Isto, por si, já deveria ser suficiente para todos
entenderem a importância da linguagem e tudo o que ela representa e simboliza.
Mas labutarei nas artes da Linguagem. Começo fazendo uma
distinção - para o nosso entendimento (meu e do leitor) - entre Língua e Linguagem.
Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Alemã, etc, dialetos,
idiomas, enfim. A Linguagem engloba a língua posto que na palavra falada temos
a entonação de voz, expressão corporal, etc, que compõem a linguagem. Na
palavra escrita temos o estilo literário, a narrativa, a gramática, etc. Aqui,
faz-se necessário um exemplo; se eu falo para alguém (palavra falada): - Você é
inteligente; e torço o canto da boca, emprego uma certa entonação de voz
caracterizando ironia, o interlocutor irá perceber. Se eu escrever essa mesma
frase em um papel: Você é inteligente (ponto final), e der para alguém ler, por
essa frase escrita, comparativamente com a mesma frase falada, o leitor não
conseguirá captar se estou sendo irônico ou se estou dizendo que ele é
realmente inteligente.
Então vemos, de início, uma diferença entre a palavra falada
e a palavra escrita, o que é óbvio. Na frase escrita far-se-ia necessário
colocar uma pontuação específica ou escrever mais alguma coisa para denotar
ironia. Não me aprofundarei em literatura, estética literária, pois este não é,
no momento, o intuito. Contudo, podemos, de imediato, perceber uma diferença
básica entre a palavra falada e a palavra escrita.
Trago aqui um pequeno trecho de Rui Barbosa (nunca sei se
Rui é Rui ou se é Ruy; a Fundação Casa de Rui Barbosa recomenda que a
onomástica siga a ortografia vigente da língua portuguesa, coisa que, em parte,
eu discordo) tirado da “Réplica”, “Obras Completas de Rui Barbosa”:
“Unicamente a inconveniência da ambiguidade em certas circunstâncias possível. No idioma pátrio, porém, o adjetivo vital só se aplica a objetos, idéias e fatos. A pessoas não se aplica. Ao indivíduo talhado para viver muito chamaríamos vivedoiro. Vital não lhe poderíamos chamar. Seria um latinismo inconciliável com o nosso senso vernáculo”.
Desse trecho acima posso tirar algumas considerações. A mudança da linguagem ao longo do tempo é uma delas. Acredito que essa mudança da linguagem deva ser uma coisa natural, mas planejada. Planejada no sentido do planejamento e da mudança propriamente dita serem feitos depois, e não antes. Explico: reformas ortográficas devem ser feitas sem que se mude o senso vernáculo, o básico deve ser conservado e, além disso, há de se ter parcimônia em reformas ortográficas de uma língua. Dito de outra forma: não se deve mudar toda hora a linguagem. E por “toda hora” entenda-se décadas, até mesmo um século. Gírias, por exemplo, não devem ser incorporadas no vernáculo, pois gírias são modismos, passam com o tempo. É necessário ter uma estrutura básica do vernáculo e esta não pode ser alterada constantemente. Causa confusão mental na sociedade, emburrecimento.
Quando Aristóteles, no Organon, começa seu tratado
Categorias ou Das Categorias, ele começa discorrendo sobre os nomes das coisas.
Posso considerar como “nome de uma coisa” tanto no seu sentido gramatical
quanto ao que a coisa é. Uma árvore é uma árvore. O nome árvore refere-se, ao mesmo tempo, tanto ao sentido gramatical
quanto ao que esse nome representa, simboliza, o que a coisa é. Atrelado ao
nome árvore está seu significado, uma
palavra significada em outras palavras. Árvore: é uma coisa (ou objeto, no caso,
objeto de estudo) com tronco, galhos, folhas, raiz, etc. Ou no significado
básico do dicionário: vegetal lenhoso de porte muito variável, que apresenta um
caule principal ereto e indiviso, o tronco, e que emite ramificações a uma
altura tb. variável, sempre distantes do solo, e formadoras da copa. Uma árvore é uma árvore tanto aqui quanto lá no Japão, na Mongólia, etc, muda a língua.
Aqui, vou propor um exercício: imaginem dez pessoas em
linha, uma ao lado da outra, olhando para uma mesma árvore (qualquer árvore)
sob o mesmo ponto de vista. Cada pessoa terá na sua cabeça uma imagem mental
abstrata da árvore, nesse sentido, um conceito. Se eu der dez folhas de papel e
dez lápis (ou caneta) para cada uma das pessoas e pedir para definir em
palavras o objeto que estão vendo, as dez definições não serão exatamente
iguais e nem totalmente diferentes. Basicamente, essas semelhanças e diferenças
virão do conhecimento gramatical de cada uma das pessoas. Uma, definirá a
árvore como tendo folhas verdes, por exemplo, outra poderá definir a árvore como
tendo folhas verdes escuras (ou folhas verdes claras, dependendo da árvore que
estão vendo). Óbvio que, também, nesse processo, tem diferenças de
conhecimento; de raciocínio (modo de pensar); modo de articular, organizar,
concatenar os pensamentos (raciocínio); fazendo uso da razão para estabelecer
relações entre coisas e fatos (raciocínio).
E aqui já faço uma distinção entre pensamento e raciocínio.
Pensar, todo mundo nasce sabendo pensar. É preciso aprender a raciocinar, organizar
e concatenar os pensamentos, estabelecer relações lógicas entre coisas e
coisas, entre fatos e fatos e entre coisas e fatos e vice-versa. Raciocínio é os pensamentos organizados logicamente um após o outro e você expressa seus pensamentos e raciocínios através da linguagem, basicamente, falada e escrita. Tudo o que você fala e escreve são seus pensamentos e raciocínios materializados, você e está mostrando para as outras pessoas como é a sua cabeça em questão de raciocínio, caso você tenha ou não.
E quando falamos ou escrevemos, geralmente descrevemos um fato (uma coisa que aconteceu ou que está acontecendo na realidade), falamos ou escrevemos sobre um fato; ou inventamos alguma coisa sobre o fato (mentimos). Um fato é, basicamente, uma verdade. É o que aconteceu ou
está acontecendo. Por exemplo, eu estou aqui escrevendo, é um fato, é uma verdade. Mesmo que
depois eu apague este texto, isso não irá mudar o fato que aconteceu.
Escrevi. Mesmo que alguém depois me indagar sobre este texto e eu responder
que não sei de nada, nunca escrevi tal texto, não irá mudar o fato de que escrevi.
Simplesmente estarei mentindo a respeito de um fato, de uma verdade. Mesmo que você não tenha como provar, ainda assim, dentro de você, intrinsecamente você saberá que é verdade.
Então vemos (eu e o leitor) que a frase: “Não existem verdades absolutas” é um absurdo, até um absurdo filosófico. Uma verdade é baseada num fato e não se pode mudar o que já aconteceu, mas pode se mentir acerca. É simples de entender. Quando eu proponho: “Não existem verdades absolutas”, obviamente quero que esta frase seja uma verdade absoluta, mas ao mesmo tempo estou dizendo que não existem verdades absolutas. É um absurdo. É contraditório em si. Absurdo, no sentido gramatical (dicionário) significa algo destituído de sentido. Absoluto (no sentido gramatical) significa algo que se apresenta como acabado, pleno. No sentido filosófico, absurdo é algo destituído de sentido, mas vai além, é algo destituído de sentido em si. Absoluto, no sentido filosófico é algo acabado, pleno, completo em si. Então, em qualquer sentido que for, a frase acima é uma bobagem, até porque existem verdades absolutas. Você, leitor, o simples fato de terminar de ler este texto faz uma verdade absoluta.
O ser humano se comunica, basicamente, utilizando a palavra
falada e a palavra escrita, como já foi dito. Mas como o conhecimento se
espalha em uma sociedade?