sábado, 11 de julho de 2020

O Método Aristotélico


     Antes de falar sobre o método Aristotélico gostaria de esclarecer um ponto que tenho visto por aí. Alguns falam em “Lógica Aristotélica”, porém, tal expressão não é apropriada. Aristóteles falava da Analítica. Para citar somente Pinharanda Gomes, o substantivo Lógica está ausente no Organon. “O substantivo lógica é forma tardia, mais devida ao eclectismo alexandrino e romano do que ao magistério liceal.” Então, é mais apropriado falar em Analítica Aristotélica.
     Para entender melhor, posso dizer que fazemos um raciocínio analítico (um processo de análise) para chegarmos a uma conclusão e esta conclusão pode ser (e/ou ter) lógica ou não. Em sendo (e/ou tendo) lógica, podemos encerrar a análise ou nos aprofundarmos no tema. Em não sendo (e/ou não tendo) lógica a conclusão, devemos continuar a análise. Vemos que, além de cronologicamente na história, a lógica surge naturalmente depois da analítica posto que é impossível de se chegar a uma lógica sem antes ter feito uma análise.
     Estou falando do raciocínio do ser humano, é um processo de análise. Aristóteles conseguiu, com excelente propriedade, reproduzir no papel como funciona o raciocínio do ser humano (atrevo-me a dizer que Aristóteles conseguiu reproduzir no papel como funciona o raciocínio natural do ser humano).
     Faço uma distinção: pensamento e raciocínio. Para nosso entendimento (meu e do leitor), pensamento é o ato ou o efeito de pensar. Raciocínio é a organização dos pensamentos, a concatenação dos pensamentos (um pensamento após o outro, cada um relacionado logicamente ao anterior). E por que essa distinção é importante? É importante porque todos nascemos sabendo pensar e devemos aprender a raciocinar no decorrer da vida, senão nossos pensamentos se tornarão confusos, não teremos um raciocínio analítico e não entenderemos várias coisas na vida. Nossa mentalidade será confusa, vamos por assim dizer.
     Que fique bem claro, o raciocínio analítico não é uma fórmula mágica que se aprende para ficar inteligente, mas é um processo que, se praticado, com o tempo passa a fazer parte da mentalidade da pessoa.
     O método Aristotélico não está explícito na obra de Aristóteles, mas, de certa forma, está bem claro. Vou tomar por base algumas expressões correntes e constantes em Aristóteles. Expressões como “por exemplo”, “por outro lado” e “com efeito”. Não são as únicas, mas são as mais constantes, principalmente no Organon.
     Aristóteles sempre começa discorrendo sobre um tema e após algumas ou várias linhas utiliza-se de exemplos para clarificar o que disse anteriormente e os exemplos sempre tem uma forte relação com o dito anteriormente. E isso é óbvio, pois se o exemplo serve para clarificar alguma coisa, não poderá o exemplo ser mal formulado senão dará efeito contrário, confundirá o dito anterior. E Aristóteles, após o exemplo dado, segue discorrendo sobre o tema analisando a coisa por vários lados (por outro lado) até, geralmente, concluir ou seguir no processo. Após a expressão “com efeito” segue-se uma conclusão e esta pode ser (e/ou ter) lógica ou não. Em sendo (e/ou tendo) lógica pode encerrar o raciocínio ou seguir se aprofundando sobre o tema. Em não sendo (e/ou não tendo) lógica prossegue o raciocínio analítico repetindo o processo. Mas não é um processo sem fim. Ao alcançar aquilo que hoje conhecemos como “lógica” (popularmente: faz sentido) dá-se por satisfeito o processo analítico e encerra-se ele; ou continua-se por um questão de aprofundamento na análise.
     Vejam que o Organon é o instrumento que se usa para filosofar. E para filosofar utiliza-se também o raciocínio analítico. Raciocínio analítico é o processo de análise das coisas.
     Não é à toa que Aristóteles começa o primeiro tratado do Organon (Categorias ou Das Categorias) falando dos nomes das coisas - apesar de que há discussões se as Categorias é o primeiro tratado, porém, não sendo o primeiro, é o segundo, o que, para minha presente análise, dá no mesmo. Os nomes das coisas são importantes. Na maioria das vezes os nomes das coisas são convencionados, são convenções feitas pelo ser humano, bem como a língua o é. É pelos nomes (signos) que o ser humano se comunica através da linguagem falada e da linguagem escrita. Posso fazer aqui um paralelo com linguística: signo, significado e referente. O nome é um signo que tem um significado e um referente. Um signo pode ser também uma letra, um símbolo, etc. Não me deterei nessa parte, pois já discorri em outro escrito.
       Santo Tomás de Aquino na Suma Teológica utiliza-se da analítica Aristotélica, a própria organização da Suma é um processo de análise em si.
     Raciocinamos na maior parte do tempo utilizando palavras (nesse sentido, nomes), grosso modo, pensamos utilizando palavras, o que é óbvio. Óbvio também é que pensamos utilizando imagens, figuras mentais, etc. Contudo, na maior parte do tempo pensamos e raciocinamos através de palavras (nomes). Por exemplo, um verbo podemos considerar como um nome. O verbo “considerar” é um nome (uma palavra) que tem um significado. Lápis é um nome (uma palavra) que tem um significado. O referente do verbo “considerar” encontramos no contexto da frase. O referente de “lápis” é o objeto físico lápis.
     Analisando-se os, aproximadamente, 600 mil verbetes da Língua Portuguesa veremos que são, em sua esmagadora maioria, conceitos subjetivos. Entenda-se aqui por “conceito subjetivo” coisas que não existem fisicamente. Por exemplo, a palavra “considerar” não existe fisicamente, mas depreendemos seu referente no contexto do enunciado, da frase, da oração, etc. A palavra “lápis” existe fisicamente, existe seu referente físico por si. Bem como temos “liberdade”, “esperança”, “acabar”, “categoria”, “entender”, “trabalho”, etc, são conceitos subjetivos. “Lápis”, “pedra”, “mesa”, “árvore”, etc, são conceitos objetivos. Objetivo, nesse sentido, vem de objeto, o sujeito extrai as informações do objeto físico (eu olho para um lápis e vejo seu tamanho, sua cor, etc). Subjetivo, nesse sentido, vem de sujeito; tem muito do sujeito, da pessoa que está analisando a coisa (não podemos saber o tamanho da Liberdade, sua cor, etc). Não me aprofundarei aqui nesses dois conceitos, pois já fiz isso em outro escrito.
     Voltando ao método Aristotélico, posso relacionar esses dois conceitos com os “nomes” (homônimos, sinônimos e parônimos) no tratado Categorias. Atualmente, isso se desdobrou gramaticalmente em outras classificações: verbos, substantivos, etc. Porém, por uma questão de raciocínio básico podemos partir desses dois pressupostos ao discorrermos e/ou analisarmos um assunto: tal palavra (signo) é um conceito objetivo ou é um conceito subjetivo?
     Não que precisemos fazer isso para todas as palavras (signos) do enunciado, mas para as palavras mais importantes do enunciado é interessante darmos uma atenção especial nesse sentido. Por exemplo, na primeira frase: “Não que precisemos fazer isso para todas as palavras (signos) do enunciado,” temos somente palavras que, isoladamente, são conceitos subjetivos, mas entendemos o referente analisando-se o conjunto. Vejam: não existe um objeto físico chamado "não", não existe um objeto físico chamado "que", não existe um objeto físico chamado "precisemos" e assim por diante.
     No enunciado: Você tem um lápis aí? Temos a palavra (signo, nome) “lápis” que é um conceito objetivo. O referente é qualquer lápis, ou seja, o lápis que o interlocutor tiver.
     Lembrando que, para o nosso estudo, coisa é tudo que há (corpóreo ou incorpóreo) tanto fisicamente quanto em pensamento; objeto é aquilo que se está estudando; sujeito é aquele que estuda o objeto. Uma coisa pode ser um objeto material ou imaterial estudado pelo sujeito.
     Coisa é tudo o que há e tudo o que existe. Tudo o que existe, para o nosso estudo, para a nossa organização de pensamento, refere-se especificamente às coisas físicas, existentes fisicamente no mundo. Porém, uma coisa que existe fisicamente também há. Então, tudo o que há e existe no mundo são coisas, mas são coisas enquanto objeto de estudo.
     “Nos sentidos, uma vaca é uma vaca. No pensamento, o conceito de vaca não é vaca nenhuma, é só um esquema mental. Mas, na imaginação, uma vaca é uma vaca ou muitas vacas, a gosto do freguês, e é também uma vaca que é todas ao mesmo tempo; e é nesta maluquice que se fundamenta a conexão entre pensamento lógico e realidade vivida” (Olavo de Carvalho, Aristóteles em Nova Perspectiva, página 50).
     Funciona mais ou menos assim: quando eu falo a palavra “vaca”, na cabeça de uns isso representará uma vaca em específico (uma vaca que, um belo dia, deu-me um coice), na cabeça de outros representará todas as vacas do mundo e na cabeça de aqueloutros representará vaca nenhuma (somente um conceito abstrato: uma vaca, e daí?).
     Lembrando Aristóteles: “Podemos combinar ou não combinar entre si as palavras, expressões ou frases” (Pinharanda Gomes, Organon, Categorias, página 44). A palavra “vaca” dita isoladamente produz o que foi dito acima. A mesma palavra dita numa frase terá um referente de acordo com o contexto. Vejamos o seguinte diálogo:
     - Vi uma vaca ontem!
     - Qual vaca?
     - Uma vaca no pasto.
     E podemos seguir o diálogo, mas acredito que já deu para entender.
     Ao discorrermos sobre um assunto ou tema utilizando o método Aristotélico podemos identificar os conceitos objetivos e subjetivos para elaborarmos os exemplos que clarificarão o dito anterior. Utilizar exemplos é opcional, mas as vezes se faz necessário e desde que o exemplo tenha forte relação com o dito anterior. Depois seguimos discorrendo analisando a coisa, assunto ou tema por todos os possíveis lados até chegarmos numa conclusão e esta pode ser (ou ter) lógica ou não e, dependendo do caso, seguimos na análise ou nos damos por satisfeitos. Por exemplo, dou-me por satisfeito neste texto. No leitor poderá surgir alguma dúvida, mas pelo contexto o leitor se vira sozinho. Analise qual palavra é um conceito objetivo e qual palavra é um conceito subjetivo. Parta daí, o resto vem por si, como a urina.

quinta-feira, 2 de julho de 2020

O Pensamento Marxista


     A obra de Marx é uma coisa, o pensamento dele é outra coisa. Através da sua obra podemos captar seu pensamento. Isso, obviamente, acontece com todo e qualquer autor que já não se encontra mais entre nós fisicamente.
     Estabeleço aqui uma diferença: o pensamento marxista difere do pensamento de Marx. Pensamento marxista, para o devido fim deste texto, é o pensamento de outros que decorre ao ler e estudar a obra de Marx. Talvez, ao analisar o pensamento marxista - e as obras de Marx -, chegue-se ao pensamento de Marx, mas não é o objetivo deste texto.
     Ao ler O Capital de Marx podemos perceber claramente que ele não trabalha com definições, mas trabalha com “determinações”. Porém, ao mesmo tempo, em Marx não existe determinismo de espécie alguma, mas “há determinações históricas”.
     Determinação: acréscimo de características ou especificidades que limitam a extensão de um significado, de um conceito, inicialmente amplo e impreciso (Houaiss). Então vemos que “determinações” diferem de “determinismo”.
     Abro um parêntese aqui: coloquei uma definição (significado) de “determinação” para entendimento do texto. Fosse eu desdobrar o objeto “determinação” em determinações usando o pensamento marxista, o leitor não saberia do quê estou falando. Fecha parêntese.
     "Objeto" aqui é toda e qualquer coisa que se está analisando. Exemplo: capital, um lápis, uma cadeira, liberdade, esperança, etc.
     “Quanto mais você satura a reprodução do objeto de determinações mais você o concretiza” (Florestan Fernandes citado por José Paulo Netto).
     Irei trabalhar a partir de tudo isso acima, basicamente.
     Ao ler O Capital (e outras obras de Marx) percebe-se claramente que Marx não trabalha com definições, mas com determinações. Você não encontrará definição de espécie alguma. Por exemplo, em O Capital você não encontra uma definição de capital (ou de qualquer outra coisa). Marx fala por primeiro que o capital é uma relação social, não é uma coisa, depois desdobra o capital em “determinações” e no decorrer diz que o capital pode ser moeda também (o capital nasce da moeda e depois a moeda se transforma em capital), e moeda sabemos que é uma coisa, não uma relação social; e assim Marx vai “desdobrando” infinitamente o objeto em “determinações”, vai mudando o eixo.
     Aí vemos uma das “determinações” de Marx. Ora, repito, moeda é uma coisa e anteriormente ele diz que capital é uma relação social, não é coisa. Aparentemente, Marx está dizendo o oposto, mas dentro do pensamento marxista isso parece fazer algum sentido, mas não faz.
     O enunciado “Quanto mais você satura a reprodução do objeto de determinações mais você o concretiza” nos traz alguns problemas. Eu posso saturar a reprodução do objeto de determinações, mas somente quando o objeto permite isso e jamais ao infinito. Se o objeto é um objeto físico, um objeto do mundo real, chega um momento que as informações que eu extraio do objeto esgotam-se. Por exemplo, o lápis que tenho aqui. É um lápis, mas analisando-se as categorias deste lápis (extraindo essas informações dele) posso definir que é um lápis com uns 20 cm de comprimento, da cor verde, tem um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira e serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel. Posso continuar analisando outras categorias do lápis, mas num dado momento as informações esgotam-se. Não posso inventar ou relativizar (encontrar relações remotas ou inventar relações) para continuar desdobrando o objeto lápis, posto que o lápis é um conceito objetivo. Objetivo, nesse sentido, vem de objeto, objeto físico existente no mundo físico. Não irei aqui entrar em definições acerca de “conceito”, “descrição”, “definição”, etc, pois já fiz em outro texto.
     Vamos tomar outro exemplo: liberdade. É um objeto que não é físico, não é material. É um conceito subjetivo. Subjetivo, nesse sentido, vem de sujeito. Ao definir ou encontrar as “determinações” do objeto, tem muito do sujeito que analisa o objeto. Não existe um objeto físico chamado “liberdade” (não sabemos o tamanho, a cor, as categorias físicas), mas sabemos que existe uma coisa chamada liberdade porque podemos perceber seus efeitos e suas consequências na realidade física.
     No caso de “liberdade”, por ser um conceito subjetivo, é intrínseco que isso permite que possamos desdobrá-la em “determinações” mais do que podemos desdobrar o lápis. Mas, mesmo assim, chegará um momento no qual as tais “determinações” do conceito “liberdade” se esgotarão. Caso continuarmos desdobrando “liberdade” (ou capital) em “determinações” até o infinito, chegará um momento em que não será mais possível sabermos o que é essa tal liberdade, pois o objeto estará infinitamente saturado de “determinações”. “Infinitamente saturado” é uma expressão paradoxal. Ainda que eu não faça esse processo infinitamente, que eu desdobre o objeto até saturá-lo, um dia o objeto ficará saturado; e ficará saturado porque as informações (ou categorias, nesse sentido), esgotaram-se. Mas o problema é: como saberei o limite? E isso é mais problemático quando o objeto é um conceito subjetivo.
     Lembrando que “categorias” para Marx é uma coisa e para Aristóteles é outra e para outro autor, é outra. Apesar de serem coisas diferentes para este ou aquele autor, a definição de “categoria” carrega algumas semelhanças básicas nesses diversos autores. Lembro aqui de signo, significado e referente. Uma coisa tem um nome (nesse sentido, signo) e tem seu significado (nesse sentido, definição) e tem seu referente (nesse sentido, à que se refere). Porém, se Marx não trabalha com definições, como posso saber o que é categoria para Marx? Como posso saber à que Marx se refere quando fala de “categorias”?
     Talvez as tais determinações de Marx sejam os vários sentidos que o significado de um signo pode ter, porém, ainda assim, os sentidos de um significado de um signo são limitados.
     Aí já podemos ver outro problema nesse pensamento de não trabalhar com definições, mas somente com determinações. Nesse pensamento de desdobrar o objeto em inúmeras determinações sem ter um limite, pode-se entrar em uma confusão mental, emburrecimento.
     Mercadoria, mais-valia, etc, desafio o leitor a encontrar uma única definição de qualquer conceito básico em toda a obra marxista. Não encontrará, mas está lançado o desafio.
     Esse, vamos por assim dizer, pensamento de Marx, estendeu-se a todos os outros autores posteriores a ele (pensamento marxista). Basta perceber que o universo semântico das várias obras comunistas posteriores a Marx, são semelhantes. As expressões utilizadas são bastantes parecidas, o estilo de escrita é semelhante, ressalvadas, claro, diferenças no estilo pessoal da escrita. Mas, no geral, são semelhantes.
     Um aluno que lê e estuda Marx (ou outro autor comunista posterior a Marx) por um, dois ou mais anos, penetra nesse universo semântico e absorve o pensamento marxista por osmose. Passa a repetir as mesmas expressões e passa a desdobrar as coisas em infinitas “determinações” que, aparentemente, tem uma relação com o objeto, mas esta relação logo perde-se em uma relativização maluca porque o objeto é desdobrado natural e infinitamente e não se chega a conclusão nenhuma.
Sabemos que existem coisas na vida que tem definições e outras coisas que não tem definições. Daí precisamos saber de quais definições estamos falando. Definição gramatical ou definição do quê o objeto realmente é? Não vou entrar nesta análise agora, ficará para outro texto. Mas posso adiantar que tendo consciência de que existe essa diferenciação, é um grande passo.
     Penso eu que este método de não se trabalhar com definição nenhuma leva à loucura e ao emburrecimento maligno, por motivos óbvios. É o desdobramento infinito do pensamento: uma coisa leva a outra, que leva a outra... e assim sucessivamente num ciclo sem fim. Não foi à toa que Marx propôs a tal “Lutas de Classes”, lutas no plural, pois a luta não é somente entre as classes, mas acontece entre os indivíduos de uma mesma classe também. É a luta sem fim, ninguém mais se entende, pois vão se desdobrando os fatos e as argumentações onde ninguém chega a conclusão nenhuma. Mas têm-se as discussões infinitas onde vai se mudando de eixo na discussão e cada um pensa que tem razão, porém, não tem razão, tem “determinações”.
     E chega-se num ponto em que um dos lados DETERMINA (concentra o poder). E isto segue-se num ciclo sem fim de lutas, brigas de egos, discussões intermináveis em torno de nada, etc. Basta ver algum debate até entre marxistas sérios para perceber que não se chega a conclusão nenhuma. Cada um tem a sua própria “determinação” a respeito da obra de Marx. Acredito que é por isso que a obra comunista no mundo é incomensurável. Cada autor, após um tempo de estudo, julga-se automaticamente apto a escrever sua própria obra encontrando novas “determinações”.
     Este pensamento é perigoso, pois leva à mentira, à enganação. Chega um momento em que não se encontra mais uma “determinação” no objeto (as informações do objeto se esgotam) e passa-se a relativizar inventando determinações achando que essas determinações têm alguma relação com o objeto, mas não tem, pois foram tantos desdobramentos feitos no objeto que o sujeito (a pessoa que está analisando o objeto) já se perdeu numa confusão mental.
     Para terminar, lembro que uma “determinação” pode ser somente uma “determinação” gramatical, ou seja, após saturar o objeto não encontro mais as suas categorias reais porque suas categorias reais esgotaram-se e, automaticamente, passo a desdobrar, inventar novas “determinações” num ciclo sem fim que leva ao emburrecimento e pode levar à insanidade.