Começarei nossa investigação analisando um conceito muito importante: as partes que compõem o todo ou os particulares e geral de Aristóteles. Tudo no mundo é um todo composto de várias partes. Por exemplo, linguisticamente falando, todos os signos são um todo que podemos decompor em partes para analisar e chegarmos à compreensão do todo. Já vimos o que é signo, significado (com seus vários sentidos) e referente, então não me deterei nesta parte.
Fé é um signo e ao mesmo tempo é uma palavra cujo significado (e sentidos) no dicionário é: “no catolicismo, a primeira das três virtudes teologais” e “confiança absoluta (em alguém ou em algo); crédito” e “compromisso assumido de ser fiel à palavra dada”. Porém, Fé não é somente isso. Dei somente o significado e alguns sentidos do que é Fé, mas isto não define exatamente o que é Fé na realidade (o referente).
Analisando este todo chamado Fé podemos encontrar várias partes que a compõe, dentre elas: crença, crença religiosa e ciência. Partirei deste básico. O leitor pode encontrar mais algumas partes que compõem a Fé.
Vamos analisar crença, crença religiosa e ciência. São coisas distintas, diferentes entre si, mas estão interligadas. As partes de um todo sempre estão interligadas, é óbvio.
Crença: estado, processo mental ou atitude de quem acredita em pessoa ou coisa; é aquilo em que você acredita. Simples assim. Você acredita que este texto diante dos seus olhos existe, como de fato existe. Isto é crença. Simples assim. Porém, você tem a comprovação dos seus sentidos, da sua percepção. Você não acredita que este texto existe simplesmente porque eu estou dizendo que ele existe. Você está vendo este texto. Este texto, após você o ler, fará um bem enorme para você... acreditou nisso simplesmente porque estou dizendo?
Ou você, leitor, terminará o texto e somente depois julgará se lhe fez bem ou não?
Crença religiosa: refere-se aos dogmas e doutrinas de cada religião. Para você ter uma crença religiosa você deve, obrigatoriamente, conhecer os dogmas e doutrinas da sua religião para então acreditar neles, senão nem crença é.
E o que é Ciência?
Vamos analisar. Começo no sentido do dicionário, qualquer dicionário: "conhecimento atento e aprofundado de algo". No sentido etimológico: lat. scientìa,ae “conhecimento, saber, ciência, arte, habilidade”. Ciência também pode ser, basicamente, estar ciente das coisas, ter conhecimento e raciocínio. Ciência, em um outro sentido, é o entendimento do comportamento da realidade com tudo o que compõe a realidade: o mundo físico e a realidade das palavras, grosso modo.
Exemplo de Ciência: a cozinha da sua casa é um laboratório científico. Quando você está cozinhando uma sopa, por exemplo, ou fazendo um bolo, você está praticando Ciência. Você está lidando com variáveis e constantes, está lidando com tecnologia, está fazendo experimentação, anotando dados, confrontando hipóteses, etc. Outro exemplo: fazer um churrasco com lenha é um tipo de tecnologia, churrasco com carvão é outra tecnologia, churrasco no fogão a gás ou forno elétrico já é uma tecnologia mais avançada em relação à lenha e ao carvão, mas a Ciência é a mesma: você está assando a carne através do calor. Não confunda Ciência com Tecnologia.
O Grande Colisor de Hádrons (aquele laboratório em forma de túnel com 27 km de circunferência a 175 metros abaixo do nível do solo) é um laboratório científico tanto quanto a cozinha da sua casa. Óbvio que a tecnologia do GCH é “um pouquinho” mais avançada do que a sua cozinha, mas tanto em um como na outra pratica-se Ciência. Cada qual com a sua tecnologia. Da Ciência resultam novas tecnologias.
Nunca estive fisicamente no GCH, mas acredito que ele exista, esta é uma crença minha. Já a cozinha aqui de casa, para eu, não é uma questão de crença.
Não falarei aqui dos tais métodos científicos, pois existem inúmeros, bem como existem inúmeros dogmas e doutrinas de cada religião.
Então temos essas partes que compõem o todo chamado Fé - o que é esta coisa chamada Fé (os “nomes das coisas” de Aristóteles) - e dentre essas partes temos escalas de prioridades. Uma parte pode ser mais importante do que outra, porém, caso tirarmos a parte menos importante o todo se desmonta. Aí entra a Razão com seu senso correto das proporções em cada situação com suas circunstâncias. Através do raciocínio você estabelece as prioridades e estas prioridades são circunstanciais e entre as partes do todo há relações.
“Eu sou eu e minhas circunstâncias”, grosso modo, José Ortega Y Gasset refere-se às circunstâncias da vida. Você está conversando com um familiar ou um colega de trabalho, é uma circunstância. Você deixa de conversar com este familiar e passa a conversar imediatamente com outro, é outra circunstância. Há mais coisas por trás da expressão, mas as tais “circunstâncias da vida” são essas. De uma situação decorrem várias circunstâncias. Situação: estou no trabalho. Circunstância: conversando com alguém no trabalho. As circunstâncias formam o “eu”.
A Razão aqui, estou falando no sentido de “raciocínio”, porém, Razão não é somente isso. O raciocínio é a aplicação da Razão. Raciocínio é a concatenação lógica de pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro, já vimos esses conceitos. Ao raciocinar, concatenar os pensamentos, você aplica a Razão na sua vida.
Lembrando que o ser humano é um ser racional E um ser emocional. Razão no sentido de inteligência, raciocínio, percepção, etc, e Emoção no sentido de emoções em si, sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica do ser humano, vamos por assim dizer. Não tem como separar a Razão da Emoção dentro de um ser humano. Somos assim. Através do raciocínio você controla as emoções. Por isso Santo Tomás de Aquino afirma que “O Bem vem da Razão”. E a Fé é a base da Razão que, por sua vez, é a base da ciência; sem Fé não tem ciência.
Falando na tal da Ciência, conceito completamente destruído atualmente, toda Ciência começa pela imaginação e “imaginação” é mais uma parte que compõe a Fé.
Imaginação: “faculdade que possui o espírito de representar imagens” e “capacidade de evocar imagens de objetos anteriormente percebidos”. Porém, isto é somente o significado em palavras do que é imaginação.
Toda imaginação parte de algum conhecimento anterior como, por exemplo, observação dos fenômenos da realidade. Imaginação, neste sentido, vem do “lat. imaginatìo,ónis “imagem, representação, visão; pensamento, idéia”.
Toda investigação científica ou não, vamos dizer assim, parte da imaginação e a imaginação, como vimos, faz parte da Fé, portanto, a Fé é a base da Razão.