Escreverei um pouco sobre o ensino no Brasil... ou sobre a falta dele.
A Introdução Crítica abaixo é um pouco maçante, mas se faz necessária. Peço ao leitor que faça um esforço, pois são somente cinco parágrafos.
Introdução Crítica
Farei isso sob uma ótica da Filosofia da Educação; e pelo
teor do próprio texto a linguagem empregada será um tanto rebuscada, mas não
pedante, por isso, peço ao leitor que tenha paciência. Depois desta breve "Introdução Crítica", no decorrer do texto, a partir do Desenvolvimento, as
coisas tornar-se-ão mais claras.
Inicialmente, utilizando-me do meu eu enquanto pessoa, o ser de Fichte1, para evitar
tanto o politicamente incorreto como o politicamente correto em função da
dualidade minorias e maioria, educador e educando, professor e aluno, precisamente porque nos tornamos capazes de, a partir dessa dualidade, inventar nossa
existência real a fim de entender o mundo e não de transformá-lo.
A função do ensino é treinar a mente para o estudo da matéria e do espírito, que juntos constituem a substância da realidade. O fruto da educação é a cultura, definida como “o conhecimento de nós mesmos [mente] e do mundo material [matéria]2” e entre essas duas existe a zona de desenvolvimento potencial que nos diz que educação é um ato político e, para tanto, devemos promover a inclusão nas lutas pelos direitos humanos em virtude do primitivismo - não do direito humano egoísta, tão comum na atualidade.
As artes do ensino podem ser definidas conforme se relacionam
com a realidade e entre si. A metafísica, a ciência do ser, trata da realidade,
exige a coisa tal como ela existe na realidade, no pensamento, na imaginação e
no raciocínio. Contudo, esse tipo de exigência restringe, antes de mais nada, a
experiência através do estabelecimento de vínculos pessoais que são
insuficientes na educação e na ontologia, enquanto ramo da metafísica. A
experiência do ser é sempre mais ampla do que a sua experiência pessoal.
Linguisticamente falando, precisamos voltar às coisas mesmas
definindo peremptoriamente as tradições progressistas ou reacionárias que definirão
o futuro da humanidade. Os valores questionáveis e não-questionáveis, tais como
ateísmo, imoralidade, religião, verdade, etc, quando começam a causar um
desequilíbrio entre razão e emoção fazem perder a dualidade e
integram o ser naquilo que conhecemos
por Educação, que é diferente de Ensino, pois a Educação abarca o Ensino.
Desenvolvimento
Caso você, leitor, considerou essa Introdução Crítica como algo sério, mas não entendeu nada e não percebeu a patifaria do texto, então sinto muito, você está dentro do “sistema de ensino brasileiro”. A tal Introdução Crítica é uma coletânea de orações, períodos e frases que, isoladamente, até dizem alguma coisa, mas no conjunto é o popular embromation; palavras bonitas, mas vazias de conteúdo. Tem ortografia e sintaxe, mas não tem semântica. Para ser um texto bem escrito precisa ter os três: ortografia, sintaxe e semântica. Desafio o leitor a me dar um entendimento do texto como um todo ou de um único parágrafo que seja.
Nominei Johann Gottlieb Fichte no
início para dar a impressão de que a coisa é séria e coloquei os numerozinhos 1
e 2 para dar uma aparência respeitável. Poderia ter nominado outros autores,
mas os autores estão citados implicitamente no texto através das suas
expressões. Deixo ao leitor, se quiser, que vá procurar quais autores, tem uns sete.
Talvez o leitor encontre mais, pois a Introdução como um todo é uma bobagem
completa e enseja mil interpretações e/ou impressões diferentes.
O problema de se apegar mais à forma do que ao conteúdo é
justamente este: acaba-se lendo palavras bonitas que dizem nada e o leitor fica
tentando achar um sentido na coisa e termina por se sentir um idiota, um burro; sendo que o burro (ou charlatão) é o autor de um texto assim.
Na literatura mundial moderna e contemporânea tal “estilo
literário” tornou-se comum. Não tenho como precisar a data, mas arrisco dizer
que isso tomou corpo a partir de 1600, 1700. Uma determinada corrente
filosófica e ideológica incorporou o sofisma e os jogos de palavras de forma
maciça na sua palavra falada e escrita. E tal corrente adentrou e penetrou na
mente dos brasileiros estuprando-a sem dó nem piedade. E isso vem de longe.
Não vou voltar aos pré-socráticos - não precisamos ir tão
longe na história -, mas volto à década de 50.
O ganhador do Nobel de Física em 1965, Richard Phillips
Feynman, lecionou no Brasil entre 51 e 52 durante dez meses ensinando para estudantes que se
tornariam professores. Tal experiência Feynman conta em um capítulo dedicado ao
Brasil no livro “Só pode ser brincadeira, Sr. Feynman”. Porém, Feynman esteve algumas vezes no Brasil, entre 1949 e 1966, dando conferências e palestras.
O que chama atenção é a exatidão com que Feynman descreveu o
ensino no Brasil: “Um sistema de automultiplicação em que as pessoas são
aprovadas em exames e ensinam outras pessoas a passar nos exames, mas ninguém
sabe nada”. É a decoreba, onde o aluno até tira nota 10, mas não sabe nada. Decora
para a prova e depois de 1, 2, 3 dias não lembra mais.
Feynman traz vários exemplos onde prova essa realidade que
persiste até hoje no ensino brasileiro, aliás, a coisa só vem decaindo. Os
alunos decoram tudo, tem tudo decorado, mas não sabem o que aquilo significa e, por conseguinte, não sabe o que a coisa é na realidade (referente).
Trarei uns trechos do capítulo, mas aconselho que leiam o capítulo inteiro.
Feynman, cuja contribuição à Ciência mundial é
incontestável, ao final do ano letivo em que permaneceu no Brasil pediram que
ele desse uma palestra sobre a experiência de ensino no Brasil. O auditório
estava lotado. Ele começou definindo ciência como o entendimento do
comportamento da natureza. E perguntou: “Qual seria um bom motivo para ensinar
ciência? É claro que nenhum país pode se considerar civilizado se não... blá
blá blá”. Estavam todos lá sentados assentindo bovinamente com a cabeça. Então
ele disse: “Isso é claramente um absurdo! Por que deveríamos sentir que devemos
estar à altura de outro país? Temos que fazer isso por um bom motivo, um motivo sensato;
não só porque outros países fazem”.
Após este breve
início da palestra ele proferiu: “O objetivo principal da minha palestra é
demonstrar a vocês que não se está
ensinando ciência no Brasil”. A platéia se remexeu nas cadeiras e ele seguiu
dando exemplos e fazendo analogias corretas.
Feynman levou vários livros didáticos para a palestra e num
dado momento disse: “Sou corajoso o bastante para folhear um livro aqui, diante
dessa platéia, pôr o dedo numa coisa qualquer, lê-la e mostrar a vocês. Foi o
que fiz. Brrrrrrrup - pus o dedo num
ponto qualquer e comecei a ler: ‘Triboluminescência. Triboluminescência é a luz
emitida por certos cristais quando friccionados...’. Então perguntei: ‘E aqui,
temos ciência? Não! Apenas se disse o
que uma palavra significa usando outras palavras. Não se disse nada sobre a
natureza - que cristais emitem luz
quando friccionados, por que emitem luz. Vocês viram algum aluno
ir para casa e tentar fazer isso? Ele
não conseguiria. Mas se em vez disso estivesse escrito: ‘No escuro, pegue um
torrão de açúcar e esmague-o com um alicate. Um clarão azulado surgirá. Isso
também acontece com alguns outros cristais. Não se sabe por quê. O fenômeno é
chamado triboluminescência’, então alguém poderia ir para a casa e tentar fazer
o experimento. Isso é uma experiência com a natureza’. Usei esse exemplo, mas não teria feito a menor diferença se tivesse posto o dedo em qualquer outro lugar
do livro; era a mesma coisa em toda parte”.
Em relação a este trecho do capítulo podemos ver claramente
Feynman falando de signo, significado (com seus vários sentidos) e referente, ainda que não explicitamente.
O aprendizado ocorre somente e somente se há os três. Signo, significado (com seus vários sentidos) e
referente. Esses três formam a base do raciocínio. O que Feynman fez foi dar um referente de triboluminescência, ainda
que esse referente foi dado em palavras, o aluno fecha o ciclo, tem os três e
daí decorre o aprendizado. O aluno não precisa decorar, mas ele memoriza.
A diferença entre decorar
e memorizar. Decorar dá-se pela repetição. Do aprendizado vem o memorizar. Ainda que decorar e memorizar possam ser sinônimos, cada um é um signo e tem um significado e um referente específico.
Exemplificando, talvez o leitor nunca tenha lido ou ouvido a
palavra “triboluminescência” e talvez daqui a dez anos nunca mais ouvirá, mas
garanto que se depois de dez anos alguém mencionar tal palavra o leitor saberá
explicar o que é triboluminescência pois tem o signo o significado e o
referente. Houve memorização e não decoreba; houve entendimento do que a coisa
é, teve aprendizado. O professor situa o aluno na realidade.
Outra parte interessante é quando Feynman diz que nunca
conseguiu que os alunos brasileiros formulassem perguntas. “Finalmente, um
deles me explicou por quê: ‘Se eu lhe fizer uma pergunta durante a aula, depois
todo mundo vai me censurar: Por que você nos fez perder tempo na aula? Estamos
tentando aprender alguma coisa e você o interrompe com perguntas’.
Era uma espécie de demonstração de superioridade, em que nenhum deles sabia o que estava acontecendo, mas inferiorizava o outro como se soubesse. Todos fingem que sabem, porém, se um colega admite por um momento que alguma coisa está confusa e faz uma pergunta, os demais tomam uma atitude prepotente, agindo como se nada estivesse obscuro e dizendo ao autor da pergunta que ele estava atrasando os demais”.
É essa afetação toda do brasileiro, essa arrogância imbecil,
essa aversão ao conhecimento onde ninguém sabe nada, mas tenta inferiorizar o
outro como se soubesse. Por isso se diz que o brasileiro é um palpiteiro
desgraçado. Fala de coisas que não sabe. É a cultura da mentira e do
fingimento. Reflete-se dessa forma na realidade, dentro das escolas,
universidades, hospitais, mercados, farmácias, delegacias, residências, etc.
Reflete-se nas conversas do dia a dia.
Começa nas escolas, nos livros didáticos, na formação errada
dos professores que gera esse sistema de auto-multiplicação da burrice.
Lembrando que Feynman publicou seu livro na década de 80, mas esteve no Brasil entre 1949 e 1966. Acredito que já passou da hora de mudar esse "sistema de auto-propagação da burrice".
Somos o quinto maior país do mundo, atualmente com aproximadamente 214 milhões de
habitantes, e não temos um Nobel, não temos ninguém de destaque internacional
pela sua intelectualidade, não temos esportistas de fama mundial, não temos
sequer celebridades (cantores, atores, etc) de fama mundial. Não que se precise
disso, mas existe a fama natural e fama artificial. A fama natural é aquela na
qual as outras pessoas percebem o valor e elevam naturalmente a pessoa. A fama
artificial é essa que temos no Brasil, promovida pela grande propaganda. É a
cultura provinciana da mentira e do fingimento.
Como Feynman disse, devemos fazer as coisas só porque outros
países fazem?
No Brasil é comum isso: “Aaaaaaaa, mas lá na Europa fazem
isso, lá nos EUA fazem aquilo, lá não sei onde se atiram num poço então vamos
nos atirar também!"
Talvez alguém argumente: “Mas as opiniões do Feynman são
somente as impressões de uma única pessoa”. Pois é... cultura provinciana,
caipira. Essa pessoa que argumenta isso é a mesma que vê aquele tal “especialista”
ou “jornalista” no jornal ou na TV e sai repetindo o que ele falou como um
papagaio sem raciocinar a respeito. Além disso, não é essa a realidade do sistema
de ensino brasileiro? Um sistema de auto-multiplicação onde as pessoas ensinam
umas às outras a passar nos exames, mas ninguém sabe nada. Ficam somente
palavras na cabeça do aluno, decoreba sem entender nada. Uma produção de jumentos em
série. Nessa hora lembro do calhorda John D. Rockefeller: “Não quero uma nação
de pensadores, quero uma nação de trabalhadores”.
Essa burrice do Brasileiro leva a esse pensamento de “dois
pesos e duas medidas”, uma dualidade idiota, sem propósito, que só existe na
cabeça dos idiotas. O Brasileiro chegou num estado de burrice tal que se cair
de quatro não levanta mais. E decai a inteligência decai a moral e vice-versa; não importa qual decai primeiro, uma vem de arrasto da outra.
Caso o leitor chegou até aqui, ótimo, tudo isso é para você
mesmo que está lendo. E antes que você pense: “Esse cara (eu, o
autor) se acha mais inteligente que todo mundo”, ótimo.
Para sair dessa é tão simples quanto parece: leia,
informe-se de coisas úteis, estude. A vida é estudar, trabalhar e se divertir.
É um equilíbrio entre essas três coisas, é um esquema mental onde essas três
coisas se confundem na realidade, pois alguns trabalham se divertindo, outros
estudam se divertindo, outros trabalham estudando e por aí vai.
O sistema de ensino no Brasil não ensina a raciocinar, a ter
raciocínio. Raciocínio: concatenação lógica de pensamentos, um pensamento
organizado logicamente após o outro. Não ensina que existe a razão e a emoção, razão no sentido de raciocínio e emoção no sentido de emoções em si,
sentimentos, desejos, vontades, sensações, intenções, etc, a parte psicológica
do ser humano. O ser humano é um ser racional E um ser emocional. Não tem como separar a razão da emoção dentro
de uma pessoa, mas tem como causar um desequilíbrio. Perdendo o raciocínio as pessoas passam a reagir pela emoção que as palavras e as
coisas causam nelas, vira tudo xingamento ilógico. Passam a não querer saber
mais de nada, não querem mais aprender coisa alguma de útil. Transformam-se em interesseiros que querem somente
fama e dinheiro.
Confundem inteligência com astúcia maligna. Astúcia maligna
é a caricatura satânica da inteligência. A inteligência é ligada ao bem, o belo
e a verdade. No Brasil a pessoa que tem fama e/ou dinheiro todos julgam que é inteligente
e esquecem como essa pessoa chegou lá, aliás, nem se perguntam isso. Tendo fama
o/a vivente torna-se automaticamente um “formador de opinião” e a massa de
seguidores vai “de atrás” bovinamente sem raciocinar e repetindo como um
papagaio o que essa criatura fala. O termo “gado” vem de gado bovino, gado equino,
gado ovino, etc. No caso, o tal formador de opinião é o sinuelo. Sinuelo é
aquele gado que vai na frente e quando o vaqueiro muda a direção do sinuelo a
maioria vai atrás.
Nada contra fama e dinheiro, mas quando decai a inteligência decai a moral e vice-versa, a partir daí a pessoa quer “subir na vida” mentindo, pisando em cima dos outros, logrando os outros, prometendo e não cumprindo, etc. Astúcia maligna é o jeitinho brasileiro, levar vantagem em tudo, é essa baixeza moral toda que resulta naquilo que chamam de mentalidade socialista.
Encerrando, para não dizer que não falei de coisas técnicas, poderia analisar o MEC, a BNCC, os sindicatos de professores, etc, mas somente os cito, pois isso é decorrência da aversão ao conhecimento que leva à perda do senso das proporções (discernimento) e leva ao desequilíbrio entre razão e emoção. O equilíbrio entre razão e emoção é o que Aristóteles chamava de temperança.
http://www.uel.br/cce/fisica/pet/EnsinoRichardFeynman.pdf
https://www.scielo.br/j/rbef/a/R9wHVCTd3D37cKHmYH88CVk/?lang=pt