domingo, 20 de março de 2022

O Brasil é Socialista há Décadas

   Primeiro tentarei definir o que é um país socialista usando as definições correntes sobre socialismo e depois tentarei definir, tanto em termos acadêmicos como na realidade, o que é socialismo/comunismo.

   Socialismo, segundo uma das definições, é a união do poder político com o poder econômico; união no sentido de promiscuidade onde a economia do país fica centralizada e a iniciativa privada aproveita os lucros, e o prejuízo é tirado da arrecadação que sai picada do bolso do cidadão fazendo com que o cidadão não note que, quando chega lá em cima, são três ou quatro montanhas de dinheiro de imposto. O governo estabelece “agências” controladoras (comitês, conselhos, órgãos fiscalizadores, “sovietes”, etc) que, através do excesso de burocracia (que se traduz no excesso de leis) “fiscalizam” a iniciativa privada impondo controles que, em última instância, sufocam a própria iniciativa privada, ou seja, colocam o empresariado de joelhos. E o cidadão, por sua vez, fica infantilizado, não consegue mais resolver os próprios problemas sem ter um intermediário imposto pelo “estado” (que é formado por pessoas).

   A tal “parceria público-privada” que temos de um modo exacerbado no Brasil é mais uma das características disso. O governo (formado por pessoas) “fiscaliza”, “controla” e determina as regras. O empresariado somente obedece a tais regras e, ao mesmo tempo, o empresariado colabora para eleger os “representantes” do povo gerando um ciclo onde, depois, o empresariado cobra dos “representantes” do povo o retorno dos seus interesses, geralmente escusos. De certo modo esse “retorno” se dá através de leis provindas do lobby (promiscuidade entre o poder político e o poder econômico).

   No Brasil temos oligopólios, oligarcas, grupos brigando pelo poder. Quando um grupo desses vence a “parada” (ou vem um grupo de fora), daí o país transforma-se em comunista de direito e de fato: concentração total de dinheiro e poder nas mãos de poucas pessoas através da miséria e do sofrimento da maioria. Grosso modo, um ditador com a sua corriola que fica acima na escala hierárquica (o partido-estado, o partido que está acima do estado).

   Há décadas, o Brasil, tanto na mentalidade, cultura, no sistema financeiro, sistema político, sistema administrativo, etc, é socialista. Óbvio que hão exceções, mas as exceções, como o próprio nome diz, estão fora da regra, então não podemos analisar somente pela exceção.

   Lembrando que “socialismo”, “comunismo”, “capitalismo”, “liberalismo”, “neoliberalismo”, etc, são somente termos, nomes de coisas (Aristóteles). Não estou dizendo que estas coisas não existam na realidade, mas chega um momento no qual tem de se olhar para a realidade para somente depois nominar a coisa. Não podemos nos prender tanto às definições, porém, as definições são necessárias como base para se raciocinar.

   Exemplo: o que causa a pobreza em um país?

   O comunista dirá que o capitalismo causa a pobreza num país; o capitalista dirá que o que causa a pobreza é o comunismo. Neste momento tem de se olhar para a realidade!

   O que causa a pobreza num país (ou no mundo) depende de várias variáveis, não é tão simples assim. Então, neste sentido, tem de se olhar para a realidade para depois nominar a coisa. Caso você queira dizer que a China, por exemplo, é capitalista... diga; caso queira dizer que a China tem “capitalismo de estado”... diga; caso queira dizer que a China é comunista... diga.

   Olhe para a realidade, estude, colha informações, veja o que acontece na China, analise e depois nomine o que acontece com base na realidade, no certo e no errado. Dei a China como exemplo, porém, vale para qualquer país.

   Sistemas, modelos de sociedade existem vários, mas não existe um sistema perfeito; o que existe são uns sistemas melhores do que os outros. Todo sistema, modelo de sociedade, etc, esbarra na moral. Mesmo o melhor dos sistemas sempre sucumbirá quando alguém trapacear nesse sistema. Não é à toa que os pais fundadores dos Estados Unidos escreveram que a constituição deles somente se adequa a uma população que tenha moral. Aliás, a constituição americana do norte é uma das mais longevas do mundo e isso criou a identidade da população, terra da oportunidade, da liberdade, etc; apesar de que já está mudando porque a moral e a cultura tradicional da população vem sendo destruída.

   Voltando ao Brasil, vou analisar agora de baixo para cima. No Brasil temos uma das cargas tributárias (senão a maior) mais elevada do mundo. São vários impostos que tiram os meios de ação da população, a população fica sem ter meios de ação (grosso modo, dinheiro) para combater a tal da “elite”.

   Impostos como IPVA, IPTU, etc, que não tem razão de existir, sufocam a população tirando seus meios de ação. O cidadão, mesmo entendendo o que está acontecendo, não pode fazer nada. Todo imposto, taxa, arrecadação, etc, vem de alguma lei. As tais "ações afirmativas", bolsa-família (agora auxílio-brasil que virou permanente na lei), bolsa absorvente, bolsa isso, bolsa aquilo, etc, tornam-se permanentes, vai-se mudando somente o nome. Fundão eleitoral, várias leis de "fomento", inúmeras mordomias, etc; isso é socialismo puro: o governo tira do dinheiro do imposto de todos e redistribui para as "minorias", ou seja, dá uma esmola para certas minorias e fica com o grosso do butim. Concentração de dinheiro e poder às custas da miséria e do sofrimento da maioria.

   Como exemplo vou analisar o IPVA. Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores. O nome está dizendo, você paga um aluguel todo ano para poder usar seu veículo (carro, moto, etc). Você compra um veículo e o Estado (nem o governo) te ajudam em nada sendo que na compra já tem impostos embutidos e depois você tem de pagar o IPVA todo ano senão vem o governo e lhe toma o veículo, ou seja, o veículo não é seu. Essa é a realidade.

   O problema não são, neste sentido, os impostos em si; o problema é o excesso de impostos e o seu aumento progressivo (Marx). Do modo como as sociedades são organizadas atualmente, organização esta que surgiu naturalmente ao longo da história da humanidade, é praticamente impossível acabar com os governos.

   Com relação a este ponto, farei um adendo. Como surgiu a organização atual das sociedades no mundo?

   Vamos imaginar lá atrás, na época dos camponeses, vamos por dizer assim, que um criador de gado, um criador de ovelhas, um plantador de trigo, etc, no momento que um deles precisava levar as cabeças de gado, por exemplo, vendidas para quem comprou, teve que existir uma estrada, ou ele teria que passar pelas terras do outro camponês. Esses camponeses se juntaram e resolveram construir uma estrada para uso comum. Como cada um deles não poderia deixar seu trabalho para construir a estrada contrataram um grupo de outras pessoas para construírem a estrada e pagaram a esse grupo. Esta é uma primeira idéia de “governo” ou “Estado”. Não entrarei nas definições de governo e Estado, mas, basicamente, o Estado é permanente, o governo é provisório; o governo é o gerente do Estado por um determinado período de anos (tempo), depende da legislação de cada país.

   Antigamente no Brasil (e em outros países), não existia a figura do Delegado de Polícia, do Coronel da PM, do Juíz, etc. Isso veio com o passar do tempo. De certo modo a sociedade foi se organizando naturalmente.

   Dada essa base, volto aos “sistemas”, aos “modelos de sociedade” cujos quais não existe um perfeito e nunca existirá, porém, existem uns sistemas melhores do que outros e, mesmo este, sucumbirá à falta de moral, sucumbirá aos criminosos que trapaceiam no tal “sistema”.

   No Brasil, devido à essa baixeza intelectual que leva à baixeza moral; decai a inteligência, decai a moral e vice-versa, não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Falando agora no sistema de leis Brasileiro. O nosso sistema de leis é todo ele socialista. A esmagadora maioria dos artigos, parágrafos, incisos, letras, alíneas, etc, das nossas leis são subjetivos o que deixa margem as interpretações. As margens as interpretações são as famosas brechas na lei. O juiz interpreta a lei de uma maneira, o promotor de outra maneira e o advogado interpreta de outra maneira. O que isso ocasiona é que no fim fica valendo a opinião de quem tem mais condições financeiras, mais dinheiro para pagar um bom escritório de advocacia. Por isso que quem tem dinheiro não vai preso aqui no Brasil. Você pode perguntar isso para qualquer Juiz. Ele dirá que quem tem condições de pagar um bom escritório de advocacia não vai preso.

   O TSE (Tribunal Superior Eleitoral, com seus TREs) é mais um exemplo de país socialista. Esta estrovenga que leva o nome de "tribunal", só existe no Brasil. O socialismo no Brasil foi aperfeiçoado. Lembrando que todo país que possui conselhos, comitês, órgãos públicos, etc, em excesso, é país socialista. São os tais sovietes da modernidade; e serão usados quando necessário contra a população.

   A incompetência reinante em países socialistas é mais uma característica do socialismo/comunismo. Tal incompetência vem da burrice, do analfabetismo funcional, da aversão ao conhecimento, etc. A baixeza intelectual e a baixeza moral são características de países socialistas/comunistas... ou capitalistas, neoliberalistas, etc; como já se disse: chame como quiser, mas olhe para a realidade, foque no certo e no errado, o nome você dá depois.

   Segundo Igor Shafarevich, um cientista da computação Russo, no seu livro O Fenômeno Socialista, ele define uma sociedade socialista em dois pontos: uma economia centralizada (que leva à economia de crédito) e uma organização hierárquica em forma de pirâmide. No alto, uma “elite” e, logo abaixo, o segundo escalão, o terceiro, etc, até chegar na base da pirâmide a maioria da população. Concentração de dinheiro e poder nas mãos de poucas pessoas à custa da miséria e do sofrimento da população. Parasitas.

   Shafarevich também afirma que toda civilização na história da humanidade começa a desaparecer quando perde a religiosidade, a espiritualidade, etc, chame como quiser. Foi assim com o Império Romano, com os Incas, com os Maias, etc. Aliás, este ponto do livro é interessantíssimo, pois Shafarevich, quando começou suas pesquisas, não estava interessado em saber sobre ascensão e declínio de civilizações, ele queria somente estudar o fenômeno socialista.

   Neste momento alguém pode pensar que estou concordando com a tal “lutas de classes”, porém, tem nada a ver. A história do mundo não é a história das lutas de classes, até porque é praticamente impossível estratificar uma sociedade em classes sociais. Podemos estratificar em classes financeiras, classe A, B, C, D, etc; mas é uma questão quantitativa, não qualitativa. Caso eu for rico, negro e homossexual, a qual classe social eu pertenço? Caso eu for branco, pobre (ou rico) e homossexual, a qual classe social eu pertenço? E também não podemos confundir profissões com classes sociais.

   O problema de se raciocinar por grupos e não individualidades é esse: não se sabe a qual grupo se pertence e, ao mesmo tempo, eu pertenço a vários grupos e a nenhum grupo. Fico perdido no tempo e no espaço. Vira coisa de circunstâncias, coisa de momento; num momento sou de tal grupo, no outro sou de outro grupo, vai da minha vontade, e isso não é individualidade porque o indivíduo perde a moral e a moral passa a ser a moral do grupo e, por conseguinte, o indivíduo perde a sua identidade e torna-se presa fácil para o “governo”, feito por outras pessoas.

   Outra característica de uma sociedade socialista é a sua economia brutalmente centralizada nas mãos de poucas pessoas.

   O fato de o Brasil fazer parte do BRICS também é significativo, pois o BRICS não é somente um bloco comercial, o BRICS é o bloco de países reconhecidamente socialistas e/ou comunistas perante o mundo.

   Darei agora um exemplo da realidade. Tomarei como base os Estados Unidos que, segundo as definições correntes, ainda é considerado uma sociedade capitalista. Lá, nos EUA, uma pessoa trabalhando de garçom e/ou vendedor ainda consegue economizar um dinheiro por conta própria – até debaixo do colchão ou no banco, tanto faz – durante uns seis ou sete meses - e comprar um carro, usado, óbvio, mas será um carro bom e, dependendo do indivíduo que procurar tal carro, talvez será em estado de novo e tal carro servirá para o que se pretende.

   No Brasil, começa que uma pessoa trabalhando de garçom e/ou vendedor não sobra dinheiro para economizar, pois a carga tributária é enorme (o sistema financeiro é centralizado). Porém, vamos dizer que alguém faça um sacrifício e consiga economizar um dinheiro nesses mesmos seis ou sete meses; comprará um carro usado, mas será uma lata velha, com os documentos atrasados e provavelmente cheio de multas que, depois, o cidadão perderá para o governo numa blitz.

   Com relação aos financiamentos, no Brasil paga-se 2,5 carros, em média, ao final da quitação. Nos EUA e em outros países, paga-se 1,5 carro, o que é óbvio, a financiadora deve ter o lucro dela porque emprestou o dinheiro, que será pago parcelado, o que é justo. Lembrando que nos EUA isso está terminando, aos poucos, mas está terminando.

   No Brasil, a esmagadora maioria ainda pensa que o Brasil é capitalista por causa do consumismo. Ora, o consumismo é característica de sociedades socialistas. Consumismo é consumir de um modo excessivo. "Capitalista" é a pessoa que quer acumular capital. Em sociedades socialistas a propaganda é forte no sentido de "compre agora e economize dinheiro"; economizar gastando?!?

   As pessoas se acotovelam, atropelam-se em liquidações porque a grande propaganda as manipula para isso. Compra-se um tênis de marca, por exemplo, e encalacra-se em várias prestações quando poderia ter comprado um tênis que se adequasse ao seu orçamento.

   Capitalista, nesse sentido, jamais terá a mentalidade consumista, o que é óbvio. Como acumularei capital se gasto mais do que ganho? Neste ponto entra a sociedade socialista com alta carga tributária e a propaganda excessiva para o consumismo. Muitas vezes, através da grande propaganda - aquilo que chamam de grande mídia foi transformada em instrumento de propaganda - e através dela criam um desejo o qual o cidadão não tinha e a própria propaganda oferece a solução desse desejo (o qual você não tinha). A propaganda age na emoção e não na razão, a propaganda não é feita para você raciocinar, ao contrário, a propaganda excessiva emburrece as pessoas.

   No Brasil - e em vários países do mundo - temos somente a grande propaganda (aquilo que chamam de grande mídia), eu chamo de grande propaganda porque de jornalismo tem mais nada.

   "§ 1. O tipo de jornalismo considerado nestas notas é o que se poderia ser chamado de "integral" (no sentido que, no curso das próprias notas, ficará cada vez mais claro), isto é, o jornalismo que não somente pretende satisfazer todas as necessidades (de uma certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e desenvolver estas necessidades e, consequentemente, em certo sentido, gerar seu público e ampliar progressivamente sua área." Cadernos do Cárcere, volume 2, página 197, Antonio Gramsci.

   Esse tipo de "jornalismo", além de vender produtos e serviços inúteis, presta-se também a manipular a sociedade através de mentiras, distorções, fake news, etc. Cria-se uma uniformidade onde tudo a ser publicado tem de passar primeiro pelo crivo (censura) da própria redação. E isso gera que o repórter, por exemplo, vai atrás somente das notícias que ele sabe que serão publicadas. Aquelas notícias às quais o repórter está investigando, mas que não fazem parte da "pauta" do jornal (ou emissora de rádio ou TV), o editor dirá: "nem perca seu tempo, o jornal não vai publicar". E, caso o repórter insistir, será colocado num setor de menor importância ou perderá o emprego. Em algumas redações a coisa está tão concentrada que o repórter, jornalista, etc, sequer escolhe a notícia, a "pauta" vem pronta de cima. As decisões, principalmente de cunho moral, ficam restritas a um grupo reduzido de pessoas.

   E antes que alguém diga que o que estou descrevendo é o capitalismo e não o socialismo, lembro que são somente nomes de coisas e, neste sentido, dê o nome que quiser, mas observe a realidade, veja primeiro se a coisa em si é certa ou errada para depois nominá-la.

   No Brasil e em boa parte do mundo, alguns órgãos de comunicação utilizam a propaganda como uma técnica nazista:

   "Toda  propaganda  deve  ser  popular  e  estabelecer  o  seu  nível  espiritual  de acordo  com  a  capacidade  de  compreensão  do  mais  ignorante  dentre  aqueles  a quem  ela  pretende  se  dirigir.  Assim  a  sua  elevação  espiritual  deverá  ser  mantida tanto  mais  baixa  quanto  maior  for  a  massa  humana  que  ela  deverá  abranger. Tratando-se, como no caso da propaganda da manutenção de uma guerra, de atrair ao  seu  círculo  de  atividade  um  povo  inteiro,  deve  se  proceder  com  o  máximo cuidado, a fim de evitar concepções intelectuais demasiadamente elevadas." Minha Luta, página 170, Adolf Hitler.

   Depois se perguntam como o povo Alemão aceitou que o nazismo promovesse os campos de concentração. A propaganda, utilizada desta maneira, emburrece a população transformando-a em massa de manobra.

   "O povo, na sua grande maioria, é de índole feminina tão acentuada, que se deixa  guiar,  no  seu  modo  de  pensar  e  agir,  menos  pela  reflexão  do  que  pelo sentimento. Esses   sentimentos,   porém,   não   são   complicados   mas   simples   e consistentes. Neles não há grandes diferenciações. São ou positivos ou negativos: amor ou ódio, justiça ou injustiça, verdade ou mentira. Nunca, porém, o meio termo." Minha Luta, página 173, Adolf Hitler.

   A propaganda age na emoção, não no raciocínio; a população fica com a mentalidade de "contra" ou a "favor" sem sequer se perguntar o porquê de ser contra ou a favor de alguma coisa. O sujeito é contra tal coisa, mas não se pergunta porquê é contra, não faz nem um exame interior para saber se realmente (em questões de moral) é contra ou a favor. Então, este sujeito transforma-se em massa de manobra, pois quando for malignamente manipulado para ser a favor desta coisa ele continuará sem se perguntar, agora, se é realmente a favor bem como não se perguntava quando era contra, será jogado de um lado para o outro de acordo com as conveniências da grande propaganda.

   Com relação à economia de crédito, característica de países socialistas, tira-se do cidadão a opção de compra à vista e o cidadão passa a achar bom ter crédito. Por exemplo, para a esmagadora maioria dos Brasileiros, caso estragar sua geladeira dentro de casa, sendo que não tem mais conserto; o cidadão terá que se encalacrar em várias prestações porque senão não conseguirá adquirir uma geladeira nova. E o cidadão passa a considerar isso bom, mas não percebe que lhe foi tirada a opção de compra à vista, de barganha, de negociar. As regras são estabelecidas de cima para baixo de acordo com a promiscuidade do poder político com o poder econômico, característica de países ditos socialistas.

   Com relação à mentalidade da população, cultura, etc, em países socialistas, como o Brasil, têm-se essa confusão mental, emburrecimento no qual o cidadão não sabe mais quais as regras da sociedade na qual vive. Promove-se “lutas de classes” ao extremo, branco contra preto, rico contra pobre, homossexual contra heterossexual; indivíduos contra indivíduos. Dividir para conquistar. Emburrecer através da propaganda.

   Poderia dar várias outras características da realidade de como se faz para identificar os tais “sistemas” de um país, porém, acredito que já é o suficiente.

   No original de O Capital está no plural “lutas de classes”, pois as lutas não devem acontecer somente entre as “classes”, mas entre os indivíduos da sociedade. É a luta sem fim, discussão, brigas, fragmentação da sociedade, destruição da família, destruição da propriedade privada, etc.

   Porém, eles querem a destruição da sua família, da sua propriedade privada, não da deles, pois sabem que a família e a propriedade privada são a única forma de se ter progresso. Como bem disse o filósofo Olavo de Carvalho: “Eles querem a destruição da SUA família, seu trouxa”.

   E, para isso, primeiro emburrecem você, transformam você num analfabeto funcional que sequer entende o significado das palavras e das coisas. O analfabeto funcional lê um texto, mas não entende o referente que está ali escrito porque sequer tem mais o conceito de signo, significado (e vários sentidos) e referente.

   A cultura da sociedade transforma-se numa pasta mental, numa confusão enorme onde ninguém mais se entende. Fala-se a mesma língua, mas não se fala a mesma linguagem. As pessoas perdem o gosto pelo conhecimento até nas coisas mais simples como, por exemplo, sequer querem consultar um dicionário para ver o significado das palavras, a convenção da língua. E, se não tem sequer o significado das palavras, como entenderá o referente, o que a coisa é na realidade?

   Não me estenderei aqui em signo, significado (e vários sentidos) e referente, pois já foi dito em outros textos.

   Para encerrar, posso dizer que comunismo, enquanto sistema, é concentração de dinheiro e poder nas mãos de poucas pessoas à custa do sofrimento e miséria da maioria, é o governo de criminosos.

   Por isso o filósofo Olavo de Carvalho afirmava que a briga é entre Cristianismo e comunismo, pois o Cristianismo ensina moral para as pessoas; faça o certo, não faça o errado e puna quem fizer o errado (criminosos).

   No comunismo, usando esse termo corrente, a moral é relativa; é social, econômica e política, ou seja, fica-se numa confusão mental na qual não se sabe mais o certo e o errado.

   Culturalmente, o problema é essa baixeza intelectual que leva à baixeza moral; decai a inteligência, decai a moral e vice-versa, não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra. Não confunda inteligência com astúcia maligna, são coisas diferentes. A inteligência é ligada ao bem, ao belo e à verdade. A astúcia maligna é a caricatura satânica da inteligência. Astúcia maligna é "dar um jeitinho em tudo", subir na vida pisando em cima dos outros, querer levar vantagem em tudo, mentir, não cumprir acordos, roubar, matar, usar de falsidade, etc.

   A realidade se impõe. Veja o certo e o errado, o ser humano nasce sabendo o que é o certo e o que é o errado. A moral vem de princípios como: não mentirás, não matarás, não roubarás, não se corromperás e não corromperás os outros, etc. Isso é moral.

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2022

Trocar Conceitos por Palavras

   Tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos ou raciocínios, mesmo quando falamos ou escrevemos mentiras. Pelo quê uma pessoa fala ou escreve podemos saber se esta pessoa é burra ou não.

  Começarei definindo, para o nosso entendimento (meu e do leitor), a palavra “Conceito”. Do dicionário: “faculdade intelectiva e cognoscitiva do ser humano; mente, espírito, pensamento.” Este é o significado do signo Conceito. E, como já vimos, todo significado é genérico, mas, ao mesmo tempo, todo signo tem seu significado (que é genérico) e seus sentidos, ou seja, uma palavra (no caso, um signo) tem o seu significado e tem seus vários sentidos os quais podemos empregar essa palavra (signo).

     Grosso modo, é o que está no dicionário. O significado é um signo explicado por outros signos, ou seja, é dizer o que é uma palavra através de outras palavras. Não entrarei de novo no “nome das coisas” de Aristóteles que, neste sentido, são os signos. E lembrando, um signo é algo que simboliza alguma coisa; toda palavra é um signo, mas nem todo signo é uma palavra. Uma imagem também é um signo, um cheiro é um signo, um gosto, etc; pois representa, simboliza uma coisa ou várias coisas ao mesmo tempo.

   Então, Conceito é aquela imagem mental abstrata, é o que está dentro da nossa cabeça. Repito, esta definição de conceito é para o entendimento deste texto, sabemos que existem outros significados e/ou definições do signo Conceito. Não estou aqui determinando que esta definição de Conceito seja absoluta, é somente para o entendimento deste texto; e também não estou inventando nada, esta definição aqui presente tem por base o dicionário e definições de outros autores.

   Lembrando também a diferença entre significado, sentidos e definição. Significado já vimos. Sentidos de um significado também já vimos, mas nunca é demais repetir: sentidos são significados um pouco mais específicos. Por exemplo: “Aquela pessoa tem inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que aquela pessoa é inteligente. Simples assim. Os vários sentidos também podemos chamar de significante.

   A estrutura das línguas comprova isso e, no caso, da Língua Portuguesa é o que encontramos em qualquer dicionário. Temos sempre o primeiro significado mais próximo do signo (às vezes até numerado, 1, 2, 3, etc), o primeiro é o significado genérico, os outros são os sentidos nos quais podemos empregar o signo. Não me estenderei nesta parte, pois já foi dito isso, mas posso acrescentar que de acordo com o sentido da palavra (signo) empregado na frase o referente (o que a coisa é) muda um pouco, mas não foge do significado genérico como vimos anteriormente no exemplo do signo "inteligência".

   Definição é você delimitar a coisa, é você ser mais específico ao dizer o que uma coisa é. Coisa é “tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea.” Por exemplo: um lápis é uma coisa corpórea, liberdade é uma coisa incorpórea. Coisa, num sentido mais filosófico pode ser "tudo aquilo que há e tudo aquilo que existe". Tudo o que existe são os objetos corpóreos; tudo que há engloba objetos corpóreos e incorpóreos. Neste sentido, lápis há e existe; liberdade somente há.

   Lápis: um objeto composto por um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel. Este é o significado do signo “lápis” e é genérico porque significa todos os lápis do mundo que tem um bastão de grafite e são envoltos por uma camada de madeira. Caso eu tomar um lápis em específico, por exemplo, um lápis com um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel e é pintado na cor verde, tem o formato sextavado e tem um tamanho de 20 centímetros, estarei dando a “definição” deste lápis em específico, estarei delimitando-o (estarei dizendo o que é esta coisa chamada lápis especificamente), pois tem outros lápis que tem um formato cilíndrico, são na cor preta, etc.

E há o conceito do signo “lápis”, aquela imagem mental abstrata que se forma na sua mente ao perceber a coisa através dos cinco sentidos básicos: tato, olfato, paladar, visão e audição.

No momento em que você expressa um conceito em palavras (signos) você está ou significando a coisa (com seus vários sentidos) ou definindo-a ou somente falando (ou escrevendo) sobre ela. Percebam, quando eu escrevi “através dos cinco sentidos básicos” e quando eu escrevi “com seus vários sentidos” empreguei o signo “sentidos” em duas formas (sentidos) diferentes e, a partir daí, o entendimento das duas expressões tornam-se diferentes. Na primeira expressão estou falando dos sentidos básicos do ser humano e na segunda expressão estou falando dos sentidos que o significado de um signo pode adotar de acordo com a circunstância. Simples assim e bastante óbvio.

Muitas vezes não sabemos expressar um conceito em palavras, não sabemos dizer em palavras o que é tal coisa porque não sabemos o significado e seus vários sentidos e, a partir daí, não conseguimos saber o referente da coisa. Signo, significado (e seus vários sentidos) e o referente. O referente é o que a coisa é em si na realidade.

Muitas vezes é trabalhoso (mas não difícil) significar e/ou definir um conceito em palavras. Existem conceitos objetivos e conceitos subjetivos. Conceitos objetivos, basicamente, partem dos objetos corpóreos, objetos que existem fisicamente no mundo. E conceitos subjetivos, basicamente, partem de objetos incorpóreos que não existem fisicamente, como no exemplo anterior: lápis e liberdade. Não existe um objeto físico chamado liberdade (qual é o tamanho da liberdade, qual é a cor), porém, sabemos o que é liberdade através do seu significado e da sua definição; o significado e a definição vêm do conceito através da observação da realidade.

Então, resumindo, “conceito” é aquela imagem mental abstrata que está na nossa mente que vem da observação da realidade e quando externamos essa imagem em palavras torna-se ou um significado ou uma definição ou estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dessa coisa sem significa-la ou defini-la, grosso modo, estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dela sem dizer o que é esta coisa.

Não entrarei aqui, de novo, nas partes que compõem o todo (ou nos particulares e gerais de Aristóteles), mas darei uma breve explanação com relação ao objeto do assunto: Conceito.

Como vimos, um conceito é uma imagem mental abstrata e traduzimos os conceitos em palavras, pois é dessa forma que o ser humano se comunica basicamente, através da palavra falada e da palavra escrita.

Um signo (que simboliza uma coisa) é um geral composto de vários particulares (ou um todo composto de várias partes). Por exemplo: Inteligência. Dentro do conceito Inteligência (expresso através do signo gramatical Inteligência) podemos encontrar várias partes através da observação da realidade. A saber: conhecimento, raciocínio, percepção, etc. São partes que compõem o todo chamado de Inteligência. Podemos decompor qualquer coisa em suas partes através da observação da realidade. Isso é, de certo modo, natural, faz parte do ser humano, nascemos assim, é assim que entendemos e compreendemos as coisas.

O processo às vezes se dá partindo dos particulares (ou de um particular em específico) e vamos para o todo; e às vezes partimos do todo e vamos decompondo-o em partes, indo e voltando das partes para o todo e vice-versa. Por exemplo, ao consultar o dicionário em busca do significado de um signo (uma palavra neste caso) estamos partindo de uma parte que compõe o todo porque o significado é genérico e não explica especificamente o que é a coisa (o referente). A partir daí temos que raciocinar e investigar mais coisas (partes) para chegar ao entendimento do que é a coisa em si. É um processo natural do ser humano. Um sentido específico de um significado não nos dá um referente absoluto posto que temos de analisar as várias partes que compõem o todo.

Continuando no exemplo do signo Inteligência (ou poderia tomar qualquer outro signo), mas vamos continuar neste. Inteligência: “faculdade de conhecer, compreender e aprender.” Este é o significado. Inteligência: “capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.” Este é um sentido do signo Inteligência, tirado do dicionário. Dependendo do dicionário temos seis ou sete sentidos um pouco diferentes do significado genérico de Inteligência, mas não completamente diferentes.

Esta é a base para sabermos o referente, o que é a coisa em si na realidade, além do conhecimento intuitivo e da percepção.

Como já foi dito, um dicionário não é o “bam bam bam” do entendimento, mas é a base, é onde está a convenção da língua e da linguagem. Quando não se sabe o significado (e os sentidos) de um signo torna-se impossível exprimir em palavras o referente, torna-se impossível expressar o conceito.

E como já foi dito, a língua e a linguagem são convenções e não tem como ser diferente. Todos nós que temos que ter o mesmo significado e sentidos dos signos, pois isso nos dá a base para sabermos o referente na realidade e a realidade é uma só para todos.

Um bom exemplo neste sentido são as diferentes línguas existentes no mundo. Um Brasileiro por falar a Língua Portuguesa, de certo modo, tem uma mentalidade um pouco diferente de um Alemão que fala a Língua Alemã. Porém, o entendimento básico das coisas é o mesmo. Por exemplo, uma árvore é uma árvore em qualquer lugar mundo não importando em qual língua eu expresso o signo “árvore”. O referente é o mesmo, o conceito “árvore” basicamente é o mesmo. Liberdade, esperança, igualdade, fraternidade, correr, dormir, comer, pular, etc, o conceito básico é o mesmo em qualquer lugar do mundo não importando a língua que se fala.

O problema é quando se trocam conceitos por palavras.

Agora tomarei como base o livro de Arthur Schopenhauer “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” que é a tese que deu o título de Doutor a Schopenhauer em 1813. Óbvio que tal título de Doutor na época era diferente do título de Doutor que temos hoje em dia, principalmente no Brasil.

Página 49: “Aristóteles... demonstra cuidadosamente no sétimo capítulo do segundo livro dos Segundos Analíticos que a definição de uma coisa e a prova de sua existência são duas coisas diferentes e eternamente separadas, pois pela primeira tomamos conhecimento do que é pensado, por meio da outra, porém, de que algo assim existe; e como um oráculo do futuro, profere ele a sentença: ‘a existência não pertence à essência de uma coisa; pois existência não é uma propriedade’. Isso significa: A existência jamais pode pertencer à essência das coisas. – Ao contrário disso. O quanto o senhor von Schelling venera a prova ontológica pode ser verificado a partir de uma longa nota da página 152 do primeiro volume de seus Escritos filosóficos de 1809. Mas algo ainda assim mais instrutivo pode ser verificado ali, a saber: que basta matraquear atrevidamente, fazendo ares de grandeza, para lançar poeira nos olhos dos alemães. Mas que até um patrono tão inteiramente deplorável como Hegel, cuja inteira filosofastria era propriamente uma monstruosa amplificação da prova ontológica, tenha querido defende-la contra a crítica de Kant, é uma aliança da qual se envergonharia a própria prova ontológica, por mais que não seja muito de se envergonhar. – Apenas não se espere de mim que fale com apreço de pessoas que levaram a filosofia ao desprezo.”

Coloquei este trecho para mostrar que a “troca de conceitos por palavras” vem de longe.

Agora pulo para a página 107: “Amiga – disseram-lhe-, as coisas andam mal para ti, muito mal, desde o dia de teu fatal encontro com o velho cabeça-dura de Königsberg [Kant]; tão mal como para tuas irmãs, a prova ontológica e físico-teológica. Mas, tem coragem: nós não te abandonamos por isso (tu sabes, somos pagos para isso). Entretanto, não há outra coisa a fazer: deves mudar de nome e de vestimentas; porque se te chamarmos por teu nome, todos fogem de nós. Incógnita, porém, nós te tomamos pelo braço e te reconduzimos novamente para entre as pessoas; apenas, porém, como dito, incógnita: isso dá certo! Primeiramente, pois: daqui para diante, teu objeto portará o nome: “o absoluto”; isso soa exótico, decente e nobre – e nós sabemos melhor do que qualquer um o quanto se pode impingir aos alemães com aparências de nobreza – qualquer um sabe o que se entende por essa palavra, e ainda se crê sábio por isso.... O absoluto, exclamas (e nós contigo), ‘que diabos, isso tem de ser, senão não existiria absolutamente nada!’ (e com isso bates com o punho sobre a mesa). Mas de onde procederia ele? ‘Estúpida pergunta! Já não disse que é o absoluto?’ – Isso dá certo, podes crer, dá certo! Os alemães estão habituados a aceitar palavras no lugar de conceitos: para tanto nós os temos adestrado desde a juventude – olha só a hegelianada, que outra coisa é senão um palavrório vazio, oco, e ainda por cima nauseabundo? E, no entanto, que esplêndida carreira fez essa criatura filosófica ministerial! Para isso, não foi preciso senão que alguns companheiros venais entoassem a glória daquela ruindade – para que sua voz, na cavidade oca de mil cabeças estúpidas, encontrasse um eco que ainda hoje ressoa e se propaga. E eis que assim logo se fez de uma cabeça vulgar, sim, de um vulgar charlatão, um grande filósofo. Portanto, toma coragem! Além disso, amiga e protetora, nós te secundamos também por outra razão: com efeito, sem ti não podemos viver” – O velho critiqueiro de Königsberg criticou a razão e cortou-lhe as asas? Pois bem, inventamos então uma nova razão, da qual ninguém tinha ouvido falar até aquele momento; uma razão que não pensa, mas intui imediatamente, que intui idéias (uma palavra distinta, criada para mistificação) em carne e osso; ou também uma razão que apreende, que apreende imediatamente aquilo que tu e os outros apenas queriam demonstrar; ou ainda – para aqueles que só admitem pouco, mas que também com pouco se satisfazem – o presente. E assim, damos conceitos populares de há muito inoculados por inspirações imediatas dessa nova razão, criticada à exaustão, degrademo-la, chamemo-la entendimento, e mandemo-la passear.”

O que Schopenhauer está dizendo é que trocaram conceitos por palavras. Razão agora se chama entendimento. E o que é entendimento? Ora, entendimento é razão! E o que é razão? Ora, tu és burro? Razão é entendimento! Não entendes uma coisa tão simples assim? Entendimento é razão e razão é entendimento... está explicado.

A amiga Prova Cosmológica agora chamemos de Absoluto! E o que é o absoluto? Ora, o absoluto é o infinito! E o que é o infinito? Ora, tu és burro? Infinito é o absoluto, cara!

Não precisamos mais significar as coisas, basta colocar outra palavra no lugar, seja esta palavra um sinônimo ou não.

Isto dá certo, pode crer!

O mundo é o finito e o absoluto é o infinito. E o que é o finito? Ora, tu és burro? Já falei que o finito é o mundo!

E podemos colocar também uma expressão no lugar de qualquer coisa esdrúxula que inventamos sem base nenhuma na realidade, como por exemplo: Politicamente Correto!

Temos também vários outros chavões imbecis: "consciência de classe", "pensamento crítico", "lutas de classes", "estado democrático de direito", "liberal na economia, conservador nos costumes", "desvelamento do ser", "não é crime, é doença", "racismo estrutural", "dívida histórica", "a culpa é do sistema", "crise climática", "desenvolvimento sustentável", "sociedade igualitária", "combate à pobreza", "direitos dos trabalhadores", "isolamento social", "classes sociais", "direitos humanos", "os fins justificam os meios", "discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer", "responsabilidade fiscal", "regras democráticas", "aquecimento global", "reformas estruturantes", "vacinação em massa", "manter a governabilidade", "linha da pobreza", "estruturas de poder", "combustível fóssil", "implodir o sistema", "tirania da maioria", "disparidade de gênero", "liberdade de mercado", "milícia digital", "nome social", "ação afirmativa", "isso será um avanço", "isso será um retrocesso", "nunca ouvi falar, mas não tem cabimento", "imperativo categórico", "democracia representativa", "dinheiro público", "desconto antecipado", "redenção democrática", "direitos dos trabalhadores", "compre agora e economize dinheiro", "a exceção é o que confirma a regra", "o Brasil não é para amadores", "consulta o pai dos burros", "pedantismo gramatical"... e por aí vai.

É a gosto do freguês, o freguês escolhe seus chavões prediletos para repetir como um papagaio. Daria para escrever um livro somente com essas expressões. Um glossário. Aliás, já existem dicionários e glossários de, por exemplos, Marx, Gramsci e Heidegger, além de vários outros. Para ler e entender (se for possível) autores desta cepa, deste estilo de escrita oco, vazio, nauseabundo; primeiro você tem de entender a linguagem própria deles para depois começar a entender do quê eles estão falando. E muitas vezes estão falando de nada; palavras bonitas, mas vazias de conteúdo; muitas vezes sem significado e na maioria das vezes sem referente. Eles usam palavras já existentes na língua e inventam um significado novo saído da cabeça maluca e/ou maligna deles e isso bagunça o referente, você já não sabe mais do que se está falando, mas fica tentando adivinhar e chama essa adivinhação de "interpretação de texto".

Mas vamos nos deter em analisar como exemplo a expressão "politicamente correto", pois a análise se estende para todas as outras expressões.

O que é “politicamente correto”? Qual o significado dessa expressão?

Partirei do básico. Politicamente vem de política: “arte ou ciência de governar”, significado genérico. “Derivação: sentido figurado. habilidade no relacionar-se com os outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados”.

Politicamente: “ocupar-se de política; fazer política”.

Correto: “que se corrigiu”. “possuidor de bom caráter; digno, honrado (diz-se de pessoa)”.

Não coloquei todos os sentidos de “política”, “politicamente” e “correto”, mas já dá para entender.

Politicamente Correto é alguém que é correto na política?

É alguém que tem uma política correta?

É alguém possuidor de bom caráter na política?

Ou é outra coisa?

São significados diferentes. Alguém que é correto na política obrigatoriamente é um político. Alguém que tem uma política correta não necessariamente é um político, pode ser um cidadão ali que tem uma política de vida e segue ela. São coisas diferentes.

Então o que é politicamente correto? Ora, inventemos um significado qualquer que nem significado é. Politicamente correto agora é “evitar certas palavras preconceituosas com relação a grupos de sexo, raça, gênero ou sei lá mais o quê”. Ou mais, faremos dossiês, artigos acadêmicos, livros inteiros tentando explicar o que é “politicamente correto” (somos pagos para isso).

Daremos mil “significados” de politicamente correto. Ganharemos pela quantidade e não pela qualidade. Eu vou citando você e você vai me citando, a nossa patota vai se auto-promovendo, assim teremos milhões de citações acadêmicas. O que importa a verdade? O que importa a realidade? Verdade e realidade são coisas ultrapassadas, são retrocessos, não é um avanço, não são coisas progressistas.

Mas voltando. “Evitar certas palavras”... quais palavras devo evitar? Existe uma lista de palavras que devo evitar?

Ora, tu és burro? As palavras que tu deves evitar são as palavras preconceituosas em relação aos grupos ali!

Mas o que é “preconceituoso”? Não é um conceito subjetivo?

O que decorre disso na realidade é que se alguém me falar alguma coisa que eu não goste (vai do meu capricho), eu digo que é politicamente incorreto. Pronto: acrescentei mais uma palavra (ou expressão) na tal da lista que não existe! E o absurdo não pára de crescer.

Quando dizem que “politicamente correto” é uma forma de censura eu concordo, mas o estrago vai mais além: causa emburrecimento.

Trocar conceitos por palavras ou expressões inventadas dá nisso: emburrecimento geral.

E podemos ver que na expressão “politicamente correto” foram juntados dois signos que não dá para juntar. Um altera o significado do outro. A partir daí não há base na realidade e temos que inventar alguma coisa para significar em palavras o que é isso. É como a frase: "A pedra da bola pegou fogo". Ortograficamente e sintaticamente está correta, mas semanticamente não tem sentido nenhum. E num texto e/ou discurso temos que, obrigatoriamente, preencher os três: ortografia, sintaxe e semântica.

Com palavras bonitas, mas vazias de conteúdo estamos fora da realidade. Trocamos conceitos por palavras esvaziadas de significados, de sentidos e de definições, e por isso não captamos mais o referente.

Passamos a falar por chavões, palavras vazias, signos sem significados e, por conseguinte, sem referente. Nos distanciamos da realidade, vivemos em um mundo de ilusão onde não nos entendemos mais. Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem.

Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc.

Linguagem engloba a língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que fala a mesma língua.

Caso eu fale “politicamente correto” e isso enseja várias adivinhações de acordo com a cabeça de cada um, temos confusão, não nos entendemos mais. Nesta hora precisa de um supremo sabedor da verdade para nos dizer o que significa isso, sendo que o supremo sabedor da verdade também não sabe o que é, então ele junta palavras bonitas, mas vazias de conteúdo e você sai repetindo isso por aí.

Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem. E assim vamos emburrecendo.

Êêê, vamos todo mundo ficarmos burros, assim teremos igualdade... que, aliás, “igualdade” é um conceito subjetivo.

Ficaremos todos iguais na burrice, mas sempre tem uns que são “mais iguais do que os outros”.

Uma população burra é fácil de controlar, mas a burrice leva à violência, uma pessoa burra só sabe resolver as coisas na base da violência (seja ela física e/ou psicológica), isso é fato.

A estultice, a estupidez de quem pensa que pode controlar uma população burra, drogada e promíscua é equivalente à burrice dessa mesma população.

Mas tudo em prol da “revolução”, da revolução surgirá o novo ser humano!

Dos escombros da humanidade surgirá o novo ser humano... não sei como.

Mas posso imaginar: esse novo ser humano que surgirá virá do caos que leva à ordem.

E assim vamos trocando conceitos por palavras: “do caos vem a ordem” é um chavão de tamanha estupidez e é errado em tantos níveis que até é difícil explicar. Mas vamos repetindo isso através da grande propaganda que todo mundo acredita que do caos vem a ordem... e vamos promovendo o caos, vamos promovendo a destruição esperando a reconstrução a partir dos entulhos que restaram da burrice. Vamos juntar os entulhos para formar uma pilha de escombros e vamos dar a esse conceito um novo nome: sociedade igualitária. Uma expressão esvaziada de tudo.

terça-feira, 25 de janeiro de 2022

sábado, 11 de dezembro de 2021

Escola sem Partido


   O advogado Miguel Nagib fundou e promoveu até 22 de agosto de 2020 o Escola sem Partido e depois afastou-se por diversos motivos. Dentre estes motivos, a falta de apoio e os ataques injustos vindo de dentro da própria trincheira, a chamada “direita”.

   Não obstante o meu respeito ao filósofo Olavo de Carvalho, ele foi superficial na sua análise do Escola sem Partido e tal análise espalhou-se na época. Mas eu como o Olavo de Carvalho, também já fiz análises superficiais... quando tinha 12 anos de idade. Não que o pimpão Olavo seja o principal responsável por atacar o ESP, mas ele teve grande influência, pois na época o Bolsonaro e outros pautavam-se em algumas análises do abrangente Olavo.

   Trecho da entrevista ao jornal O Globo:

   “O senhor publicou recentemente um vídeo com críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?

   Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois. Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda estamos na esfera do argumento retórico.

   Basicamente a argumentação repetida por Olavo com soltura de espírito em relação ao ESP está nos trechos de entrevistas e vídeos. Vou do início.

   “Você não pode começar um debate legislativo sem ter o debate científico primeiro.” Ora, umas vezes primeiro promove-se o debate para depois entrar com o projeto que resultará na lei. Outras vezes primeiro entra-se com o projeto de lei (já sabendo que não será aprovado), mas entra-se com a intenção de promover o debate para depois, então, aprovar a lei. A esquerda, que eu saiba, nunca, nunca, nunca apresentou e/ou apresenta fundamentação científica para seus projetos de lei e como a guerra é cultural acredito que a “fundamentação científica” no debate legislativo já foi para as cucuias há muito tempo.

   Quando se promove um debate sobre qualquer assunto que for, é óbvio que sabemos que algumas pessoas se colocarão contra, outras a favor e outras tanto-faz-como-fez, mas todas falarão e/ou debaterão o assunto até ele chegar na sua “maturidade” política.

   Além disso, promovendo-se o debate, a fundamentação científica começa a aparecer. Porém, a própria “direita” matou o debate sobre o ESP não permitindo sequer que a pouca fundamentação existente sobressaísse ou que outras fundamentações aparecessem. O próprio Olavo sempre diz que a esquerda aparelhou o Estado Brasileiro, tem militância organizada, etc, e a direita não tem, então, de que modo o ESP iria juntar “fundamentação científica” para depois promover o debate é uma coisa que me escapa.

   A esquerda estava em polvorosa em 2018 e 2019, pois o ESP era considerado a maior ameaça ao projeto deles porque "na cultura e na educação é onde estão as mentes e os corações", palavras do Zé Dirceu e ele não estava falando falsamente para enganar a direita.

   Outra fala do abundante Olavo:

   “Eu estudo o [combate cultural] há 50 anos, tento oferecer uma ajuda, uma orientação, e vocês passam por cima. Insistem no erro. Há mais de dois anos, falei que não fazia sentido o projeto. Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Depois o Olavo disse que o nome deveria ser “Escola sem Censura”. E depois afirmou que, caso não mudassem radicalmente de estratégia “Não só vou ficar contra, como irei denunciar vocês. Vocês estão querendo mudar o país pela sua incultura. Vocês não entendem nada do combate cultural porque não têm cultura. Vocês não têm o meu apoio. Apenas [tem o apoio] no intuito central e inicial da campanha, que é o de combater a manipulação de comportamento e o sistema hegemônico da escola. Mas os meios, não aprovo de maneira alguma”.

   “Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Acredito que o véio Olavo, nesta parte, estava falando do item 4 do Escola sem Partido (se é que o espiralado Olavo teve gosto pelo conhecimento em ler):

   “Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e perspectivas concorrentes a respeito”.

   Vemos que esse item está falando de questões políticas, sócio-culturais e econômicas, ou seja, ao falar de correntes filosóficas, correntes ideológicas, etc, o professor deverá apresentá-las da mesma maneira, assim como era antigamente. Por exemplo, ao dar o conteúdo sobre Marxismo – ou qualquer outra corrente - o professor dará a aula em cima desse tema sem manifestar sua opinião sobre política partidária, eleições, candidatos, etc. Caso quiser manifestar sua opinião sobre a pessoa de Karl Marx não vejo problema nenhum. Simples assim.

   O ESP já estava dando resultado positivo, pois as denúncias estavam aparecendo através de depoimentos, filmagens, gravações, etc, e, a partir daí, com o debate, surgiria a fundamentação científica.

   Lembro-me agora de um vídeo do próprio Olavo onde ele falou que teve aula durante uns três anos com o filósofo Stanislavs Ladusãns onde o Ladusãns começava expondo todas as correntes envolvidas no conteúdo até chegar ao final onde fazia um apanhado geral e, às vezes, manifestava sua própria opinião.

   Mas vamos agora, a trechos do livro “Filosofia e seu Inverso” do barrigudo Olavo de Carvalho.

   Página 21: “Se há um dado histórico do qual não se pode duvidar, é que a filosofia nasceu na Grécia e adquiriu sua forma clássica, de uma vez por todas, com Platão e Aristóteles (ambos sob a inspiração original de Sócrates). Você pode chegar a ser filósofo ignorando Sartre, Husserl, Nietsche, até mesmo Hegel, Leibniz ou Sto. Tomás de Aquino. Mas quem não tomou um banho de imersão nos ensinamentos dos dois pais fundadores permanecerá eternamente alheio ao espírito da filosofia”.

   Não somente pelo trecho acima, mas quem acompanha o proxeneta das palavras Olavo de Carvalho há algum tempo sabe que ele mesmo recomenda você ler de tudo, todas as correntes, pois isso é óbvio, assim se poderá absorver uma ampla gama de conhecimentos. Ainda que o curso do esclerosado Olavo não seja “ensino fundamental”, “ensino médio” ou “ensino superior” nos modelos existentes no Brasil, ainda assim essa base de ter várias correntes permanece, o que é natural.

   Página 145: “Foi então que, por intermédio de uma das filhas de Mário Ferreira, conheci o Pe. Stanislavs Ladusãns, s.j., um filósofo estoniano que o Papa João Paulo II, seu amigo de juventude, havia encarregado da missão impossível de reintroduzir um pouco de catolicismo numa universidade católica do Brasil”.

   Nas páginas 145, 146, 147 e 148 pode-se encontrar o proposto, mas deixo aqui um trecho da página 147 com o Pe. Stanislavs Ladusãns discorrendo:

   “- Vamos examinar cada uma dessas questões desde o ponto de vista das principais escolas filosóficas, confrontando umas com as outras, e depois vamos esboçar a solução pessoal que nos parece a mais apropriada para cada uma delas”.

   Ainda que se trate especificamente de ensino de Filosofia pode-se ver com clareza que a proposta do ESP não é exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião contrária, mas é abordar todas questões como o Pe. Ladusãns fazia.

   É óbvio que em se tratando de ensino escolar (fundamental, médio e superior) os métodos e metodologias empregados são diferentes, porém, repito, a proposta do ESP não é exigir com igual referência a opinião contrária como o tonitruante Olavo alardeou pelos quatro cantos das salas – virtuais e presenciais – onde habitam seus alunos, o qual já fui também e ainda o leio e vejo alguns vídeos com suas exposições.

   E, mesmo que a proposta fosse exigir com igual referência a opinião contrária, rebato com o próprio Olavo chorão, onde podemos encontrar no livro "Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão" de Arthur Schopenhauer; Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, no comentário suplementar XVI: n. 151, na página 249, feito pelo comentarista Olavo de Carvalho:

   "Não nos esqueçamos de que Aristóteles começava seus tratados sempre com uma resenha das opiniões de seus antecessores sobre o assunto em questão, e depois, laboriosamente, meticulosamente, se punha a confrontá-los dialeticamente, com a humildade de quem, como dele disse Al-Biruni, 'fazia o melhor que podia, sem jamais se pretender um protegido de Deus que estivesse ao abrigo do erro'".

   O advogado Miguel Nagib, ao anunciar o fim da sua participação no movimento Escola sem Partido expôs suas razões e gravou entrevista em vídeo onde percebe-se claramente ali que um dos problemas também é o Judiciário, principalmente o STF e a Promotoria Pública que promovem legalmente a discussão político-partidária dentro das escolas, então a questão não é científica de modo algum.

   De qualquer maneira, caso o debate sobre o ESP tivesse se mantido, isso ocuparia, no mínimo, boa parte do tempo da esquerda.

   Meu caro Professor Olavo, o senhor está sofrendo de Paralaxe Cognitiva?

 

Referências

A Filosofia e seu Inverso e outros estudos, Olavo de Carvalho. Vide Editorial, julho de 2012.

Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, Arthur Schopenhauer. Introdução, Notas e Comentários: Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro, Topbooks, 1997.

http://escolasempartido.org/programa-escola-sem-partido/

https://gauchazh.clicrbs.com.br/politica/noticia/2018/11/guru-de-bolsonaro-olavo-de-carvalho-reforca-critica-ao-escola-sem-partido-colocaram-a-carroca-na-frente-dos-bois-cjoub7l680g5p01rxuw58c1p0.html

quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Paralaxe Cognitiva

   Debruçar-me-ei e labutarei sobre a Paralaxe Cognitiva. Este é um fenômeno estudado pelo Olavo de Carvalho. Ele define como “o deslocamento entre o eixo da experiência real do indivíduo e o eixo da construção teórica”.

   Olavo nos explica que a Paralaxe Cognitiva não tem muito a ver com hipocrisia ou a canalhice, mas pode levar à hipocrisia e à canalhice.

   Paralaxe: “deslocamento aparente de um objeto quando se muda o ponto de observação”.

   Cognitivo: “relativo ao conhecimento, à cognição”.

   Grosso modo, o “eixo da construção teórica” é o que a pessoa tem na cabeça, os conceitos, as definições, os significados, os sentidos, os referentes. É o que a pessoa entende a respeito das coisas do mundo. Na paralaxe cognitiva esse entendimento está deslocado da realidade das coisas.

   Tomarei como base também a frase do poeta austríaco Hugo von Hofmannsthal: “‘Nada é real na vida política de uma nação, que não estivesse antes presente em sua literatura”, sentença esta também citada pelo Olavo (Hugo von Hofmannsthal and the Austrian idea: selected essas and adresses, página 159). Mas vou parafraseá-la: “Nada está na cultura de uma nação, que não estivesse antes presente em sua literatura”.

   Porém, a minha abordagem será para investigar o que acontece entre a literatura até chegar na cultura de uma nação, até se popularizar, vamos dizer assim. E, como, de que maneira chega na população, o que acontece no meio, pois os autores tem um estilo literário (uma forma de escrever) diferente da maioria da população. E, como sabemos, apesar de que a forma da escrita e da fala da língua formal seja diferente da língua coloquial, muitas vezes a língua e a linguagem mudam, mas o conceito permanece.

   Em outros escritos, com base em autores consagrados, discorro sobre conceito, definição, signo, significado (com seus vários sentidos) e referente, então não me deterei nesta parte. E, já vimos, também, com Aristóteles e Arthur Schopenhauer, além de outros não menos importantes, o problema de se trocar conceitos por palavras. E, já vimos, também, com Olavo de Carvalho, de onde vem o “raciocínio por chavões” ou o “raciocínio metonímico” que, de certa forma, decorre da troca de conceitos por palavras e, no meu modo de raciocinar, resulta na Paralaxe Cognitiva.

   Porém, a Paralaxe Cognitiva da qual o Olavo fala, está lá em cima, ele aborda os autores conhecidos e/ou consagrados e a minha abordagem procura trazer aqui embaixo para nós, a população. Como o Olavo ainda está investigando o fenômeno da Paralaxe, também estou investigando, como não poderia deixar de ser diferente.

   Então, a minha abordagem é de baixo para cima e a do Olavo é cima para baixo, vamos dizer assim. Talvez, em algum momento, nos encontremos no meio do caminho.

   Eu parto do signo, significado (vários sentidos) e referente, eu parto da língua e da linguagem e, desta base, vou subindo. Porém, tem vários conceitos que o próprio Olavo expressa de maneira simples, ou seja, ele “pega” o conceito de outros autores e conceitos dele mesmo e traduz numa linguagem simples que todo mundo entende sem distorcer o conceito. Isto é muito importante, pois muitas vezes entendemos conceitualmente o que determinado autor quis expressar, mas não conseguimos traduzir em palavras, e, algumas vezes, conseguimos traduzir em palavras simples, mas distorcemos o conceito original. Às vezes não distorcemos completamente, alguma coisa permanece, mas no todo se perde boa parte do conceito original.

   Por exemplo: quando estudamos os Princípios da Lógica Formal (Identidade, Não Contradição e Terceiro Excluído) podemos entendê-los, mas na hora de explicar nos perdemos em palavras; e em Mário Ferreira dos Santos, no seu tratado Lógica e Dialética, encontramos tais conceitos explicados numa linguagem simples e fácil de entender sem que o conceito se distorça.

   Certos autores têm e/ou adquirem essa habilidade de “pegar” conceitos complicados e traduzi-los de uma forma fácil em uma linguagem simples e acessível sem distorcer o conceito. Óbvio é que hão certos conceitos que não são possíveis de explicar numa linguagem simples, como certos conceitos metafísicos. Aí entra o senso das proporções, o discernimento em saber quando é um e quando é outro, como já vimos também.

   Um bom exemplo – e até corriqueiro – é quando as pessoas dizem com relação ao Olavo: “Esse cara consegue dizer exatamente o que eu penso”. Isto significa que o Olavo, pelo seu conhecimento e estudo, adquiriu essa habilidade (e/ou uma boa parte dessa habilidade nasceu com ele), e ele tem essa facilidade de traduzir conceitos complicados para uma linguagem simples sem distorcer o conceito.

   Insisto neste ponto “traduzir conceitos complicados para uma linguagem simples sem distorcer o conceito” porque não é coisa fácil: requer estudo, raciocínio, “queimar a mufa”, aprimorar os neurônios e suas sinapses, etc.

   Vamos tomar como exemplo o seguinte texto de Kant:

 

“Há por fim um imperativo que, sem se basear como condição em qualquer outra intenção a atingir por um certo comportamento, ordena imediatamente este comportamento. Este imperativo é categóricoNão se relaciona com a matéria da acção e com o que dela deve resultar, mas com a forma e o princípio de que ela mesma deriva; e o essencialmente bom na acção reside na disposição (Gesinnung) (*), seja qual for o resultado. Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade.

(*) A palavra prudência é tomada em sentido duplo: ou pode designar a prudência nas relações com o mundo, ou a prudência privada. A primeira é a destreza de uma pessoa no exercício de influência sobre outras para as utilizar para as suas intenções. A segunda é a sagacidade em reunir todas estas intenções para alcançar uma vantagem pessoal durável. A última é propriamente aquela sobre que reverte mesmo o valor da primeira, e quem é prudente no primeiro sentido mas não no segundo, desse se poderá antes dizer: é esperto e manhoso, mas em suma é imprudente. (Nota de Kant.)” Fundamentação da Metafísica dos Costumes, página 52, tradução de Paulo Quintela.

 

   Não me deterei aqui na tradução utilizada, apesar de que a tradução de uma obra é coisa importantíssima, pois representa o entendimento final da obra  do autor para quem está lendo.

   Kant nos escreve ao final: “Este imperativo pode-se chamar o imperativo da moralidade”. Percebam que ele, através das palavras, transforma o imperativo categórico em imperativo da moralidade, mas nos diz que “pode-se chamar”, não nos afirma que o imperativo categórico é o imperativo da moralidade. Fazendo isso ele distorce os dois conceitos ao mesmo tempo. Caso ele tivesse escrito: “O imperativo categórico é o imperativo da moralidade” o nosso entendimento seria diferente, mas, ainda assim, ele teria distorcido os dois conceitos. Então, através das palavras posso conduzir o leitor a uma conclusão falsa, o que é óbvio, pois as palavras são importantes. Já vimos também a importância da linguagem com tudo o que decorre dela.

   Mas vamos a um exemplo mais simples: “Bebi uma garrafa de cachaça”. Quando escrevo ou falo isso não estou dizendo que peguei o vasilhame de vidro ou plástico, moí, misturei com o líquido e bebi. Estou dizendo que bebi a cachaça que estava dentro da garrafa. O conceito da frase “Bebi uma garrafa de cachaça” como um todo, de certo modo, permanece o mesmo, todo mundo entenderá. A frase em questão é uma metonímia (figura de linguagem), cuja explicação já vimos também.

   Então, de certo modo, Paralaxe Cognitiva na minha abordagem, tem muito a ver com signos, significados (e vários sentidos) e o referente, conceitos estes que o Olavo também nos traz muito. Estes conceitos, definições, significados, etc, referem-se, basicamente, à linguística.

   Para expressarmos um conceito, expressamo-lo através da palavra falada e da palavra escrita. Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc. Linguagem engloba a língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que fala a mesma língua.

   Percebam que, para o leitor entender do quê estou falando, há certos conceitos, definições, significados, etc, que são necessários para o entendimento deste texto.

   Acredito eu que a Paralaxe Cognitiva começa, basicamente, neste ponto: nos conceitos básicos e em saber expressá-los através da língua e da linguagem. Isto nos remete à educação básica e ao ensino básico (lembrando que educação e ensino são coisas diferentes). Já vimos também o que é coisa tanto no seu significado básico do dicionário como no seu sentido filosófico.

   A partir deste ponto podemos perceber (eu e o leitor) que se faz necessário certos conceitos básicos para o entendimento entre nós, seres humanos, senão terminaremos por falar a mesma língua, mas não a mesma linguagem e não nos entenderemos.

   O referente já vimos o que é, mas vamos retornar, porém, antes se faz necessário explicar a forma do raciocínio, como o Olavo diz: “vamos num raciocínio em espiral, uma cadeia de espirais, onde vamos avançando no raciocínio e muitas vezes voltamos a um conceito básico para avançar no raciocínio, formando uma cadeia de espirais”. Ele não diz exatamente com essas palavras, mas o entendimento é esse, dada ser uma coisa simples de entender.

   Então, o referente é o que a coisa é na realidade. Já vimos tudo isso. E quando não conseguimos expressar o conceito que temos na cabeça de acordo com a realidade na qual vivemos, quando não conseguimos expressar o referente ou captar o referente, então temos Paralaxe Cognitiva, ou seja, o que temos dentro da nossa cabeça não corresponde à experiência real. E a base é signo, significado (vários sentidos) e o referente.

   Um exemplo simples, corriqueiro até, mas que aconteceu na realidade aqui no Brasil. Na CPI da Covid feita pelo Senado Federal teve um senador que não sabia o significado do signo (palavra, no caso) “compulsoriedade”. Na cabeça dele “compulsoriedade” significava “aleatoriedade”. Ele estava falando da “vacinação compulsória”, porém, na cabeça dele essa expressão significava “se vacina quem quiser”. O estrago causado por esse tipo de coisa é imenso, pois este senador defenderá a compulsoriedade da vacina e aprovará o projeto de lei acreditando no contrário: “se vacina quem quiser”. O referente está deslocado do eixo da construção teórica dele, a realidade está deslocada do eixo da construção teórica dele.

   Teve outro senador que escreveu na rede social Tweeter: “Não tenho substantivos para qualificar este governo”. Não tem mesmo, pois um substantivo não qualifica nada, quem faz isso é o adjetivo. De novo, a construção teórica dele está deslocada da experiência real porque ele não sabe o que é substantivo nem o que é adjetivo.

   Imaginem isso com várias, inúmeras palavras e expressões que as pessoas tem na cabeça e não sabem sequer o significado. E se não sabem o significado como saberão identificar o referente?

   Não saberão.

   Claro que há mais coisas nessa investigação. Alguém poderá pensar agora: “Ah, mas só porque ele não sabe o significado de uma palavra (signo), não significa que tenha Paralaxe Cognitiva”. Porém, não é disto que se trata, além disso, como já vimos, perceberam o estrago causado por não saber o significado de uma simples palavra como “compulsório”?

   E como eu já disse, imaginem isso com vários signos (palavras, no caso), significados, sentidos, etc, que compõem a mentalidade da pessoa.

   Neste ponto, estamos tratando aqui da “aversão ao conhecimento”, conceito bastante utilizado pelo Olavo. Acredito que a “aversão ao conhecimento” do Brasileiro começa nos conceitos básicos, começa em sequer querer saber o significado das palavras; e assim o Brasileiro vai compondo a sua mentalidade tentando adivinhar o referente das coisas, distanciando-se da realidade.

   Já vimos e demonstramos também que a língua em si é uma convenção, mas a linguagem não é estritamente uma convenção, a linguagem tem nuances que vem, basicamente, dos sentidos de cada significado. E de acordo com o sentido no qual empregamos uma palavra, o entendimento da frase muda, o referente muda um pouco. Sentidos são significados um pouco mais específicos. Todo significado é genérico.

   Por exemplo: “Aquela pessoa tem inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que aquela pessoa é inteligente, enquanto que, na outra frase eu estou afirmando que aquela pessoa é inteligente. Simples assim.

   Para não me estender, pois este é somente um prolegômeno, vou encerrando por aqui para não ficar muito extenso, mas esta investigação continua.