Alô pessoal.
Vamos começar com a etimologia da palavra “argumento”: do
latim argumentum, prova, indício,
raciocínio lógico. Lógica: do grego logike (tekhne), a ciência do raciocínio, a
lógica.
Conhecimento: ato ou efeito de conhecer. Intuição: do latim intuitio, imagem refletida no espelho.
Ainda que a etimologia seja um bom parâmetro para
iniciarmos uma investigação, ainda assim é apenas um parâmetro, não é tudo,
pois a etimologia de uma palavra pode estar errada algumas vezes e outras não.
Conhecimento intuitivo é aquilo que você conhece por
intuição, você vê, ouve, toca, cheira e lambe, grosso modo, os cinco sentidos.
As pessoas confundem intuição com pressentimento, trocam uma palavra pela outra (raciocínio metonímico). “Tive uma intuição de que não
devo viajar amanhã”. Você não teve uma intuição, teve um pressentimento. E isso
não é apenas uma questão de nomes, de palavras, de signos... de linguagem. Lembrando que Linguagem é um signo, tem um significado e, circunstancialmente, tem referentes, bem como todo signo tem um (ou mais) significado(s) e referente(s). Lembrando que dentro do significado temos vários sentidos os quais podemos empregar um mesmo signo (palavra). E Linguagem é um todo composto de várias partes (as partes que compõem o todo, os particulares e os gerais), bem como quase tudo na vida. Dentro da Linguagem podemos dizer que temos a língua, a gramática, a linguística, o raciocínio, etc. E cada uma dessas partes podemos decompor em outras partes, são as classificações (que muita gente confunde com "relações"), mas isso é assunto para outro dia.
Intuição é aquilo que você intui. Por exemplo: quando você
era criança você aprendeu que uma cadeira era uma cadeira por conhecimento
intuitivo. Seu pai ou sua mãe ou outro alguém disse para você: “Vem cá, senta
aqui nesta cadeira e vamos conversar”, e você aprendeu que aquele objeto se
chama cadeira. Seu pai não lhe disse: “Vem cá, senta aqui neste objeto de
madeira, com quatro pernas, um assento e um encosto, isto chama-se cadeira”. Você aprendeu diretamente o signo e o referente, sem ter o significado. Conhecimento intuitivo também é aquele conhecimento sem intermediário, no caso o intermediário é o significado, posto que todo signo tem um significado (em palavras) e tem um referente (o que a coisa é).
A maioria das coisas que aprendemos na vida aprendemos por
conhecimento intuitivo. Isso é intuição e tem nada a ver com pressentimento.
Intuição você intui, você percebe através da sua percepção, através dos seus
cinco sentidos. Dizem que existem mais do que cinco sentidos, mas os cinco são
os comprovados, então não me estenderei nesta parte também.
A partir do momento que você intui, que você aprende alguma
coisa pelo conhecimento intuitivo, a partir daí vem o argumento lógico. E uso
essa expressão “argumento lógico” como uma redundância (figura de linguagem),
pois todo argumento é lógico.
Vamos a um exemplo: “Eu sou negão!” Quando faço essa
afirmação, meu interlocutor verá que sou branco, não sou negro. Não é um
argumento. É uma mentira. Porém, se eu falar: “Fui criado na cultura
afro-brasileira, tive um avô por parte de mãe que era negro e tive uma avó por
parte de pai que era negra, então, mesmo sabendo que eu tenho a pele branca
posso dizer que tenho a alma negra, portanto, eu sou negão!”
Percebam a coerência interna do meu argumento. Tornei mais
palatável a afirmação “eu sou negão”. Porém, fui mesmo criado na cultura
afro-brasileira? Tenho mesmo um avô e uma avó negros?
A parte em que eu afirmo “mesmo sabendo que eu tenho a pele
negra posso dizer que tenho a alma negra” mostra que não sou louco, que tenho
consciência da minha pele branca. Isso confundirá a cabeça das pessoas e
tornará meu argumento mais palatável.
Quando faço tal afirmação que fiz completa anteriormente, no
momento em que a faço o meu interlocutor não tem como saber a veracidade das
minhas afirmações, das partes que compõem o todo, das orações que compõem a
minha frase. Lembrando que o referente, no caso, você capta no todo da frase. Uma frase é um conjunto de palavras (signos).
Então meu interlocutor deveria perguntar-me: “Você foi mesmo
criado na cultura afro-brasileira?” Eu poderia responder: “Sim”. Daí dependeria
de uma investigação posterior do meu interlocutor para saber se estou mentindo
ou falando a verdade. E dependeria também da percepção do meu interlocutor em
saber na hora se estou mentindo ou falando a verdade; e depende também do
conhecimento que meu interlocutor tem a meu respeito, da convivência; ele me
conhece ou não?
No canto vinte e sete da Divina Comédia de Dante, estavam lá
Dante, Guido de Montefeltre e o querubim negro (o diabo, o sete-velas, o
capeta, o satanás ou um dos seus representantes). E Montefeltre e o querubim
negro estavam num embate em queo querubim negro argumenta que Montefeltre deve ir para o inferno e Montefeltre argumenta que não. Estavam
no oitavo círculo do inferno, o círculo dos intrigueiros, dos mentirosos. E o
querubim negro dizendo para Montefeltre: “Você pecou”. Montefeltre respondeu: “Pequei,
mas todas as vezes que pequei eu me arrependi”. E o querubim negro: “Pois é,
mas você voltou a pecar”. E assim foram nessa toada até que o querubim negro
pegou o Montefeltre numa intriga que ele tinha feito em vida contra o Papa da
época. E o Montefeltre: “É, realmente, devo ir para o inferno”.
Esse diálogo, apesar de conter a essência do
acontecido, não está com as palavras exatas da Divina Comédia, mas exemplifica
muito bem. Então o querubim negro termina: “Então não imaginavas que eu fosse
lógico?” A frase completa é: “Então não imaginavas que eu fosse lógico nas
ciências e nas artes?”
Isso mostra que todo argumento é lógico. Mas um argumento
corresponde à verdade dos fatos?
Todo argumento é expresso em palavras: palavras faladas ou
escritas. E as palavras refletem nossos pensamentos e raciocínios, ou seja,
quando você fala ou escreve está mostrando para os outros como é a sua cabeça,
como é o seu modo de pensar, o seu raciocínio. Lembrando que raciocínio é a organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o outro. E você expressa seus pensamentos e/ou raciocínios através da palavra falada e da palavra escrita. A palavra falada e a palavra escrita são seus pensamentos e/ou raciocínios materializados, tornados reais, realizados fisicamente.
Lembrando que pensamento, todos nós nascemos sabendo pensar.
“Precisamos ensinar - ou aprender - a pensar”. O correto é: “Precisamos
aprender a raciocinar”. Raciocínio é a concatenação de pensamentos, é a
organização lógica dos pensamentos, um pensamento organizado logicamente após o
outros. E isso se reflete no que falamos e escrevemos.
O ser humano se comunica através da palavra falada e da
palavra escrita. O ser humano também se comunica por mímica, músicas, filmes,
imagens, obras de arte, etc. Mas, quantitativamente, o ser humano se comunica
muito mais através da palavra falada e da palavra escrita. Isso é fato, é
verdade. Nós falamos e escrevemos, nós ouvimos e lemos. E tudo o que falamos e
escrevemos são nossos pensamentos e/ou raciocínios.
Vou colocar aqui de novo uma frase que exemplifica bem: “Nunca
ouvi falar disso, mas não tem cabimento”. Esta frase é composta de duas
orações: “Nunca ouvi falar disso” e “,mas não tem cabimento”. Porém, não temos
um raciocínio aí. São somente dois pensamentos jogados ao vento em forma de
duas orações. Quando você fala “nunca ouvi falar disso” você está admitindo que
nunca ouviu falar, que é uma informação nova para você e, ao mesmo tempo, está
chegando na conclusão de que não tem cabimento. Como isso é possível?
Como é possível alguém admitir que nunca ouviu falar de
alguma coisa e chegar a qualquer conclusão? Não é! Esse sujeito está dizendo
que é burro, não percebe, mas se acha o gostosão.
Caso ele respondesse: “Nunca ouvi falar disso, mas tem
cabimento”, seria a mesma estupidez. Não é possível alguém afirmar que não sabe
de uma coisa e, ao mesmo tempo, chegar a uma conclusão lógica.
A parte gramatical de frases, orações, ortografia, sintaxe, semântica, etc. Dentro da gramática temos a ortografia, a sintaxe e a semântica - e outras. Mas vamos tomar por base essas três. Ortografia: conjunto de regras estabelecidas pela gramática normativa que ensina a grafia correta das palavras. Sintaxe: parte da gramática que estuda as palavras enquanto elementos de uma frase, as suas relações de concordância, de subordinação e de ordem. Semântica: estudo sincrônico ou diacrônico da significação como parte dos sistemas das línguas naturais, o componente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados.
Erros ortográficos, por exemplo, trocar "ç" por dois "s", escrever "caza" em vez de "casa". Erro sintático, por exemplo, "Nós vai lá"; há um erro de concordância do sujeito com o verbo; o correto é "Nós vamos lá". Porém, perceba, não há erro ortográfico na frase "Nós vai lá". Lembrando que erros ortográficos na palavra falada chamam-se de erros de pronúncia. Quando você troca "mais" por "mas" há dois erros: de ortografia e de semântica. Nem sempre erros ortográficos e/ou sintáticos levam a erros semânticos, por exemplo: "Nós vai lá!", há erro sintático, mas você capta o referente, a semântica da frase, você entende o que o cara quis dizer. Ele quis dizer que ele e os outros (talvez você mesmo esteja incluído nesse "nós") vai lá, vão lá. Porém, muitos erros ortográficos e sintáticos levam a um erro semântico, você não capta o sentido da frase porque o animal não sabe escrever ou falar. è aquela pessoa que fala e escreve tudo errado. Então, quando estiver lendo um livro (ou qualquer outra coisa) procure identificar e discernir entre ortografia, sintaxe e semântica.
Você não precisa
decorar o dicionário e a gramática, até porque isso é impossível, mas esse
entendimento básico você tem de ter. Isso deveria ser ensinado às crianças nas
escolas. Óbvio que deve ser ensinado em uma linguagem que elas entendam, mas
não me estenderei nessa parte.
Todo argumento é lógico posto que todo argumento é dado em
palavras faladas ou escritas. Dê-me um argumento por telepatia. Verá que é
impossível. Não lemos pensamentos.
Você sabe quando uma pessoa é, vamos por assim dizer, burra
ou não, pelo quê ela fala ou escreve, pelo raciocínio dela, pela concatenação
dos pensamentos que se refletem nas palavras, faladas ou escritas.
Óbvio é também que a língua e a linguagem tem nuances.
Signo, significado (e vários sentidos de uma mesma palavra) e referente, mas
não me estenderei nesta parte de novo.