Existe uma figura chamada "mentor". Segundo a etimologia da palavra, ela vem do latim Méntòr,òris, do antropológico grego Méntór, personagem da Odisseia, de Homero, sVIII a.C., amigo e conselheiro de Ulisses, de que Palas Atena tomou a figura para instruir e formar Telêmaco, donde vem seu uso como substantivo, como "conselheiro, guia".
A figura do mentor confunde-se com a história da humanidade e confunde-se com a própria tradição. Geralmente o mentor é uma pessoa mais velha, mais sábia e mais experiente, e não pode ser diferente, pois é intrínseco da própria figura do mentor. Pode existir um mentor mais novo que seu pupilo, mas daí não se chama mentor, chama-se um conselheiro momentâneo, por falta de um nome melhor.
A figura do mentor nos remete aos nossos próprios pais, que são (ou deveriam ser), basicamente, nossos primeiros e eternos mentores, e depois, em um segundo momento, os professores e as professoras que teremos ao longo da vida.
Podemos ter vários mentores em nossa vida, mas sempre existirá um que nos será predileto. Posso fazer aqui uma distinção para fins de entendimento: o mentor, na verdadeira acepção da palavra, é único. Mas essa unicidade pode ser momentânea tendo em vista que, ao longo da vida, teremos um mentor no trabalho, um mentor sentimental, um mentor na vida, etc. Porém, mesmo assim, teremos um que nos será predileto. Teremos aquele é a rocha sólida na qual nos agarramos em todos os momentos, fáceis ou difíceis.
Em alguns países do mundo isto é bem claro e reflete-se no respeito aos mais velhos. O respeito do qual eu falo é aquele respeito por consideração, estima, reverência, e não o "respeito obrigatório" que se dá a uma pessoa mais velha simplesmente por ela ser mais velha. Isto não é respeito, é educação para com os mais velhos, educação, esta sim, é obrigatória.
O respeito acontece naturalmente através, principalmente, da moral. Ou se tem moral ou não se tem, e daí vem o respeito.
Atualmente parece-me que isto foi perdido. Hoje em dia os mais novos mandam os mais velhos irem estudar, mesmo em casos nos quais os mais velhos vivenciaram pessoalmente, fizeram parte da história, estiveram lá e sentiram com seus cinco sentidos. Estes mais velhos sequer são ouvidos pelos mais novos.
A tradição é passada dos mais velhos para os mais novos, mas quando não se tem tradição não há o que se passar. Quando se diz popularmente "devemos respeito aos mais velhos", pode-se cair no engodo de ter de respeitar uma pessoa mais velha simplesmente por ela ser mais velha e esquecemos de levar em conta a moral dessa pessoa mais velha. É aí onde entra a figura do mentor: o mentor é aquela pessoa mais velha que tem moral e que nos orienta com conselhos sábios, é aquela pessoa em quem podemos confiar. É aquela pessoa que nos passará as tradições que deram certo na vida. É aquela pessoa que conservará as tradições que vem dando certo e deixará para os mais novos criarem suas próprias tradições dentro do seu momento histórico, mas respeitando a historicidade da humanidade.
Posso ter um mentor momentâneo, por exemplo, no trabalho. Este mentor será aquele que me dará todas as orientações referentes ao modo como devo proceder no trabalho. Talvez, um dia, eu ficarei no lugar do mentor sendo que ele me treinará e me orientará para tal e deixará bem claro que estou sendo orientado para isso.
Penso que esta mentalidade não existe mais. O que existe é um treinamento mecânico, técnico, que leva as pessoas a "puxarem o tapete" umas das outras. Quando a "puxação de tapete" se transforma na regra ninguém fica em pé. E uma sociedade assim vai se arrastando, rastejando, até que alguém se levanta e tem seu tapete puxado novamente, perpetuando um ciclo de arrasto onde ninguém se ajuda e, quando ajuda, é para se arrastar.
Dizem que os mais novos são rebeldes por natureza, mas penso que isto é mentira. Os mais novos tem um ego exacerbado que os faz parecerem rebeldes justamente porque, de um modo geral, não tem experiência de vida, não vivenciaram situações, situações estas que vivenciarão com o passar dos anos, é um ciclo natural. A "rebeldia" dos mais novos é confundida com o afã, com a inquietação, com a ansiedade de querer fazer as coisas. Estas sim são próprias da juventude.
O ciclo natural é os mais velhos orientando os mais novos. Quando se perde isto em uma sociedade, tem-se o caos, têm-se diversas revoluções que não conservam as tradições, pelo contrário, destroem-nas. E daí cada geração mais nova tenta criar suas próprias tradições... que serão destruídas pela geração seguinte. É o ciclo da revolução perpétua.
Uma geração sem amparo da geração anterior, uma geração que não escuta a geração anterior está fadada ao fracasso, inexoravelmente. É o ciclo da revolução fracassada. Quando essa mentalidade se instaura em uma sociedade, os mais novos não pedem conselhos aos mais velhos, pelo contrário, os desprezam.
A figura do mentor, enquanto mentalidade, é importantíssima para o bom andamento de qualquer sociedade. Mas quando temos várias gerações de "revolucionários" e cada um tentando impingir seu próprio ritmo de fazer as coisas sem levar em conta as opiniões dos mais velhos naquilo que vem dando certo na sociedade, temos, repito, o caos. Quando temos várias gerações de "revolucionários", não se tem mais pais que possam orientar os filhos, não se têm mais pessoas mais velhas com moral suficiente para serem respeitadas, e daí, os mais novos, sem amparo, tentam fazer as coisas do seu próprio jeito sem ter conhecimento e experiência para tal. Tentam "reinventar a roda" dando a ela formato quadrado, triangular ou, até mesmo, redondo, mas com seu eixo preso em uma mentalidade que não gira, em uma mentalidade que se arrasta, que rasteja.
Uma pessoa mais velha que trabalhou a vida inteira em trabalhos braçais e não teve muito sucesso financeiro, não significa que não tenha bons conselhos de vida para dar. A retidão de caráter, a moral independe do sucesso financeiro. E o contrário também é válido: uma pessoa com sucesso financeiro pode ter retidão de caráter e moral. Dividir a humanidade entre ricos e pobres com o intento de definir a moral é pensamento revolucionário que não conserva a tradição, mas conserva a humanidade dividida entre ricos e pobres... poucos ricos e muitos pobres.
Quando se tem um mentor sem moral que visa somente o sucesso financeiro, é o caminho para o fracasso porque sobe-se somente financeiramente e quanto mais se sobe tendo em vista somente o dinheiro, mais se encontra pessoas com essa mentalidade e a briga fica ainda mais acirrada, mais violenta, mais sem moral, sem escrúpulos. Acabarão todos se matando. Isso também é inexorável. E nesse processo, a humanidade vem de arrasto.
Uma família que cria seus filhos para se manter exclusivamente com dinheiro e poder baterá de frente com outra família de mesmo gênero. E basta uma simples intriga para que essas famílias entrem em choque iniciando um processo de auto-destruição.
Não estou aqui fazendo uma defesa da pobreza, isso seria ingenuidade, pois todos precisamos de dinheiro, mas é possível ter dinheiro e conservar a moral. Basta ter um mentor inteligente com esse pensamento, com essa mentalidade, mas isso é coisa rara hoje em dia, raríssima.