quarta-feira, 2 de julho de 2025

Deus é Bom e Justo?

 

  Para quem acredita na Bíblia como sendo a Palavra Sagrada de Deus este texto soará como heresia.

   Não é minha intenção descrever aqui a revolta do ser humano contra seu criador. Analisando a sua própria consciência, qualquer ser humano que já traiu ou foi traído por alguém que ama, bem pode fazer uma idéia daquilo que aconteceu.

   Analisarei a Palavra Sagrada de Deus, Antigo e Novo Testamento, em edição revista e atualizada pelo homem com várias traduções e cada um puxando a brasa para seu assado religioso.

   Esse "deus" injusto, cruel e vingativo do Antigo Testamento parece-me mais um "diabo". O Deus de Cristo tem mais coerência, apesar de que deixou o próprio filho ser barbarizado e pregado numa cruz.

   Parto do pressuposto Bíblico de que Deus é onipotente (Apocalipse 19:6, Mateus 19:26), onipresente (Salmo 139:7-10) e onisciente (Salmo 139:1-4, Hebreus 4:13), além de outros textos bíblicos; e também do pressuposto de que Deus não teve início, não tem meio e não terá fim porque é eterno, aliás, Deus é a eternidade em si.

   Então, mesmo este texto, provavelmente tem uma inspiração Divina.

   "No princípio criou Deus os céus e a terra." Essa passagem a maioria sabe, então vamos pular a criação da Terra, a formação do homem e da mulher e vamos para a queda do homem.

   Porém, antes quero deixar aqui Gênesis 1:26: "Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem,..."

   Percebam: "Façamos" no plural. Alguns interpretam singularmente esse plural alegando que se refere à Divina Trindade. Não discutirei esse ponto, pois não é o objetivo, além do que, entraremos (eu e o leitor), na discussão das diferentes traduções, diferentes Bíblias, etc, etc e etc e o assunto estender-se-ia à eternidade.

   Lembro ao leitor que a Bíblia não foi escrita em capítulos e versículos, foi escrita em prosa sem que os autores originais estivessem preocupados com divisões administrativas, cujas vieram depois.

   A divisão em capítulos foi realizada por Stephen Langton, arcebispo de Cantuária, por volta do século XIII, enquanto a divisão em versículos foi introduzida no século XVI por Robert Estienne, um impressor francês. Tais divisões são por meras questões administrativas para o leitor encontrar-se melhor porque, muitas vezes, uma passagem do Antigo Testamento é citada no Novo Testamento, então para o leitor não ter de ficar indo e voltando na leitura criou-se a divisão em capítulos por volta de 1300 d.C. e 200 anos depois a divisão em versículos por volta de 1500.

   O correto é ler-se no mínimo um capítulo inteiro e não ficar decorando versículos pela boniteza das palavras para exibir-se para os amigos no culto, na missa, no trabalho, em festas, etc.

   Vamos para a queda do homem, o início da nossa desgraça.

   Gênesis 2:15-17: "Tomou, pois, o Senhor Deus ao homem e o colocou no Jardim do Éden para o cultivar e o guardar. E lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque no dia em que dela comeres, certamente morrerás."

   Tinha no Éden a árvore da vida e a árvore do conhecimento do bem e mal (além de outras árvores).

   O problema começa por aí.

   Que paraíso é esse onde deus coloca uma tentação para suas duas criaturas puras e inocentes?

   E pior, coloca um tentador, a serpente: Gênesis 3:1 "Mas a serpente, mais sagaz que todos os animais selváticos que o Senhor Deus tinha feito,..."

   Até agora temos duas criaturas puras e inocentes, a tentação e o tentador... e todos criados pelo "Senhor Deus".

   O  simples fato de existir uma tentação já destrói completamente o conceito de Éden ou Paraíso.

   Deus, sendo onipotente, onisciente, onipresente e eterno, o criador de tudo, poderia (e deveria) em sua sabedoria infinita não ter colocado uma tentação para o homem e a mulher, mas colocou, e pior, para fechar o pacote completo colocou também um tentador.

   O restante todos sabemos do acontecido: a serpente cochichando no ouvidinho da Eva que cochichou no ouvidinho do Adão e estamos pagando por isso até hoje.

   Quem acredita naquela alegoria da serpente enrolada na macieira oferecendo a maçã do pecado para Eva peço que deixe de ler este texto e leve seu feliz retardo mental para outro lugar, vá ser feliz em outro lugar.

   Alguns argumentam que a "maçã do pecado" era o sexo; que a "serpente" conheceu a mulher no sentido bíblico e a mulher, por sua vez, gostando do "conhecimento" conheceu o homem no sentido bíblico.

   Lembrando que "conhecer" no sentido bíblico é fazer sexo.

   Não podemos afirmar que isso seja verdade, pois como já dito, a linguagem Bíblica é bastante subjetiva.

   Gênesis 3:8-9: "Quando ouviram a voz do Senhor Deus, que andava no jardim pela viração do dia, esconderam-se da presença do Senhor Deus, o homem e sua mulher, por entre as árvores do jardim. E chamou o Senhor Deus ao homem, e lhe perguntou: Onde estás?"

   O homem, que ainda não tinha o nome de Adão, respondeu que teve vergonha de aparecer para Deus porque estava peladão. E Deus perguntou: "Quem te fez saber que estavas nu? Comeste da árvore de que te ordenei que não comesses?"

   Lembrando que Deus disse em Gênesis 2:15-17 que se o homem comesse da árvore do conhecimento do bem e do mal certamente morreria, o que não aconteceu.

   O "Senhor Deus" se enganou ou mentiu?

   A Bíblia não explica, aliás, o Antigo Testamento é subjetivo ao extremo, repleto de contradições, explica pouca coisa... e explicar pouca coisa mas enrolar bastante é mais obra daquele que se rebelou do que de um Deus justo.

   Além disso, onde estava deus que não previu que isso aconteceria?

   Um ser de infinita sabedoria deixa duas criaturas puras e inocentes com uma tentação e com um tentador e não imagina que fariam besteira?

   A partir da queda do homem começou o jogo de empurra-empurra, de "vitimização" e de "coitadização" que perdura até hoje.

   O homem empurrou a culpa para a mulher que empurrou a culpa para a serpente e Deus, por sua vez, ferrou com os três.

   Condenou a serpente a rastejar "sobre seu próprio ventre, e comerás pó todos os dias da tua vida".

   Isso levanta uma questão importante: qual era o formato da serpente?

   Posto que o castigo foi rastejar sobre seu próprio ventre; a serpente tinha cabeça, tronco e membros?

   Ou a serpente já tinha esse formato alongado de cobra sem tronco e membros, mas não rastejava sobre seu próprio ventre?

   A Bíblia não explica.

   Repetindo, a Bíblia é bastante subjetiva, mas o Antigo Testamento é subjetivo ao extremo e enseja mil e uma interpretações, parece mais uma mitologia, ou seja, deuses com características humanas, deuses com virtudes e defeitos como o ser humano, mas com poderes como as fábulas Gregas e Romanas, com poderes como os X-men ou Dragon Ball, mitologias modernas.

   E antes que alguém venha dizer que estou interpretando de forma errada, informo que sequer interpretei coisa alguma, apenas repito as passagens e faço perguntas.

   Não invento nada e interpreto nada, somente levanto questões baseadas na própria Bíblia.

   Em Gênesis 3:17 o homem recebe o nome de Adão e daí Adão dá o nome de Eva para a mulher.

   O castigo dos dois foi serem expulsos do suposto paraíso, ou seja, Adão foi castigado com o trabalho: Gênesis 3:17-19: "E a Adão disse: Visto que que atendeste a voz da tua mulher, e comeste da árvore que eu te ordenara não comesses: maldita é a terra por tua causa; em fadigas obterás dela o sustento durante os dias de tua vida. ela produzirá também cardos e abrolhos e tu comerás a erva do campo. No suor do rosto come5rás o teu pão, até que tornes a terra, pois dela foste formado; porque tu és pó e ao pó tornarás."

   E a Eva foi castigada, basicamente, com as dores do parto.

   Parece-me que o "senhor deus" perdeu uma ótima oportunidade de ensinar o perdão para as suas duas criaturas puras e inocentes, lembrando que quem criou tudo (inclusive o pecado, a tentação, etc) foi Ele mesmo.

   Fazendo uma analogia!

   Vamos supor um pai (dizem que Deus é pai) com seus dois filhos, uma menina de 11 anos e um menino de 12 anos.

   Tal pai, ao sair de manhã para trabalhar deixa seus dois filhos com um conhecido amigo seu, maconheiro de carteirinha, e em cima da mesa duas tigelas: uma com frutas e outra com meio quilo de maconha já pronta para consumo em baseados fechadinhos.

   E o pai diz aos seus filhos: "Da tigela com frutas podem comer, mas da outra tigela não podem sequer tocar".

   E o pai (ou mãe, tanto faz nessa analogia, mas para sermos justos nos direitos iguais) sai para trabalhar e deixa o adulto maconheiro cuidando dos filhos.

   Ao voltar na viração do dia, o pai (ou a mãe) encontra o tal adulto sagaz e os dois filhos chapadões no sofá.

   O filho meio envergonhado ao ver o pai (ou a mãe) diz: "E aí coroa, tudo legal?"

   O pai, vendo o estado lastimável das crianças, dá uma surra com um taco de beisebol no adulto sagaz e o faz sair rastejando da sua casa.

   E depois, questionando os filhos, suas próprias criaturas puras e inocentes, os expulsa de casa: "Vão se virar, falei para não fumar maconha".

   Que pai ou mãe faria isso?

   Antes que alguém diga que a analogia não é correta, repito: leve seu retardo mental para outro lugar.

   Eu poderia ter feito a analogia com sexo, daí você morderia o próprio rabo de raiva porque envolveria incesto!

   Esse "deus" do Antigo Testamento é o diabo. Usa de subterfúgios, tergiversações, subjetividades ao extremo e injustiças.

   E nem cheguei em Jó, esse coitado, estamos ainda no Gênesis.

   Sobre Jó tem vários estudos, mas o ponto principal é que Deus aceitou a tentação do Satanás e ferrou com Jó. Depois Deus devolveu tudo em dobro ao Jó, mas qual a necessidade fazer Jó passar por tudo aquilo?

   Deus deveria ter olhado para Satanás e dito: "Ô Satã, olha bem Quem você está tentando! Fui Eu Quem te criou."

   Veja você, o próprio Deus deixou-se tentar por Satanás, quem somos nós para resistir às tentações?

   O livro de Jó não tem uma autoria certa, julga-se pela tradição que foi Moisés quem o escreveu, mas não se tem certeza.

   O Deus do Novo Testamento, o Deus do carpinteiro parece-me mais aprazível. Parece-me mais um Deus justo. O fato de ter deixado o próprio filho ser barbarizado e pregado numa cruz de madeira é irrelevante porque Cristo escolheu isso.

   O tal livre-arbítrio.

   Você trocaria o livre-arbítrio pelo paraíso?

   Você quer um mundo sem tentações, sem maldade, todos vivendo em paz, dividindo tudo, aliás, sem sequer ter alguma coisa para dividir?

   É uma utopia isso, pois desde que o mundo é mundo a história do mundo é uma coleção de guerras, loucuras, desgraças, traições, etc.

   Tem coisa boa também, óbvio, mas ao longo da história da humanidade a esmagadora maioria dos seres humanos sempre sofrem enquanto poucos se dão bem.

   E muitos dos poucos que se dão bem quase sempre tem o apoio de "deus".

   O rei Davi, por exemplo, ele mesmo diz que passou mais da metade do mandato dele matando pessoas condenando-as à morte, geralmente criminosos.

   Davi é aquele do Golias, é aquele que "conheceu" Betsabá e ferrou com o marido dela para "conhecer" Betsabá e ainda assim o "deus" do Antigo Testamento o considerava perfeito.

   Voltando à Moisés. Moisés matou um cara, matou um egípcio que espancava um Hebreu (Êxodo 2:11-12). Escondeu o corpo na areia e fugiu.

   Fosse hoje e você fosse o pai, a mãe, o irmão, o amigo, etc, do egípcio morto você perdoaria Moisés?

   De repente você teve um ente querido morto em um assalto ou numa briga, vai que esse assassino seja o novo Moisés!

   Nos tempos Bíblicos do Antigo Testamento (o Pentatêuco) deus aparecia a toda hora, você dava um chute numa sarça e pronto, deus aparecia ali ardendo na sarça.

   Hoje, caso você falar que falou pessoalmente com deus será considerado louco.

   A não ser que você faça milagres.

   Porém, até nisso naquela época era diferente. Moisés, por exemplo, quando foi ao monte Sinai pela primeira vez porque queria conhecer Deus, Moisés duvidava da existência de Deus, ao descer do monte estava com a face brilhante e todos perceberam que Moisés teve contato com Deus.

   Isso faz sentido. Quem tem contato com Deus não precisa fazer milagres, o milagre é um adendo porque todos perceberão que Deus deixou uma parcela Sua em ti.

   Aliás, Moisés subiu 8 vezes no monte Sinai para bater um papo com Deus.

   Fato curioso: A estátua de Moisés feita por Miguelângelo (o artista, não a tartaruga ninja) tem dois chifres. A palavra hebraica "qaran" usada para descrever o rosto de Moisés após descer do Monte Sinai foi traduzida na Vulgata, a tradução da Bíblia para o latim, como "cornuta", que significa "com chifres". A raiz "qaran" deve ser entendida como "irradiar luz" ou "ter raios" e a interpretação correta é que o rosto de Moisés brilhava com a glória de Deus.

   Miguelângelo não achou nada estranho Moisés ter chifres porque na época, e mais antes, ter chifres era sinal de poder, vide os vikings com seus capacetes.

   Veja as imagens de representações de Satanás, sempre com chifres... e tetas.

   Um carpinteiro ferrou com tudo!

   Cristo demoliu inclusive a idéia do demiurgo de Platão, aquele ser superior criador de tudo que fica somente observando tudo e não se intromete em nada, aquele que Deixa Cristo e o Satanás brigando pelas almas humanas.

   Metafisicamente falando, Cristo obrigou o demiurgo a tomar uma posição.

   Cristo disse (Mateus 5:17): "Não penseis que vim revogar a lei ou os profetas: não vim para revogar, vim para cumprir."

   Cristo falava dos 10 Mandamentos. Foi o único que cumpriu à risca os 10 Mandamentos, aliás, Cristo elevou a coisa a um patamar bem longe de nós.

   Os 10 Mandamentos são um código de ética, senão o único código de ética que existe.

   É dele que decorrem todas as leis humanas: Direito Natural, Direito Romano, Direito Penal, Direito Civil, etc, todos sem exceção decorrem dos 10 mandamentos.

   Talvez Moisés tenha sido o primeiro e único filósofo da história da humanidade.

   Vamos supor que deus não exista, que deus seja uma invenção do homem, que Moisés, na época, vendo que a coisa estava muito bagunçada, muita suruba, muita morte, etc, resolveu subir no monte Sinai e ele mesmo esculpiu as pedras da Lei. Que não teve nada de um deus soltando raios furiosamente esculpindo as Tábuas da Lei a marteladas divinas com um cinzel atômico.

   Ainda assim não apaga a importância dos 10 mandamentos!

   Os 10 Mandamentos são princípios Éticos.

   Princípio, em filosofia, é aquilo que está no início, antes não precisa ter nada, nem mesmo uma explicação em palavras; pode ter uma explicação palavras para nos entendermos mas não é necessário.

   Por exemplo: não matar!

   Todo mundo sabe que matar é errado, até mesmo um psicopata sabe senão ele não faria tramoias para esconder suas mortes, mataria na frente de todo mundo.

   Isso é um princípio Ético.

   Continua em https://julioseibei.blogspot.com/2025/01/etica-e-moral_25.html