quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Considerações acerca da Existência de Deus

   Comecemos pelo Gênesis.

   Deus criou o mundo em seis dias e no sétimo descansou. Aliás, o número da besta, 666, citado em Apocalipse vem daí, "Aquele que tem entendimento calcule o número da besta, pois é número de homem. Seu número é seiscentos e sessenta e seis"; a versão mais plausível é a de que, como Deus criou o homem no sexto dia, a repetição três vezes do número 6 é um deboche do (criado por Deus) demônio para com a Santíssima Trindade, o ser humano querendo ser Deus pela influência do capeta. Alguns dizem que 666 referia-se ao Imperador Romano Nero... bom, caso for isso, então o Apocalipse já foi, já passou e águas passadas não movem moinhos, além disso, quando o seu João escreveu o Apocalipse, Nero já estava morto de morte matada.

   Continuando com o Gênesis. Vemos que Deus criou um Jardim no Éden com a árvore da vida e com a arvore do fruto do conhecimento do bem e do mal no centro do tal jardim. Da árvore da vida (e de todas as outras árvores) Adão e Eva podiam comer, mas da tal árvore do conhecimento do bem e do mal não podiam, senão morreriam. 

   Aí começou toda a porcaria.

   "A serpente era o mais astuto de todos os animais dos campos (animais selváticos) que o Senhor Deus tinha formado. Ela disse à mulher: é verdade que Deus vos proibiu comer o fruto de toda árvore do jardim?"

   E aí degringolou toda a porcaria.

   Vejamos.

   Em primeiro lugar para quê diabos Deus criou um lugar que Ele mesmo chamava de Éden (Paraíso) e colocou uma restrição que é ao mesmo tempo uma tentação para suas queridas, puras e inocentes criaturas?

   Em segundo lugar, que diabo de Paraíso é esse onde o próprio Deus enfia lá uma "serpente", o mais astuto dos animais, todos criados por Ele mesmo?

   Deus, Onipotente (Todo Poderoso), Onisciente (Sabe Tudo) e Onipresente (está em Toda Parte), o triplo O, aquele que não teve início, não tem meio e não terá fim, o Eterno, o Todo Poderoso, etc, etc, etc, não podia imaginar a cacáca que daria colocando ali um animal astucioso maligno em meio às suas duas únicas criaturas puras e inocentes?

   Vamos adiante.

   Conceitualmente falando-se em Deus cientifica, religiosa e filosoficamente, este Ser é a vida eterna, quem acredita em Deus obrigatoriamente acredita na vida eterna e na alma, não há como dissociar um da outra. Verdadeiramente é o Todo Poderoso. Metafisicamente é a estrutura da realidade, é a própria realidade. Pois então, um deus e/ou vários deuses com características humanas é o que se chama de Mitologia. Não é o Deus de Cristo e de Subotai; é Crom, o deus mitológico de Conan, o bárbaro!

   É o que temos no Antigo Testamento, na Torah e no Alcorão. No Novo Testamento excetuam-se os Evangelhos, pois o Deus ali proposto por Cristo é um Deus corretamente metafísico, é o Pai, o Sabe Tudo, enfim, verdadeiramente o Todo Poderoso na correta acepção da expressão: o Todo Poderoso. Apesar de que Cristo elevou a coisa a um patamar inalcançável a nós, reles seres humanos, porém, veremos isso depois.

   Lembrando que a palavra "absoluto" no significado do dicionário é "o que se apresenta como acabado, pleno", "que não depende de ninguém, independente, soberano", etc.

   E "absoluto", num sentido filosófico, vai um pouco além do significado do dicionário; é "completo, pronto, acabado, pleno, soberano e que por si basta".

   E não estou falando do "absoluto" de Kant e outros filósofos do mesmo período.

   Deus, caso existir, Deus é absoluto, absoluto é Deus.

   Pois então, para quê diabos um Ser desses precisaria criar o mundo?

   Estava se sentindo tão sozinho, errando de bar em bar?

   Lembrando que um Deus com características humanas é mitologia. E mitologia é invenção humana.

   Vamos adiante.

   A Queda do Homem (e da Mulher também, sejamos justos).

   "E eis que ouviram o barulho {dos passos} do Senhor Deus que passeava no jardim, à hora da brisa da tarde. O homem e sua mulher esconderam-se da face do Senhor Deus, no meio das árvores do jardim. Mas o Senhor Deus chamou o homem e disse-lhe: 'Onde estás?'

  E ele respondeu: 'Ouvi o barulho dos vossos passos no jardim; tive medo porque estou nu e ocultei-me."

   Adão cobriu suas partes de vergonha, pois antes andavam tranquilamente peladões pelo Paraíso.

   E a porcaria toda continuou. O "Senhor Deus" perguntou se porventura Adão tinha comido do fruto da árvore que Ele havia proibido de comer.

   Aí começou o jogo de empurra-empurra que perdura até hoje na humanidade, um colocando a culpa e a responsabilidade no outro. Adão colocou a culpa na Eva que, por sua vez, colocou a culpa na "serpente"... e o tal Senhor Deus ferrou com os três. Onde Deus estava que não previu o excremento que ia dar?

   Aliás, sobre a "serpente" é interessante salientar que a Bíblia não fala qual o formato da serpente antes da merda feita, somente diz: "Então o Senhor Deus disse à serpente: 'Porque fizeste isso serás maldita entre todos os animais e feras dos campos; rastejarás sobre teu próprio ventre e comerás pó todos os dias de tua vida'".

   Supõe-se então que antes a serpente tinha cabeça, tronco e membros?

   Qual a forma e o formato da tal serpente antes de seduzir a Eva?

   A Bíblia não diz!

   Aquela imagem da cobrinha enrolada numa árvore oferecendo a maçã para a Eva é uma alegoria falsa, somente animais selváticos quadrúpedes otários acreditam naquilo ali. Sequer se sabe se realmente eram árvores as da vida e do conhecimento.

   Adiante.

   Vemos que, quando se apresentou a primeira oportunidade para o tal "Senhor Deus" ensinar o perdão para suas duas queridas criaturas, Ele optou por ensinar a vingança e o castigo. Nessa hora concordo com o escritor José Saramago quando afirmava que esse deus do Antigo Testamento é um deus cruel e vingativo; e Saramago afirmava isso geralmente em relação à passagem de Jó, que o tal "Senhor Deus" tentado pelo Satanás aceitou ferrar com Jó... claro que depois devolveu tudo em dobro para o coitado do Jó, mas qual a necessidade de primeiro castigar para depois premiar sendo que Jó fez absolutamente nada contra deus?

   Para testar a fé de Jó?

   Ora, lembrem que Deus é o Todo Poderoso, bastaria Ele ter olhado para o satanás, a serpente, e dito: "Cai fora, como se atreve a Me tentar?"

   Além disso, Deus já não havia condenado a serpente a rastejar?

   Satanás veio rastejando tentar o próprio Deus?!?

   A Bíblia não explica... e quem gosta das coisas subjetivas, mal ditas, ditas enviesadamente, distorções, misturas de verdades com mentiras, coisas mal explicadas, chavões, sofismas, é o pai da mentira.

   Isso não é deus, isso é o diabo. Esse tal "Senhor Deus" do Antigo Testamento parece-me o satanás, o pai da mentira que habilmente enganou os homens (e as mulheres) a escreverem tais coisas apresentando um deus cruel, vingativo e injusto ao extremo.

   E Deus expulsou o homem (e a mulher) do paraíso e condenou o homem a trabalhar pelo resto da vida: "E disse em seguida ao homem (somente ao homem): 'Porque ouviste a voz da tua mulher e comeste do fruto da árvore que eu te havia proibido de comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos penosos o teu sustento todos os dias de tua vida'".

   Que bela mensagem: Trabalhar é um castigo penoso dado pessoalmente pelo Todo Poderoso.

   E somente o homem foi condenado a trabalhar, a mulher foi condenada a sofrer as dores do parto!

   Lembrando que o criador de tudo é Deus.

   Fazendo agora uma analogia; e lembrando que "Deus é Pai", bondoso, onisciente, etc.

   Imaginemos que um pai tem um filho de 12 anos e proíbe o filho de fumar maconha, porém, esse pai tem um amigo sabidamente maconheiro e sai para trabalhar deixando o filho e a esposa com o maconheiro. Ao voltar para o paraíso (seu lar) o pai encontra os três, filho, esposa e amigo, chapadões no sofá da sala.

   O pai diz para o filho e a esposa: "Não proibi de fumar maconha?"

   Eles respondem: "Foi teu amigo quem nos ofereceu."

   O pai dá uma bela surra no amigo e o faz sair rastejando da sua casa; e expulsa de casa (do paraíso) o filho de 12 anos e a esposa, "vão se virar, malditos".

   Que pai seria esse?

   Como classificaríamos tal pai?

   Perante o Eterno, não dá nem para considerar Adão e Eva tendo 12 anos, aliás, não tem nem comparação, eles recém tinham sidos criados.

   O Antigo Testamento está repleto de tais coisas, e nem cheguei em Sodoma e Gomorra, em Davi, em Jó... o Rei Davi, considerado perfeito por Deus, aquele Rei Davi, um psicopata, um tirano, um ditador sem escrúpulos comparável a um Stalin, a um Hitler.

   Adiante.

   Para não me estender no assunto e ser prolixo, vamos saltar quanticamente para o Novo Testamento, mais precisamente para os Evangelhos. Nesse "meião", analogicamente tem várias outras coisas que vão indo aos poucos.

   Conceitualmente, o Deus de Cristo é um Deus, absoluto, porém (sempre tem um porém), que deus é esse que envia o próprio filho (Deus também) para ser sacrificado?

   Para nos livrar do pecado original?

   Bom, somos criaturas de Deus, feitos à imagem e semelhança Dele, então como é possível termos alguma coisa original?

   Dizem que Deus é perfeito (e tem de ser obrigatoriamente perfeito, senão não seria Deus, seria mitologia; caso Deus seja perfeito, bom, há controvérsias tendo em vista suas criaturas imperfeitas). Deus é perfeito, mas as criaturas imperfeitas negam a perfeição do criador.

   Tem algumas passagens da Bíblia que dizem que Deus não pode desdizer-se, por exemplo, 2 Timóteo 2:13; ora, que Deus é esse que não pode desdizer-se?

   O livre-arbítrio vale somente para as criaturas?

   Esse Deus é um demiurgo?

   "Deste modo, o demiurgo põe os olhos no que é imutável e que utiliza como arquétipo, quando dá a forma e as propriedades ao que cria. É inevitável que tudo aquilo que perfaz deste modo seja belo. Se, pelo contrário, pusesse os olhos no que devém e tomasse como arquétipo algo deveniente, a sua obra não seria bela." Platão (o Arístocles), Timeu.

   Lembrando que a tradução mais aceitável de "demiurgo" é "artesão"; o demiurgo de Platão (e Timeu e Sócrates) é o Artesão do universo, quase um Arquiteto, falta-lhe o diploma em arquitetura para ficar apto a abrir o compasso e enfiar o esquadro.

   "Portanto, é evidente para todos que pôs os olhos no que é eterno, pois o mundo é a mais bela das coisas devenientes e o demiurgo é a mais perfeita das causas."

   Vemos que o demiurgo é uma causa. Depois se segue falando da verossimilhança:

   "Mas se providenciarmos discursos verossímeis que não sejam inferiores a nenhum outro, é forçoso que fiquemos satisfeitos, tendo em mente que eu, que discurso, e vós, os juízes, somos de natureza humana, de tal forma que, em relação a estes assuntos, é apropriado aceitarmos uma narrativa verossímil e não procurar nada além disso."

   Dito isso, tal como Timeu, é forçoso que fiquemos satisfeitos, eu que escrevo e vós, leitores; é apropriado aceitarmos uma narrativa verossímil, pois tanto a prova de que Deus existe quanto a prova de que Deus não existe, ninguém tem.

   Poderia agora falar do Espiritismo, que é Platão escarrado e distorcido. O mundo das idéias foi transformado no mundo dos espíritos por Hippolyte Léon Denizard Rivail, o Allan Kardec, mas não vamos misturar as coisas transformando-as numa salada de frutas, Kardec já fez isso suficientemente e não pretendo desdizer-me tal como o deus de Timóteo da Bíblia.

   Nessa hora o "doutos" senhores que nunca estudaram vem desdizer dizendo que "não é bem assim", "não foi nesse sentido", blablabla.

   Lembro que a Bíblia não foi escrita originalmente dividida em capítulos e versículos, os escribas originais sequem pensavam nisso. A divisão em capítulos foi feita pelo clérigo inglês Stephen Langton no século XIII em 1227. A divisão em versículos numerados se deu a partir de 1527. "Santi Pagnini foi o primeiro a tentar organizar a Bíblia em versículos numerados em 1527. Apesar da publicação de Pagnini, foi o impressor Roberto Estienne que criou a versão utilizada até hoje. Em 1551, Roberto Estienne fez a divisão em versículos da versão grega do Novo Testamento e em 1555 fez a divisão completa da versão latina".

   Essas divisões em capítulos e versículos se deram por uma mera questão administrativa que facilita a leitura, porém, o ser humano, a criatura imperfeita de um Deus perfeito teima em decorar e citar versículos tirando-os do contexto do capítulo e/ou do texto todo.

   O Cristão atual é um mero decorador e repetidor de versículos, é um papagaio de proporções bíblicas.

   O Alah do Islamismo de Maomé da Aisha é um deus parecido com o do Pentatêuco (A Torah e, basicamente, o Antigo Testamento), com algumas diferenças, como, por exemplo, Alah dá nome a todas as coisas enquanto que o Deus Cristão e o Deus Judeu deixaram para as criaturas nomearem as coisas do mundo. Isso dá algumas diferenças de mentalidade entre as civilizações Ocidental e Oriental.

   Apesar de que, em se tratando de loucuras, desgraças, guerras, sofrimento, as diferenças entre o Ocidente e o Oriente deixam de existir e o mundo é um só. A história do mundo é uma coleção de loucuras e desgraças.

   Voltando aos Evangelhos, especificamente ao Cristo, vemos que ele elevou a coisa toda a patamares inalcançáveis para nós, reles seres humanos. Cristo foi o único que cumpriu o que disse e não ficou de empurra-empurra de culpa e responsabilidade.

   "Não julgueis que vim abolir a lei ou os profetas. Não vim para os abolir, mas para confirmá-los, levá-los à perfeição".

   No Sermão da Montanha Cristo falava da lei, basicamente dos Dez Mandamentos, e ele foi a única pessoa que não infringiu nenhum. Não mentiu (levantar falso testemunho), não roubou, não matou, etc.

   Pelo menos Cristo tem Moral, pois os Dez Mandamentos são a Moral em si, faça o certo não faça o errado. Pode-se até considerar 8 Mandamentos, pois caso você não acredite em Deus tiraremos o primeiro e o terceiro, os oito restantes são a base da Moral, são os bons Princípios.

   Lembrando que Princípio é aquilo que está no início e antes não precisa ter nada, pode até ter uma explicação em palavras, mas não se faz necessário, é auto-evidente, nascemos sabendo disso.

   Pelo menos era assim até o advento de Kant com o tal do "a priori" dele e bagunçar a coisa toda.

   Exemplo: Por que matar é errado? Por que mentir é errado?

   O máximo de resposta que conseguimos elaborar para essas perguntas é que nascemos sabendo disso, nascemos sabendo que isso é errado.

   "Então por que fazemos?" alguém poderá perguntar, isso é outra questão que não cabe aqui discorrer, pois tomaria muito tempo e não é o escopo.

   Avante.

   Mesmo um ateu conserva a Moral; e faço uma distinção entre Ateu e Comunista, pois como escreveu Karl Marx no manuscrito Propriedade Privada e Comunismo:

   "Como, no entanto, para o socialista, o conjunto do que se chama história mundial nada mais é que a criação do homem pelo trabalho humano, e a emergência da natureza para o homem, ele, portanto, tem a prova evidente e irrefutável de sua autocriação, de suas próprias origens. Uma vez que a essência do homem e da natureza, o homem como um ser natural e a natureza como uma realidade humana, se tenha tornado evidente na vida prática, na experiência sensorial, a busca de um ser estranho, um ser acima do homem e da natureza (busca essa que é uma confissão da irrealidade do homem e da natureza) torna-se praticamente impossível. O ateísmo, como negação desse irrealismo, não mais faz sentido, pois ele é uma negação de Deus e procura afirmar, por essa negação, a existência do homem. O socialismo dispensa esse método assim tão circundante; ele parte da percepção teórica e prática sensorial do homem e da natureza como seres essenciais."

   Vemos que, para o Comunismo, nem o Ateísmo faz sentido, pois Marx parte da abstração de que o homem é uma autocriação, sendo que Marx diz que a idéia de um ser estranho, um ser supremo (Deus) é também uma abstração (o que é verdade), porém, Marx, do nada, afirma que esta abstração é deturpada (a idéia de Deus) e a outra abstração (a idéia dele de que o homem é uma autocriação) não é uma abstração deturpada, sendo que o próprio Marx afirma que:

   "...quem criou o primeiro homem e a natureza como um todo? Só posso responder: sua pergunta é, em si mesma, um produto da abstração. Pergunte a si mesmo como chegou a essa pergunta. Pergunte-se se sua pergunta não nasce de um ponto de vista a que eu não posso responder por que ele é deturpado... Não pense nem formule quaisquer perguntas, pois logo que você o faz sua abstração da existência da natureza e do homem se torna sem sentido. Ou será você tão egoísta que concebe tudo como não-existente, mas quer que você exista?"

   E depois Marx diz que o homem criou-se pelo trabalho, "a criação do homem pelo trabalho humano"... estava lá o trabalho numa boa vivendo sua vida e, de repente não mais do que de repente, puf, o homem se autocriou-se consigo a si mesmo.

   O conceito de "autocriação" no sentido de existência é uma coisa estúpida em si!

   Nessa tu pisou feio na bola, velho charlatão maligno... e ainda distorce Aristóteles. O estagirita revolve-se na cova e implora à Causa Primeira que conceda que ele e Marx voltem à vida... só para poder quebrar-lhe a cara, chutar-lhe as costelas e fazer Marx sair rastejando sobre o próprio ventre.

   Acredito que Marx foi um dos vendilhões chicoteados por Cristo no templo, mas o velho charlatão maligno não cansa de apanhar, volta e meia ele reencarna na pessoa de um dos seus incontáveis estúpidos seguidores.

   E antes que alguém venha me chamar de gnóstico: Vá para a PQTP!

   Tenho uma forte simpatia por Cristo, apesar de que ele terminou torturado, seviciado, chicoteado, pregado numa cruz e espetado por uma lança.

   Manteve-se coerente consigo, teve Coragem, tem Moral!

   Se alguém puder, refute minhas palavras!


https://www.bibliaon.com/

https://www.bibliaonline.com.br/vc/ex/20

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/363788/mod_resource/content/0/Plat%C3%A3o_Timeu-%20Completo.pdf

https://www.marxists.org/portugues/marx/1844/manuscritos/cap04.htm


domingo, 3 de dezembro de 2023

O Brasileiro/Afegão Médio

Na fila do pão, com o mercado atendendo pela grade da porta, acabei de presenciar a seguinte conversa entre dois jovens (entre 20 e 25 anos), um na fila e outro esperando no carro. Tinham umas 10 pessoas na fila, por volta das 20:30 horas.

O da fila começou falando alto em direção ao outro no carro que respondia espichando o pescoço pela janela:

- Que leite que tu quer... qué o leite do saco ou na caixa?

Ao que o do carro respondeu depois de pensar uns segundos:

- Qualquer leite que tu levar aí ta bom pra mim!

Além de risos contidos começando na fila houve alguns segundos de silêncio na conversa entre os dois, pois o da fila estava escolhendo mais alguns itens pela grade da porta.

O da fila então voltou à carga:

- Mas é tu quem quis... escolhe aí... qué o leite do piá?

Os risos contidos na fila passaram a serem risadas.

O do carro:

- Cara, nessa parte de leite aí tu sabe bem mais do que eu, escolhe aí.

Tanto um quanto outro respondendo com um sorriso debochado no rosto.

Até que o da fila terminou as compras e saiu rindo em direção ao carro... e foram embora.

A fila estava dando risadas nessa hora.


Uma continuação da conversa seria mais ou menos assim:

O da fila:

- Tá mas... vê aí, escolhe logo, o cara ta esperando aqui.

- Quem trabalhou em hospital levando leite nos quartos foi tu, escolhe aí meu.

- Ta, mas tu é de mais idade e tem mais experiência nisso.

- Vai partir pra essa? Tu é mais novo e precisa aprender a pedir leite, nem sempre estarei aqui.

E assim seguiria, esse é o Brasileiro!

sexta-feira, 3 de novembro de 2023

Instalar Embroidermodder no Debian

 Faça como usuário, não como root, use o sudo quando indicado.


$ mkdir embroi
$ cd embroi
$ git clone https://github.com/Embroidermodder/Embroidermodder/
$ cd Embroidermodder

$ git submodule init
$ git submodule update

$ sudo apt-get update
$ sudo apt-get install qt6-base-dev libqt6gui6 libqt6widgets6 libqt6printsupport6 libqt6core6 libgl-dev libglx-dev libopengl-dev
$ sudo apt-get install libxcb-randr0-dev libxcb-xtest0-dev libxcb-xinerama0-dev libxcb-shape0-dev libxcb-xkb-dev
$ sudo apt-get install '^libxcb.*-dev' libx11-xcb-dev libglu1-mesa-dev libxrender-dev libxi-dev
$ sudo apt-get install libxkbcommon-x11-dev libxkbcommon-dev libvulkan-dev libxcb-*

$ vim CMakeLists.txt
Abra o arquivo CMakeLists.txt com o seu editor de texto preferido e substitua o conteúdo (copie e cole) pelo conteúdo abaixo ou apague todo o conteúdo existente e coloque o conteúdo abaixo.

# The Embroidermodder Project
#

cmake_minimum_required(VERSION 3.16)
project(embroidermodder VERSION 2.0.0 LANGUAGES C CXX)

#include(config.cmake)

find_package(Qt6 REQUIRED COMPONENTS Core OpenGL Widgets PrintSupport)

qt_standard_project_setup()

set(CMAKE_C_STANDARD 99)
set(CMAKE_CXX_STANDARD 17)

add_compile_options(
-g
-O2
-Wall
)

if(CMAKE_BUILD_TYPE STREQUAL "Debug")

set(CMAKE_C_STANDARD_REQUIRED ON)
set(CMAKE_CXX_STANDARD_REQUIRED ON)

add_compile_options(
-Wextra
-fprofile-arcs
-ftest-coverage
)

add_link_options(
-fprofile-arcs
-ftest-coverage
)

endif()

add_subdirectory(extern/libembroidery)

qt_add_executable(embroidermodder2 WIN32 MACOSX_BUNDLE
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/cmdprompt.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/embdetails-dialog.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/embroidermodder.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/imagewidget.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/interface.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/layer-manager.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/mainwindow.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/mdiarea.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/mdiwindow.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/objects.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/preview-dialog.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/property-editor.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/selectbox.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/settings-dialog.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/statusbar.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/undo-commands.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/undo-editor.cpp
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/view.cpp

${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/embroidermodder.h

${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/core.c
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src/object_data.c

${CMAKE_SOURCE_DIR}/extern/tomlc99/toml.c

${CMAKE_SOURCE_DIR}/assets/assets.qrc
)

include_directories(
${CMAKE_SOURCE_DIR}/extern/tomlc99
${CMAKE_SOURCE_DIR}/extern/libembroidery/src
${CMAKE_SOURCE_DIR}/extern/libembroidery/src/stb
${CMAKE_SOURCE_DIR}/extern/libembroidery/src/nanosvg
${CMAKE_SOURCE_DIR}/src
)

target_link_libraries(embroidermodder2 PRIVATE
Qt6::Core
Qt6::Widgets
Qt6::PrintSupport
Qt6::OpenGL
embroidery_static)

if (WIN32)
else(WIN32)
target_link_libraries(embroidermodder2 PRIVATE m)
endif()

set_target_properties(embroidermodder2 PROPERTIES
WIN32_EXECUTABLE ON
MACOSX_BUNDLE ON)

install(TARGETS embroidermodder2
BUNDLE DESTINATION .
RUNTIME DESTINATION ${CMAKE_SOURCE_DIR}/build
)

Salve e saia do arquivo.

$ bash build.sh


Parará um tempo conforme a imagem, aguarde terminar.

$ cd build
$ ./embroidermodder2




Depois pode criar um lançador na área de trabalho com o comando ./embroidermodder2 e o Diretório de trabalho tu coloca /caminho/caminho/Embroidermodder/build e o ícone é à sua escolha.




Feito.

sexta-feira, 18 de agosto de 2023

Trocar Conceitos por Palavras (Raciocínio Metonímico)

   Tudo o que falamos e escrevemos são nossos pensamentos ou raciocínios, mesmo quando falamos ou escrevemos mentiras. Pelo quê uma pessoa fala ou escreve podemos saber se esta pessoa é burra ou não.

   Grosso modo, é o que está no dicionário. O significado é um signo explicado por outros signos, ou seja, é dizer o que é uma palavra através de outras palavras. Não entrarei de novo no “nome das coisas” de Aristóteles que, neste sentido, são os signos. E lembrando, um signo é algo que simboliza alguma coisa; toda palavra é um signo, mas nem todo signo é uma palavra. Uma imagem também é um signo, um cheiro é um signo, um gosto, etc; pois representa, simboliza uma coisa ou várias coisas ao mesmo tempo. Um mesmo signo pode ter vários simbolismos.

   Então, Conceito é aquela imagem mental abstrata, é o que está dentro da nossa cabeça. Repito, esta definição de conceito é para o entendimento deste texto, sabemos que existem outros significados e/ou definições do signo Conceito. Não estou aqui determinando que esta definição de Conceito seja absoluta, é somente para o entendimento deste texto; e também não estou inventando nada, esta definição aqui presente tem por base o dicionário e definições de outros autores.

   Lembrando também a diferença entre significado, sentidos e definição. Significado já vimos. Sentidos de um significado também já vimos, mas nunca é demais repetir: sentidos são significados um pouco mais específicos, os "sentidos" os quais podemos empregar uma determinada palavra são o que alguns autores como Saussure chamava de "significante" e Peirce de "interpretante". Por exemplo: “Aquela pessoa tem inteligência” e “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência”. O signo é o mesmo: Inteligência, porém, este signo foi empregado em dois sentidos diferentes. Pelo simples fato de eu dizer que “Aquela pessoa trabalha em uma agência de inteligência” não significa propriamente que estou dizendo que aquela pessoa é inteligente. Simples assim.

   A estrutura das línguas comprova isso e, no caso, da Língua Portuguesa é o que encontramos em qualquer dicionário. Temos sempre o primeiro significado mais próximo do signo (às vezes até numerado, 1, 2, 3, etc), o primeiro é o significado genérico (todo significado é genérico), os outros são os sentidos nos quais podemos empregar o signo. Não me estenderei nesta parte, pois já foi dito isso, mas posso acrescentar que de acordo com o sentido da palavra empregado na frase o referente (o que a coisa é) tem um entendimento um pouco diferente, mas não foge do significado genérico, como vimos anteriormente no exemplo do signo "inteligência".

   Definição é você delimitar a coisa, é você ser mais específico ao dizer o que uma coisa é. Coisa é “tudo o que existe ou possa existir, de natureza corpórea ou incorpórea.” Por exemplo: um lápis é uma coisa corpórea, liberdade é uma coisa incorpórea. Coisa, num sentido mais filosófico pode ser "tudo aquilo que há e tudo aquilo que existe". Tudo o que existe são os objetos corpóreos; tudo que há engloba objetos corpóreos e incorpóreos. Neste sentido, lápis há e existe; liberdade somente há. Uma coisa corpórea se auto-define, pois extraímos as informações dela; uma coisa incorpórea é subjetiva, pois não temos como extrai as informações físicas como quantidade (altura, largura, comprimento, etc), qualidade (cor), etc.

   Lápis: um objeto composto por um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel. Este é o significado do signo “lápis” e é genérico porque significa todos os lápis do mundo que tem um bastão de grafite e são envoltos por uma camada de madeira. Caso eu tomar um lápis em específico, por exemplo, um lápis com um bastão de grafite envolto por uma camada de madeira que serve para rabiscar, escrever e desenhar no papel e é pintado na cor verde, tem o formato sextavado e tem um tamanho de 20 centímetros, estarei dando a “definição” deste lápis em específico, estarei delimitando-o (estarei dizendo o que é esta coisa chamada lápis especificamente), pois tem outros lápis que tem um formato cilíndrico, são na cor preta, etc.

   E há o conceito do signo “lápis”, aquela imagem mental abstrata que se forma na sua mente ao perceber a coisa através dos cinco sentidos básicos: tato, olfato, paladar, visão e audição.

   No momento em que você expressa um conceito em palavras (signos) você está ou significando a coisa (com seus vários sentidos) ou definindo-a ou somente falando (ou escrevendo) sobre ela. Percebam, quando eu escrevi “através dos cinco sentidos básicos” e quando eu escrevi “com seus vários sentidos” empreguei o signo “sentidos” em duas formas (sentidos) diferentes e, a partir daí, o entendimento das duas expressões tornam-se diferentes. Na primeira expressão estou falando dos sentidos básicos do ser humano e na segunda expressão estou falando dos sentidos que o significado de um signo pode adotar de acordo com a circunstância. Simples assim e bastante óbvio.

   Muitas vezes não sabemos expressar um conceito em palavras, não sabemos dizer em palavras o que é tal coisa porque não sabemos o significado e seus vários sentidos e, a partir daí, não conseguimos saber o referente da coisa. Signo, significado (e seus vários sentidos) e o referente. O referente é o que a coisa é em si na realidade.

   Muitas vezes é trabalhoso (mas não difícil) significar e/ou definir um conceito em palavras. Existem conceitos objetivos e conceitos subjetivos. Conceitos objetivos, basicamente, partem dos objetos corpóreos, objetos que existem fisicamente no mundo. E conceitos subjetivos, basicamente, partem de objetos incorpóreos que não existem fisicamente, como no exemplo anterior: lápis e liberdade. Não existe um objeto físico chamado liberdade (qual é o tamanho da liberdade, qual é a cor), porém, sabemos o que é liberdade através do seu significado e da sua definição; o significado e a definição vêm do conceito através da observação da realidade.

   Então, resumindo, “conceito” é aquela imagem mental abstrata que está na nossa mente que vem da observação da realidade e quando externamos essa imagem em palavras torna-se ou um significado ou uma definição ou estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dessa coisa sem significa-la ou defini-la, grosso modo, estamos somente falando (ou escrevendo) a respeito dela sem dizer o que é esta coisa.

   Não entrarei aqui, de novo, nas partes que compõem o todo (ou nos particulares e gerais de Aristóteles), mas darei uma breve explanação com relação ao objeto do assunto: Conceito.

   Como vimos, um conceito é uma imagem mental abstrata e traduzimos os conceitos em palavras, pois é dessa forma que o ser humano se comunica basicamente, através da palavra falada e da palavra escrita.

   Um signo (que simboliza uma coisa) é um geral composto de vários particulares (ou um todo composto de várias partes). Por exemplo: Inteligência. Dentro do conceito Inteligência (expresso através do signo gramatical Inteligência) podemos encontrar várias partes através da observação da realidade. A saber: conhecimento, raciocínio, percepção, etc. São partes que compõem o todo chamado de Inteligência. Podemos decompor qualquer coisa em suas partes através da observação da realidade. Isso é, de certo modo, natural, faz parte do ser humano, nascemos assim, é assim que entendemos e compreendemos as coisas.

   O processo às vezes se dá partindo dos particulares (ou de um particular em específico) e vamos para o todo; e às vezes partimos do todo e vamos decompondo-o em partes, indo e voltando das partes para o todo e vice-versa. Por exemplo, ao consultar o dicionário em busca do significado de um signo (uma palavra neste caso) estamos partindo de uma parte que compõe o todo porque o significado é genérico e não explica especificamente o que é a coisa (o referente). A partir daí temos que raciocinar e investigar mais coisas (partes) para chegar ao entendimento do que é a coisa em si. É um processo natural do ser humano. Um sentido específico de um significado não nos dá um referente absoluto posto que temos de analisar as várias partes que compõem o todo.

   Continuando no exemplo do signo Inteligência (ou poderia tomar qualquer outro signo), mas vamos continuar neste. Inteligência: “faculdade de conhecer, compreender e aprender.” Este é o significado. Inteligência: “capacidade de compreender e resolver novos problemas e conflitos e de adaptar-se a novas situações.” Este é um sentido do signo Inteligência, tirado do dicionário. Dependendo do dicionário temos seis ou sete sentidos um pouco diferentes do significado genérico de Inteligência, mas não completamente diferentes.

   Esta é a base para sabermos o referente, o que é a coisa em si na realidade, além do conhecimento intuitivo e da percepção.

   Como já foi dito, um dicionário não é o “bam bam bam” do entendimento, mas é a base, é onde está a convenção da língua e da linguagem. Quando não se sabe o significado (e os sentidos) de um signo torna-se impossível exprimir em palavras o referente, torna-se impossível expressar o conceito.

   E como já foi dito, a língua e a linguagem são convenções e não tem como ser diferente. Todos nós temos que ter o mesmo significado e sentidos dos signos, pois isso nos dá a base para sabermos o referente na realidade e a realidade é uma só para todos.

   Um bom exemplo neste sentido são as diferentes línguas existentes no mundo. Um Brasileiro por falar a Língua Portuguesa, de certo modo, tem uma mentalidade um pouco diferente de um Alemão que fala a Língua Alemã. Porém, o entendimento básico das coisas é o mesmo. Por exemplo, uma árvore é uma árvore em qualquer lugar mundo não importando em qual língua eu expresso o signo “árvore”. O referente é o mesmo, o conceito “árvore” basicamente é o mesmo. Liberdade, esperança, igualdade, fraternidade, correr, dormir, comer, pular, etc, o conceito básico é o mesmo em qualquer lugar do mundo não importando a língua que se fala.

   O problema é quando se trocam conceitos por palavras.

   Agora tomarei como base o livro de Arthur Schopenhauer “Sobre a Quadrúplice Raiz do Princípio de Razão Suficiente” que é a tese que deu o título de Doutor a Schopenhauer em 1813. Óbvio que tal título de Doutor na época era diferente do título de Doutor que temos hoje em dia, principalmente no Brasil.

   Página 49: “Aristóteles... demonstra cuidadosamente no sétimo capítulo do segundo livro dos Segundos Analíticos que a definição de uma coisa e a prova de sua existência são duas coisas diferentes e eternamente separadas, pois pela primeira tomamos conhecimento do que é pensado, por meio da outra, porém, de que algo assim existe; e como um oráculo do futuro, profere ele a sentença: ‘a existência não pertence à essência de uma coisa; pois existência não é uma propriedade’. Isso significa: A existência jamais pode pertencer à essência das coisas. – Ao contrário disso. O quanto o senhor von Schelling venera a prova ontológica pode ser verificado a partir de uma longa nota da página 152 do primeiro volume de seus Escritos filosóficos de 1809. Mas algo ainda assim mais instrutivo pode ser verificado ali, a saber: que basta matraquear atrevidamente, fazendo ares de grandeza, para lançar poeira nos olhos dos alemães. Mas que até um patrono tão inteiramente deplorável como Hegel, cuja inteira filosofastria era propriamente uma monstruosa amplificação da prova ontológica, tenha querido defende-la contra a crítica de Kant, é uma aliança da qual se envergonharia a própria prova ontológica, por mais que não seja muito de se envergonhar. – Apenas não se espere de mim que fale com apreço de pessoas que levaram a filosofia ao desprezo.”

   Coloquei este trecho para mostrar que a “troca de conceitos por palavras” vem de longe.

   Agora pulo para a página 107: “Amiga – disseram-lhe-, as coisas andam mal para ti, muito mal, desde o dia de teu fatal encontro com o velho cabeça-dura de Königsberg [Kant]; tão mal como para tuas irmãs, a prova ontológica e físico-teológica. Mas, tem coragem: nós não te abandonamos por isso (tu sabes, somos pagos para isso). Entretanto, não há outra coisa a fazer: deves mudar de nome e de vestimentas; porque se te chamarmos por teu nome, todos fogem de nós. Incógnita, porém, nós te tomamos pelo braço e te reconduzimos novamente para entre as pessoas; apenas, porém, como dito, incógnita: isso dá certo! Primeiramente, pois: daqui para diante, teu objeto portará o nome: “o absoluto”; isso soa exótico, decente e nobre – e nós sabemos melhor do que qualquer um o quanto se pode impingir aos alemães com aparências de nobreza – qualquer um sabe o que se entende por essa palavra, e ainda se crê sábio por isso.... O absoluto, exclamas (e nós contigo), ‘que diabos, isso tem de ser, senão não existiria absolutamente nada!’ (e com isso bates com o punho sobre a mesa). Mas de onde procederia ele? ‘Estúpida pergunta! Já não disse que é o absoluto?’ – Isso dá certo, podes crer, dá certo! Os alemães estão habituados a aceitar palavras no lugar de conceitos: para tanto nós os temos adestrado desde a juventude – olha só a hegelianada, que outra coisa é senão um palavrório vazio, oco, e ainda por cima nauseabundo? E, no entanto, que esplêndida carreira fez essa criatura filosófica ministerial! Para isso, não foi preciso senão que alguns companheiros venais entoassem a glória daquela ruindade – para que sua voz, na cavidade oca de mil cabeças estúpidas, encontrasse um eco que ainda hoje ressoa e se propaga. E eis que assim logo se fez de uma cabeça vulgar, sim, de um vulgar charlatão, um grande filósofo. Portanto, toma coragem! Além disso, amiga e protetora, nós te secundamos também por outra razão: com efeito, sem ti não podemos viver” – O velho critiqueiro de Königsberg criticou a razão e cortou-lhe as asas? Pois bem, inventamos então uma nova razão, da qual ninguém tinha ouvido falar até aquele momento; uma razão que não pensa, mas intui imediatamente, que intui idéias (uma palavra distinta, criada para mistificação) em carne e osso; ou também uma razão que apreende, que apreende imediatamente aquilo que tu e os outros apenas queriam demonstrar; ou ainda – para aqueles que só admitem pouco, mas que também com pouco se satisfazem – o presente. E assim, damos conceitos populares de há muito inoculados por inspirações imediatas dessa nova razão, criticada à exaustão, degrademo-la, chamemo-la entendimento, e mandemo-la passear.”

   O que Schopenhauer está dizendo é que trocaram conceitos por palavras. Razão agora se chama entendimento. E o que é entendimento? Ora, entendimento é razão! E o que é razão? Ora, tu és burro? Razão é entendimento! Não entendes uma coisa tão simples assim? Entendimento é razão e razão é entendimento... está explicado.

   A amiga Prova Cosmológica agora chamemos de Absoluto! E o que é o absoluto? Ora, o absoluto é o infinito! E o que é o infinito? Ora, tu és burro? Infinito é o absoluto, cara!

   Não precisamos mais significar as coisas, basta colocar outra palavra no lugar, seja esta palavra um sinônimo ou não.

   Isto dá certo, pode crer!

   O mundo é o finito e o absoluto é o infinito. E o que é o finito? Ora, tu és burro? Já falei que o finito é o mundo!

   E podemos colocar também uma expressão no lugar de qualquer coisa esdrúxula que inventamos sem base nenhuma na realidade, como por exemplo: Politicamente Correto!

   Temos também vários outros chavões imbecis: "consciência de classe", "pensamento crítico", "lutas de classes", "estado democrático de direito", "liberal na economia, conservador nos costumes", "desvelamento do ser", "não é crime, é doença", "racismo estrutural", "dívida histórica", "a culpa é do sistema", "crise climática", "desenvolvimento sustentável", "sociedade igualitária", "combate à pobreza", "direitos dos trabalhadores", "isolamento social", "classes sociais", "direitos humanos", "os fins justificam os meios", "discordo do que você diz, mas defenderei até a morte o seu direito de dizer", "responsabilidade fiscal", "regras democráticas", "aquecimento global", "reformas estruturantes", "vacinação em massa", "manter a governabilidade", "linha da pobreza", "estruturas de poder", "combustível fóssil", "implodir o sistema", "tirania da maioria", "disparidade de gênero", "liberdade de mercado", "milícia digital", "nome social", "ação afirmativa", "isso será um avanço", "isso será um retrocesso", "nunca ouvi falar, mas não tem cabimento", "imperativo categórico", "democracia representativa", "dinheiro público", "desconto antecipado", "redenção democrática", "direitos dos trabalhadores", "compre agora e economize dinheiro", "a exceção é o que confirma a regra", "o Brasil não é para amadores", "consulta o pai dos burros", "pedantismo gramatical"... e por aí vai.

   É a gosto do freguês, o freguês escolhe seus chavões prediletos para repetir como um papagaio. Daria para escrever um livro somente com essas expressões. Um glossário. Aliás, já existem dicionários e glossários de, por exemplos, Marx, Gramsci e Heidegger, além de vários outros. Para ler e entender (se for possível) autores desta cepa, deste estilo de escrita oco, vazio, nauseabundo; primeiro você tem de entender a linguagem própria deles para depois começar a entender do quê eles estão falando. E muitas vezes estão falando de nada; palavras bonitas, mas vazias de conteúdo; muitas vezes sem significado e na maioria das vezes sem referente. Eles usam palavras já existentes na língua e inventam um significado novo saído da cabeça maluca e/ou maligna deles e isso bagunça o referente, você já não sabe mais do que se está falando, mas fica tentando adivinhar e chama essa adivinhação de "interpretação de texto".

   Mas vamos nos deter em analisar como exemplo a expressão "politicamente correto", pois a análise se estende para todas as outras expressões.

   O que é “politicamente correto”? Qual o significado dessa expressão?

   Partirei do básico. Politicamente vem de política: “arte ou ciência de governar”, significado genérico. “Derivação: sentido figurado. habilidade no relacionar-se com os outros, tendo em vista a obtenção de resultados desejados”.

   Politicamente: “ocupar-se de política; fazer política”.

   Correto: “que se corrigiu”. “possuidor de bom caráter; digno, honrado (diz-se de pessoa)”.

   Não coloquei todos os sentidos de “política”, “politicamente” e “correto”, mas já dá para entender.

   Politicamente Correto é alguém que é correto na política?

   É alguém que tem uma política correta?

   É alguém possuidor de bom caráter na política?

   Ou é outra coisa?

   São significados diferentes. Alguém que é correto na política obrigatoriamente é um político. Alguém que tem uma política correta não necessariamente é um político, pode ser um cidadão ali que tem uma política de vida e segue ela. São coisas diferentes.

   Então o que é politicamente correto? Ora, inventemos um significado qualquer que nem significado é. Politicamente correto agora é “evitar certas palavras preconceituosas com relação a grupos de sexo, raça, gênero ou sei lá mais o quê”. Ou mais, faremos dossiês, artigos acadêmicos, livros inteiros tentando explicar o que é “politicamente correto” (somos pagos para isso).

   Daremos mil “significados” de politicamente correto. Ganharemos pela quantidade e não pela qualidade. Eu vou citando você e você vai me citando, a nossa patota vai se auto-promovendo, assim teremos milhões de citações acadêmicas. O que importa a verdade? O que importa a realidade? Verdade e realidade são coisas ultrapassadas, são retrocessos, não é um avanço, não são coisas progressistas.

   Mas voltando. “Evitar certas palavras”... quais palavras devo evitar? Existe uma lista de palavras que devo evitar?

   Ora, tu és burro? As palavras que tu deves evitar são as palavras preconceituosas em relação aos grupos ali!

   Mas o que é “preconceituoso”? Não é um conceito subjetivo?

   O que decorre disso na realidade é que se alguém me falar alguma coisa que eu não goste (vai do meu capricho), eu digo que é politicamente incorreto. Pronto: acrescentei mais uma palavra (ou expressão) na tal da lista que não existe! E o absurdo não pára de crescer.

   Quando dizem que “politicamente correto” é uma forma de censura eu concordo, mas o estrago vai mais além: causa emburrecimento.

   Trocar conceitos por palavras ou expressões inventadas dá nisso: emburrecimento geral.

   E podemos ver que na expressão “politicamente correto” foram juntados dois signos que não dá para juntar. Um altera o significado do outro. A partir daí não há base na realidade e temos que inventar alguma coisa para significar em palavras o que é isso. É como a frase: "A pedra da bola pegou fogo". Ortograficamente e sintaticamente está correta, mas semanticamente não tem sentido nenhum. E num texto e/ou discurso temos que, obrigatoriamente, preencher os três: ortografia, sintaxe e semântica.

   Com palavras bonitas, mas vazias de conteúdo estamos fora da realidade. Trocamos conceitos por palavras esvaziadas de significados, de sentidos e de definições, e por isso não captamos mais o referente.

   Passamos a falar por chavões, palavras vazias, signos sem significados e, por conseguinte, sem referente. Nos distanciamos da realidade, vivemos em um mundo de ilusão onde não nos entendemos mais. Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem.

   Língua é a Língua Portuguesa, a Língua Inglesa, a Língua Francesa, etc.

   Linguagem engloba a língua, todo signo tem um conceito, um significado, uma definição e, de acordo com seu sentido, tem seu referente que forma a mentalidade de uma nação que fala a mesma língua.

   Caso eu fale “politicamente correto” e isso enseja várias adivinhações de acordo com a cabeça de cada um, temos confusão, não nos entendemos mais. Nesta hora precisa de um supremo sabedor da verdade para nos dizer o que significa isso, sendo que o supremo sabedor da verdade também não sabe o que é, então ele junta palavras bonitas, mas vazias de conteúdo e você sai repetindo isso por aí.

   Falamos a mesma língua, mas não falamos a mesma linguagem. E assim vamos emburrecendo.

   Êêê, vamos todo mundo ficarmos burros, assim teremos igualdade... que, aliás, “igualdade” é um conceito subjetivo.

   Ficaremos todos iguais na burrice, mas sempre tem uns que são “mais iguais do que os outros”.

   Uma população burra é fácil de controlar, mas a burrice leva à violência, uma pessoa burra só sabe resolver as coisas na base da violência (seja ela física e/ou psicológica), isso é fato.
   E não confundam esse tipo (sentido) de burrice com a falta de conhecimento; esta é justificável, aquela burrice é o que se chama de astúcia maligna - a caricatura satânica da inteligência - que leva à baixeza moral e à baixeza intelectual.

   A estultice, a estupidez de quem pensa que pode controlar uma população burra, drogada e promíscua é equivalente à burrice dessa mesma população.

   Mas tudo em prol da “revolução”, da revolução surgirá o novo ser humano!

   Dos escombros da humanidade surgirá o novo ser humano... não sei como.

   Mas posso imaginar: esse novo ser humano que surgirá virá do caos que leva à ordem.

   E assim vamos trocando conceitos por palavras: “do caos vem a ordem” é um chavão de tamanha estupidez e é errado em tantos níveis que até é difícil explicar. Mas vamos repetindo isso através da grande propaganda que todo mundo acredita que do caos vem a ordem... e vamos promovendo o caos, vamos promovendo a destruição esperando a reconstrução a partir dos entulhos que restaram da burrice. Vamos juntar os entulhos para formar uma pilha de escombros e vamos dar a esse conceito um novo nome: sociedade igualitária. Uma expressão esvaziada de tudo.