será colocada inicialmente em cinco municípios do País. Força Nacional esta, idealizada e criada em 2004 pelo então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos no governo Lula. Márcio Thomaz Bastos, depois que deixou o ministério, trabalhou como advogado. Entre os casos famosos em que trabalhou, foi o advogado de defesa de empreiteiras na Operação Castelo de Areia e na Operação Lava Jato. Em 1992, juntamente com o jurista Evandro Lins e Silva, participou da redação da petição que resultou no impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor e depois foi agraciado com o cargo de Ministro da Justiça no governo Lula.
   Os cidadãos brasileiros já ouviram falar da Força Nacional aqui e ali, mas agora, o governo Bolsonaro, através do Ministro Sérgio Moro, coloca a Força Nacional na linha de frente. Não obstante a intenção deste projeto Em Frente Brasil ser nobre, não é uma mudança estrutural. Os municípios não precisam de uma Força Nacional atuando por alguns meses tal qual se coloca o Exército nos morros. Os municípios e os estados precisam de mais policiais, mais equipamentos, melhores condições. Os estados e os municípios precisam de maior autonomia legal e de arrecadação, pois estão todos endividados com o governo federal.
   A mim este projeto parece uma medida paliativa que, com o tempo, se tornará inócua. A pompa durante o lançamento do projeto foi uma bela jogada de marketing, talvez para dar à população o senso comum de que o governo está fazendo algo profundo contra a criminalidade.
Até agora não vi nada neste governo Bolsonaro que me chamasse a atenção. Foram mudanças superficiais, nenhuma mudança estrutural, como a descentralização do poder do governo federal para os estados e municípios.
   Revogar decretos e leis do governo anterior não significa muita coisa, são medidas passageiras, pois o próximo governo, se for da oposição, revogará os decretos do Bolsonaro. Temos esse ciclo no Brasil há décadas, mas mudanças estruturais: nenhuma.
   É uma pena, pois eu tinha muitas esperanças no governo Bolsonaro, mas, repito, até agora não vi nada que me chamasse a atenção.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A Rebelião das Massas


   A massa tende à violência. Nunca entendi muito bem o significado dessa expressão. Aliás, nunca entendi muito bem o significado de “massa” no tocante à seres humanos. “Massa” seria uma multidão enfurecida? Nesse sentido tivemos manifestações de “massas’ que foram pacíficas e isso contraria uma multidão enfurecida.
   Talvez “massa” seja no sentido de manipulação, de que as “massas” são manipuláveis como uma massa de pão onde o padeiro bate nela até dar-lhe a forma desejada.
   Talvez "massa" seja a multidão frequentadora de estádios de esportes, como o futebol.
   Mas qual é a quantificação de “massa”? Quantas pessoas são necessárias para compor uma “massa” de pessoas?
   “Massa” então não seriam 999 pessoas, pois bastaria acrescentar mais uma pessoa tendo mil para compor uma “massa”? Qual o limite de pessoas que compõem uma “massa”?
   Sabemos que o conceito de multidão é quantitativo e visual e que “massa”, para Ortega y Gasset, “é o homem médio. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão – numa determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o mostrengo social, é o homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo genérico”.
   “Vocês que fazem parte dessa massa”, como diz a música; então não estou me incluindo nesta “massa” sendo que nem sei qual é esta “massa”. Sendo um dos conceitos de sociedade “a interação psíquica entre os indivíduos”, então faço parte dessa e de várias “massas”.
   Mas entendemos que a palavra “massa” não tem um significado exclusivamente político, pois “A vida pública não é só política, mas, ao mesmo tempo e ainda antes, intelectual, moral, econômica, religiosa; compreende todos os usos coletivos e inclui o modo de vestir e o modo de gozar”.
   Ainda que “massa”, a rigor, pode se definir como um fato psicológico, sem a necessidade que os indivíduos se aglomerem, como podemos saber se uma pessoa é massa ou não?
   Segundo Ortega y Gasset, “Massa é todo aquele que não se valoriza a si mesmo – no bem ou no mal – por razões especiais, mas que se sente “como todo o mundo”, e, entretanto, não se angustia, sente-se à vontade ao sentir-se idêntico aos demais”. Mas ao mesmo tempo ele diz que esse homem se sentirá medíocre e vulgar, mas não se sentirá “massa”.
   Talvez aí esteja o significado de “massa” como fato psicológico. Porém, o homem médio que se sente medíocre e vulgar, mas que não se sente “massa” é um homem individual e isto afasta a definição de “massa” como fato psicológico. E se este homem estiver no meio de uma multidão em uma manifestação e não estiver se sentindo “massa”, ainda assim é um fato psicológico individual.
   Talvez “massa” seja no sentido de boiada que segue o sinuelo. O sinuelo é aquele ou aqueles bois mansos que vão na frente da boiada para dar-lhes a direção que o condutor da boiada determinar. Então, nesse sentido, a “massa” de pessoas segue a opinião dos “formadores de opinião”, dos sinuelos que, por sua vez, seguem a opinião do condutor.
   Neste ponto do estudo, para ter uma “rebelião das massas” se faz necessário que o condutor da “massa” assim o queira. Então não é uma “rebelião das massas”, é uma rebelião do condutor das “massas”. E esta “massa” tenderá à violência se o condutor quiser, a não ser que as coisas escapem do seu controle.
   Não vou me estender nesta parte, pois um estudo mais completo desse “escapem do seu controle” demanda tempo e não é o objetivo deste texto.
   Então, o que é “massa”?
   No meu entender é um conceito extremamente vago e idiota. É mais um dos tantos conceitos implantados para manipular... a “massa”.
   E se a “massa” for composta de pessoas esclarecidas, deixa de ser “massa”? Neste caso vamos chamar de quê?
   Se a população de uma sociedade tiver boa educação e um bom nível de esclarecimento ainda assim se chamará de “massa”?
   São várias questões ainda não respondidas pela massa cinzenta.

terça-feira, 30 de julho de 2019

A Mais Valia de Marx

   Entendendo a mais-valia de Marx. Não entrarei profundamente na mais valia absoluta e na mais valia relativa, mas deixo aqui as conceituações de Marx, que não servem para muita coisa:
Chamo de mais valia absoluta a produzida pelo prolongamento do dia de trabalho, e de mais valia relativa a decorrente da contração do tempo de trabalho necessário e da correspondente alteração na relação quantitativa entre ambas as partes componentes da jornada de trabalho (O Capital, Livro 1, Vol. I, p. 363).
   Vamos tomar como exemplo o atacado e o varejo.  Quando compramos no varejo (de uma até duas ou três, ou mais mercadorias, até um certo número estipulado pelo fabricante e/ou pelo comerciante) a mercadoria tem um determinado valor. Quando compramos pelo atacado, a mercadoria, unitariamente, sai por um valor menor. No caso, segundo Marx, este valor é o valor de troca, posto que o valor de uso é intrínseco à mercadoria, o valor de uso já nasce com a mercadoria. Grosso modo, o valor de uso é a própria mercadoria, é o produto, é o valor que cada um dá à mercadoria não importando seu valor de troca, ou seja, não importando por quanto (em dinheiro ou capital) a pessoa vende ou compra a mercadoria. Algumas vezes o valor de uso é o valor de troca, outras vezes não.
   Ao comprar uma caixa de, por exemplo, água sanitária, o valor unitário (valor de troca, o preço) de cada recipiente é um determinado valor, mesmo eu não concordando com o preço e achando aquele valor (valor de uso para mim) muito caro. Utilizo o exemplo de água sanitária porque é bastante apropriado quando se estuda Karl Marx.
   Ao comprar um recipiente apenas, o valor é maior. Quando estamos dentro de um supermercado que vende por atacado temos uma caixa de água sanitária cujas unidades recipientes tem um determinado valor. Caso eu comprar a caixa toda, obviamente pagarei esse determinado valor. Porém, se eu abrir a caixa e retirar somente um recipiente, o valor deste recipiente aumenta automaticamente.
   Posso dizer, neste ponto, que aí está a mais valia de Marx (o valor excedente), pois, para o fabricante, o valor de produção da água sanitária é o mesmo. Seu custo e seu lucro já estão embutidos neste valor de produção. O preço que pagamos a mais quando levamos um único recipiente em relação a levarmos a caixa toda é, neste sentido, a mais valia de Marx, pois não há nada que justifique financeiramente este aumento no preço.
   Mas podemos dizer que o que justifica este aumento de preço é a quantidade da mercadoria (relação quantitativa entre mais valia e lucro, segundo Marx). Quanto mais compramos, menor preço pagamos. Assim é em praticamente tudo. Compramos uma dúzia de ovos, o preço é um; compramos uma bandeja de ovos, o preço é menor. Compramos um único livro de O Capital, o preço é um; compramos todos os volumes de uma vez só, o preço é menor.
   Obviamente temos, neste processo, os intermediários. Aí a trama se complica. Cada mercadoria tem um ou mais intermediários até chegar no consumidor final, por exemplo, o comerciante dono de mercado que compra no atacado e vende para o consumidor final, é um intermediário. Cada intermediário leva a sua parte aumentando o valor final. Até aí tudo bem. Este é o processo normal desde a produção até a venda final.
   Vemos, então, que temos uma estratificação no processo de troca de mercadorias onde cada camada tem o seu lucro (ou mais valia). Analisando-se assim, isoladamente, podemos chegar à conclusão segura de que a solução seria eliminar os intermediários. Porém, analisando-se a sociedade como um todo, tal solução é inviável pois acabaria em concentração de poder, totalitarismo, fim da humanidade como a conhecemos.
   Poderíamos aventar a possibilidade de que a mais valia seria também o que se chama de especulação, ou seja, aumentar o valor tendo por base uma situação futura e, obviamente, incerta. Por exemplo, a especulação do próprio dinheiro, a usura da qual Sócrates falava, emprestar dinheiro a juros. Teríamos aí, de certa maneira, a mais valia (o valor excedente).
   Vemos, então, que a mais valia não é simplesmente um valor excedente que resulta exclusiva e obrigatoriamente do lucro, posto que o lucro é uma parte financeira do processo de produção e venda. E digo, agora, processo de produção e venda, pois a venda faz parte do processo de produção, pois não teria sentido produzir uma mercadoria sem vendê-la sendo que estamos falando daquilo que Marx chamava de Capitalismo.
   Então, analisando-se neste sentido, a mais valia de Marx existe, porém, ela resulta da falta de moral e da falta de honestidade em cada camada do processo de produção, ou seja, resulta da falta de moral e da falta de honestidade de cada indivíduo envolvido no processo.
   Mais valia, taxa de mais valia, lucro e taxa de lucro são coisas distintas para Marx. Porém, Marx se perde na explicação dessas distinções. Basicamente, lucro, para Marx, é coisa exclusiva do empresário, do capitalista malvado. Ele fez um estudo em O Capital considerando tal estudo de forma geral, mas esqueceu-se de que os negócios feitos por um consumidor no mercado da esquina numa rua de um bairro de uma cidade são diferentes dos negócios entre países e que, no meio disso, tem inúmeros níveis e tipos de negócios que se diferenciam por si só.
   Atirar-se esta expressão - mais valia - de forma vaga e imprecisa na sociedade e ligando-a única e exclusivamente ao lucro, temos que, quando se fala a palavra “lucro” as pessoas automaticamente raciocinam como se lucro fosse uma coisa errada, malvada, mas todo mundo quer ter lucro. Não fosse assim, todos trabalharíamos de graça e todos morreríamos de fome; ou, então, eliminamos o dinheiro e adotamos o processo de escambo total (troca direta de mercadorias total), coisa impossível e até um tanto ingênua atualmente.
   Lucro, neste sentido no qual estou falando, posso dizer que lucro é também o salário do trabalhador. Não fosse assim, então o trabalhador deve transformar-se num capitalista para que possa ter lucro, mas daí voltaremos a toda a discussão de Marx que envolve capital, processo de produção, mais valia, lucro, taxa de lucro, valor de uso, mercadoria, valor de troca, etc, entrando, de novo, num processo sem fim.
   Donde conclui-se: caso você não quer ser um capitalista malvado, então não tenha lucro e mantenha-se a vida inteira na classe dos trabalhadores e seja explorado a vida inteira pelo capitalista malvado, pois no momento em que você tiver lucro, você deixa de ser um trabalhador e passa a ser um capitalista malvado.
   Então, a questão resume-se na resposta da seguinte pergunta: o que é lucro?
   Lucro seria o valor excedente cobrado na mercadoria? Neste caso, então lucro é a mais valia de Marx.
   Neste momento se faz necessário discernir o que é mercadoria para Marx. Basicamente, mercadoria para Marx é tudo, incluindo bens e serviços, e até o próprio ser humano. A força de trabalho também é uma mercadoria no sentido marxiano... ou marxista.
   Então, sendo lucro o valor excedente que um trabalhador cobra de seu patrão, logicamente, este trabalhador está usufruindo da mais valia. E sabemos que mais valia é pecado mortal para Marx. E isto transforma automaticamente o trabalhador num capitalista ganancioso. Um chefe de alguma agremiação de trabalhadores, por exemplo, um sindicato, quando está negociando com os patrões, de certa forma ele está negociando a mais valia (ou lucro) para os trabalhadores, pois a força de trabalho, para Marx, faz parte do processo de produção. Neste momento, “nosso capitalista recobra sua fisionomia costumeira com um sorriso jovial”.
   Obviamente podemos dizer que a mais valia vale somente para o capitalista, não vale para o trabalhador, pois este não tem lucro, tem somente o seu salário e o salário não é lucro. E assim desmanchamos o sorriso jovial do nosso capitalista. Então, a mais valia não está ligada ao lucro, são coisas distintas. E separamos trabalhador de capitalista, pois o capitalista, para Marx, é um não-trabalhador. E, desta forma, separamos em classes financeiras a humanidade que existe em cada ser humano.
   E voltamos à pergunta anterior: o que diabos é lucro?
   Talvez algum leitor saiba me responder essa pergunta, ou, algum leitor com moral e honestidade verá que a resposta dessa pergunta é que lucro é uma coisa individual, pessoal, intrínseca a cada negócio e que depende da satisfação pessoal de cada um dos envolvidos naquele negócio. Mesmo lucro sendo qualquer vantagem, benefício (material, intelectual ou moral) que se pode tirar de alguma coisa, ainda assim, o lucro em si não é malvado. Malvadas são as pessoas que escrevem 2.582 páginas em uma obra que, além de não conseguir responder nada, causam uma confusão imensa na sociedade.

domingo, 28 de julho de 2019

Eu

Temos o "eu ontológico", o "eu cognoscente",
O "eu verdadeiro", o "eu falso",
O "eu em si", o "eu inconsciente",
O "eu como ser", o "eu como ato",

O "eu consciente", o "eu sujeito",
O "eu que nega", o "eu matéria",
O "eu que afirma", o "eu objeto",
O "eu que tanto-faz-como-fez (esse inventei agora").

O "eu penso, logo existo", o "eu existo, logo penso",
O "eu independe" do "eu que depende" (sem evitar o jogo de palavras).
E temos também o "não-eu" que é o "eu" que não sou eu
Que lembra de não esquecer do mundo.
Talvez esqueci de algum"eu".
É que são tantos "eus" que eu mesmo já nem sei quem sou.
Autor: Eu.

sábado, 27 de julho de 2019

Pensamento, Linguagem e Comportamento

   Para nosso estudo, coisa é tudo que há (corpóreo ou incorpóreo) tanto fisicamente quanto em pensamento; objeto é aquilo que se está estudando; sujeito é aquele que estuda o objeto. Uma coisa pode ser um objeto material ou imaterial estudado pelo sujeito. Por exemplo, um ser humano estudando outro ser humano (Paulo estudando Pedro), Paulo é o sujeito do estudo e Pedro é o objeto do estudo, porém, os dois são coisas. O que é esta coisa que estou estudando? O que é esta coisa que está me estudando?
   O conceito de coisa, neste caso, é bastante amplo, por isso faz-se necessário deixar bem claro de qual coisa (em que sentido estamos falando) em cada situação.
   Óbvio é que existe também o significado gramatical da palavra coisa que, basicamente, vem ao encontro do sentido acima. Porém, por uma questão de clarificação, uma coisa enquanto objeto de estudo não significa que estamos coisificando pejorativamente um ser humano no exemplo acima. Fosse assim, então a psicologia, a psiquiatria, a antropologia, etc, coisificam o ser humano, o que é absurdo. Por isso torna-se estritamente necessário evitar a repetição desmesurada da palavra coisa e, quando a usarmos, que fique bem claro seu significado. E este pensar, ou modo de pensar, aplica-se a outras coisas enquanto objetos de estudo.

Pensamento
   Há uma diferença entre o pensar e o pensamento. O pensamento refere-se ao conteúdo, ao objeto no qual pensamos. O pensar é o ato em si. Quando pensamos, pensamos em determinada coisa, em determinado objeto - objeto aqui não é somente um objeto físico -, repetindo em outras palavras: objeto deve ser entendido como a coisa em si e esta coisa pode ser tanto um objeto material quanto um objeto imaterial, por exemplo, respectivamente, cadeira e liberdade. São duas coisas que podem vir a ser objetos de estudo.
   Um objeto de estudo, grosso modo, é a coisa discutida, conversada, estudada, falada, etc. Quando estamos no churrasco de fim de semana discutindo o resultado do campeonato de futebol ou conversando sobre a novela, de certo modo, estes são os nossos objetos de estudo: o resultado do campeonato e a novela.
   O pensamento depende da coisa na qual pensamos, por exemplo, uma árvore (pensamos em uma árvore). O pensar é o ato de pensar em uma árvore, mas podemos pensar em uma cadeira, em uma pedra, em um cavalo, em um ser humano, etc. Podemos pensar duas ou três vezes na mesma árvore, podemos pensar três vezes em três cavalos diferentes, etc. O pensar, em si, enquanto coisa estudada, independe do objeto no qual pensamos, o pensar pensa um pensamento. Não nos deteremos aqui, neste estudo, no pensar.
   Para entendermos melhor o pensamento vamos tentar definir conceito objetivo e conceito subjetivo. Mas antes, precisamos saber o que é conceito.
   Para o nosso entendimento, conceito é aquilo que nos vem à mente (imagens e/ou palavras) quando pensamos em alguma coisa, num objeto material ou imaterial, e serve para organizarmos nosso pensamento. Por exemplo, dez pessoas olhando para a mesma árvore, a imagem mental dessa árvore será a mesma, basicamente, na mente dessas dez pessoas posto que estão olhando para a mesma árvore (independentemente que cada pessoa esteja vendo essa árvore de posições diferentes entre si, por exemplo, as dez pessoas dispostas ao redor da árvore; ou as dez pessoas vendo a árvore de uma mesma posição).
   O pensamento é na árvore que estamos vendo, mas o conceito é sobre a árvore em si ou sobre aquela árvore especificamente.
   Vemos então que, nesse sentido e para o nosso entendimento, o conceito torna-se uma coisa individual e com uma forte base na realidade física, pois estamos percebendo uma coisa física (a árvore). Este é, basicamente, o conceito objetivo. É aquele conceito que fazemos de coisas físicas, coisas que existem fisicamente na realidade, coisas que podemos tocar, cheirar, ver, ouvir e/ou degustar. Não entrarei aqui nas distinções entre realidade, realidade física e realidade metafísica. Limitar-me-ei a dizer especificamente realidade física quando estiver referindo-me às coisas físicas, que existem materialmente.
   O conceito subjetivo refere-se às coisas que não existem na realidade física. Por exemplo: liberdade, igualdade, fraternidade, sistemas políticos, sistemas econômicos, etc. Coisas que não podemos tocar, cheirar, ver, ouvir e/ou degustar, coisas que não podemos perceber diretamente através dos cinco sentidos.
   Obviamente, não estou falando de “conceitos objetivos” e “conceitos subjetivos” no sentido da tradução gramatical do conceito em palavras (faladas ou escritas). Um conceito subjetivo (por exemplo, liberdade) pode ser definido objetivamente em palavras (faladas ou escritas). Mesmo que esta definição do conceito liberdade não seja exata, ainda assim, o conceito traduzido em palavras, gramaticalmente será objetivo.
   Um adendo: o ser humano comunica-se, basicamente, por palavras faladas ou escritas. É óbvio que o ser humano também se comunica de outras formas (exemplo, por imagens, aqui no sentido de figuras, fotos, filmes, etc). Porém, a forma mais usual de o ser humano comunicar-se é através das palavras. Fosse eu tentar comunicar este texto somente através de mímica ou somente através de imagens vemos que se torna uma tarefa praticamente impossível.
   Logo entrarei na diferença entre conceito, descrição e definição.
   Poderia discorrer sobre a diferença entre conceito e imagem, porém, não é objeto deste estudo, pois daí entraremos em algo mais avançado e o nosso intuito é nos atermos ao básico. Mas posso dizer que no pensamento uma imagem pode representar um conceito. Grosseiramente dizendo, às vezes pensamos por imagens e às vezes por palavras. Imagem no sentido de figura mental completa, bem definida. Algumas pessoas pensam mais por imagens e outras pensam mais por palavras. As dez pessoas vendo uma árvore farão uma imagem mental dessa árvore e depois traduzirão essa imagem em palavras (faladas ou escritas). Esta tradução em palavras veremos adiante em descrição e definição.
   Então, conceito é aquela imagem mental abstrata que nos vem à mente quando pensamos, mas conceito também é o pensamento que temos diretamente em palavras. Esta é a duplicidade do conceito. É a isto que dou o nome de conceito para este nosso estudo. Faço isto para evitar confusões como: qual é o conceito de conceito? Esta pergunta está errada, a pergunta correta é: qual é a definição de conceito? Perguntar qual é o conceito de conceito é a mesma coisa que perguntar qual é a liberdade de liberdade, não faz sentido, pois são coisas subjetivas e não queremos entrar num processo de ilusão mental onde terminaremos enlouquecendo.
   Sabendo a diferença básica entre conceitos objetivos e conceitos subjetivos evita-se esse tipo de confusão. Até porque, a definição de conceito já foi dita anteriormente: é aquilo que nos vem à mente (imagens e/ou palavras) quando pensamos em alguma coisa, num objeto material ou imaterial, e serve para organizarmos nosso pensamento.
   Quando o pensamento tem como objeto uma coisa física, uma coisa que existe na realidade física, o seu conceito será objetivo. Quando o pensamento tem como objeto uma coisa que não existe na realidade física o seu conceito será subjetivo.
   Lembrando que, basicamente, objetivo refere-se ao objeto e subjetivo refere-se ao sujeito. Há uma forte relação entre sujeito e objeto no sentido em que um não existe sem o outro. Para existir um objeto de pensamento é necessário existir um sujeito pensante. É a duplicidade sujeito-objeto.
   Deter-me-ei aqui no pensamento em sentido restrito que é aquele no qual o pensamento é considerado como produto da nossa mente. O pensamento em sentido extenso é aquele, basicamente, no qual o pensamento não é produto da nossa mente, ou seja, o pensamento está em toda a realidade (física e metafísica) e nós simplesmente captamos, apreendemos o pensamento.
   Pensamento em sentido restrito e pensamento em sentido extenso podemos encontrar de modo mais aprofundado na obra Lógica e Dialética de Mario Ferreira dos Santos.
   Descrição é o ato de descrever o conceito em palavras (faladas ou escritas). Quando externamos em palavras o conceito estamos fazendo uma descrição ou uma definição do conceito.
   Para descrevermos o objeto do nosso pensamento faz-se necessário tomarmos por base algumas categorias, como As Categorias de Aristóteles. Por exemplo, quando eu pergunto o que é isto? - sendo que eu tenho na mão um lápis -, provavelmente as pessoas responderão: é um lápis. Mas eu posso responder: não perguntei o nome desta coisa, perguntei o que é isto, o que é este objeto que tem o nome de lápis? Não obstante eu me referir à essência do lápis, não é disto que tratarei neste estudo. Estou falando de como posso chegar perto da essência do lápis, o que é este lápis.
   Para a pergunta o que é isto ser respondida temos que organizar nosso pensamento. Para respondermos o que é este objeto que leva o nome de lápis obviamente teremos que primeiro descrever o objeto e aí entram como parâmetros As Categorias de Aristóteles: - É um objeto de uns 20 centímetros de comprimento (quantidade), na cor verde (qualidade), estou segurando verticalmente agora na minha mão (verticalmente, agora, na minha mão, respectivamente, categorias de estado, tempo e lugar) e assim por diante. É óbvio que as categorias são parâmetros que darão o início da descrição. Na descrição temos de fornecer mais informações: é um objeto com um bastão redondo de grafite envolto por uma camada de madeira e assim por diante. Isto é a descrição.
   A definição é a descrição mais a finalidade do objeto; este objeto serve para quê? Então, na definição daremos a descrição e a finalidade do objeto. Isto é a definição.
   Seguindo no exemplo, a definição é toda a descrição do lápis com a sua finalidade, terminaríamos dizendo após a descrição, algo como: este objeto (ou, em sentido mais genérico, esta coisa) serve para escrevermos no papel.
   Aprofundando um pouco o pensamento acima, posso dizer que podemos escrever um livro, uma enciclopédia, partindo da descrição do objeto lápis no sentido de que teríamos que descrever e definir o que é verde, o que é madeira, o que é grafite e assim por diante.
   Imaginemos este exercício na realidade física. Uma pessoa descrevendo o lápis em palavras numa folha de papel e depois entregando esta folha com a descrição para outra pessoa ler. Esta outra pessoa terá que dizer qual é o objeto que foi descrito. Veremos que, se o objeto não for bem descrito, a outra pessoa dirá: olha, acho que é um lápis. Caso a descrição for bem feita, a outra pessoa saberá com um certo grau de certeza que é um lápis.
   Contudo, se dermos a definição do objeto, a outra pessoa saberá com toda a certeza que é um lápis. Imaginemos agora a descrição de um objeto mais complexo, como um carro, sem dizer que estamos descrevendo um carro. Sem colocarmos a finalidade torna-se um pouco mais difícil para a outra pessoa saber com certeza qual objeto é. Mas com a finalidade, que caracteriza a definição, ficará melhor para a outra pessoa perceber qual objeto é. É óbvio que existem coisas que são fáceis de descrever e outras não.
   Em questão de organização do pensamento, quando colocamos a finalidade no início da definição (finalidade+descrição) torna-se muito mais fácil percebermos qual objeto é. Quando colocamos a finalidade no fim da definição, provavelmente teremos certeza de qual objeto é quando chegarmos ao fim da definição (descrição+finalidade).
   Neste ponto do estudo, torna-se óbvio que conceitos subjetivos (por exemplo, igualdade) nem sempre tem uma finalidade específica ou têm várias finalidades e isto pode confundir. Então fica um pouco mais trabalhoso definir conceitos subjetivos, pois estes referem-se às coisas que não existem fisicamente, mas sabemos que existem porque tem um nome e podemos ver seus efeitos e suas consequências na realidade física (por exemplo, liberdade).
   Caso fôssemos fazer o exercício da descrição e da definição, no papel, do conceito liberdade, que é um conceito subjetivo, teremos algumas dificuldades em expressar-nos. Além destas dificuldades individuais, vemos que, definições de conceitos subjetivos, para terem alguma validade, devem ser confrontadas com outras definições de outras pessoas. Definições de conceitos objetivos também são confrontadas com outras definições de outras pessoas, porém, nas definições de conceitos objetivos temos o objeto físico para dirimir as dúvidas e sabermos o que é real ou não.
   Por óbvio torna-se também que estas dificuldades estão relacionadas com o vocabulário de cada pessoa que definirá este ou aquele conceito. Por exemplo, as definições de árvore das dez pessoas não serão exatamente iguais e nem totalmente diferentes ainda que estejam vendo a mesma árvore. Óbvio também é que a percepção de cada pessoa influencia no processo, mas como falei, nosso intuito é nos mantermos no básico, na organização do pensamento.
   Então, basicamente, o conceito está na nossa mente; a descrição e a definição é quando externamos o conceito em forma de palavras. Assim organizamos melhor nosso pensamento.
   Para dirimir a dúvida entre conceito e pensamento digo que o ser humano pensa num objeto, numa coisa, (pensar num objeto é o pensamento), o conceito, dizendo de outro modo, é a definição ainda não externada em palavras. Aí suprimimos também a dúvida entre conceito e definição.
   Então, colocando a coisa numa escala hierárquica do geral para o particular, temos o pensar, o pensamento, o conceito e a definição. A descrição não entra nesta escala, pois a descrição está inserida na definição. Algumas vezes podemos partir do geral para chegarmos no particular, outras vezes podemos partir do particular para chegarmos no geral.
   De uma forma mais prática, em relação ao perguntarmos o que é isto, o que é esta coisa da qual se está falando, eu posso pegar, ver, ouvir, cheirar e/ou degustar? Caso estivermos falando, por exemplo, de cadeira, então é um conceito objetivo, existe fisicamente. Caso estivermos falando de liberdade, então é um conceito subjetivo, não existe fisicamente. A partir daí o processo de raciocínio é diferente em cada caso.
   É necessário perguntar o que é isto, o que é esta coisa, o que significa esta palavra a qual estamos estudando, falando, escrevendo, etc, pois assim começa-se a organizar de forma lógica o pensamento. Obviamente nem sempre precisamos fazer um estudo rebuscado buscando a resposta dessa pergunta, mas temos de, no mínimo, saber do que estamos falando, no mínimo, saber o significado das palavras. E não fique esperando alguém vir contar para você, procure saber, tenha iniciativa, procure no dicionário, pergunte para quem saiba, são tantas opções de informação existentes no mundo! Não fique preso na cadeira, vá em busca da liberdade através da informação.

Linguagem
   Com relação à linguagem, mantendo-se no básico, posso estabelecer como língua a língua portuguesa, a língua alemã, a língua inglesa, etc. Linguagem, para este estudo, refere-se ao modo como nos expressamos em palavras e isto engloba a língua. A linguagem refere-se também, além da língua, à entonação da voz e expressão corporal (gestos e mudanças na face).
   Não entrarei aqui em estudos de linguística, pois é matéria extensa. Meu objetivo é clarificar a relação entre pensamento, linguagem e comportamento. Esta relação é una (de um) e indivisível, é uma trindade. Sabemos que, basicamente, temos o pensamento, a linguagem e o comportamento. Essas três coisas são indivisíveis no sentido de uma afetar a outra. Quando se muda uma, mudam-se as outras duas. A mais fácil de mudar é a linguagem. O pensamento e o comportamento também podem ser mudados diretamente, porém, são mais difíceis de serem mudados.
   A linguagem, sendo o modo como nos expressamos, tendo como base uma determinada língua, é a materialização do pensamento, é o pensamento tornado real, e influencia no pensamento e no comportamento. Dos três (pensamento, linguagem e comportamento), a mais fácil de mudar é a linguagem. Mudar diretamente o pensamento torna-se deveras difícil, pois teremos de agir diretamente na mente. Ações diretas na mente requer isolamento do indivíduo, sozinho ou em grupos reduzidos; requer repetições constantes das mesmas definições e conceitos; requer mudanças das definições e, por conseguinte, dos conceitos; além de outras coisas. É um conjunto de coisas que dependem do objetivo a ser alcançado com a mudança do pensamento.
   Contudo, vemos que “repetições constantes” e “mudanças de definições e conceitos” agem primeiro na linguagem e depois mudam o pensamento. A linguagem é mais fácil de ser mudada para se conseguir mudança de pensamento e/ou comportamento.

Comportamento
   O comportamento refere-se ao modo como agimos na vida, à maneira como procedemos em relação aos outros e à maneira como cada um procede em relação a si mesmo. Um indivíduo estando sozinho pode comportar-se de determinada maneira; estando em um grupo pode comportar-se de outra maneira; estando em outro grupo pode comportar-se de aqueloutra maneira. De certo modo isso é natural em relação ao comportamento em si, como objeto de estudo. Mudamos nossa maneira de agir (nosso comportamento) de acordo com a situação.
   Dando um exemplo: "Conheci ontem uma pessoa de origem humilde, seu nome é João. Conversamos longamente sobre a vida. João falou-me dos seus problemas, de como está angustiado e não consegue resolver tais problemas. Que seus chefes estão pressionando João devido a um serviço mal resolvido no trabalho e isso acarreta problemas em casa".
   À primeira vista, talvez o leitor pense que João é pobre, mas João não é pobre. Ele tem posses. A mudança da palavra “pobre” para a expressão “de origem humilde” causa essa confusão. Humildade é uma virtude, pobreza é uma condição financeira. Ao mudar a linguagem, mudei o conceito em relação à realidade física. Caracterizei que “origem humilde” é uma coisa exclusiva de quem é pobre e, por conseguinte, quem é rico não pode ser humilde. Dei a exclusividade da humildade para a pobreza. Caracterizei também que “de origem humilde” é aquela pessoa coitada com um chapéu ou boné nas mãos dizendo “sim senhor” e “não senhor” para todos. Isso não é humildade, é subserviência, praticamente o contrário de humildade. Humildade é saber reconhecer suas virtudes e seus defeitos e isso independe da condição financeira da pessoa. Uma pessoa nascida rica pode ser de origem humilde, basta ter sido criada com humildade. Humildade em si tem nada a ver com condição financeira.
   Sem entrar nas definições de “rico” e “pobre” - pois há linhas tênues entre tais definições - acredito que o exemplo serviu ao seu propósito. Mudando a linguagem, mudamos o pensamento e o comportamento.
   Não entrarei aqui nas distinções e limites de bom comportamento e mau comportamento, isso também é matéria um tanto extensa.
   O comportamento também pode ser mudado diretamente através de ações práticas. Quando se induz ou se força uma pessoa a adotar um comportamento contrário ou que não corresponda muito à sua índole, a tendência é esta pessoa mudar de comportamento, principalmente se for um adolescente ou um jovem. Adultos também estão sujeitos a esta mudança, porém, a lentidão ou ligeireza da mudança de comportamento, neste caso, se dá de acordo com o grau de instrução, de conhecimento, de sabedoria e de maturidade emocional de cada um. Exemplo, induzir uma pessoa ou várias pessoas de um grupo a adotar um determinado comportamento mediante o pagamento de uma recompensa, seja ela qual for. Esta ou estas pessoas poderão, de início, não aceitar o novo comportamento, mas o farão. Caso o exercício se repita muitas vezes, a tendência é que as pessoas, com o tempo, mudarão de comportamento ou mesclarão o novo comportamento com o comportamento antigo.
   Sobre o comportamento, neste ponto do estudo, não há como se estender.

Final
   As relações entre pensamento, linguagem e comportamento tem o seu fundamento no fato de que nos expressamos, basicamente, através da linguagem falada e da linguagem escrita. Mudando-se a linguagem (aumentando ou diminuindo o vocabulário, ou substituindo-se umas palavras por outras) muda-se o pensamento e, por conseguinte, muda-se o comportamento. Isto é fato.
   Com efeito, a linguagem, tanto falada quanto escrita, é a materialização do pensamento. E o pensamento determina majoritariamente o comportamento. E assim vamos seguindo neste ciclo de mudança desde o nascimento até a morte. Vamos mudando o pensamento, a linguagem e o comportamento. A linguagem, o pensamento e o comportamento. O comportamento, o pensamento e a linguagem.
   Em se tratando de coisas físicas (sensíveis aos cinco sentidos, coisas objetivas) torna-se difícil mudar o nome do que já está nominado. Porém, em se tratando de coisas subjetivas (coisas não físicas) é mais fácil mudar o nome ou a definição da coisa.
   Vemos que, com conceitos subjetivos o processo de nominação e definição da coisa é, basicamente, convenção humana. Por exemplo, liberdade. Não podemos pegar a liberdade, cheirá-la, ouvi-la, degustá-la ou vê-la. Mas podemos encarcerar alguém tirando a sua liberdade física, porém, esse alguém poderá conservar a sua liberdade de espírito.
   Sabemos que atrelado ao nome da coisa (exemplo, lápis), está a definição da coisa (o que é isto chamado lápis). E para chegarmos à definição de uma coisa precisamos analisar a matéria e a forma desta coisa. Porém, a maioria das coisas do mundo conhecemos através da intuição, através dos sentidos. Ao aprendermos, quando crianças, que uma cadeira se chama cadeira, geralmente dizem-nos, “senta ali na cadeira”, sem que seja preciso descrever ou definir: - “Senta ali naquele objeto de madeira com quatro pernas, um assento e um encosto. Isso se chama cadeira”. Aprendemos por intuição que aquela coisa é uma cadeira. E este processo de aprendizado intuitivo faz-nos relacionar automaticamente o nome à coisa e depois não nos preocupamos mais em relacionar o nome à coisa.
   O nome e a definição das coisas físicas representam a coisa em si. Mesmo que coisas físicas tenham o seu nome convencionado (por exemplo, lápis), ainda assim, pelo processo de aprendizado intuitivo a relação cria-se naturalmente e o nome e a definição passam a representar a coisa em si. Assim, torna-se difícil mudar o nome e/ou o conceito e/ou a definição de uma coisa física.
   Ao mudar-se o nome de uma coisa já estabelecida com o seu nome, por exemplo, trocar o nome mesa pelo nome ar para o objeto mesa (chamar uma mesa de ar) nos causará estranheza... talvez o leitor esteja pensando agora numa mesa feita de ar. E, se não pensou, agora está pensando numa mesa de ar pelo simples fato de eu ter repetido a sentença.
   A mudança de nomes somente será possível quando todos que falam a mesma língua aceitarem esta mudança! Mas daí, em decorrência, chamaremos o ar de quê? De mesa? Ou iniciaremos um ciclo interminável de mudança dos nomes das coisas?
   As coisas subjetivas (exemplo, liberdade) têm, basicamente, o seu nome e a sua definição convencionados e, quando mudados, além de causar confusão mental imensa, mudam o pensamento e o comportamento. Mudar o nome e manter a definição de conceitos subjetivos causa confusão mental imensa. Mudar a definição, mesmo que minimamente, e manter o nome também causa confusão mental imensa.
   Outro exemplo: se eu aprendo desde o nascimento que aquela figura masculina em casa chama-se pai e em determinado momento muda-se o nome da figura masculina para mãe, ainda assim a realidade física continuará a mesma, porém, caso eu for uma criança ou um adolescente entrarei invariavelmente em confusão mental.
   Caso eu for ensinado desde o nascimento que aquela figura masculina se chama mãe, no meu conceito a imagem da figura masculina terá o nome de mãe, será mãe. Mas outras pessoas terão o nome pai para a figura masculina. Isso causa confusão na sociedade.
   Ou muda-se o pensar, o pensamento, o conceito e a definição de toda a humanidade de uma vez só ou deixa-se de querer revolucionar as coisas. Porém, caso você seja louco o suficiente para acreditar que pode mudar o pensar, o pensamento, o conceito e a definição de toda a humanidade de uma vez só, então você deve ser internado num hospício. E se você, sabendo que não pode fazer essa mudança de uma vez só, querer mudar aos poucos, ainda assim terá de ser internado, pois esse tipo de mudança forçada, aos poucos, causa somente confusão na sociedade.
   Quando se muda o nome da coisa, obviamente leva-se um tempo até mudar a definição e, por conseguinte, leva-se um tempo até mudar o conceito que esta coisa tinha na mente de cada um. Durante este tempo de mudança, o indivíduo (ou o grupo), ficará com um pensamento duplo na mente, entrará num processo de ilusão mental, de confusão mental. Isso acontece ao tentar mudar somente UM nome, UMA definição ou UM conceito. Imaginem vários nomes, vários conceitos e várias definições sendo mudados ao mesmo tempo em uma sociedade. É a loucura generalizada.
   Aí vemos o problema ao querer revolucionar o pensamento, a linguagem e o comportamento. Essas mudanças devem ser naturais, devem evolucionar e não revolucionar.
   A base das coisas é a realidade física, o mundo físico sensível aos sentidos. Para se chegar à metafísica primeiro reconheça a existência do mundo físico e tente entendê-lo, isso é óbvio. A filosofia parte da realidade física. Depois vai-se avançando, através da imaginação, através da própria filosofia, até chegar na metafísica, além da física, onde a filosofia continua, mas mantém os pés no chão.