sábado, 25 de janeiro de 2025

Ética e Moral


    Vamos começar (eu e o leitor) com Mário Ferreira dos Santos no livro "Cristianismo: A religião do homem".
    E não estamos falando de religião aqui, mas de Ética e Moral, uma das bases de toda Religião, da Filosofia e, por que não dizer, da vida!
    A partir do parágrafo 56, Mário começa a discorrer sobre o assunto - e não precisa se preocupar, não terá de contar os parágrafos, pois o livro foi escrito numerado em parágrafos. Leia o livro todo, porém, caso quiser, vá direto a esse parágrafo 56.
    No parágrafo 59, Mário, em sua genialidade costumeira, começa definindo etimologicamente: "...em grego, valor é axios e o homem é antrophos, daí chamarem a esses valores axioantropológicos".
    No parágrafo 60, Mário diz: "Os atos continuados constituem o costume (o que os gregos chamavam ethos e os latinos mos, moris, de onde vêm Ética e Moral)."
    A etimologia das palavras às vezes ajuda às vezes atrapalha, na maioria das vezes ajuda.
    Os atos éticos ou morais são atos que têm valor, porém, "valor" neste sentido refere-se à dignidade, não ao preço.
    "Assim, toda vida prática do homem gira em torno da Ética."
    A partir do parágrafo 61, Mário começa a fazer a distinção entre Moral e Ética e diz que essa distinção não é arbitrária porque a Ética estuda o dever-ser humano e a Moral descreve e prescreve como se deve agir para realizar esse dever-se.

    "A Moral é variante, mas a Ética é invariante."
    "Aqueles que dizem que a Ética é vária, porque a Moral é vária, confundiram a Moral com a Ética."

    Mário nos diz, com base na realidade, no apodítico e na auto-evidência que a Ética deve ser consagrada ao universal.
    Por exemplo: matar é errado... e ponto final. Todo ser humano sabe disso.
    Porém, caso eu matar em legítima defesa, é errado?
    Isso é uma discussão Moral.
    Dando um exemplo mais claro ainda: todo juri em que uma pessoa que matou alguém é julgada pelas leis humanas é uma discussão Moral, pois a Ética já foi infringida.
    Porém, por a Ética já ter sido infringida não significa que ela não é invariante, pois o termo "invariante" refere-se às leis divinas ou leis naturais, depende se você acredita ou não em Deus, mas tais leis são as mesmas: todo mundo sabe que matar é errado e mesmo tendo infringido o "não matar", o princípio continua sendo errado mesmo que todo mundo faça.
    Daí vem o Direito Penal, Direito, Civil, Direito Natural, etc.
    E isso se aplica a não mentir, não roubar, não trair, etc.
    No Brasil, essa confusão é evidente e proposital feita pelos detratores da Ética e da Moral, como bem disse Mário.
    Confunde-se Ética com Moral, troca-se uma pela outra, não se sabe do que se está falando... vira uma confusão mental.
    Temos em empresas privadas e públicas, por exemplo, os tais "códigos de ética" (missão, valores, etc) que, na verdade, são códigos de moral porque permitem discussões; e não é uma simples questão de nominação porque a Ética é invariante (não enseja discussões) e a Moral é variante (enseja discussões).

    A Moral é a discussão em torno da Ética.

    Matar, mentir, roubar, trair, corromper, etc, todo ser humano sabe que isso é errado.
    As justificativas e desculpas que você dá do porquê você matou, traiu, mentiu, etc, são discussões Morais.
    E é necessário saber essa distinção, senão você não saberá distinguir entre uma e outra.
 
   Vamos imaginar que não exista Deus, que Ele seja uma invenção do ser humano, ou seja, teríamos certeza de que Deus não existe.
   Vamos imaginar que Moisés, o da Bíblia, quando subia ao Monte Sinai - segundo se sabe fez isso 8 vezes - para "falar" com Deus era tudo jogo de cena, Moisés subia para controlar o povo, sendo que naquela específica subida ao Monte Sinai na qual desceu com as Tábuas da Lei, inventou essa "estória" de um deus entalhando furiosamente as duas tábuas de pedra a raios, marteladas divinas com o cinzel sagrado e sei-lá-mais-o-quê.

   Vamos mais além, vamos imaginar que a Bíblia inteira é uma alegoria, uma estória de ficção composta de várias estórias da carochinha. Vamos imaginar que os Dez Mandamentos sejam somente 10 mesmo e sejam, resumidamente (apesar das várias versões), os que se seguem:
1- Não ter outros deuses diante de mim.
2- Não tomar em vão o Nome do Senhor teu Deus.
3- Guarda o dia de sábado para santificar.
4- Honra teu pai e tua mãe.
5- Não matar.
6- Não pecar contra a castidade.
7- Não roubar.
8- Não mentir.
9- Não desejar a mulher do próximo.
10- Não cobiçar as coisas alheias.

   Independentemente de ter sido Deus ou Moisés quem entalhou as pedras, vamos analisar logicamente esses enunciados ou proposições ou imperativos... ou Mandamentos mesmo.

   Supondo que você não acredite que Deus exista e que você seja nada religioso, então podemos tirar os 3 primeiros da lista. Supondo que você não acredite que o Deus da Bíblia exista e seja um pouquinho religioso vamos tirar os 2 primeiros da lista porque você bem pode tirar o sábado (ou o domingo) para rezar para teu Deus, seja lá qual Ele for, para ir num balneário, ficar de folga com a natureza, ir à praia, ficar em casa fazendo nada, etc.

   Contudo, vamos analisar seguramente os outros 7 mandamentos que independem de você acreditar na existência de um ser supremo, de um Deus, de vários deuses, etc, independem até de você ser uma pessoa religiosa, espiritual, espirituosa, ateu, atéia, a toa, etc de novo.
   Vamos chamar esses 7 mandamentos agora de "Princípios Éticos". Vamos tomar o número 5, Não Matar, e analisar à luz da Filosofia.
   Sabe-se que "Princípio", em Filosofia, é aquilo que está no início e antes não precisa ter nada, nem mesmo uma explicação em palavras... pode até ter uma explicação em palavras, mas não se faz necessário.
   Todo mundo sabe que matar é errado em si, o ser humano nasce sabendo disso.
   Ética é, grosso modo, faça o certo e não faça o errado, tem de cumprir essas duas premissas ao mesmo tempo.
   Moral é a discussão em torno da Ética.
   Por exemplo, um Júri de homicídio é uma discussão Moral porque o Princípio Ético "Não Matar" já foi infringido, então, discutem-se as circunstâncias em torno disso. Mesmo você sendo ateu, religioso, etc, tudo é uma questão de Ética e Moral, simples assim.
   Na Moral, o ser humano discute e mente em torno dela. Legítima defesa, por exemplo: eu posso matar em defesa minha ou de terceiros? A resposta dessa pergunta é uma discussão Moral.
   Eu, vendo minha filha sendo estuprada, salvo ela e não mato o estuprador?
   "Não tenho sangue de barata", dirá você.
   Caso você seja uma pessoa essencialmente ética, você não matará em circunstância nenhuma.
   O único ser humano essencialmente Ético foi Jesus Cristo, foi o único que cumpriu à risca os Mandamentos ou Princípios Éticos. É claro que Jesus não teve filha e, de bônus, fazia milagres, então a comparação foi, neste sentido, injusta, mas Jesus foi o único que conseguiu a façanha de Não matar, Não Mentir, etc. Pelo menos é o que se sabe.

   Ética é isso: faça o certo e não faça o errado, Ética é Divina!
   Moral são as discussões em torno da Ética, Moral é do Ser Humano!

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