O advogado Miguel Nagib fundou e promoveu até 22 de agosto de 2020 o Escola sem Partido e depois afastou-se por diversos motivos. Dentre estes motivos, a falta de apoio e os ataques injustos vindo de dentro da própria trincheira, a chamada “direita”.
Não obstante o meu respeito ao filósofo Olavo de Carvalho, ele
foi superficial na sua análise do Escola sem Partido e tal análise espalhou-se
na época. Mas eu como o Olavo de Carvalho, também já fiz análises superficiais... quando tinha 12 anos de idade. Não que o pimpão Olavo seja o principal responsável por atacar o ESP, mas ele teve grande
influência, pois na época o Bolsonaro e outros pautavam-se em algumas análises
do abrangente Olavo.
Trecho da entrevista ao jornal O Globo:
“O senhor publicou recentemente um vídeo com
críticas ao Escola sem Partido, por ser muito focado em mudar a legislação, e
pouco no combate cultural. Já discutiu esse assunto com Vélez?
Não, e nem tentei influenciá-lo nisso. Foram notas
sobretudo para os fundadores do Escola sem Partido, que são pessoas amigas
minhas. À medida que o movimento evolui na direção de um projeto de lei, a
coisa se complica, porque o projeto de lei é prematuro, pelo fato de que não
existe documentação científica a respeito do problema (do esquerdismo nas
escolas e universidades). Você não pode começar um debate legislativo sem ter o
debate científico primeiro. Acho que colocaram a carroça na frente dos bois.
Nós não temos uma visão quantitativa da hegemonia comunista no ensino, e ainda
estamos na esfera do argumento retórico.”
Basicamente a
argumentação repetida por Olavo com soltura de espírito em relação ao ESP está nos trechos de
entrevistas e vídeos. Vou do início.
“Você não pode começar um debate legislativo sem ter o
debate científico primeiro.” Ora, umas
vezes primeiro promove-se o debate para depois entrar com o projeto que
resultará na lei. Outras vezes primeiro entra-se com o projeto de lei (já
sabendo que não será aprovado), mas entra-se com a intenção de promover o
debate para depois, então, aprovar a lei. A esquerda, que eu saiba, nunca,
nunca, nunca apresentou e/ou apresenta fundamentação científica para seus
projetos de lei e como a guerra é cultural acredito que a “fundamentação
científica” no debate legislativo já foi para as cucuias há muito tempo.
Quando se promove um debate sobre qualquer assunto que for,
é óbvio que sabemos que algumas pessoas se colocarão contra, outras a favor e
outras tanto-faz-como-fez, mas todas falarão e/ou debaterão o assunto até ele
chegar na sua “maturidade” política.
Além disso, promovendo-se o debate, a fundamentação
científica começa a aparecer. Porém, a própria “direita” matou o debate sobre o
ESP não permitindo sequer que a pouca fundamentação existente sobressaísse ou
que outras fundamentações aparecessem. O próprio Olavo sempre diz que a
esquerda aparelhou o Estado Brasileiro, tem militância organizada, etc, e a
direita não tem, então, de que modo o ESP iria juntar “fundamentação científica”
para depois promover o debate é uma coisa que me escapa.
A esquerda estava em polvorosa em 2018 e 2019, pois o ESP era considerado a maior ameaça ao projeto deles porque "na cultura e na educação é onde estão as mentes e os corações", palavras do Zé Dirceu e ele não estava falando falsamente para enganar a direita.
Outra fala do abundante Olavo:
“Eu estudo o [combate cultural] há 50 anos, tento
oferecer uma ajuda, uma orientação, e vocês passam por cima. Insistem no erro.
Há mais de dois anos, falei que não fazia sentido o projeto. Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião,
exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Depois o
Olavo disse que o nome deveria ser “Escola sem Censura”. E depois afirmou que,
caso não mudassem radicalmente de estratégia “Não só vou ficar contra, como
irei denunciar vocês. Vocês estão querendo mudar o país pela sua incultura.
Vocês não entendem nada do combate cultural porque não têm cultura. Vocês não
têm o meu apoio. Apenas [tem o apoio] no intuito central e inicial da campanha,
que é o de combater a manipulação de comportamento e o sistema hegemônico da
escola. Mas os meios, não aprovo de maneira alguma”.
“Exigir que um professor, toda vez que exponha sua opinião,
exponha com igual referência a opinião contrária é um absurdo”. Acredito que o véio Olavo, nesta parte, estava falando do item 4 do Escola sem Partido (se é que o espiralado Olavo teve gosto pelo conhecimento em ler):
“Ao tratar de questões políticas, sócio-culturais e
econômicas, o professor apresentará aos alunos, de forma justa – isto é, com a
mesma profundidade e seriedade -, as principais versões, teorias, opiniões e
perspectivas concorrentes a respeito”.
Vemos que esse item está falando de questões políticas,
sócio-culturais e econômicas, ou seja, ao falar de correntes filosóficas, correntes
ideológicas, etc, o professor deverá apresentá-las da mesma maneira, assim como
era antigamente. Por exemplo, ao dar o conteúdo sobre Marxismo – ou qualquer
outra corrente - o professor dará a aula em cima desse tema sem manifestar sua
opinião sobre política partidária, eleições, candidatos, etc. Caso quiser
manifestar sua opinião sobre a pessoa de Karl Marx não vejo problema nenhum. Simples
assim.
O ESP já estava dando resultado positivo, pois as denúncias
estavam aparecendo através de depoimentos, filmagens, gravações, etc, e, a
partir daí, com o debate, surgiria a fundamentação científica.
Lembro-me agora de um vídeo do próprio Olavo onde ele falou
que teve aula durante uns três anos com o filósofo Stanislavs Ladusãns onde o
Ladusãns começava expondo todas as correntes envolvidas no conteúdo até chegar
ao final onde fazia um apanhado geral e, às vezes, manifestava sua própria opinião.
Mas vamos agora, a trechos do livro “Filosofia e seu Inverso”
do barrigudo Olavo de Carvalho.
Página 21: “Se há um dado histórico do qual não se pode
duvidar, é que a filosofia nasceu na Grécia e adquiriu sua forma clássica, de
uma vez por todas, com Platão e Aristóteles (ambos sob a inspiração original de
Sócrates). Você pode chegar a ser filósofo ignorando Sartre, Husserl, Nietsche,
até mesmo Hegel, Leibniz ou Sto. Tomás de Aquino. Mas quem não tomou um banho
de imersão nos ensinamentos dos dois pais fundadores permanecerá eternamente
alheio ao espírito da filosofia”.
Não somente pelo trecho acima, mas quem acompanha o proxeneta das palavras Olavo de Carvalho há
algum tempo sabe que ele mesmo recomenda você ler de tudo, todas as correntes,
pois isso é óbvio, assim se poderá absorver uma ampla gama de conhecimentos.
Ainda que o curso do esclerosado Olavo não seja “ensino fundamental”, “ensino médio” ou “ensino
superior” nos modelos existentes no Brasil, ainda assim essa base de ter várias
correntes permanece, o que é natural.
Página 145: “Foi então que, por intermédio de uma das filhas
de Mário Ferreira, conheci o Pe. Stanislavs Ladusãns, s.j., um filósofo
estoniano que o Papa João Paulo II, seu amigo de juventude, havia encarregado
da missão impossível de reintroduzir um pouco de catolicismo numa universidade
católica do Brasil”.
Nas páginas 145, 146, 147 e 148 pode-se encontrar o proposto,
mas deixo aqui um trecho da página 147 com o Pe. Stanislavs Ladusãns discorrendo:
“- Vamos examinar cada uma dessas questões desde o ponto de
vista das principais escolas filosóficas, confrontando umas com as outras, e
depois vamos esboçar a solução pessoal que nos parece a mais apropriada para
cada uma delas”.
Ainda que se trate especificamente de ensino de Filosofia
pode-se ver com clareza que a proposta do ESP não é exigir que um professor,
toda vez que exponha sua opinião, exponha com igual referência a opinião
contrária, mas é abordar todas questões como o Pe. Ladusãns fazia.
É óbvio que em se tratando de ensino escolar (fundamental,
médio e superior) os métodos e metodologias empregados são diferentes, porém,
repito, a proposta do ESP não é exigir com igual referência a opinião contrária
como o tonitruante Olavo alardeou pelos quatro cantos das salas – virtuais e presenciais –
onde habitam seus alunos, o qual já fui também e ainda o leio e vejo alguns
vídeos com suas exposições.
E, mesmo que a proposta fosse exigir com igual referência a opinião contrária, rebato com o próprio Olavo chorão, onde podemos encontrar no livro "Como Vencer um Debate sem Precisar ter Razão" de Arthur Schopenhauer; Introdução, Notas e Comentários de Olavo de Carvalho, no comentário suplementar XVI: n. 151, na página 249, feito pelo comentarista Olavo de Carvalho:
"Não nos esqueçamos de que Aristóteles começava seus tratados sempre com uma resenha das opiniões de seus antecessores sobre o assunto em questão, e depois, laboriosamente, meticulosamente, se punha a confrontá-los dialeticamente, com a humildade de quem, como dele disse Al-Biruni, 'fazia o melhor que podia, sem jamais se pretender um protegido de Deus que estivesse ao abrigo do erro'".
O advogado Miguel Nagib, ao anunciar o fim da sua participação no movimento Escola sem Partido expôs suas razões e gravou entrevista em vídeo
onde percebe-se claramente ali que um dos problemas também é o Judiciário, principalmente o STF e a Promotoria Pública que promovem legalmente a discussão
político-partidária dentro das escolas, então a questão não é científica de
modo algum.
De qualquer maneira, caso o debate sobre o ESP tivesse se
mantido, isso ocuparia, no mínimo, boa parte do tempo da esquerda.
Meu caro Professor Olavo, o senhor está sofrendo de Paralaxe Cognitiva?
A Filosofia e seu Inverso e outros estudos, Olavo de
Carvalho. Vide Editorial, julho de 2012.
Como Vencer um Debate sem Precisar Ter Razão, Arthur Schopenhauer. Introdução, Notas e Comentários: Olavo de Carvalho. Rio de Janeiro, Topbooks, 1997.