quarta-feira, 6 de agosto de 2025

A Grande Propaganda

   


   A Grande Propaganda, aquilo que chamam de Grande Mídia, é a personificação do Grande Irmão de Eric Arthur Blair, vulgo George Orwell. É um instrumento do poder cínico e cruel ao infinito, bem como está no livro "1984": "Não estamos interessados no bem dos outros; só nos interessa o poder em si. Nem riqueza, nem luxo, nem vida longa, nem felicidade: só o poder pelo poder, poder puro".

   Ainda que essas palavras não sejam exatas, pois elas são duplipensar porque, muitas vezes, da riqueza vem o Poder. O "poder", neste sentido, podemos definir como sendo o número de pessoas que te obedecem e/ou seguem você e fazem aquilo que você diz. Tendo riqueza, você pode pagar as pessoas para fazerem o que você quer e, de certo modo, corrompê-las.

   É preciso entender que, no contexto do livro, O'Brien almejava derrotar mental e emocionalmente a Winston, o que conseguiu, então usava e abusava das palavras, da Novilíngua (ou Novafala), do Duplipensar, etc, e isto tudo tinha de soar como se fosse idéia do próprio Winston. As duas frases finais do livro ilustram muito bem: "Ele conquistara a vitória sobre si mesmo. Winston amava o Grande Irmão".

   Adianto que expressões e conceitos como "duplipensar", "paralaxe cognitiva", "dissonância cognitiva", "efeito Dunning-Kruger", etc, nada mais são do que análises de um determinado aspecto da boa e velha Estupidez (burrice enorme - popularmente conhecida como 'burrice ao quadrado'). Ao longo da história, autores observam e analisam determinados fenômenos dentro do seu campo de ação e momento histórico, até porque, muitas vezes, não se tem como abarcar o fenômeno por completo, o que é óbvio.

   A Grande Propaganda, em especial aquela parte que chamam de "jornalismo", deturpou-se, porque de jornalismo tem mais nada há décadas, atualmente temos somente propagandismo feito por propagandistas. Aliás, desde que Johannes Gutenberg inventou a prensa em 1450 e depois veio a Imprensa, o verdadeiro Jornalismo sempre foi cultura de massas, pois é intrínseco o jornalismo ser das massas disformes. O Jornalismo nunca foi e nunca será coisa para intelectuais. Até pode ter um intelectual ou outro que escreva para uma coluna num determinado jornal para ter algum alcance, mas o jornalismo em si é cultura de massas.

   Antonio Gramsci, no volume 2 dos Cadernos do Cárcere, nos diz que "O tipo tradicional e vulgarizado do intelectual é dado pelo literato, pelo filósofo, pelo artista. Por isso, os jornalistas - que acreditam ser literatos, filósofos, artistas - crêem também ser os "verdadeiros" intelectuais" (página 53). Mais adiante, página 197, discorre sobre um "jornalismo que não somente pretende satisfazer todas as necessidades (de uma certa categoria) de seu público, mas pretende também criar e desenvolver estas necessidades e, em certo sentido, gerar seu público e ampliar progressivamente sua área", ou seja, um propagandismo mentiroso feito por "intelectuais orgânicos" (propagandistas, aqueles que, no Brasil, são conhecidos como "jornalistas").

   Além de outros, mais recentemente temos Ernesto Laclau, esse pregou que não precisamos mais observar as classes vindas da realidade, mas podemos e devemos criar e desenvolver as classes, ou seja, inventar classes e categorias com base na verossimilhança, entendeu... seu negacionista, machista, racista, fascista, homofóbico, esquerdopata, etc; o espectro político somente interessa quando é conveniente para levar vantagem. No mais, o negócio é criar uma confusão mental tremenda com uma rotatividade alucinante de "novas classes" onde qualquer propagandista imbecil ("propagandista imbecil" é redundância) inventa um termo ou uma palavra nova e, por ter alcance, a massa ignara ("massa ignara" também é redundância) acha engraçado e sai repetindo a expressão feito macaco (macaco vê, macaco faz; macaco vê, macaco repete). Como o ser humano é um animal dito racional dotado de um aparato vocal que lhe permite articular fonemas, ele, pela repetição constante, esvazia as palavras de significado transformando-as em meros xingamentos.

   "Tem uma palavra em Novafala", disse Syme, "que não sei se você conhece. Patofala, grasnar feito um pato. É uma dessas palavras interessantes com dois sentidos contraditórios. Quando aplicada a um adversário, é ofensa; aplicada a alguém com quem você concorda, é elogio."

   Lembrando que Saul D. Alinsky já tinha dado as regras de como usar a grande propaganda para promover as lutas de classes, então podemos considerar que na história do mundo parece ter uma sequência de idéias, aquilo que chamam de "corrente ideológica" onde um autor simpatiza com as loucuras de um autor anterior e desenvolve-as, muitas vezes adicionando novas loucuras próprias e dá sequência ao que, no início, parecia uma boa idéia... até um montão de gente morrer em decorrência e, então, dão uma nova roupagem e um novo perfume, mas, basicamente, a loucura é a mesma e o ciclo de loucuras continua.

   A linguagem jornalística é intrinsecamente genérica - e tem de ser assim, senão a maioria da população não entenderá e o jornalismo não terá alcance. Imaginem os jornalistas adotando uma linguagem científica ou intelectual como padrão no jornal inteiro, desde o editorial, passando pela coluna social e pela página policial, até o horóscopo!

   O jornalismo - lembrando que a palavra 'jornalismo' isolada por si só é o verdadeiro jornalismo; digo isso porque estúpidos não sabem mais nem o significado e o(s) sentido(s) das palavras, então tem de se acrescentar o adjetivo "verdadeiro": o verdadeiro jornalismo, a verdadeira política, a verdadeira verdade, etc, gerando um duplipensar -, o jornalismo baseia-se no alcance do jornal.

   O jornalismo baseia-se no alcance do jornal. Imaginem uma mentira onde eu invento que fulano de tal é um ladrão corrupto e, segundo dizem, é até "meio puto", e arremato: "se eu minto é por boca de outro, é o que dizem, mas eu não acredito nisso!"

   Num grupo pequeno de umas três ou quatro pessoas a tendência de tal mentira é durar uns 4 ou 5 dias, depois esvanece-se naturalmente.

   Imaginem agora se eu fosse um propagandista e contasse essa mesma mentira na minha coluna ou reportagem de um jornal de alcance nacional. A mentira ganhará força, crescerá exponencialmente. Claro que, para não dar na vista não usaria calão, apenas suscitaria dúvidas sobre a sexualidade do sujeito. O restante, o povão, a massa faria por mim, pois, afinal, sou um influenciador, um formador de opiniões, um propagandista.

   Hitler, em seu livro "Minha Luta", dedica um capítulo inteiro para A Propaganda de Guerra. Óbvio que a propaganda começa no título, pois Hitler usava a propaganda enviesada em tempos de paz, em tempos de guerra... o tempo todo, gerando um duplipensar, mas nominava de "Propaganda de Guerra" para os idiotas pensarem que ele usava somente em tempos de guerra. Mais ou menos como o PT (Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Brasileiros) quando, em 2015, lançou seu caderno de teses "Um Partido para Tempos de Guerra". Mais ou menos quando o Diretor e ator José Wilker Almeida provou na década de 1980 que a Rede Globo de Televisão usava de técnicas nazistas para propaganda.

   Sobre a propaganda enviesada temos Edward Bernays, o sobrinho de Sigmund Freud. Sua propaganda era feita de forma oblíqua, enviesada – algo que hoje reconhecemos como manipulação. Sobre ele a propagandista Paula Schmitt tem um excelente texto, links ao final. O que não dizem (provavelmente não pesquisaram) é que durante um bom tempo Bernays sustentou seu tio Freud porque Freud era um perdulário, assim como Marx. Certos autores, além da sua afinidade literária, possuem uma afinidade de caráter e, por isso, um simpatiza com o outro.

   Sobre provar o que estamos dizendo em um texto, às vezes somos como Winston: "Às vezes, de fato, era possível apontar uma mentira específica. Não era verdade, por exemplo, que, como afirmavam os livros de história do Partido, o Partido tivesse inventado o avião. Winston se lembrava de que na sua mais tenra infância já existiam aviões. Só que era impossível provar o que quer que fosse. Nunca havia a menor prova de nada".

   Temos um exemplo real disso a respeito do Nelson Mandela onde nos mecanismos de busca, nos chats de IA e nos livros já não consta ele como terrorista e/ou criminoso quando fez parte da ANC e nem as barbaridades praticadas por ele e sua esposa. Quando tocam nesse assunto é de forma velada através de eufemismos justificando as atrocidades cometidas por ele como resposta à repressão violenta do Apartheid. Mesmo tendo alguém que lembra de Nelson Mandela na televisão nas décadas de 70 e 80 como praticante do "forno de pneus" onde queimavam as pessoas vivas, inclusive negros, mesmo assim essa pessoa será voto vencido. E que Mandela foi tirado da cadeia pelos Rockefeller para eleger-se presidente da África do Sul e assim permitir a exploração desumana das minas de diamantes. Aliás, o Filme "Diamantes de Sangue" retrata bem essa exploração, sendo que a carreira do ator Leonardo Di Caprio quase foi para o brejo por causa desse filme, ele levou anos para se reconciliar com a grande propaganda de Hollywood.

   A mesma coisa acontece com personagens como Stalin, Mao, etc. As informações são desencontradas de propósito e amenizadas. Tal fato está acontecendo com Hitler também no tocante ao número de mortos nos campos de concentração: falam somente nos 6 milhões de judeus, sendo que antigamente a informação era de que morreram em torno de 11 milhões de pessoas entre judeus, negros e ciganos.

   Talvez por isso que Orwell estava indeciso entre os títulos The Last Man in Europe e Nineteen Eighty-Four. "O Último Homem..." ilustra muito bem quando se é o único que procura falar a verdade em meio a um mundo de mentiras e, ao mesmo tempo, sugere a iminente extinção dessa espécie.

   O tal "conflito de gerações" serve aos interesses da grande propaganda porque os jovens, há décadas, não acreditam em nada do que os mais velhos falam, a não ser que tenham provas, porém, as provas estão escasseando-se. E, na maioria das vezes, nem é questão de prova, é questão de lógica pura e simples.

   E isto não é de hoje. A revolta judaica de 70 a.C, por exemplo, conhecida como Primeira Revolta Judaico-Romana, que culminou com a destruição do Segundo Templo pelo imperador Romano Nero e marcou o fim do judaísmo de Templo e o início do judaísmo Rabínico, foi o que motivou os Fariseus a escreverem o Talmude. O Talmude pertence à seita dos Fariseus, a única corrente antiga do Judaísmo pré-rabínico que sobreviveu à destruição do Segundo Templo. Os Fariseus foram o único grupo organizado no Judaísmo a sobreviver e, para preservar os ensinamentos com medo de se perderem ao longo dos anos, resolveram escrever as interpretações orais da Torá. O Talmude depois teve duas correntes: o Talmude Palestino e o Talmude Babilônico que, dos dois, é o mais influente e conhecido.

   Aliás, em 3.200 a.C, a humanidade já percebeu a importância da palavra escrita. Os primeiros textos escritos vem da escrita cuneiforme desenvolvida pelos Sumérios na Mesopotâmia. Platão e Aristóteles, em contra-ponto a Sócrates que era avesso à escrita, deixaram seus ensinamentos tanto na palavra falada quanto na palavra escrita. Não se pode estabelecer uma diferença hierárquica entre a palavra falada e a palavra escrita, as duas tem a mesma importância, cada qual no seu contexto.

   Por exemplo, Sócrates, que era assumidamente contra o conhecimento escrito e confiava somente no conhecimento por presença; caso Arístocles (conhecido como Platão), Aristófanes e Xenofonte não tivessem deixado escritos sobre os ensinamentos de Sócrates, principalmente Platão, hoje ninguém sequer saberia da existência de Sócrates como um dos grandes Filósofos da história da humanidade, quando muito, Sócrates seria uma nota de rodapé na filosofia Grega.

   A importância da palavra escrita reside no fato de que o conhecimento perdura ao longo dos anos e a importância da palavra falada está no convencimento imediato, porém, repito, não se pode estabelecer uma escala hierárquica entre as duas, pois as duas tem a mesma importância.

   O problema está quando falseiam e/ou mentem na palavra escrita adulterando a história, invertendo fatos transformando heróis em vilões e vice-versa. Isso causa um emburrecimento brutal na humanidade estupidificando-a de modo praticamente irreversível.

   Talvez seja este o admirável mundo novo que querem, talvez seja esta a formidável nova ordem mundial!

   Um mundo de estúpidos, pois estúpidos são facilmente controlados e manipulados. A mentira brutal, constante e avassaladora com o nome bonitinho de "revolução" ou "progressismo" altera os livros de história transformando heróis em vilões e vice-versa e depois reverte tudo num movimento constante onde a inteligência das pessoas vai laceando até perder a elasticidade tal como Winston ao chegar na conclusão de que amava o grande irmão.

   "E se o futuro não for progresso, mas repressão disfarçada de ordem?"

   Yuri Bezmenov, ex-espião da KGB, já nos alertava sobre isso na década de 1980. Ele dizia que uma população manipulada, mesmo tendo provas, não adianta nada apresentar provas tais como livros, fontes primárias, fotos, documentários, etc, eles não acreditarão e atacarão o mensageiro, somente acreditarão quando estiverem com a bota na cara. Contudo, já passamos de fase, atualmente mesmo com a bota na cara tem pessoas que ainda assim não acreditam. Vide o 08 de janeiro no Brasil. Pessoas condenadas a anos de prisão e ainda continuam defendendo seus algozes.

   A grande propaganda, aquilo que chamam de grande mídia, de um modo geral inclui o jornalismo, o entretenimento, futebol, filmes, peças de teatro, etc, tudo que movimenta massas, tudo que leva as pessoas a se prostituírem num comício ou, por exemplo, num show esperando horas para entrar, muitas vezes colocando barracas, ficando a noite inteira para idolatrar uma pessoa (ou pessoas) que sequer sabe(m) da sua existência e, depois de conseguirem entrar ficam pisando no barro, às vezes em fezes e urina, quando não levam um saco de urina pela Cabeça. E ainda pagam por isso.

   O problema de ser burro ou estúpido é que burros e estúpidos são malignos em si mesmos. Pessoas assim não pensam, elas somente agem. E suas ações sempre prejudicam os outros. Há no mundo e principalmente no Brasil a idéia de que pessoas burras ou estúpidas são coitadinhas. Nada mais errado! Todo burro ou estúpido é uma pessoa perigosíssima e não pode chegar em posições de poder.

   Não confunda inteligência com astúcia maligna. Inteligência está fortemente ligada ao bem, ao belo e ao verdadeiro. Decai a Inteligência decai a Moral e vice-versa, não importando qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.

   Astúcia maligna vem da estupidez. Todo burro é astucioso maligno, pois só agirá em proveito próprio porque só consegue vislumbrar coisas simples. Seu campo de visão é limitadíssimo, então só consegue agir em proveito próprio para levar vantagem em tudo, mesmo se prejudicando sempre e sempre prejudicando os outros.

   Em construção...


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https://www.poder360.com.br/opiniao/edward-bernays-a-manipulacao-das-massas-e-a-manufatura-de-costumes/

https://observatoriodacomunicacao.org.br/clippings/edward-bernays-a-manipulacao-das-massas-e-a-manufatura-de-costumes/