segunda-feira, 3 de maio de 2021

Direita x Esquerda

   “Começo por sustentar que um verdadeiro democrata não tem ideologia. A democracia comporta, exatamente, uma variedade de soluções para os problemas, que vai das medidas socializantes às do liberalismo, conforme as circunstâncias, o tempo histórico, as necessidades e as limitações. Há, neste sentido, no democrata, uma disponibilidade, uma disposição de procurar as soluções sem preconceitos nem prevenções, que é precisamente o contrário do que se enquadra num sistema, numa ideologia.

   Tenho, sim, uma doutrina. E um programa. Tenho idéias. Mas não ideologia. A diferença está em que não sou escravo de nenhum sistema, não preciso optar segundo idéias preconcebidas e, sim, na medida das necessidades, conforme os interesses reais do povo e as imposições do bem comum (Carlos Lacerda, Reforma e Revolução, 1964) ”.

   Depois de elucubrar sobre isso cheguei a algumas considerações e conclusões.

   Primeiro verei - ou tentarei ver - o que é a tal “ideologia”.

   Ideologia seria, basicamente, o estudo da idéias, de onde vem as idéias, como se formam as idéias?

   Porém, temos também os vários sentidos de “ideologia” os quais podemos encontrar em qualquer dicionário. É um bom começo, pois a partir daí vamos avançando no raciocínio. Aliás, é o começo de tudo. Saber o signo e o significado (e os vários sentidos) para depois então saber o referente (o que a coisa é).

   E o que é esta coisa chamada “ideologia”?

   Temos vários significados e sentidos de ideologia - bem como qualquer signo os tem. Temos os sentidos filosóficos e sociológicos de ideologia (os quais não coloco aqui, vá pesquisar... está querendo moleza?), temos livros inteiros escritos por vários autores tentando chegar a um denominador comum sobre o que é esta coisa chamada ideologia. Alguns autores esclarecem, outros complicam mais ainda a cabeça do leitor - apesar de que vários não tem cabeça, tem bestunto.

   Apesar de a época do Lacerda ser diferente, esse “não ter ideologia” na mesma frase com “democracia” traz, de cara, alguns problemas. O primeiro e pior deles é óbvio: o outro lado do espectro político pode ter uma “ideologia” mesmo sem saber o que é isto ou o que isto representa, simboliza. A partir daí o outro lado convencerá os outros, fará os outros repetirem “ideologia, eu quero uma pra viver”, qualquer uma, não importa qual, nem sei o que é ideologia, mas eu quero uma para seguir. Posso chamar de ideologia, de doutrina, de causa, de filosofia de vida, de política de vida, de método de ensino, de direita, de esquerda, de centro, de PQP... sei lá, a ideologia é minha, eu chamo ela do que eu quiser, não se meta no meu raciocínio!

   O ponto aqui é: o que é “ideologia”?

   Para eu, é o estudo das idéias, com tudo o que isso decorre. Não digo que seja como Psicologia, Sociologia, Arqueologia, Paleontologia, Papirologia, Pestologia, Sexologia, Zoologia, Virologia, Biologia, Biotecnologia, Tecnologia  e outras logias, posto que não há uma organização programática e/ou curricular de ideologia como matéria disciplinar da academia - e espero que nunca haja, pois aí sim bagunçará de vez... não se sabe nem o que é esta coisa chamada ideologia e daí a transformarão em aulas acadêmicas e um dia o sujeito se dirá de boca cheia “sou um ideólogo” com um deprôma debaixo do sovaco.

   Contudo, Carlos Lacerda escreveu, nesse mesmo livrinho, uma coisa interessante: “A Itália é, como o Brasil, talvez um dos últimos países em que ainda se toma a sério essa balela de “esquerda” e “direita”. Mas a “abertura à esquerda” na Itália produziu o insucesso eleitoral da democracia Cristã - como aliás, também, ultimamente em São Paulo, no Brasil”. Lembrando que escreveu isso em 1964, hoje, talvez, isso seja só no Brasil. Depois Lacerda segue discorrendo sobre outras coisas.

   Acredito que “direita” e “esquerda” - e todos espectros aí envolvidos - sejam balelas como Lacerda escreveu.  Porém, Lacerda não menciona o porquê de serem balela, deixando uma lacuna mental a ser preenchida.

   Caso Lacerda estivesse falando que as pessoas confundem o certo e errado, o bem e o mal, capitalismo e comunismo com “direita” e “esquerda”, aí concordo que direita e esquerda sejam balelas. Porém, falando-se de política, é natural surgirem lados, cada qual com suas pautas, e tais lados recebem nomes. E, nesse caso, eu poderia dizer que direita e esquerda não são balelas, mas são somente espectros políticos que cada cidadão adota de acordo com o que pensa e raciocina. Portanto, a moral está presente na política e aí a trama se complica, o vilão confunde-se com o herói e vice-versa e um fica tomando a mocinha do outro deixando o leitor numa suruba mental. No final das contas a pessoa acaba confundido o certo e a direita com o errado e a esquerda; o bem e a esquerda com o mal e a direita e resulta numa confusão mental dos diabos.

   Os termos “direita e “esquerda”, pelo que se sabe, surgiram na França, em meados da Revolução Francesa, onde no parlamento, pela sua disposição física, tinham aqueles que sentavam à direita e à esquerda do Rei, depois, Presidente. Os Girondinos sentavam à direita e os Jacobinos à esquerda. Veja só, os termos vieram por causa da disposição física da sala. O que eu imagino é que foi mais ou menos assim na época: “Vou sentar ali com aqueles caras na direita - ou na esquerda - porque gosto mais deles e tenho mais afinidade de pensamento com eles”. Talvez se o parlamento fosse uma távola redonda gigantesca a Revolução Francesa teria sido evitada.

   Mas falando sério, poderia escrever um pouco sobre esse maniqueísmo, vamos por assim dizer, que perdura até hoje, mas outros caras muito mais sabidos do que eu já fizeram isso. Até na Bíblia tem várias partes maniqueístas - essa luta eterna entre o bem e o mal, entre pessoas boas e pessoas más.

   Outra parte interessante é quando Lacerda diz: “Aprendi com Marx e não esqueci a lição: é preciso parar de explicar o mundo e tratar de transformá-lo. O que se faz necessário é um ativismo animado por idéias claras, dessas que não tem medo de confundir bom-senso com mediocridade”.

   Parar de explicar o mundo e tratar de transformá-lo. É uma lição que eu, pessoalmente, nunca quero aprender. E não estou dizendo que Lacerda era marxista, longe disso, mas esse é o problema de absorver certos conceitos errados e ficar tentando ser aquele que não tem ideologia sendo que nem sabe e nem tentou saber o que é isso. Como Lacerda mesmo disse que não tem ideologia nem de esquerda e nem de direita, então como posso eu querer definir tal coisa nele?

   Para explicar o mundo, primeiro você tem de entendê-lo, senão como poderá transformá-lo? Como alguém transforma uma coisa se não entendeu essa coisa? Somente conseguirá destruí-la. E “transformar o mundo” ou “explicar o mundo” são expressões que tem um significado, um sentido e um conceito cada uma delas. E o mundo é grande, né?

   Vou explicar o mundo para você agora, leitor! Espere sentado, bem como espere sentado eu, ou qualquer um, transformá-lo! Entender o mundo é uma coisa muito trabalhosa, praticamente impossível, mas as outras duas (explicar e transformar) partem de entender. Não vejo como alguém possa explicar ou transformar qualquer coisa que seja sem antes entender essa coisa. Caso Lacerda estava falando de agir, então ele não deixou isso claro nas palavras. E eu sou meio avesso em tentar ler os pensamentos das outras pessoas, até por que não consigo. E mesmo que ele estivesse falando de agir, ainda assim, antes de agir deve-se pensar, imaginar e raciocinar.

   Lacerda deveria ter entendido e aprendido a lição de práxis. A tal práxis foi uma das pouquíssimas coisas que Marx acertou na realidadeEssa mistura de teoria e prática em que não se sabe onde começa uma e termina a outra na realidade. Lacerda falava tanto do comunismo e seus males, mas parece que não se aprofundou no assunto. A tal práxis, grosso modo, resulta no fato de que o comunista sempre tem um plano A, B, C... até Z. Na realidade a práxis, dando um exemplo, é o seguinte: eu planejo uma ação e prevejo as prováveis reações que podem acontecer. Fazendo isso eu já me coloco sempre um passo a frente. De uma determinada ação eu posso prever, por exemplo, cinco prováveis reações. Caso aconteça a primeira reação prevista, eu faço tal coisa; caso aconteça a segunda reação prevista, eu faço aquilo; caso aconteça a terceira reação, eu faço aqueloutro e assim por diante. Mesmo se acontecer uma reação imprevista, a probabilidade é pouca e eu já sei que isso pode acontecer. Um exemplo bem simples: um dia antes de xingar uma pessoa de qualquer coisa, eu prevejo as prováveis reações, pois tenho um objetivo com isso. Eu tenho informações da pessoa. Caso ela fique quieta ao meu xingamento, eu “monto em cima dela”. Caso ela xingue de volta, eu digo que ela me provocou antes. Caso ela queira brigar fisicamente, eu digo que ela é violenta. Claro que tem mais coisas sobre a práxis, mas no momento é isso.

   Alguns dirão que isso são "técnicas de esquerda", não podemos nos "rebaixar ao nível deles". Ora, a moralidade de uma técnica reside no uso que você faz dela. Ninguém é dono de técnica nenhuma. Imagine um sujeito vindo para cima de você com duas pistolas carregadas, entupidas de balas, querendo te matar. E você grita para ele: "Não vou me rebaixar ao teu nível, vou no soco contigo!" Você irá morrer. Uma arma você pode usar tanto para assaltar como para se defender. A moralidade de uma técnica reside no uso que se faz dela. Montar grupos, coletivos é coisa presente desde o começo do mundo. O próprio Cristo quando veio à terra qual foi a primeira coisa que ele fez antes de pregar a palavra? Juntou uma turma lá, chamada de Doze Apóstolos. Não sei se já ouviram falar nessa história!

   Tendo todo um coletivo ao dispor, então, a coisa fica melhor. É isso que eles fazem. Direcionam ações planejadas e estão sempre um passo na frente. E, para montar um coletivo precisa de meios de ação (dinheiro), coisa que a tal direita no Brasil não tem e a tal esquerda tem a rodo dos bilionários os quais o Brasileiro chama de capitalista. São os capitalistas comunistas. Ou se quiser inverter, os comunistas capitalistas. É só no Brasil essa falta de raciocínio nesse sentido.

   Pelo que se acompanha no mundo, a tal direita bilionária não existe. Vemos somente bilionários largando dinheiro a rodo para a tal esquerda. Atrevo-me a dizer que os milionários e bilionários didireita são os tais porquinhos que os comunistas engordam para comer no fim do ano. São positivistas/liberais e tem nojinho da tal ideologia, torcem o nariz para ela e o comunista vai botando nele através dos costumes (a parte ideológica?) e o prejuízo econômico vem depois (a parte técnica?). Todo milionário e bilionário que se mantém “neutro” acaba perdendo suas empresas depois que o tal comunismo (concentração de dinheiro e poder) se instala num país. Posso até nominar dois, um de cada lado: Jorge Paulo Lemann e Luciano Hang. Quando o comunismo tomar conta do Brasil os dois perderão suas empresas, não serão mais deles. Podem até continuar como “donos” administrativamente, mas quem mandará mesmo é o líder comunista com a sua corriola. Até mesmo a dupla sertaneja Wesley e Joesley perderá sua JBS no Brasil.

   Isso é histórico. Todo país que vira comunista resulta em concentração brutal de dinheiro e poder. Você pode dar o nome que quiser para essa concentração de dinheiro e poder (capitalismo ou comunismo), mas nesse caso o que importa é a realidade. E não adianta dizer: "Ah, isso é bobagem, capaz que isso vai acontecer". Pois é, dando somente alguns exemplos mais recentes na história. Capaz que Hitler faria o que fez. Capaz que Stalin faria o que fez. Capaz que Mussolini faria o que fez. Capaz que Mao Tsé Tung faria o que fez. E por aí vai. Todos falaram e fizeram. Na maioria das vezes fazem antes e falam depois. Alguns até avisam que vão matar um montão de gente e sempre tem aqueles "capaz que isso vai acontecer". Quantas vezes mais isso precisa acontecer na história da humanidade para que todos possam reconhecer quem fará isso?

   A tal esquerda tem os “intelectuais”, tem dinheiro e tem meios de ação, mas não tem povo. A tal direita tem intelectuais, tem povo, mas não tem dinheiro e nem meios de ação. É a guerra assimétrica, um lado só bate e o outro só apanha. Dá certinho. E no Brasil o lado que apanha já entrou na fase de pedir desculpas por existir. "Desculpa por apanhar, seu Dotô, prometo não berrar da próxima vez, vou apanhar quietinho!"

   Na história da humanidade sempre teve os mecenas. Por exemplo, Platão construiu a Academia com dinheiro da família e de Dion e Dionísio. Aristóteles construiu o Liceu com dinheiro da família e teve ajuda de Alexandre, o grande. Karl Marx todos sabemos que viveu do dinheiro de Engels. E assim é na história. É natural nesse sentido. Um empresário não tem tempo hábil no seu dia a dia para estudar e um intelectual não tem tempo hábil no seu dia a dia para ganhar dinheiro. Um intelectual pode, no máximo, prover seu sustento e adquirir alguns bens ao longo da vida, mas jamais chegará a ser bilionário. E para fazer certas ações precisa de uma certa quantidade de dinheiro.

   Dê-me um exemplo, um único exemplo de um intelectual que tenha ficado ricaço na história da humanidade!

   Enfim, se a direita é o certo e a esquerda é o errado ou vice-versa, tudo ótimo, de qualquer maneira as coisas ficam bem definidas. Mas e se um integrante maligno de qualquer um dos lados resolver passar para o outro lado? E esse integrante maligno não pode se tornar bom? Essas questões, se não forem bem pensadas, imaginadas e raciocinadas podem levar a conclusões erradas. Podem levar o cara a ser positivista/liberal que tenta separar a tal “parte ideológica” da tal “parte dos costumes” e daí o sujeito sustenta que um verdadeiro democrata não tem ideologia... mas esta simples frase já dá para ser considerada uma ideologia.

   Esta é minha ideologia: não ter ideologia! Percebem a confusão? Primeiro deve-se definir o que é ideologia e depois parar de ficar repetindo como um papagaio esta palavra esvaziada de significado, de sentido e de conceito. Trocar conceitos por palavras dá nisso. A pessoa vai perdendo o raciocínio e decai a inteligência decai a moral e vice-versa, não interessa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Vemos, então, que esse negócio di direita, di esquerda, di centro, di PQP é mais uma questão de moral do que de qualquer outra coisa. E de qual moral se fala? Ora, valores morais universais: mentir, matar, estuprar, roubar, corrupção, furtar, etc, todo ser humano nasce sabendo que isso é errado.

   Como sabemos que uma coisa é errada? Desafio qualquer ser humano vivente ou morrente a me explicar, por exemplo, por que matar é errado?

   Não conseguirá. Nascemos sabendo disso.

   Alguém, neste momento, pode perguntar: “Mas se cada um nasce sabendo disso, por que as pessoas fazem tais coisas erradas? ”. Bom, isto é uma outra discussão e envolve mais tempo, porém, posso dizer que mesmo fazendo tais coisas erradas, crimes, toda pessoa sabe que isso é errado. Este é o ponto. Não há como negar isso.

   Concluindo, faça o que é certo moralmente.

quinta-feira, 29 de abril de 2021

O Ensino no Brasil

   Escreverei um pouco sobre o ensino no Brasil... ou sobre a falta dele.

   A Introdução Crítica abaixo é um pouco maçante, mas se faz necessária. Peço ao leitor que faça um esforço, pois são somente cinco parágrafos.

Introdução Crítica

   Farei isso sob uma ótica da Filosofia da Educação; e pelo teor do próprio texto a linguagem empregada será um tanto rebuscada, mas não pedante, por isso, peço ao leitor que tenha paciência. Depois desta breve "Introdução Crítica", no decorrer do texto, a partir do Desenvolvimento, as coisas tornar-se-ão mais claras.

   Inicialmente, utilizando-me do meu eu enquanto pessoa, o ser de Fichte1, para evitar tanto o politicamente incorreto como o politicamente correto em função da dualidade minorias e maioria, educador e educando, professor e aluno, precisamente porque nos tornamos capazes de, a partir dessa dualidade, inventar nossa existência real a fim de entender o mundo e não de transformá-lo.

   A função do ensino é treinar a mente para o estudo da matéria e do espírito, que juntos constituem a substância da realidade. O fruto da educação é a cultura, definida como “o conhecimento de nós mesmos [mente] e do mundo material [matéria]2” e entre essas duas existe a zona de desenvolvimento potencial que nos diz que educação é um ato político e, para tanto, devemos promover a inclusão nas lutas pelos direitos humanos em virtude do primitivismo - não do direito humano egoísta, tão comum na atualidade.

   As artes do ensino podem ser definidas conforme se relacionam com a realidade e entre si. A metafísica, a ciência do ser, trata da realidade, exige a coisa tal como ela existe na realidade, no pensamento, na imaginação e no raciocínio. Contudo, esse tipo de exigência restringe, antes de mais nada, a experiência através do estabelecimento de vínculos pessoais que são insuficientes na educação e na ontologia, enquanto ramo da metafísica. A experiência do ser é sempre mais ampla do que a sua experiência pessoal.

   Linguisticamente falando, precisamos voltar às coisas mesmas definindo peremptoriamente as tradições progressistas ou reacionárias que definirão o futuro da humanidade. Os valores questionáveis e não-questionáveis, tais como ateísmo, imoralidade, religião, verdade, etc, quando começam a causar um desequilíbrio entre razão e emoção fazem perder a dualidade e integram o ser naquilo que conhecemos por Educação, que é diferente de Ensino, pois a Educação abarca o Ensino.

Desenvolvimento

   Caso você, leitor, considerou essa Introdução Crítica como algo sério, mas não entendeu nada e não percebeu a patifaria do texto, então sinto muito, você está dentro do “sistema de ensino brasileiro”. A tal Introdução Crítica é uma coletânea de orações, períodos e frases que, isoladamente, até dizem alguma coisa, mas no conjunto é o popular embromation; palavras bonitas, mas vazias de conteúdo. Tem ortografia e sintaxe, mas não tem semântica. Para ser um texto bem escrito precisa ter os três: ortografia, sintaxe e semântica. Desafio o leitor a me dar um entendimento do texto como um todo ou de um único parágrafo que seja.

   Nominei Johann Gottlieb Fichte no início para dar a impressão de que a coisa é séria e coloquei os numerozinhos 1 e 2 para dar uma aparência respeitável. Poderia ter nominado outros autores, mas os autores estão citados implicitamente no texto através das suas expressões. Deixo ao leitor, se quiser, que vá procurar quais autores, tem uns sete. Talvez o leitor encontre mais, pois a Introdução como um todo é uma bobagem completa e enseja mil interpretações e/ou impressões diferentes.

   O problema de se apegar mais à forma do que ao conteúdo é justamente este: acaba-se lendo palavras bonitas que dizem nada e o leitor fica tentando achar um sentido na coisa e termina por se sentir um idiota, um burro; sendo que o burro (ou charlatão) é o autor de um texto assim.

   Na literatura mundial moderna e contemporânea tal “estilo literário” tornou-se comum. Não tenho como precisar a data, mas arrisco dizer que isso tomou corpo a partir de 1600, 1700. Uma determinada corrente filosófica e ideológica incorporou o sofisma e os jogos de palavras de forma maciça na sua palavra falada e escrita. E tal corrente adentrou e penetrou na mente dos brasileiros estuprando-a sem dó nem piedade. E isso vem de longe.

   Não vou voltar aos pré-socráticos - não precisamos ir tão longe na história -, mas volto à década de 50.

   O ganhador do Nobel de Física em 1965, Richard Phillips Feynman, lecionou no Brasil entre 51 e 52 durante dez meses ensinando para estudantes que se tornariam professores. Tal experiência Feynman conta em um capítulo dedicado ao Brasil no livro “Só pode ser brincadeira, Sr. Feynman”. Porém, Feynman esteve algumas vezes no Brasil, entre 1949 e 1966, dando conferências e palestras.

   O que chama atenção é a exatidão com que Feynman descreveu o ensino no Brasil: “Um sistema de automultiplicação em que as pessoas são aprovadas em exames e ensinam outras pessoas a passar nos exames, mas ninguém sabe nada”. É a decoreba, onde o aluno até tira nota 10, mas não sabe nada. Decora para a prova e depois de 1, 2, 3 dias não lembra mais.

   Feynman traz vários exemplos onde prova essa realidade que persiste até hoje no ensino brasileiro, aliás, a coisa só vem decaindo. Os alunos decoram tudo, tem tudo decorado, mas não sabem o que aquilo significa e, por conseguinte, não sabe o que a coisa é na realidade (referente). Trarei uns trechos do capítulo, mas aconselho que leiam o capítulo inteiro.

  Feynman, cuja contribuição à Ciência mundial é incontestável, ao final do ano letivo em que permaneceu no Brasil pediram que ele desse uma palestra sobre a experiência de ensino no Brasil. O auditório estava lotado. Ele começou definindo ciência como o entendimento do comportamento da natureza. E perguntou: “Qual seria um bom motivo para ensinar ciência? É claro que nenhum país pode se considerar civilizado se não... blá blá blá”. Estavam todos lá sentados assentindo bovinamente com a cabeça. Então ele disse: “Isso é claramente um absurdo! Por que deveríamos sentir que devemos estar à altura de outro país? Temos que fazer isso por um bom motivo, um motivo sensato; não só porque outros países fazem”.

    Após este breve início da palestra ele proferiu: “O objetivo principal da minha palestra é demonstrar a vocês que não se está ensinando ciência no Brasil”. A platéia se remexeu nas cadeiras e ele seguiu dando exemplos e fazendo analogias corretas.

   Feynman levou vários livros didáticos para a palestra e num dado momento disse: “Sou corajoso o bastante para folhear um livro aqui, diante dessa platéia, pôr o dedo numa coisa qualquer, lê-la e mostrar a vocês. Foi o que fiz. Brrrrrrrup - pus o dedo num ponto qualquer e comecei a ler: ‘Triboluminescência. Triboluminescência é a luz emitida por certos cristais quando friccionados...’. Então perguntei: ‘E aqui, temos ciência? Não!  Apenas se disse o que uma palavra significa usando outras palavras. Não se disse nada sobre a natureza - que cristais emitem luz quando friccionados, por que emitem luz. Vocês viram algum aluno ir para casa e tentar fazer isso? Ele não conseguiria. Mas se em vez disso estivesse escrito: ‘No escuro, pegue um torrão de açúcar e esmague-o com um alicate. Um clarão azulado surgirá. Isso também acontece com alguns outros cristais. Não se sabe por quê. O fenômeno é chamado triboluminescência’, então alguém poderia ir para a casa e tentar fazer o experimento. Isso é uma experiência com a natureza’. Usei esse exemplo, mas não teria feito a menor diferença se tivesse posto o dedo em qualquer outro lugar do livro; era a mesma coisa em toda parte”.

   Em relação a este trecho do capítulo podemos ver claramente Feynman falando de signo, significado (com seus vários sentidos) e referente, ainda que não explicitamente. O aprendizado ocorre somente e somente se há os três. Signo, significado (com seus vários sentidos) e referente. Esses três formam a base do raciocínio. O que Feynman fez foi dar um referente de triboluminescência, ainda que esse referente foi dado em palavras, o aluno fecha o ciclo, tem os três e daí decorre o aprendizado. O aluno não precisa decorar, mas ele memoriza.

   A diferença entre decorar e memorizar. Decorar dá-se pela repetição. Do aprendizado vem o memorizar. Ainda que decorar e memorizar possam ser sinônimos, cada um é um signo e tem um significado e um referente específico.

   Exemplificando, talvez o leitor nunca tenha lido ou ouvido a palavra “triboluminescência” e talvez daqui a dez anos nunca mais ouvirá, mas garanto que se depois de dez anos alguém mencionar tal palavra o leitor saberá explicar o que é triboluminescência pois tem o signo o significado e o referente. Houve memorização e não decoreba; houve entendimento do que a coisa é, teve aprendizado. O professor situa o aluno na realidade.

   Outra parte interessante é quando Feynman diz que nunca conseguiu que os alunos brasileiros formulassem perguntas. “Finalmente, um deles me explicou por quê: ‘Se eu lhe fizer uma pergunta durante a aula, depois todo mundo vai me censurar: Por que você nos fez perder tempo na aula? Estamos tentando aprender alguma coisa e você o interrompe com perguntas’.

   Era uma espécie de demonstração de superioridade, em que nenhum deles sabia o que estava acontecendo, mas inferiorizava o outro como se soubesse. Todos fingem que sabem, porém, se um colega admite por um momento que alguma coisa está confusa e faz uma pergunta, os demais tomam uma atitude prepotente, agindo como se nada estivesse obscuro e dizendo ao autor da pergunta que ele estava atrasando os demais”.

   É essa afetação toda do brasileiro, essa arrogância imbecil, essa aversão ao conhecimento onde ninguém sabe nada, mas tenta inferiorizar o outro como se soubesse. Por isso se diz que o brasileiro é um palpiteiro desgraçado. Fala de coisas que não sabe. É a cultura da mentira e do fingimento. Reflete-se dessa forma na realidade, dentro das escolas, universidades, hospitais, mercados, farmácias, delegacias, residências, etc. Reflete-se nas conversas do dia a dia.

   Começa nas escolas, nos livros didáticos, na formação errada dos professores que gera esse sistema de auto-multiplicação da burrice.

   Lembrando que Feynman publicou seu livro na década de 80, mas esteve no Brasil entre 1949 e 1966. Acredito que já passou da hora de mudar esse "sistema de auto-propagação da burrice".

   Somos o quinto maior país do mundo, atualmente com aproximadamente 214 milhões de habitantes, e não temos um Nobel, não temos ninguém de destaque internacional pela sua intelectualidade, não temos esportistas de fama mundial, não temos sequer celebridades (cantores, atores, etc) de fama mundial. Não que se precise disso, mas existe a fama natural e fama artificial. A fama natural é aquela na qual as outras pessoas percebem o valor e elevam naturalmente a pessoa. A fama artificial é essa que temos no Brasil, promovida pela grande propaganda. É a cultura provinciana da mentira e do fingimento.

   Como Feynman disse, devemos fazer as coisas só porque outros países fazem?

   No Brasil é comum isso: “Aaaaaaaa, mas lá na Europa fazem isso, lá nos EUA fazem aquilo, lá não sei onde se atiram num poço então vamos nos atirar também!"

   Talvez alguém argumente: “Mas as opiniões do Feynman são somente as impressões de uma única pessoa”. Pois é... cultura provinciana, caipira. Essa pessoa que argumenta isso é a mesma que vê aquele tal “especialista” ou “jornalista” no jornal ou na TV e sai repetindo o que ele falou como um papagaio sem raciocinar a respeito. Além disso, não é essa a realidade do sistema de ensino brasileiro? Um sistema de auto-multiplicação onde as pessoas ensinam umas às outras a passar nos exames, mas ninguém sabe nada. Ficam somente palavras na cabeça do aluno, decoreba sem entender nada. Uma produção de jumentos em série. Nessa hora lembro do calhorda John D. Rockefeller: “Não quero uma nação de pensadores, quero uma nação de trabalhadores”.

   Essa burrice do Brasileiro leva a esse pensamento de “dois pesos e duas medidas”, uma dualidade idiota, sem propósito, que só existe na cabeça dos idiotas. O Brasileiro chegou num estado de burrice tal que se cair de quatro não levanta mais. E decai a inteligência decai a moral e vice-versa; não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Caso o leitor chegou até aqui, ótimo, tudo isso é para você mesmo que está lendo. E antes que você pense: “Esse cara (eu, o autor) se acha mais inteligente que todo mundo”, ótimo.

   Para sair dessa é tão simples quanto parece: leia, informe-se de coisas úteis, estude. A vida é estudar, trabalhar e se divertir. É um equilíbrio entre essas três coisas, é um esquema mental onde essas três coisas se confundem na realidade, pois alguns trabalham se divertindo, outros estudam se divertindo, outros trabalham estudando e por aí vai.

  O sistema de ensino no Brasil não ensina a raciocinar, a ter raciocínio. Raciocínio: concatenação lógica de pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. Não ensina que existe a razão e a emoção, razão no sentido de raciocínio e emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica do ser humano. O ser humano é um ser racional E um ser emocional. Não tem como separar a razão da emoção dentro de uma pessoa, mas tem como causar um desequilíbrio. Perdendo o raciocínio as pessoas passam a reagir pela emoção que as palavras e as coisas causam nelas, vira tudo xingamento ilógico. Passam a não querer saber mais de nada, não querem mais aprender coisa alguma de útil. Transformam-se em interesseiros que querem somente fama e dinheiro.

   Confundem inteligência com astúcia maligna. Astúcia maligna é a caricatura satânica da inteligência. A inteligência é ligada ao bem, o belo e a verdade. No Brasil a pessoa que tem fama e/ou dinheiro todos julgam que é inteligente e esquecem como essa pessoa chegou lá, aliás, nem se perguntam isso. Tendo fama o/a vivente torna-se automaticamente um “formador de opinião” e a massa de seguidores vai “de atrás” bovinamente sem raciocinar e repetindo como um papagaio o que essa criatura fala. O termo “gado” vem de gado bovino, gado equino, gado ovino, etc. No caso, o tal formador de opinião é o sinuelo. Sinuelo é aquele gado que vai na frente e quando o vaqueiro muda a direção do sinuelo a maioria vai atrás. E decai a inteligência decai a moral e vice-versa; não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Nada contra fama e dinheiro, mas quando decai a inteligência decai a moral e vice-versa, a partir daí a pessoa quer “subir na vida” mentindo, pisando em cima dos outros, logrando os outros, prometendo e não cumprindo, etc. Astúcia maligna é o jeitinho brasileiro, levar vantagem em tudo, é essa baixeza moral toda que resulta naquilo que chamam de mentalidade socialista.

   Encerrando, para não dizer que não falei de coisas técnicas, poderia analisar o MEC, a BNCC, os sindicatos de professores, etc, mas somente os cito, pois isso é decorrência da aversão ao conhecimento que leva à perda do senso das proporções (discernimento) e leva ao desequilíbrio entre razão e emoção. O equilíbrio entre razão e emoção é o que Aristóteles chamava de temperança.

 

http://www.uel.br/cce/fisica/pet/EnsinoRichardFeynman.pdf

https://www.scielo.br/j/rbef/a/R9wHVCTd3D37cKHmYH88CVk/?lang=pt

https://minio.scielo.br/documentstore/1806-9126/R9wHVCTd3D37cKHmYH88CVk/8da234121e2d0f374a6ac2e1c1ffedf0d2470a09.pdf

terça-feira, 16 de março de 2021

A Linguagem não é somente Palavras

Interpretação de Texto

   Classificação e relação. É importante entendermos estes dois conceitos. Lembrando que conceito é uma imagem mental abstrata. Podemos significar e/ou definir conceitos através de palavras. E lembrando, também, que a Linguagem não é somente palavras. Temos o signo, o significado (dentro do significado temos vários sentidos os quais podemos empregar uma mesma palavra) e o referente. Já vimos o que são essas coisas, aliás, já vimos também o que é coisa. Mas vamos a um exemplo simples de signo, significado e referente: A palavra, o verbo correr é um signo cujo significado em palavras é "movimentar-se com velocidade" e o referente é quando você está correndo. Ao final deste texto tem links com esses conceitos e definições.

   Todo significado é, basicamente, genérico. Ao expressarmos uma idéia, um conceito, ao falarmos uma frase ou ao escrevermos podemos significar alguma coisa, podemos estar definindo esta coisa ou podemos somente falar sobre (a respeito, acerca de) esta coisa; ou tudo ao mesmo tempo no mesmo discurso ou texto. Lembrando que discurso é falado e texto é escrito. Um discurso podemos transformar em texto e vice-versa. Tudo o que falamos ou escrevemos são nossos pensamentos e raciocínios materializados.

   Então, classificação e relação. Classificação é um signo, linguisticamente falando, e tem um significado (e vários sentidos, em qualquer dicionário está bem claro isso) e tem um referente. Em relação à relação é a mesma coisa (não pude evitar o trocadilho). Lembrando que referente é o que a coisa é. E o referente também é circunstancial, pois um signo tem um significado (e vários sentidos) e, linguisticamente falando, no conjunto das palavras (frases, parágrafos, capítulos, etc) captamos o referente ou, neste caso, a tal semântica, o entendimento. E, ao mesmo tempo, o referente é o que a coisa é. Gramaticalmente falando, o referente captamos no conjunto da frase... a que estamos nos referindo quando falamos uma frase?

   Ao mesmo tempo em que é um signo, uma palavra, classificação é um todo composto de várias partes bem como todo signo o é. Relação também. Para entender, vou analisar o signo Linguagem, mas isso pode e deve ser feito com qualquer signo. Depois veremos classificação e relação.

   Linguagem é um signo, uma palavra, um verbete da língua e é também o nome de uma coisa. O que é esta coisa chamada Linguagem? Linguagem tem um significado e este significado (e seus vários sentidos) encontram-se em qualquer dicionário, como já demonstrei em outro texto, mas vou relembrar rapidamente: todo dicionário está organizado de maneira que o primeiro significado de um signo geralmente é o significado genérico e os outros significados são os vários sentidos nos quais podemos empregar o signo.

   E Linguagem também é um todo composto de várias partes, é um geral composto de particulares; os gerais e os particulares. Por exemplo, dentro deste todo, desta coisa chamada Linguagem encontramos a gramática, a língua, a linguística, o raciocínio, etc. E para sabermos o que é Linguagem, além do significado e dos sentidos, devemos analisar as partes que compõem o todo, os particulares, as várias variáveis envolvidas nesse pensamento um pouco mais complexo. Usamos isso para interpretar um texto, pois um texto são palavras e se num texto tem palavras às quais não sabemos sequer o significado devemos partir dessa base, pois nos é impossível captar o entendimento de um signo (e seus sentidos) somente através do contexto.

   Então vamos numa espécie de raciocínio em espiral (uma cadeia de espirais) ou, também, dos particulares para os geral e voltamos aos particulares e assim vamos indo. Parece complicado, mas confunde-se pela simplicidade. De certa forma é o raciocínio natural do ser humano. Para entendermos um todo obviamente passamos necessariamente pelos particulares, pelas suas partes. Raciocínio em espiral, aqui é aquele raciocínio natural onde vamos indo avançando no raciocínio e, às vezes, voltamos a um conceito básico para esclarecer ou dar uma razão suficiente ao que estamos falando e assim vamos indo, em espiral, indo e voltando, mas sempre avançando no raciocínio, várias espirais uma ligada na outra.

   Classificação é a distribuição por classes e tem vários sentidos que não fogem do significado genérico. Porém, classificação também é uma convenção feita pelo ser humano, uma taxonomia que, neste sentido, taxonomia é um sinônimo de classificação.

   Relação é ato de relatar, relato, informação, descrição. Porém relação aqui emprego no sentido de vinculação, conexão, relação entre as coisas.

   Toda classificação é, neste sentido, uma convenção feita pelo ser humano, porém, esta convenção surge, muitas vezes, ao natural através da relação entre as coisas e entre os nomes das coisas e através da observação da realidade.

   Toda relação é natural. Vamos tomar como exemplo a categoria de relação de Aristóteles: dobro, metade. Percebam que há uma relação que surge naturalmente. Alguma coisa é o dobro ou a metade de outra. Estão relacionadas naturalmente, por exemplo: o número dois é o dobro de quê? Ora, é o dobro de nada ou é o dobro dele mesmo! Porém, sabemos que dois é o dobro de um, está convencionado. Então um e dois estão relacionados nessa categoria e isto surge naturalmente.

   Vamos a outro exemplo um pouco mais elaborado. Eu começo uma conversa falando de banana e a outra pessoa responde “laranja”. Eu argumento que estou falando de banana e a outra pessoa responde: “mas é fruta do mesmo jeito ou você vai negar que banana e laranja são frutas?” Não nego, pois são frutas, mas o fato de serem frutas é uma classificação, não é uma relação. Não podemos relacionar objeto de assunto a objeto de assunto diretamente, pois sabemos que o referente de banana é diferente do referente de laranja. Banana é uma fruta e laranja é outra fruta e você diz “outra fruta” porque você sabe que na realidade são coisas diferentes. Então, ao fazer isso, confundir classificação com relação você foge do objeto do assunto e, num estágio mais avançado, você pode começar a pensar que banana e laranja são a mesma coisa sendo que na realidade você sabe que não são (confusão mental). Já vimos também que, grosso modo, tudo tem um assunto, o assunto geral, e tem objetos do assunto (ou temas). De novo, partes que compõem o todo, os particulares e os gerais. Ao fugir do objeto do assunto você relativiza a conversa, vira conversa de doido pois não estamos mais falando da mesma coisa.

   Vamos a um referente da realidade. Aliás, já vimos a diferença entre exemplo e referente. Todo referente é um exemplo, mas nem todo exemplo é um referente. Referente agora é uma coisa tirada da realidade, grosso modo, alguma situação que aconteceu. O objetivo de um exemplo é clarificar o que você disse anteriormente, porém, se o exemplo não for um referente e se o exemplo for mal formulado (inventado) corre-se o risco de complicar mais ainda o raciocínio. Mas vamos ao referente. Começo falando de “liberação da maconha” e a outra pessoa responde: “Mas o álcool e o cigarro também são drogas e também são liberados”. Pronto, já fugiu do objeto do assunto, relativizou. É o mesmo caso: banana e laranja, frutas; maconha, álcool, cigarro, drogas. Confunde classificação com relação. Caso você queira comparar o preço de um e o preço de outro, aí temos uma relação, pois os objetos de assunto envolvidos têm preços. São os tais acidentes, predicados, características, atributos. Caso você queira comparar o gosto da banana com o gosto da laranja aí temos uma relação natural. Fugir logo do objeto do assunto é ilógico, irracional. Comparar objeto de assunto a objeto de assunto é impossível, comparar coisas diretamente é impossível.

   No exemplo acima, banana e laranja, ao fazer o dito na conversa acima, você está sendo ilógico, está dizendo que banana é a mesma coisa que laranja e você sabe que, na realidade, não são a mesma coisa, daí você entra numa confusão mental, numa “pasta mental”.

   Com relação ao outro exemplo, da maconha, do álcool e do cigarro de carteira, é a mesma coisa. Você confunde as coisas na realidade e, ao mesmo tempo, você sabe que não são a mesma coisa. Como o ser humano classifica as drogas? É, basicamente pelos seus efeitos no corpo humano. O efeito de cada droga é o que se chama de acidente, predicado, característica, atributo, ou mais lá em cima, categorias. Partes que compõem o todo, particulares e gerais. Quando você bebe água isso causa um efeito no seu organismo, mas não classificamos água como droga. Então, ao se falar sobre liberação de qualquer droga e você responder com outra droga você está sendo ilógico, está fugindo do objeto do assunto, está relativizando a conversa e, fazendo isso, a conversa resultará em discussão idiota, briga de egos, picuinhas.

   Não é à toa que, no Brasil, quando fala-se sobre “liberação da maconha”, cinco minutos depois os “debatedores” estão falando num país lá não sei onde que liberou, outro país que não liberou, a violência que aumentou ou diminuiu em tal país e por aí vai. E, dentro da cabeça deles, acreditam que estão falando da mesma coisa, do mesmo objeto de assunto. Isto é meio insano até. E assim o é com vários assuntos e objetos de assunto que se conversa no Brasil. Torna-se tudo ilógico, sem sentido, não se chega a lugar nenhum. São somente brigas de egos. Um está falando de banana e o outro de laranja, mas ambos acreditam que estão falando da mesma coisa.

   O problema de se trocar conceitos por palavras é esse. Vira tudo um palavrório oco, vazio, nauseabundo. E a Linguagem não é somente palavras.

   Interpretação de texto é um processo, é sistemático, começa com a consulta ao dicionário e é necessário, muitas vezes, fazer o crivo básico do signo, significado (e vários sentidos) e referente. Este crivo básico não é tudo, aliás, “básico”, obviamente, é a base e já está implícito que não é tudo; mas partindo do crivo básico vai se avançando no raciocínio, na interpretação do texto. Ao ler um texto e captar somente as impressões você não interpretou o texto, pois essas impressões iniciais geralmente são emocionais, mas você não interpretou, não raciocinou, sequer tentou entender, ficou somente com as impressões e você chama isso de “interpretação”. Raciocínio metonímico, você troca uma palavra pela outra.

   Veja bem, vamos ao crivo básico, interpretação: determinar o significado preciso de (texto, lei etc.). É o significado genérico. Dentro dessa tal interpretação temos, gramaticalmente falando, a ortografia, a sintaxe e a semântica. Ortografia é a grafia correta das palavras, sintaxe é a relação de concordância entre as palavras enquanto elementos de uma frase e semântica, neste caso, é o componente dos sentidos das palavras e do sentido de uma frase como um todo.

   Erros ortográficos: escrever casa com “z” em vez de com “s”, trocar “ç” por “ss”, escrever “mais” em vez de “mas” (aqui temos, além de erro ortográfico, erro semântico). Erro ortográfico na palavra falada chama-se erro de pronúncia. Por exemplo: “Nois fumo lá”. Na palavra falada chama-se erro de pronúncia, na palavra escrita chama-se erro ortográfico.

   Sintaxe, exemplo básico: “Nós vai lá”. Percebam, não tem erro ortográfico nessa frase, mas tem erro sintático, o verbo não concorda com o sujeito. O correto é “Nós vamos lá”.

   Semântica, exemplo: “Nós vai lá”. Quando alguém fala esta frase você capta, percebe a semântica, o entendimento, a pessoa quis dizer que ele e os outros, talvez você mesmo esteja incluído nesse “nós”, nós vai lá. Você entendeu. Neste momento a semântica mistura-se com o referente da frase, é o referente da frase. Mesmo tendo um erro sintático, você entende.

   Então, um erro ortográfico ou um erro sintático não leva a um erro semântico, porém, muitos erros ortográficos e/ou muitos erros sintáticos levam aos erros semânticos, de entendimento. Aquela pessoa que fala e escreve tudo errado e você não entende nada.

   A Língua e a Linguagem são convenções, mas a Linguagem tem nuances. Ao analisar, interpretar um texto, percebe-se claramente a diferença entre erros ortográficos, erros sintáticos e erros semânticos. Óbvio é que a tal da gramática não é somente isso, mas estou partindo dessa base. É um ótimo começo.

   Por outro lado, tem “escritores” que, na ortografia e sintaxe, tudo está correto, porém, deixam a desejar na semântica, no entendimento, não são claros, aumentam a subjetividade da Linguagem. E, como já vimos, a Língua e a Linguagem são, em si, subjetivas. É impossível eliminar a subjetividade da Linguagem, mas falando e escrevendo com clareza diminuiu-se a subjetividade intrínseca. Por isso devemos observar, basicamente, a ortografia correta, a sintaxe correta e a semântica correta.

   Na parte da semântica, muitas vezes, certos escritores, famosos até, juntam palavras da língua que não dá para juntar, pois uma frase é uma junção de palavras. Você junta as letras e forma as palavras, junta as palavras e forma as frases, junta as frases e forma os parágrafos, junta os parágrafos e forma os capítulos, junta os capítulos e forma os livros, junta os livros e forma os volumes, compêndios, enciclopédias. E tudo precisa ter organização analítica-lógica.

   Lembrando que a menor unidade da Língua é a palavra. E por que não é a letra? Uma letra é menor quantitativamente do que qualquer palavra. Não é a letra porque não nos comunicamos por sons de letras, por grunhidos. Juntam-se as letras para formar palavras, daí a coisa começa a fazer sentido. E as palavras são, linguisticamente falando, signos que tem um significado (e vários sentidos) e referente.

   Vamos tomar como referente agora, a seguinte frase: “Toda tirania deve ser evitada, inclusive a tirania da maioria que elege o Executivo e o Congresso”. Esta frase, dita por um Ministro do STF, claramente, não faz sentido.

   Vamos interpretar. “Tirania” em qual sentido está empregado na frase? Não fica claro. Ele trocou conceitos por palavras. Tirania: poder soberano usurpado e ilegal; governo de tirano. Neste sentido, “tirania” implica em um tirano e isso por si é a minoria. Então ele estava falando da “minoria da maioria”?!?

   Vamos, por descargo de consciência, interpretar que ele estava falando de “tirania” enquanto opressão. Ora, o referente você entende pelo conjunto da frase. Quem elege o Executivo e o Congresso? São os eleitores, e o próprio Ministro é um eleitor, então ele mesmo se chamou de tirano, opressor e não percebeu. Mas estranhamente ele acertou.

   O problema da parte semântica é esse. Percebam que a frase em questão está correta ortograficamente e sintaticamente, mas cagou-se na semântica. Ele fez “relação” entre coisas que não tem como relacionar, ele juntou palavras da Língua que não dá para juntar. É como se eu falasse ou escrevesse: “A pedra da bola pegou fogo”. Ortograficamente e sintaticamente está correta a frase, mas encontrem um sentido (semântica) nessa frase.

   Vamos mais além analisando a frase. A expressão “tirania da maioria” já é em si imbecil. Democracia é a vontade da maioria, então “tirania da maioria” é a tirania da democracia. Pronto, agora tirania é democracia e democracia é tirania, guerra é paz, liberdade é escravidão e por aí vai. Este é o problema de trocar conceitos por palavras e ficar juntando palavras aleatoriamente. Perde-se, de certa forma, o contato com a realidade, fica-se meio insano. É a pedra da bola que pegou fogo. É aquela anedota de um louco oferecendo 100 reais para outro louco subir pelo facho de luz da lanterna e o outro responde: “Está achando que sou bobo, quando eu estiver no meio você desliga a lanterna e eu caio”. É mais ou menos a mesma falta de lógica. Conversa de doido.

   Enfim, interpretação de texto é um processo que requer necessariamente passar por certas etapas. Não é somente ler e captar impressões. Óbvio que isso depende do texto. Textos não muito bem elaborados você lê e entende rapidamente, mas certos textos requerem uma análise, consulta, pesquisa, investigar, informar-se, estudar. E, penso eu, começar pelo crivo básico dos signos, significados (e vários sentidos) e referente é um ótimo começo. Muitas vezes é necessário, não é tudo, mas é o básico, pois um texto são palavras, mas a Linguagem não é somente palavras.

   Há também aquele sentido por trás das palavras. Tomarei como exemplo o texto “Meu Caminho para Marx” de Georg Lukács e interpretarei com base no excerto final de um parágrafo:

 

O materialismo dialético, a doutrina de Marx, deve ser conquistada a cada dia, assimilada a cada hora, a partir da práxis. Por outro lado, a doutrina de Marx, em sua inatacável unidade e totalidade, constitui a arma para a condução da prática, para o domínio dos fenômenos e de suas leis. Se dessa totalidade for destacado (ou apenas subestimado) um só elemento constitutivo, teremos de novo a rigidez e a unilateralidade. Basta que se perca a relação dos momentos uns com os outros, e lá se vai o chão da dialética marxista sobre o qual apoiamos os pés. “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”

 

   Percebam a citação no final do parágrafo: “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.” Exagerar qualquer verdade é um eufemismo para mentira, pois tudo que fizermos para exagerar qualquer verdade será automaticamente mentira. Então o referente da citação é: mentir, mentir e mentir até tornar-se um absurdo. Porém, alguém poderá contra-argumentar: “Mas nem tem escrita ali a palavra ‘mentira’, tem a palavra ‘verdade’, ele está falando da verdade e  vem você e interpreta isso como mentira”?

   Vamos lá. Dê-me um referente, um exemplo de “exagerar qualquer verdade”! Tente exagerar qualquer verdade e você verá que isso é um eufemismo para mentira. "Exagerar qualquer verdade" não existe na realidade. As perguntas que vêm agora são: por que Lukács utilizou exatamente esta citação de Lênin? Por que Lukács não usou outra citação de Lênin, por que ele não usou outra citação de qualquer outro autor? Ainda que seja uma pergunta que não enseja uma resposta, por questão de interpretação do texto devemos fazer tais perguntas e o fato é que está ali. E Lukács utilizou esta citação no final do parágrafo, sendo que no texto ele está falando do “Materialismo Dialético, a doutrina de Marx”. Isso nos diz alguma coisa.

   O que decorre de tal coisa é que alguém poderá mentir e dizer: “Não estou mentindo, estou ‘exagerando a verdade’ ou 'estou faltando com a verdade'”. É um jogo de palavras; e dos mais chulepas, mas tem gente que cai nessa.

   E podemos perceber que tal citação é, claramente, um sofisma. A primeira premissa: “Pois qualquer verdade se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo;”. Lênin não está dizendo para você ‘exagerar a verdade’ e não está dizendo que se você fizer isso a verdade se tornará um absurdo, ela pode ou não se tornar um absurdo. Porém, na segunda premissa: “aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”, ele diz que é inevitável que na circunstância de ‘exagerar qualquer verdade’, aí sim, é inevitável que a verdade se torne um absurdo. No sentido por trás das palavras de ‘exagerar qualquer verdade’, na citação como um todo, Lênin está certo. Então ele está dizendo: “Mentir, mentir e mentir até tornar-se um absurdo”. E mentir, mentir e mentir sem parar torna-se automaticamente absurdo. O resultado final da mendacidade é o absurdo.

   Caso você mentir e chamar isso de ‘exagerar a verdade’ entrará num universo semântico de mentiras onde você emburrecerá, ficará ilógico e, depois, ficará insano, mas desenvolverá aquilo que Aristóteles chamava de ‘astúcia maligna’. Astúcia maligna é a caricatura satânica da inteligência. No Brasil, podemos traduzir ‘astúcia maligna’ para o famoso ‘jeitinho brasileiro’, levar vantagem em tudo, prometer e não cumprir, lograr os outros, subir na vida pisando em cima dos outros, fazer acordos escusos, em suma, mentir. Baixeza moral.

   Muita gente confunde ‘astúcia maligna’ com ‘inteligência’, porém, a inteligência é fortemente ligada ao bem, ao belo e à verdade. Decai a inteligência, decai a moral e vice-versa. Não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra. E de qual moral estou falando?

   Valores universais morais: mentir, matar, estuprar, roubar, corrupção, etc, todo mundo sabe que isso é errado, aliás, o ser humano praticamente nasce sabendo que isso é errado.

   Dei um simples e singelo exemplo, mas poderia ficar aqui um ano dando esse tipo de exemplo tirado de certas obras de certos autores que desenvolveram essa habilidade de fazer jogo de palavras e usar sofismas para enganar as pessoas.

   Mas vamos a outros exemplos e acredito que o leitor não ficará um ano lendo este texto, talvez nem leia, mas enfim.

   “Vamos implantar um estado ético no Brasil”, ou em qualquer outro país do mundo, tanto faz. Vocês me ajudarão a fazer isso, pois ‘estado ético’ nos remete a um estado de moralidade, honestidade. Porém, para Antonio Gramsci, "estado ético" significa um estado autoritário. Ele mudou o significado da palavra ‘ético’. Ético, para ele, significa “adequação das normas sociais às necessidades de produção”, sejam lá quais forem elas. Normas sociais são leis e quem fiscaliza as leis são as “autoridades”. Então, quando um cara desses fala “vamos implantar um estado ético” ele está falando, em última instância, num estado autoritário, e você, crédulo, o ajudará a fazer isso.

   Hegemonia cultural. Hegemonia é a predominância de uma coisa sobre as outras. Cultural vem de cultura. Hegemonia cultural, no sentido original significa a predominância de uma cultura sobre as outras. Qual cultura? A que está predominante no momento histórico da sociedade. Pode mudar ao longo do tempo. Você observa esse fenômeno na realidade. Para Gramsci, "hegemonia cultural" significa a predominância do socialismo sobre todas as outras culturas. Então, quando um cara desses fala: “Temos que ter hegemonia cultural no Brasil”, ele está falando em implantar o socialismo. É assim que você vira socialista sem nem perceber. A base é a linguagem. Imaginem isso com várias palavras e expressões na cabeça de uma pessoa onde, toda hora, a Linguagem (signo, significado [e vários sentidos] e referente) vai mudando constantemente.

   Você entra num tal "coletivo" desses e fica escutando tais expressões, tais jogos de palavras, tais sofismas e passa a acreditar que este novo sentido das expressões e palavras são o sentido verdadeiro, porém, não são. Isso causa uma confusão mental, pois são várias palavras e expressões que mudarão na sua cabeça e você tentará raciocinar no meio desta confusão mental. Você ficará com um "polipensar". Adotará um discurso interno e um discurso externo cujo resultado será a insanidade. Quando eu falo, por exemplo, ‘hegemonia cultural’, tenho que raciocinar com o sentido Gramsciano e, ao mesmo tempo, tenho que raciocinar como as outras pessoas entenderão o que estou falando. É o famoso: “Não importa o que você fala, o que importa é como as outras pessoas entenderão o que você fala”. Isto é insanidade em si, pois há um limite para a capacidade de raciocínio circunstancial de um ser humano. Como é possível eu dirigir um discurso a várias pessoas e querer saber o que cada uma delas entenderá pelas minhas palavras se meu discurso em si é subjetivo ao extremo? Isso resulta em enganação, mentiras, emburrecimento e, depois, insanidade minha e dos outros.

   “Eu sou eu e minhas circunstâncias”, grosso modo, José Ortega Y Gasset, refere-se às circunstâncias da vida. Você está conversando com um familiar ou um colega de trabalho, é uma circunstância. Você deixa de conversar com este familiar e passa a conversar imediatamente com outro, é outra circunstância. Há mais coisas por trás da expressão, mas as tais "circunstâncias da vida" são essas. De uma situação decorrem várias circunstâncias. Situação: estou no trabalho. Circunstância: conversando com alguém no trabalho. As circunstâncias formam o “eu”.

   E você entra em um universo semântico de jogo de palavras, sofismas... subjetividade extrema da Linguagem e afasta-se da realidade. Como já vimos, a Linguagem é subjetiva em si, mas por isso mesmo que você tem que falar e escrever com clareza para diminuir esta subjetividade, e não aumentá-la através de jogo de palavras e sofismas. Não tem como eliminar a subjetividade da Linguagem, mas podemos diminuí-la falando e escrevendo com clareza.

   Como já se disse, a Linguagem não é tudo, mas é a base da comunicação humana. Nos comunicamos, basicamente, através da Linguagem falada e da Linguagem escrita. O ser humano se comunica também por músicas, filmes, obras de arte, mímicas, etc, mas, quantitativamente, o ser humano se comunica através da palavra falada e da palavra escrita. Não tem como fugir disso. Esta é a importância da Linguagem e para interpretar textos você tem que saber disso.

Para saber um pouco mais, acesse:

https://julioseibei.blogspot.com/2020/09/chavoes.html

https://julioseibei.blogspot.com/2020/08/esboco-de-filosofia-10-importancia-da.html

domingo, 7 de fevereiro de 2021

O Bem vem da Razão

   A Suma Teológica de Santo Tomás de Aquino nos traz vários raciocínios e emoções. Não é à toa que uma das conclusões ali presentes é: O bem vem da razão.

   Posso depreender disso que Santo Tomás referiu-se à razão no sentido de raciocínio e não no sentido de certo ou errado ou outro sentido. Lembrando que raciocínio se refere à concatenação lógica de pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. E lembrando que expressamos nossos pensamentos e raciocínios através da linguagem. Porém, o raciocínio em si começa dentro da sua própria cabeça. A linguagem (palavra falada e palavra escrita, basicamente) são expressões físicas do pensamento e/ou do raciocínio. A linguagem é a base pois, grosso modo, raciocinamos e pensamos em palavras. Raciocinamos e pensamos também em imagens, conceitos, etc, mas de uma forma quantitativamente maior isso se dá em palavras.

   Lembrando que o ser humano é um ser racional E um ser emocional. Razão no sentido de raciocínio e Emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica do ser humano, vamos por assim dizer. Não tem como separar a razão da emoção dentro de um ser humano. Somos assim.

   Porém, tem como causar um desequilíbrio entre razão e emoção e, geralmente, este desequilíbrio vem da perda de raciocínio e esta vem, geralmente, da linguagem. Lembrando que este todo chamado “linguagem” compõe-se de várias partes. Dentro deste signo, desta palavra, do nome desta coisa, temos o raciocínio, a língua, a gramática, a linguística, etc. Aliás, tudo no mundo, grosso modo, é composto de várias partes (as partes que compõem o todo), ou como dizia Aristóteles, os particulares e os gerais, porque um particular também pode ser decomposto em várias partes e assim sucessivamente, mas dentro de um certo limite, senão enlouquecemos. Trabalhar somente com o pensamento de não ter definições, ter as tais determinações, como Marx, e ir desdobrando o objeto até o infinito na intenção de concretizá-lo é a fórmula certa para a burrice e para a insanidade. Você nunca saberá o que é o objeto, irá somente desdobrando até que as tais “determinações” desdobram-se em loucura.

   Lembrando que “objeto” aqui, refere-se às coisas. Coisa é tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea, não se refere especificamente aos objetos físicos. Ou, coisa, tudo o que há e tudo o que existe. Tudo o que existe, aí sim, refere-se somente aos objetos que existem fisicamente no mundo. Tudo o que há engloba coisas físicas (corpóreas) e coisas não físicas (incorpóreas). Por exemplo, um lápis há e existe; Liberdade somente há, posto que não existe uma coisa física chamada Liberdade (você não tem como dizer qual o tamanho da liberdade, qual a cor, etc). São os conceitos subjetivos. Lembrando que “subjetivo”, neste sentido, vem de sujeito, tem muito do sujeito ao significar ou definir uma coisa não física. Conceito “objetivo”, neste sentido, vem de objeto, o objeto físico se auto-significa, se auto-define, você extrai as informações do objeto físico. Posso definir objetivamente em palavras um conceito subjetivo, pois a palavra falada são ondas sonoras materializadas e palavras escritas, grosso modo, são a tinta no papel. Aí nossos pensamentos e raciocínios passam a existir fisicamente.

   Lápis há e existe, pois existe fisicamente e ao mesmo há enquanto conceito, há no pensamento, na imaginação, no raciocínio. E tudo no mundo tem um nome, são os nomes das coisas. Olha aí Aristóteles de novo se metendo no meio da conversa. Esse cara é impressionante, vive se enfiando no meio da conversa dos outros.

   Para encerrar essa introdução e passar à Suma propriamente dita, quero deixar um exemplo: “Você tem um lápis aí?” Quando falamos isso, de qual lápis estamos falando? Do lápis que o cara tiver. Não estamos falando de nenhum lápis em específico, mas do lápis que ele tiver, o que é óbvio. Então este objeto físico chamado “lápis” ele, neste sentido, há e existe. E expressamos nosso raciocínio e, muitas vezes, nossa emoção, através das palavras. No meio disso temos as “atitudes (no sentido de comportamento)”, mas isso é conversa para outra hora.

   A Suma, Santo Tomás de Aquino separou-a em questões e artigos. Foi analisando várias questões surgidas da observação da realidade, ele não inventou da cabeça dele, por isso que cada questão se desdobra em vários artigos e cada artigo é separado em itens, soluções, objeções e respostas. Ele analisa cada questão por vários lados, porém, não vai desdobrando até o infinito, pois é impossível trabalhar somente com o pensamento de não ter definições ou de somente ter definições. Todos nós sabemos que tem coisas na vida que tem definições, outras não e outras tem definições um pouco mais trabalhosas e você tem que procurar, muitas vezes, analisar o contrário. Aliás, o simples fato de você trabalhar com o pensamento do contraditório já evita desdobramentos infindáveis. Lembrando que “contradição” é uma coisa diferente de “contraditório”, mas não me estenderei nesta parte.

   Santo Tomás fala em bondade e malícia, ato interior e ato exterior, mal, pecado e a culpa (que são coisas distintas). Discorre quando a bondade é transformada em malícia.

   Tomarei como exemplo várias questões. Não entrarei no mérito das questões, como Santo Tomás, pois isso já está na Suma. Por exemplo, quando você vai dar esmola seu ato interior são suas emoções, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc. A emoção, a parte psicológica do ser humano. O ato exterior é o ato físico em si: dar cinco reais para um mendigo, largar cinco reais na mão dele.

   Temos então esta situação: dar esmola. A partir desta situação Santo Tomás analisa várias circunstâncias que decorrem. Lembrei agora de Ortega y Gasset: eu, sou eu e minhas circunstâncias.

   Trazendo para a realidade, eu passo ali e dou cinco reais ao mendigo e sigo meu caminho. Na próxima esquina já nem penso mais nisso. Neste caso, meu ato interior foi de bondade, eu quis ajudar. Porém, o mendigo, com os cinco reais na mão, vai tomar uns goles de cachaça. Posso pensar que o mendigo transformou meu ato de bondade em um ato de malícia. Mas Santo Tomás nos esclarece: “Ora, o que num gênero é princípio não é acidental, mas essencial; pois, tudo o que é acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da vontade depende unicamente do que torna o ato essencialmente bom, isto é, do objeto, e não das circunstâncias, acidentes do ato”. O objeto, no caso, foi o bem do meu ato interior, partiu da minha vontade, eu quis ajudar. Lembremos que, dentro do mendigo (um ser humano racional e emocional), também há o ato interior e o ato exterior. Além disso, nem fiquei sabendo que ele foi tomar cachaça, eu já estava lá na esquina. A culpa não é minha e a culpa não é dele. Mas isso é pecado e isso foi um mal? Para dirimir essa questão, leia a Suma.

   Outra circunstância. Passo ali e vejo o mendigo. Antes de dar a esmola eu penso: “não vou dar cinco reais para esse cara, vá que ele tome em cachaça, não vou sustentar o vício dos outros”. Aí temos um problema. “Sustentar o vício dos outros”. Eu sustento esse mendigo? Ele vive comigo? E se o problema é que ele irá tomar em cachaça, então, raciocine: traga um prato de comida ou, com o dinheiro, compre alguma coisa para ele. Está resolvido o problema. O bem vem da razão.

   Outra circunstância: passo ali e não dou esmola. Qual é o problema? Nenhum. Em outra oportunidade darei. Ou, então, dou esmola sabendo que o cara vai tomar a cachaça dele. Qual é o problema? Nenhum. O cara está ali numa situação sofrível, de repente deu um revés na vida dele, ele não chegou nessa situação por culpa dele. Você sabe disso? Conversou com ele?

Outra circunstância: dou esmola, chego em casa e conto para todo mundo que dei esmola, estão vendo como sou bonzinho? Posso até comentar que dei esmola, mas e o ato interior ao comentar tal fato? Um ato interior que era para ser de bondade eu mesmo transformo em malícia. Caso alguém perguntar, daí falo que ajudei.

   Outra circunstância: digamos que eu fosse um milionário, coisa que não sou. E vou doar 50 mil reais para uma instituição de caridade. Ao doar, levo toda a imprensa comigo. Quero capitalizar em cima, mostrar que sou um “filantropo”, sou um cara bom. A generosidade nos faz sentirmos grandes. Porém, meu ato interior já não é de tão bondade assim. Pode acontecer que já não me preocuparei se o dinheiro será realmente investido para ajudar. Já fiz meu “marketing”. Vai que o pessoal da instituição divida o dinheiro entre eles. Alguém poderá argumentar: “Mas está ajudando, não está?” Há controvérsias. Lembrem de Santo Tomás: “Ora, o princípio da bondade e malícia dos atos humanos procede de um ato da vontade. E portanto, a bondade e a malícia desta se fundam nalguma unidade, ao passo que a bondade e a malícia dos outros atos podem advir-lhes de origens diversas.

   Ora, o que num gênero é princípio não é acidental, mas essencial; pois, tudo o que é acidental se reduz ao seu princípio, que é o essencial. Logo, a bondade da vontade depende unicamente do que torna o ato essencialmente bom, isto é, do objeto, e não das circunstâncias, acidentes do ato”. O objeto, no caso, é o fim, o objetivo.

   “O bem é apresentado à vontade pela razão como objeto; e na medida em que entra na ordem da razão, pertence à ordem moral e causa, no ato da vontade, a bondade moral. Pois a razão é o princípio dos atos humanos e morais, como antes se disse”.

   O bem vem da razão.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

Conhecimento Intuitivo e Argumento Lógico

    Alô pessoal.

   Vamos começar com a etimologia da palavra “argumento”: do latim argumentum, prova, indício, raciocínio lógico. Lógica: do grego logike (tekhne), a ciência do raciocínio, a lógica.

   Conhecimento: ato ou efeito de conhecer. Intuição: do latim intuitio, imagem refletida no espelho.

   Ainda que a etimologia seja um bom parâmetro para iniciarmos uma investigação, ainda assim é apenas um parâmetro, não é tudo, pois a etimologia de uma palavra pode estar errada algumas vezes e outras não.

   Conhecimento intuitivo é aquilo que você conhece por intuição, você vê, ouve, toca, cheira e lambe, grosso modo, os cinco sentidos. As pessoas confundem intuição com pressentimento, trocam uma palavra pela outra (raciocínio metonímico). “Tive uma intuição de que não devo viajar amanhã”. Você não teve uma intuição, teve um pressentimento. E isso não é apenas uma questão de nomes, de palavras, de signos... de linguagem. Lembrando que Linguagem é um signo, tem um significado e, circunstancialmente, tem referentes, bem como todo signo tem um (ou mais) significado(s) e referente(s). Lembrando que dentro do significado temos vários sentidos os quais podemos empregar um mesmo signo (palavra).  E Linguagem é um todo composto de várias partes (as partes que compõem o todo, os particulares e os gerais), bem como quase tudo na vida. Dentro da Linguagem podemos dizer que temos a língua, a gramática, a linguística, o raciocínio, etc. E cada uma dessas partes podemos decompor em outras partes, são as classificações (que muita gente confunde com "relações"), mas isso é assunto para outro dia.

   Intuição é aquilo que você intui. Por exemplo: quando você era criança você aprendeu que uma cadeira era uma cadeira por conhecimento intuitivo. Seu pai ou sua mãe ou outro alguém disse para você: “Vem cá, senta aqui nesta cadeira e vamos conversar”, e você aprendeu que aquele objeto se chama cadeira. Seu pai não lhe disse: “Vem cá, senta aqui neste objeto de madeira, com quatro pernas, um assento e um encosto, isto chama-se cadeira”. Você aprendeu diretamente o signo e o referente, sem ter o significado. Conhecimento intuitivo também é aquele conhecimento sem intermediário, no caso o intermediário é o significado, posto que todo signo tem um significado (em palavras) e tem um referente (o que a coisa é).

   A maioria das coisas que aprendemos na vida aprendemos por conhecimento intuitivo. Isso é intuição e tem nada a ver com pressentimento. Intuição você intui, você percebe através da sua percepção, através dos seus cinco sentidos. Dizem que existem mais do que cinco sentidos, mas os cinco são os comprovados, então não me estenderei nesta parte também.

   A partir do momento que você intui, que você aprende alguma coisa pelo conhecimento intuitivo, a partir daí vem o argumento lógico. E uso essa expressão “argumento lógico” como uma redundância (figura de linguagem), pois todo argumento é lógico.

   Vamos a um exemplo: “Eu sou negão!” Quando faço essa afirmação, meu interlocutor verá que sou branco, não sou negro. Não é um argumento. É uma mentira. Porém, se eu falar: “Fui criado na cultura afro-brasileira, tive um avô por parte de mãe que era negro e tive uma avó por parte de pai que era negra, então, mesmo sabendo que eu tenho a pele branca posso dizer que tenho a alma negra, portanto, eu sou negão!”

   Percebam a coerência interna do meu argumento. Tornei mais palatável a afirmação “eu sou negão”. Porém, fui mesmo criado na cultura afro-brasileira? Tenho mesmo um avô e uma avó negros?

   A parte em que eu afirmo “mesmo sabendo que eu tenho a pele negra posso dizer que tenho a alma negra” mostra que não sou louco, que tenho consciência da minha pele branca. Isso confundirá a cabeça das pessoas e tornará meu argumento mais palatável.

   Quando faço tal afirmação que fiz completa anteriormente, no momento em que a faço o meu interlocutor não tem como saber a veracidade das minhas afirmações, das partes que compõem o todo, das orações que compõem a minha frase. Lembrando que o referente, no caso, você capta no todo da frase. Uma frase é um conjunto de palavras (signos).

   Então meu interlocutor deveria perguntar-me: “Você foi mesmo criado na cultura afro-brasileira?” Eu poderia responder: “Sim”. Daí dependeria de uma investigação posterior do meu interlocutor para saber se estou mentindo ou falando a verdade. E dependeria também da percepção do meu interlocutor em saber na hora se estou mentindo ou falando a verdade; e depende também do conhecimento que meu interlocutor tem a meu respeito, da convivência; ele me conhece ou não?

   No canto vinte e sete da Divina Comédia de Dante, estavam lá Dante, Guido de Montefeltre e o querubim negro (o diabo, o sete-velas, o capeta, o satanás ou um dos seus representantes). E Montefeltre e o querubim negro estavam num embate em queo querubim negro argumenta que Montefeltre deve ir para o inferno e Montefeltre argumenta que não. Estavam no oitavo círculo do inferno, o círculo dos intrigueiros, dos mentirosos. E o querubim negro dizendo para Montefeltre: “Você pecou”. Montefeltre respondeu: “Pequei, mas todas as vezes que pequei eu me arrependi”. E o querubim negro: “Pois é, mas você voltou a pecar”. E assim foram nessa toada até que o querubim negro pegou o Montefeltre numa intriga que ele tinha feito em vida contra o Papa da época. E o Montefeltre: “É, realmente, devo ir para o inferno”.

   Esse diálogo, apesar de conter a essência do acontecido, não está com as palavras exatas da Divina Comédia, mas exemplifica muito bem. Então o querubim negro termina: “Então não imaginavas que eu fosse lógico?” A frase completa é: “Então não imaginavas que eu fosse lógico nas ciências e nas artes?”

   Isso mostra que todo argumento é lógico. Mas um argumento corresponde à verdade dos fatos?

   Todo argumento é expresso em palavras: palavras faladas ou escritas. E as palavras refletem nossos pensamentos e raciocínios, ou seja, quando você fala ou escreve está mostrando para os outros como é a sua cabeça, como é o seu modo de pensar, o seu raciocínio. Lembrando que raciocínio é a organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. E você expressa seus pensamentos e/ou raciocínios através da palavra falada e da palavra escrita. A palavra falada e a palavra escrita são seus pensamentos e/ou raciocínios materializados, tornados reais, realizados fisicamente.

   Lembrando que pensamento, todos nós nascemos sabendo pensar. “Precisamos ensinar - ou aprender - a pensar”. O correto é: “Precisamos aprender a raciocinar”. Raciocínio é a concatenação de pensamentos, é a organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outros. E isso se reflete no que falamos e escrevemos.

   O ser humano se comunica através da palavra falada e da palavra escrita. O ser humano também se comunica por mímica, músicas, filmes, imagens, obras de arte, etc. Mas, quantitativamente, o ser humano se comunica muito mais através da palavra falada e da palavra escrita. Isso é fato, é verdade. Nós falamos e escrevemos, nós ouvimos e lemos. E tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos e/ou raciocínios.

   Vou colocar aqui de novo uma frase que exemplifica bem: “Nunca ouvi falar disso, mas não tem cabimento”. Esta frase é composta de duas orações: “Nunca ouvi falar disso” e “,mas não tem cabimento”. Porém, não temos um raciocínio aí. São somente dois pensamentos jogados ao vento em forma de duas orações. Quando você fala “nunca ouvi falar disso” você está admitindo que nunca ouviu falar, que é uma informação nova para você e, ao mesmo tempo, está chegando na conclusão de que não tem cabimento. Como isso é possível?

   Como é possível alguém admitir que nunca ouviu falar de alguma coisa e chegar a qualquer conclusão? Não é! Esse sujeito está dizendo que é burro, não percebe, mas se acha o gostosão.

   Caso ele respondesse: “Nunca ouvi falar disso, mas tem cabimento”, seria a mesma estupidez. Não é possível alguém afirmar que não sabe de uma coisa e, ao mesmo tempo, chegar a uma conclusão lógica.

   A parte gramatical de frases, orações, ortografia, sintaxe, semântica, etc. Dentro da gramática temos a ortografia, a sintaxe e a semântica - e outras. Mas vamos tomar por base essas três. Ortografia: conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras. Sintaxeparte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Semântica: estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados.

    Erros ortográficos, por exemplo, trocar "ç" por dois "s", escrever "caza" em vez de "casa". Erro sintático, por exemplo, "Nós vai lá"; há um erro de concordância do sujeito com o verbo; o correto é "Nós vamos lá". Porém, perceba, não há erro ortográfico na frase "Nós vai lá". Lembrando que erros ortográficos na palavra falada chamam-se de erros de pronúncia. Quando você troca "mais" por "mas" há dois erros: de ortografia e de semântica. Nem sempre erros ortográficos e/ou sintáticos levam a erros semânticos, por exemplo: "Nós vai lá!", há erro sintático, mas você capta o referente, a semântica da frase, você entende o que o cara quis dizer. Ele quis dizer que ele e os outros (talvez você mesmo esteja incluído nesse "nós") vai lá, vão lá. Porém, muitos erros ortográficos e sintáticos levam a um erro semântico, você não capta o sentido da frase porque o animal não sabe escrever ou falar. è aquela pessoa que fala e escreve tudo errado. Então, quando estiver lendo um livro (ou qualquer outra coisa) procure identificar e discernir entre ortografia, sintaxe e semântica.

Você não precisa decorar o dicionário e a gramática, até porque isso é impossível, mas esse entendimento básico você tem de ter. Isso deveria ser ensinado às crianças nas escolas. Óbvio que deve ser ensinado em uma linguagem que elas entendam, mas não me estenderei nessa parte.

   Todo argumento é lógico posto que todo argumento é dado em palavras faladas ou escritas. Dê-me um argumento por telepatia. Verá que é impossível. Não lemos pensamentos.

   Você sabe quando uma pessoa é, vamos por assim dizer, burra ou não, pelo quê ela fala ou escreve, pelo raciocínio dela, pela concatenação dos pensamentos que se refletem nas palavras, faladas ou escritas.

   Óbvio é também que a língua e a linguagem tem nuances. Signo, significado (e vários sentidos de uma mesma palavra) e referente, mas não me estenderei nesta parte de novo.

   Todo argumento é lógico e todo conhecimento é intuitivo.

Para saber mais: