sábado, 10 de maio de 2025

Meu (desviado) Caminho para Marx


   O título adaptei de Georg Lukács, ou melhor, peguei emprestado permanentemente - autores como Lukács gostam de jogos de palavras, então por que não combater fogo com fogo?
   Acabaremos todos chamuscados... assim seja!

   Neste ensaio, Lukács descreve como pavimentou seu caminho para Marx. Ele começa se desmanchando de amor por Marx já na primeira frase: "A relação com Marx é a verdadeira pedra de toque para todo intelectual que leva a sério a elucidação da sua própria concepção de mundo, o desenvolvimento social, em particular a situação atual, o seu próprio lugar nela e o seu próprio posicionamento em relação a ela. "

   De cara vemos um problema: as palavras "intelectual" e "sério" na mesma frase discorrendo sobre Marx; e pior:  Lukács entra num medonho transe que evolui para uma relação platônica.

   Depois ele segue se derretendo de amores sobre seu primeiro encontro com Marx quando diz que ficou impressionado com a teoria da mais-valia... o encontro de Lukács com Marx esclareço para quem não leu o texto e nem pretende ler: foi um encontro com o Manifesto Comunista. Lukács disse que "A impressão foi extraordinária...". Marx faleceu em 1883, Lukács nasceu em 1885... o encontro deles só é possível numa sessão Espírita.

   Na verdade, no texto Lukács conta seu caminho para Marx onde passou 10 anos da vida dele estudando os escritos de Marx - para quê, eu não sei -, mas não podemos desconsiderar o conhecimento de Lukács sobre a obra de Marx.

   O que me chamou atenção e me causou estranheza nesse "textículo" foi o último trecho do sétimo parágrafo:

O materialismo dialético, a doutrina de Marx, deve ser conquistada a cada dia, assimilada a cada hora, a partir da práxis. Por outro lado, a doutrina de Marx, em sua inatacável unidade e totalidade, constitui a arma para a condução da prática, para o domínio dos fenômenos e de suas leis. Se dessa totalidade for destacado (ou apenas subestimado) um só elemento constitutivo, teremos de novo a rigidez e a unilateralidade. Basta que se perca a relação dos momentos uns com os outros, e lá se vai o chão da dialética marxista sobre o qual apoiamos os pés. “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”

   Lukács escreve sobre o "Materialismo Dialético", a doutrina de Marx?!?

   Um sujeito como Marx que não trabalha com definições, somente trabalha com determinações, como bem disse José Paulo Netto: "se você é o leitor que pretende encontrar definições, Marx não é o autor para você"; ou seja, Marx define coisa nenhuma em seus escritos além de uma pasta mental cinzenta pegajosa; Marx diz uma coisa e no parágrafo seguinte ele pode dizer exatamente o contrário que, para os manipulados seguidores dele, Marx continua certo e continua determinando como os idiotas devem pensar, porém, já veremos o que é essa "doutrina de Marx", o materialismo dialético, à luz de Lukács.

   Antes veremos que o problema de não se trabalhar com definições é o mesmo problema de somente trabalhar com definições, ou seja,  vai contra a realidade. Um bom autor observa a realidade e escreve sobre ela sem mascaramentos ou truques de palavras que possam confundir o leitor. Quando alguém começa um livro, por exemplo, e decide não trabalhar com definições, esse alguém certamente embromará no texto, enrolará o leitor para que pense que o gênio é o autor e o burro é o leitor que entendeu nada.

   Da mesma maneira, quando você decide definir tudo, certamente você nem começará o livro porque na vida algumas coisas tem definições e outras não, é impossível definir tudo e do mesmo modo é impraticável definir nada.

   Aristóteles, há 2.500 anos já nos mostrou o caminho e o caminho é o mesmo, não mudou nesse tempo. Ainda que alguns tentem construir seu próprio caminho nesse sentido, o máximo que conseguem é abrir picadas a facão no meio da mata escura onde acabam por se desviarem da luz que Aristóteles nos deixou. Vejam vocês, os insetos são atraídos pela luz, algumas pessoas fogem dela.

   Quando Aristóteles nos diz sobre a coragem e a bravura na "Ética a Nicómaco" ele sequer tenta definir tais coisas, mas escreve sobre elas, cita exemplos e analisa, pois são coisas incorpóreas e subjetivas e o leitor, afinal, entende perfeitamente o que são coragem e bravura.

   Com efeito, pelo outro lado, Aristóteles afirma nos "Analíticos Posteriores" que a ciência e o seu objeto diferem da opinião e do seu objeto, e depois define o que é opinião e analisa a ciência, pois aquela é passível de definição, esta não. E nos diz que a opinião (doxa) pode ser objeto da ciência, porém, a ciência não pode ser objeto da opinião, e assim ele vai descrevendo a realidade, definindo o que pode ser definido e analisando e significando o que, em si, não tem como definir.

   O materialismo dialético, no bla bla bla Marx de Lukács que deve ser bla bla bla a cada dia, bla bla bla a cada hora, a partir da práxis... o leitor tem de saber o que é essa tal práxis a qual Lukács se refere, senão não entenderá o texto de Lukács. Deixo para o leitor essa parte, não vou explicar tudo, pois não pretendo escrever um livro, além do que, para este meu presente texto não nos interessa o que é a tal "práxis marxista".

   Vamos focar nisto: “Pois qualquer verdade – diz Lênin – se a exagerarmos, se ultrapassamos os limites de sua validade, pode tornar-se um absurdo; aliás, é inevitável que, em tais circunstâncias, ela se torne um absurdo.”

   Esta citação de Lênin feita por Lukács é, claramente, um sofisma, aliás, esses autores desta cepa ideológica-filosófica, desta corrente aprisionadora ideológica-filosófica sofista, cuja volta brutal e avassaladora na história da humanidade podemos dizer que se deu com Kant, este enganador de uma figa, sofista enrolador, esta miserável carcaça celibatária que, junto com Hegel, Fichte, Marx, Gramsci, toda a Escola de Frankfurt e, mais recentemente, Heidegger, Paulo Freire, Foucault, além de vários e inúmeros outros, desorganizam fundamentalmente e emburrecem para sempre as cabeças por meio de um palavrório oco, vazio e nauseabundo, como bem disse Schopenhauer sobre Kant e Hegel. Trocam conceitos por palavras, pois não trabalham com definições, trabalham com determinações; dizem palavras vazias de significado e determinam absurdos como se fossem leis supremas.

   O materialismo dialético, a doutrina de Marx citada por Lukács nada mais é do que mentir, mentir e mentir até tudo se tornar um absurdo e, como bem disse Lênin com a sua semântica oculta maligna, quanto mais você mente é inevitável que tudo se torne um absurdo - nesta parte dá a impressão de que Lênin não mentiu, mas é preciso entender que é assim mesmo: eles trabalham com a verossimilhança.

   Exagerar a verdade é eufemismo para a mentira. Exagerar a verdade é mentir, pois é impossível exagerar a verdade: a verdade é o que ela é! Um lápis, por exemplo, medido com a régua tem 18 centímetros e vem Lênin ou Lukács ou Marx (qualquer um desta cepa burra maldita maligna) e nos diz que o lápis tem, na verdade, 20 centímetros!

   Eles não estão mentindo, estão somente exagerando a verdade em 2 centímetros, estão somente fazendo uma ultrapassagem em lugar proibido dos limites da sua validade. É a mesma coisa quando um idiota diz que não está mentindo porque está somente faltando com a verdade. Faltar com a verdade é eufemismo para mentira, mas significa mentira. Lembrando que "eufemismo", neste sentido, significa minimizar através de palavras a gravidade das consequências dos atos e das palavras. O leitor não foi estuprado, somente praticaram sexo violento com a mente dele!

   Por que Lukács escolheu exatamente esta citação de Lênin para encerrar o parágrafo no qual discorria sobre o materialismo dialético?

   Ele poderia ter escolhido outra citação de Lênin, qualquer outra citação de outro autor, etc, por que exatamente essa?

   Essa resposta somente Lukács nos pode dar com exatidão, mas por uma questão de interpretação de texto nem precisamos de Lukács, está bem claro: o materialismo dialético, a doutrina de Marx é mentir, mentir e mentir até tudo tornar-se um absurdo... e daí mentir mais ainda!

   Veja bem, não é mentir simples mentiras, tem de ser mentiras elaboradas, escritas com um certo profissionalismo estilístico, com uma robustez literária, às vezes até com juras de amor simulando um significado sagrado onde palavras como "doutrina", "teoria", "crença" e "revolução" transformam-se ocultamente em religião.

   Como já nos alertou Dante em sua Divina Comédia no canto XXVII, ninguém acredita em uma mentira pura e simples: "Então não imaginavas que eu fosse lógico?", disse o querubim negro depois que convenceu a todos, principalmente o próprio Frade Guido, de que o lugar dele era no inferno.

   A coisa foi mais ou menos assim: o frade reconheceu que mentiu, mas tinha se arrependido; o querubim negro retrucou reconhecendo que o frade tinha se arrependido mas continuou mentindo... e assim foram nessa toada até que o querubim negro convenceu logicamente a todos de que nada vale o arrependimento se se continua pecando.

   Palavras do Frade:

No momento da minha morte, São Francisco veio buscar minha alma, mas antes que ele pudesse me levar um querubim negro se antecipou e, utilizando argumentos lógicos, demonstrou que eu deveria ir para o inferno: "Para baixo ele virá comigo, pois deu conselho fraudulento. Não se pode absolver o impenitente, nem pode o arrependido ainda querer pecar, pois assim nada vale seu arrependimento." Coitado de mim. Quando ele me tomou ainda falou: "Nem imaginavas que eu pudesse argumentar tão bem, não foi?" O demônio me levou até Minós, que se enrolou no rabo oito vezes e, de tanta raiva ainda o mordeu, me enviando a esta oitava vala para ser prisioneiro do fogo eterno.

   Pobre Frade... ninguém mandou mentir!

   Lukács, através de Lênin, sem querer, em uma simples citação nos disse uma verdade com boa intenção, mas de boas intenções o inferno está cheio!

Ps.: Agora se entende de onde vem a expressão "morder o próprio rabo de raiva"!


https://www.marxists.org/portugues/lukacs/1933/mes/marx.pdf

https://www.stelle.com.br/pt/inferno/canto_27.html

https://www.stelle.com.br/pt/inferno/inferno_27.html

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