sábado, 27 de maio de 2023

A Chacina

   Jeremias C. Sabotai estava caído em frente ao alpendre da casa principal, sendo que Marcos conversava com ele. Jeremias havia levado um tiro do lado esquerdo na altura da barriga, porém não acertou nenhum órgão vital. Faziam três dias que ele estava sendo torturado pela família pervertida de sadomasoquistas que se auto alcunhava de “Os Escolhidos” e tinha chegado de surpresa na região faziam poucos dias. A localidade no interior de um município retirado do mundo tornar-se-ia palco de uma das mais brutais chacinas da história da humanidade.

   Jeremias; que apenas a três dias viu toda sua família morrer nas mãos desses pervertidos: sua esposa, sua mãe, seus dois filhos e sua irmã; estava caído em frente à varanda com Marcos sentado à sua frente no penúltimo degrau da escada da varanda, fazendo chacota da cara dele. Jeremias caído no chão da terra com os pés aos pés de Marcos. As mulheres, Pâmela e Roseli, uma em cada lado de Marcos, riam de tudo aquilo. Às vezes, Vera com um mini maçarico portátil em forma de pistola queimava Jeremias por diversão e lambia sadicamente suas feridas.

   Jeremias passou três dias vendo Marcos, Juca, Antônio e Gervásio transarem com as quatro na sua frente, inclusive às vezes por cima dele. As quatro são Pâmela, Roseli, Vera e Maria. Além de estuprarem sua esposa, sua mãe e sua irmã, é claro.

   Os Escolhidos consistiam de uma “família” de 11 pessoas errantes: o pai Marcos de 36 anos, seu irmão mais velho Juca de 38 anos, as duas esposas Pâmela e Roseli, a esposa Maria de Juca, o filho Peter de Juca, a enteada Vera de 17 anos que fora escravizada de outra família quando pequena e não lembrava mais disso, Kelly a filha mais nova de Marcos e Roseli com 9 anos, Gervásio um amigo e simpatizante sádico da “família” com uns 30 anos, Antônio com 42 anos primo de Marcos e de Juca e o bebê de 6 meses filho de Pâmela cuja paternidade não se sabia, mas era tido como o “bebê da família”, ou seja, era de todo mundo.

   Os Escolhidos apossaram-se da propriedade de Jeremias e pretendiam estabelecer morada por ali durante um tempo, até vagearem de novo. Eles chegaram ali com duas sacolas de armas e munições, entre pistolas, revólveres, uma espingarda calibre 12, incluindo também uma antiga submetralhadora Beretta M12 de 9mm comprada há anos clandestinamente de um quartel do Exército.

   Jeremias, apesar de estar debilitado pela tortura e pelo tiro, estava consciente, um tanto cansado fisicamente, mas consciente mentalmente. Marcos, sentado no penúltimo dos quatro degraus, inclinou-se em direção a Jeremias apontando o revólver na intenção de dar fim na vida dele, porém, Pâmela pediu que esperasse mais um tempo pois gostou de Jeremias. Marcos, nesta hora, distraiu-se e Jeremias aproveitou-se desta distração e, meio sem jeito, começou a bater com os pés no revólver. A arma caiu no chão e Jeremias aproveitando-se do vacilo deles, pois hesitaram alguns segundos ante ao inusitado da reação inesperada; Jeremias, com os pés descalços, pois estava somente de calças, pegou rapidamente a arma com os pés encolhendo as pernas segurando o revólver apressadamente com as duas mãos.

   O primeiro a ser alvejado foi Marcos, com dois tiros. A segunda, com um tiro na cabeça, foi Pâmela; Roseli foi a terceira com um tiro que pegou entre o ombro e o peito. Vera que estava sentada no chão afastada uns 3 metros de Jeremias à sua esquerda foi a quarta com dois tiros rápidos, o primeiro pegou na boca e o segundo no pescoço. Jeremias, que descarregou a arma ainda meio sentado meio deitado, pois não deu tempo de levantar - tudo aconteceu muito rápido -, olhou para os lados, levantou-se, colocou o revólver vazio na cintura, pegou uma pistola .40 que estava com Pâmela, um revólver 38 de Roseli e outro que estava na cintura de Marcos.

   Olhou de novo para os lados, inclinou a cabeça primeiro para um lado depois para outro, gesto que se tornaria constante para certificar-se da morte deles. Jeremias não demonstrava emoção nenhuma. Deu uns passos em direção à Vera, abaixou-se e pegou a quinta arma, uma pistola .380. Estava agora com três na cintura e uma em cada mão. Tirou o vazio da cintura e jogou no chão, colocou a .380 na cintura e pegou o mini maçarico que estava com Vera e cauterizou de vez a própria ferida do tiro e largou o mini maçarico no chão.

   Saiu caminhando rente à casa apoiando-se na parede. Antônio, que escutara os tiros, veio correndo e ao dobrar a esquina da casa deparou-se a uns 3 metros com Jeremias, este levantou o braço atirando duas vezes em Antônio, uma pegou na cabeça e outra pegou entre o pescoço e o peito. Antônio caiu morto. Jeremias inclinou a cabeça para um lado e para outro. Virou as costas e voltou em direção à porta principal da casa onde tinha ficado três dias sendo humilhado, pisoteado, cuspido, queimado e torturado.

   Jeremias sentou nos degraus e ficou esperando. Após alguns minutos Gervásio também veio correndo ver o que tinha acontecido. Jeremias atirou de uns 10 metros com duas armas acertando, pela distância, as pernas e a barriga de Gervásio. Caminhou em direção a Gervásio caído e este meio em estado de choque olhava-o com um misto de medo e admiração. Jeremias parou ao lado e com um olhar entediado aborrecido pisou no pescoço dele, mas não para torturá-lo, é que Gervásio tentava segurar o sangue que se esvaia da própria barriga e ficava se mexendo muito e isso poderia atrapalhar a pontaria. Jeremias esticou o braço calmamente e sem pestanejar atirou duas vezes na cara dele com a .40. Inclinou a cabeça de um lado para outro, virou-se e foi em direção à casa.

   Entrou na casa que a apenas três dias era seu lar, mas agora representava mais nada. Sua intenção era pegar as duas sacolas de armas e munições. Ao chegar no quarto que fora por anos seu quarto de casal onde dormia com sua esposa agora morta jogada no chão do galpão depois de ser barbaramente torturada e morrer por não aguentar as torturas e sevícias, Jeremias viu o bebê da “família” em cima da cama de casal. Chegou ao lado, esticou o braço quase encostando o 38 na cabeça do bebê da “família”, mas não atirou. Sentiu raiva de si mesmo; não por não atirar, mas por se segurar em não atirar... e sentiu raiva disso, mas não sabia mais que emoção era essa.

   Tirou as armas da cintura, sentou na cama, calçou suas meias e botas, vestiu uma camisa abotoando-a, pegou uma das sacolas colocou as armas dentro ficando com uma na cintura e outra na mão. Colocou a sacola a tiracolo e sentiu o peso das armas. Escapou de sua boca um: “pesado”. Pegou a outra sacola de armas, mas devido ao cansaço e à fraqueza não foi capaz de carregar as duas. Saiu somente com uma das sacolas a tiracolo.

   Logo que desceu da escada de 4 degraus do alpendre pisando no chão de terra, Kelly de 9 anos, que por ter sido estuprada e sodomizada desde pequena desenvolvera um hábito de ficar por horas solitariamente em cima de uma árvore, saiu correndo do mato dos fundos da casa gritando raivosamente com uma faca na mão em direção a Jeremias. Ele ficou calmamente parado olhando aborrecido com o cenho franzido esperando-a se aproximar. Meteu uma bala na cara estourando a cabeça dela a uns dois metros de distância. Inclinou vagarosamente a cabeça de um lado para outro.

   Pensou alguns segundos no que tinha acontecido. Voltou a entrar na casa, parou ao lado da cama de casal e estourou a cabeça do bebê da família. Inclinou a cabeça de um lado para outro certificando-se. Saiu da casa, caminhou em direção à caminhonete e jogou a sacola no chão do carona. Voltou à casa e pegou a outra sacola colocando-a junto da primeira.

   Fechou a porta, apertou o alarme fechando as janelas e travando as portas. Ao voltar para enterrar sua família por um simples sentimento de obrigação, nada além disso, percebeu que Marcos ainda estava vivo. Foi em direção a ele e no caminho ao cruzar por Antônio caído morto disparou mais duas vezes no cadáver.

   Ao chegar perto viu que Marcos começava a ficar consciente, pois os dois tiros haviam pegado na altura da barriga e não o mataram. Jeremias inclinou calmamente a cabeça para um lado... e depois para outro. Olhou para Vera com a cabeça estourada e os miolos ensanguentados escorrendo misturando-se com a terra no chão, pegou o mini maçarico que estava jogado ali e colocou na cintura.

   Foi em direção a um toco de lenha em cujo estava cravado o machado que ele usava para rachar lenha e se exercitar. Retirou o machado do toco, foi em direção à Marcos sendo que este agora estava quase que plenamente consciente. Jeremias seguiu segurando o machado pela ponta do cabo arrastando-o pelo chão. Marcos percebeu o que iria acontecer e começou a ficar assustado, mas não gritou neste momento, somente ficou olhando desafiadoramente para Jeremias.

   Jeremias pisou no joelho esquerdo de Marcos e num golpe rápido decepou completamente o pé esquerdo dele. Ante à violência do golpe as armas caíram da cintura. Marcos arregalou os olhos, mas não gritou, somente gritou quando Jeremias abaixou-se e com o mini maçarico cauterizou o cotoco decepado.

   Ao som dos berros de Marcos, Jeremias pegou as armas recolocando-as na cintura, entrou na casa, pegou o cutelo de tamanho médio que sua esposa tantas vezes usou para preparar as refeições, e colocando o joelho esquerdo em cima do braço direito de Marcos firmando-o no degrau de madeira da escada, decepou a mão direita na altura do pulso. Depois novamente se valeu do mini maçarico.

   Passou por cima de Marcos agora já gritando, berrando, desmaiando e voltando à consciência e desmaiando de novo e acordando e berrando, ajoelhou-se com um dos joelhos no braço esquerdo de Marcos e decepou todos os dedos da mão esquerda, mas somente os dedos. Teve de dar uns 4 ou 5 golpes de cutelo. O mini maçarico entrou em ação pela última vez.

   Marcos agora já completamente em estado de choque não percebia a própria realidade, seu olhar era de alguém perdido virando a cabeça de um lado para outro tentando entender alguma coisa, mas não entendia nada. Nem dor já não sentia mais, somente pavor genuíno puro de instinto primário.

   Aproveitando o ensejo da situação e o machado que estava dando sopa por ali, Jeremias inclinou a cabeça de um lado para outro, pegou o machado e alisando o fio dele pensou no pescoço dos mortos e começou a desmembrar todos os Escolhidos que estavam ali, um por um - cabeça, tronco e membros separados -, inclusive o bebê da família, menos Marcos, este foi poupado da decepação completa, pois morreu à míngua. Ao chegar em Roseli Jeremias percebeu que ela ainda estava viva e respirando, o tiro não fôra mortal, porém, os golpes de machado completaram o serviço.

   Enterrou sua família ao pé de um abacateiro que ele mesmo havia plantado anos atrás, entrou na caminhonete e seguiu pela estrada única de acesso. Depois de uns 200 metros cruzou com Juca, sua esposa Maria e seu filho Peter vindos a pé pela estrada, pois tinham ido na “venda”.

   Como a caminhonete tinha película fumê nos vidros eles pensaram que era alguém de Os Escolhidos que veio dar uma carona. Jeremias parou a caminhonete a uns 10 metros deles, pegou a submetralhadora, abriu a porta e desceu saindo detrás da porta atirando. Derrubou os três. Inclinou a cabeça de um lado para outro e, como sempre agora, o olhar calmo, tranquilo e aborrecido com cenho franzido.

   Chegou ao lado de Juca apontando a submetralhadora para a cara dele, este, ainda vivo, esticou os braços clamando por alguma coisa parecida com piedade ou misericórdia ou perdão e dizendo falsamente: “pelo amor de deus, não faça isso, por amor a Jesus...”.

   Jeremias inclinou-se um pouco para a frente e apertou o gatilho. Só parou quando a máquina descarregou completamente e ainda assim ficou mais alguns segundos apertando o gatilho.

   Jeremias, antes de entrar na caminhonete, olhou para eles e inclinou calmamente a cabeça de um lado para outro... entrou e foi embora.