sexta-feira, 30 de agosto de 2019

Projeto Em Frente Brasil


   Recentemente saiu a notícia do projeto Em Frente Brasil que visa combater a criminalidade violenta. Tal projeto foi lançado em cerimônia oficiosa e pomposa pelo governo federal, tal como era feito no governo Lula. Projetos de nomes bonitos lançados em cerimônias bonitas e muito puxa-saquismo entre os integrantes, egos exacerbados.
   A Força Nacional será colocada inicialmente em cinco municípios do País. Força Nacional esta, idealizada e criada em 2004 pelo então Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos no governo Lula. Márcio Thomaz Bastos, depois que deixou o ministério, trabalhou como advogado. Entre os casos famosos em que trabalhou, foi o advogado de defesa de empreiteiras na Operação Castelo de Areia e na Operação Lava Jato. Em 1992, juntamente com o jurista Evandro Lins e Silva, participou da redação da petição que resultou no impeachment do ex-presidente da República Fernando Collor e depois foi agraciado com o cargo de Ministro da Justiça no governo Lula.
   Os cidadãos brasileiros já ouviram falar da Força Nacional aqui e ali, mas agora, o governo Bolsonaro, através do Ministro Sérgio Moro, coloca a Força Nacional na linha de frente. Não obstante a intenção deste projeto Em Frente Brasil ser nobre, não é uma mudança estrutural. Os municípios não precisam de uma Força Nacional atuando por alguns meses tal qual se coloca o Exército nos morros. Os municípios e os estados precisam de mais policiais, mais equipamentos, melhores condições. Os estados e os municípios precisam de maior autonomia legal e de arrecadação, pois estão todos endividados com o governo federal.
   A mim este projeto parece uma medida paliativa que, com o tempo, se tornará inócua. A pompa durante o lançamento do projeto foi uma bela jogada de marketing, talvez para dar à população o senso comum de que o governo está fazendo algo profundo contra a criminalidade.
Até agora não vi nada neste governo Bolsonaro que me chamasse a atenção. Foram mudanças superficiais, nenhuma mudança estrutural, como a descentralização do poder do governo federal para os estados e municípios.
   Revogar decretos e leis do governo anterior não significa muita coisa, são medidas passageiras, pois o próximo governo, se for da oposição, revogará os decretos do Bolsonaro. Temos esse ciclo no Brasil há décadas, mas mudanças estruturais: nenhuma.
   É uma pena, pois eu tinha muitas esperanças no governo Bolsonaro, mas, repito, até agora não vi nada que me chamasse a atenção.

segunda-feira, 26 de agosto de 2019

A Rebelião das Massas


   A massa tende à violência. Nunca entendi muito bem o significado dessa expressão. Aliás, nunca entendi muito bem o significado de “massa” no tocante à seres humanos. “Massa” seria uma multidão enfurecida? Nesse sentido tivemos manifestações de “massas’ que foram pacíficas e isso contraria uma multidão enfurecida.
   Talvez “massa” seja no sentido de manipulação, de que as “massas” são manipuláveis como uma massa de pão onde o padeiro bate nela até dar-lhe a forma desejada.
   Talvez "massa" seja a multidão frequentadora de estádios de esportes, como o futebol.
   Mas qual é a quantificação de “massa”? Quantas pessoas são necessárias para compor uma “massa” de pessoas?
   “Massa” então não seriam 999 pessoas, pois bastaria acrescentar mais uma pessoa tendo mil para compor uma “massa”? Qual o limite de pessoas que compõem uma “massa”?
   Sabemos que o conceito de multidão é quantitativo e visual e que “massa”, para Ortega y Gasset, “é o homem médio. Deste modo se converte o que era meramente quantidade – a multidão – numa determinação qualitativa: é a qualidade comum, é o mostrengo social, é o homem enquanto não se diferencia de outros homens, mas que repete em si um tipo genérico”.
   “Vocês que fazem parte dessa massa”, como diz a música; então não estou me incluindo nesta “massa” sendo que nem sei qual é esta “massa”. Sendo um dos conceitos de sociedade “a interação psíquica entre os indivíduos”, então faço parte dessa e de várias “massas”.
   Mas entendemos que a palavra “massa” não tem um significado exclusivamente político, pois “A vida pública não é só política, mas, ao mesmo tempo e ainda antes, intelectual, moral, econômica, religiosa; compreende todos os usos coletivos e inclui o modo de vestir e o modo de gozar”.
   Ainda que “massa”, a rigor, pode se definir como um fato psicológico, sem a necessidade que os indivíduos se aglomerem, como podemos saber se uma pessoa é massa ou não?
   Segundo Ortega y Gasset, “Massa é todo aquele que não se valoriza a si mesmo – no bem ou no mal – por razões especiais, mas que se sente “como todo o mundo”, e, entretanto, não se angustia, sente-se à vontade ao sentir-se idêntico aos demais”. Mas ao mesmo tempo ele diz que esse homem se sentirá medíocre e vulgar, mas não se sentirá “massa”.
   Talvez aí esteja o significado de “massa” como fato psicológico. Porém, o homem médio que se sente medíocre e vulgar, mas que não se sente “massa” é um homem individual e isto afasta a definição de “massa” como fato psicológico. E se este homem estiver no meio de uma multidão em uma manifestação e não estiver se sentindo “massa”, ainda assim é um fato psicológico individual.
   Talvez “massa” seja no sentido de boiada que segue o sinuelo. O sinuelo é aquele ou aqueles bois mansos que vão na frente da boiada para dar-lhes a direção que o condutor da boiada determinar. Então, nesse sentido, a “massa” de pessoas segue a opinião dos “formadores de opinião”, dos sinuelos que, por sua vez, seguem a opinião do condutor.
   Neste ponto do estudo, para ter uma “rebelião das massas” se faz necessário que o condutor da “massa” assim o queira. Então não é uma “rebelião das massas”, é uma rebelião do condutor das “massas”. E esta “massa” tenderá à violência se o condutor quiser, a não ser que as coisas escapem do seu controle.
   Não vou me estender nesta parte, pois um estudo mais completo desse “escapem do seu controle” demanda tempo e não é o objetivo deste texto.
   Então, o que é “massa”?
   No meu entender é um conceito extremamente vago e idiota. É mais um dos tantos conceitos implantados para manipular... a “massa”.
   E se a “massa” for composta de pessoas esclarecidas, deixa de ser “massa”? Neste caso vamos chamar de quê?
   Se a população de uma sociedade tiver boa educação e um bom nível de esclarecimento ainda assim se chamará de “massa”?
   São várias questões ainda não respondidas pela massa cinzenta.